“Desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental andam de mãos dadas”, afirma especialista

19 set 2022
Por Agência EY

A Agência EY é um espaço de notícias e conteúdo jornalístico

19 set 2022

Segundo Ricardo Assumpção, que participa da Semana do Clima em Nova York, o Brasil tem grande potencial no desenvolvimento da economia verde

importante entendermos que o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade ambiental andam de mãos dadas.” A frase de Ricardo Assumpção, sócio da EY, líder de ESG para a América Latina Sul e Chief Sustainability Officer do Brasil, define como deve ser o desenvolvimento da economia mundial nos próximos anos. E o Brasil deve ter papel de destaque no cenário da economia verde, no qual o crescimento econômico é lastreado em uma agenda de sustentabilidade.  

Assumpção participa da Semana do Clima de Nova York, tradicional evento que antecede a 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2022 (COP-27), que será realizada em novembro, no Egito. Na semana passada, ele fez palestra, também em Nova York, no Brazil Climate Summit, evento que discutiu preservação, economia circular e transição energética, temas fundamentais e que o Brasil tem uma posição diferenciada em relação ao mundo. A seguir, a entrevista exclusiva concedida à Agência EY

Uma das questões mais discutidas hoje em dia é a compatibilidade entre desenvolvimento econômico do país e a sustentabilidade ambiental, nos mais diversos setores econômicos. Um dos caminhos seria o desenvolvimento da chamada economia verde. Como podemos definir essa economia verde e como seria possível essa compatibilidade? 

A economia verde é aquela com baixa emissão de carbono. Trata-se de uma economia na qual as empresas, em suas produções, contribuem para a redução de emissão de gases do efeito estufa, que causam o aquecimento global. E isso é vital para o planeta, não apenas para a vida das pessoas, mas também para a economia. Se não conseguirmos cumprir as metas do Acordo de Paris, enfrentaremos dificuldades econômicas e o custo para adaptar o mundo às mudanças climáticas será muito grande.  

Porém, o caminho a uma economia verde ou de baixo carbono exige bastante dinheiro, algo em torno de 150 trilhões de dólares, até 2050. Mas, por trás desse desafio, há uma grande oportunidade. As empresas, ao perseguirem essa economia de baixa emissão, criam mais inovação interna e, ao mesmo tempo, maior valor para elas, o planeta e a sociedade.  

É importante entendermos que o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade ambiental andam de mãos dadas. E o Brasil, nesse aspecto, tem uma posição privilegiada. Nós temos a maior floresta tropical do mundo, o maior estoque de carbono para o mercado voluntário – em torno de 15 bilhões de dólares até 2030 -  e nossa matriz energética já é muito mais limpa do que a de outros países. Cerca de 87% da produção de energia elétrica no Brasil vem de fontes renováveis. Em resumo, hoje temos uma oportunidade incrível de, ao perseguir a sustentabilidade ambiental, conseguiremos atingir o desenvolvimento econômico duradouro e sustentável.  

Quais as vantagens da economia verde e qual o potencial para o seu crescimento no Brasil? 

O Brasil possui diversos diferenciais comparativos que, juntos, nos tornam uma potência ambiental nessa nova economia. Apenas a Amazônia e a nossa matriz energética mais limpa já nos dão uma posição privilegiada. Para termos uma ideia, quando falamos em produção de aço, o mundo, em média, emite 2,7 toneladas de carbono equivalente na produção de uma tonelada de aço. No Brasil, emitimos 1,7 tonelada de carbono equivalente por tonelada de aço produzido, ou 40% a menos. Isso significa que produzir no Brasil é mais verde. Hoje, conseguimos usar pouco esses diferenciais a nosso favor.  

Outra coisa importantíssima é que as energias renováveis no Brasil têm uma abundância gigantesca. O sol mais pobre para captação de placas solares é o de Santa Catarina. E, mesmo assim, ele é melhor do que qualquer sol na Europa. Então, temos de pensar que essas oportunidades podem nos ajudar não só a crescer, mas também a resolver problemas estruturais históricos, como vulnerabilidade social, falta de acesso ao saneamento básico e saúde. Temos muito potencial para fazer as coisas acontecerem.  

Quais são os setores com maior potencial para o crescimento da economia verde no país? 

O Brasil é o país das oportunidades. O mundo, atualmente, tem as suas emissões, na maioria dos países, oriunda da queima de combustíveis fósseis. Aqui no Brasil, por conta da matriz mais limpa, nossas emissões vêm do uso da terra, principalmente por causa do desmatamento. Hoje, cerca de 50% das emissões no Brasil vêm do desmatamento. E cada vez que combatemos o desmatamento, reduzimos as emissões.  

O agronegócio tem um papel importante, pois vem se modernizando e se inovando para, cada vez mais, desmatar menos e melhorar o manejo da terra, o que reduz a emissão de gases. A pecuária, idem. Então, se tivéssemos de elencar algumas áreas da economia brasileira com grande diferencial, podemos elencar o agronegócio e o setor de energia, cujo potencial eólico, solar e de hidrogênio verde é muito grande. Temos também de pensar na mineração, que oferece grandes oportunidades e, claro, nos setores de varejo e industrial como um todo.  Claro que, hoje, precisamos organizar um pouco mais as maneiras de perseguimos essas oportunidades, para que a gente consiga aproveitar a liquidez de capital para financiar essa economia.  

Quando falamos em preservação de grandes biomas, como a Amazônia, um dos pontos mais discutidos é o desenvolvimento econômico da região sem prejuízos ao meio ambiente. Como a economia verde poderia ajudar no desenvolvimento econômico e bem-estar da população que vive na região? 

Mais de 70% da população que vive na Amazônia está na linha de pobreza. E trata-se de um bioma que oferece potencial econômico gigantesco. Para termos uma ideia, se a Amazônia fosse uma empresa, teria um valor dez vezes superior ao PIB mundial. Há oportunidades incríveis para o desenvolvimento econômico da Amazônia a partir da biodiversidade, ou seja, a partir da bioeconomia de floresta em pé, onde temos uma série de produtos do bioma amazônico que podem se tornar rentáveis e ganhar escala, ao mesmo tempo em que preservam a floresta. Quando pensamos no desmatamento da Amazônia, são áreas de muito baixa produtividade. Mas atualmente não existem instrumentos financeiros viáveis que incentivem o produtor a manter a floresta em pé. Porque se houvesse esses instrumentos financeiros, valeria a pena manter a floresta em pé em vez de derrubar. Então, hoje eu vejo que a Amazônia tem condições reais de ser explorada de forma sustentável, com uma bioeconomia de floresta em pé e, ao fazer isso, também ajudaremos a gerar renda para a população que vive no bioma e hoje é muito pobre.  

Em relação ao agronegócio, como a economia verde se encaixa de modo a garantir o desenvolvimento do setor e evitar prejuízos de imagem que, inclusive, comprometem a venda de produtos brasileiros no exterior? 

Hoje em dia, nossa imagem está muito comprometida por conta do desmatamento. Inclusive, nos coloca em uma posição frágil do ponto de vista comercial. O agronegócio é um dos motores da economia nacional e as regras e regulamentações o tornam bastante sustentável. Exportamos muito e, por isso, sofremos muita pressão dos outros países para que, primeiro, nós evitemos o desmatamento. Em segundo lugar, que nós tenhamos eficiência na produção, com uso cada vez maior de processos de rastreabilidade, para entender como está a emissão de gases do efeito estufa.  

O agronegócio brasileiro vem se movimentando muito rápido e está conseguindo se reinventar. O problema é que hoje não temos uma marca forte. O mundo depende do agro brasileiro. Não vão deixar de comprar, mas a maneira como a gente possa melhorar a sustentabilidade dos nossos produtos vão garantir um espaço e uma posição melhores no cenário mundial.   

Como a inovação tecnológica ajuda no desenvolvimento de uma economia compatível com a preservação ambiental? 

Inovação é resultado de boas políticas de sustentabilidade. Ao perseguir a sustentabilidade, as empresas são obrigadas a melhorar os seus processos, a ser mais eficientes, a usar menos energia, a promover mais a economia circular e partir de políticas de extração para políticas de regeneração. A inovação não vem apenas da tecnologia. Ela vem por meio das pessoas também. Equipes mais diversas, com pessoas de diferentes raças, de diferentes etnias e que tenham mais equidade normalmente são equipes muito mais criativas e que, num ambiente tolerante à falha e à experimentação, produzem muito mais inovação. Ao perseguir a preservação, muitas vezes atingimos a inovação. De novo, a inovação pode vir por meio da tecnologia e de processos, mas, principalmente, por meio de pessoas.  

De modo geral, quais são os desafios para o crescimento da economia verde no Brasil nos próximos anos? 

Os desafios para a economia verde nos próximos anos são bastante intensos. Por um lado, o mundo como um todo não tem conseguido reduzir as emissões de forma que a gente consiga conter o aquecimento global e isso é um problema. Afeta a economia e a vida das pessoas. No caso do Brasil, nosso grande desafio é combater o desmatamento. O segundo desafio é conseguir produzir inovação local. Inovação brasileira a partir do nosso potencial ambiental, de sustentabilidade. O terceiro é ter um mercado consistente, alinhado, colaborativo e, com isso, que consiga dar escala em boas iniciativas que estão sendo desenvolvidas. E que essas iniciativas consigam ter espaço não apenas no exterior, mas que ajudem a organização do mercado interno.   

Caso vença esses desafios e adote uma agenda sólida de preservação ambiental e crescimento econômico, qual deve ser o papel desempenhado pelo Brasil entre as grandes nações no futuro? 

O mais relevante no momento e que está na mesa de todos os executivos, CEOs e conselhos de empresas é a sustentabilidade e de que forma o mundo vai conseguir fazer a transição energética. Se pensarmos que cada país tem o seu potencial, quem é o grande país da sustentabilidade? É o Brasil. O Brasil precisa se apropriar dessa marca. O país precisa entender a como colocar os preços corretos nos ativos que temos. Se conseguirmos fazer isso, o Brasil terá uma posição de destaque nos próximos anos entre todas as nações.   

Receba nossos alertas de notícias 

Fique atualizado com conteúdos produzidos pela Agência EY

Inscreva-se

Resumo

Sobre este artigo

Por Agência EY

A Agência EY é um espaço de notícias e conteúdo jornalístico