Maioria das empresas mantém ativos mais tempo do que deveria

16 set 2021
Por Agência EY

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16 set 2021

Pesquisa da EY mostra que CEOs e CFOs são vitais para identificar e preservar valor nas estratégias de desinvestimento

Apandemia reforçou a urgência de as empresas considerarem desinvestimentos para resolver as necessidades de liquidez e liberar capital para investir no futuro. A nona edição do “Global Corporate Divestment Study de 2021”, da EY, mostra que 95% das companhias brasileiras entrevistadas afirmaram que mantiveram ativos em seu portfólio mais tempo do que deveriam. E esse número não é alto apenas no Brasil: 78% dos respondentes no mundo disseram ter mantido ativos por tempo demais. 

A pesquisa, realizada entre janeiro e março deste ano, com 1.040 executivos das principais economias do mundo, revela que as empresas precisam construir uma relação mais forte entre sua estratégia e seus desinvestimentos para atender o desempenho esperado pelos stakeholders.

Com visão financeira e estratégica, os CEOs e CFOs podem acelerar esse processo e tomar medidas para ajudar a preservar o valor durante a transação. “Pensar em desinvestimento deveria ser um processo constante da empresa”, afirma Fabio Schmitt, sócio de Estratégia e Transações da EY.

O estudo global mostra que as empresas que executam desinvestimentos estão falhando em atender às expectativas de preço, prazo de venda e impacto do múltiplo valuation sobre o negócio remanescente (RemainCo). E isso está acontecendo mesmo em um mercado aquecido de transações. Há um ano, 86% dos respondentes brasileiros disseram que planejavam completar carve-outs (separação e alienação) nos próximos 24 meses. O que vem gerando um alto volume de desinvestimentos entre o fim de 2020 e 2021.

Nos últimos meses, o Brasil viu alguns grandes grupos revisarem seus negócios e desistir total ou parcialmente de suas operações. Depois de mais de um século produzindo no Brasil, a Ford anunciou o encerramento de sua produção de veículos no país. A decisão afetou as fábricas de Camaçari (BA), Taubaté (SP) e Horizonte (CE) - de jipes Troller. Mas a montadora segue com sua operação de vendas e assistência técnica, focando em produtos importados.

Em março, a companhia de atacado de autosserviço Assaí, a segunda maior do setor de comércio alimentar e a décima maior empregadora do setor privado no Brasil, teve sua separação do Grupo Pão de Açúcar aprovada para atuar de forma autônoma, voltada ao seu modelo de negócio e nas oportunidades de mercado.

Leia a seguir entrevista com Fabio Schmitt: 

Por que a estratégia de desinvestimento pode ser importante para uma empresa? 

Um dos pontos importantes é a reinvenção do negócio, a constante análise do portfólio. Entender quais negócios fazem sentido para o crescimento no longo prazo. O desinvestimento é o resultado dessa análise. Mostra aos investidores e acionistas que existe uma visão estratégica. Se o negócio ou a divisão não faz mais parte da estratégia da empresa, pode ser mais rentável nas mãos de outra. 

Em que momento é importante pensar no desinvestimento?  

Tão frequente quanto a empresa pense em estratégia. Na pesquisa, 95% reconhecem que mantêm ativos por mais tempo do que deveriam. Podemos fazer um paralelo com o que mudou no último ano nos perfis de consumo. Se eu tenho um negócio fundamentado em um modelo antigo, com menos tecnologia, com menos vendas on-line, está na hora de eu investir nisso ou vou perder o negócio. As mudanças do ambiente acontecem o tempo todo. O ponto é entender o ambiente de negócio, avaliar meus produtos e ativos internos, e decidir se eles são necessários para o futuro do negócio. Desinvestir não é algo negativo para negócios de baixo desempenho. Pode ser muito bom. Estratégias de desinvestimento bem-sucedidas são para crescer o negócio existente. No momento que eu entendo que aquele ativo não está recebendo capital necessário para se manter rentável e decido que talvez ele seja muito bem-sucedido na mão de um outro dono, é um negócio muito bom. E talvez eu possa usar os proventos desse desinvestimento para investir naquela tecnologia, naqueles mercados ou produtos novos que preciso desenvolver. Ou até mesmo usar o desinvestimento para fazer uma aquisição.

Então pode-se dizer que as empresas não estão avaliando seus negócios constantemente? 

Exatamente. As decisões de desinvestir são escolhas complexas. Qual é a direção do negócio? Qual é o case desse desinvestimento? O case ainda é muito fortemente impactado pelo negócio que tem mau desempenho. Em vez de olhar a estratégia, espero o negócio entrar em um ciclo de mau desempenho e aí decido desinvestir dele. Por esse motivo, 74% dos entrevistados dizem que o desinvestimento não atingiu a expectativa de valorização do resultado. Se eu tivesse refinado minha estratégia, olhado meu portfólio com mais frequência, provavelmente teria decidido pelo desinvestimento no tempo certo. O processo não é rápido, principalmente naquelas empresas em que existe muita sinergia nos negócios. Nosso estudo neste ano foca nos desafios que os CEOs e CFOs têm para criar e vender o case de desinvestimento para os stakeholders, incluindo acionistas. Esse é um desafio importante que ambos têm de fazer antecipadamente e não quando o negócio já estiver apresentando mau desempenho. Porque, assim, a decisão é reativa e não estratégica.   

As empresas têm estratégia para a parte que fica? 

Outro foco do estudo este ano é na RemainCo, que mostra o desinvestimento como uma oportunidade para reimaginar a companhia remanescente. Mais de 60% das empresas no Brasil e no mundo reconhecem não colocar ênfase suficiente na RemainCo durante sua última separação ou cisão. Quando decidir desinvestir em um ativo, líderes já deveriam ter a resposta do que fazer com o resultado daquela venda. Pode retornar o dinheiro para os acionistas. Mas isto normalmente não é o que acontece. O foco geralmente é em reinvestir em tecnologia, novas geografias ou expandir o negócio, por exemplo. Desinvestimento é um processo longo, demanda recursos e, às vezes, perde-se o foco no negócio que fica (RemainCo). Um dos pontos importantes que a gente traz no estudo é que a transformação fica apenas no ajuste de custos e não na transformação do negócio. A maioria das empresas que desinvestem não foca na transformação do negócio que fica.  

Como os CEOs e CFOs podem analisar os riscos e desafios? 

Os CEOs precisam determinar quais negócios não ajudam mais a impulsionar a estratégia - que são considerados não-core - tendo uma visão ampla de como uma empresa gera valor de longo prazo para os stakeholders. Mesmo assim, apenas 35% dos executivos no Brasil (e 37% no mundo) consideram o alinhamento com a visão ou missão da empresa um fator na identificação de desinvestimentos. Os CFOs podem conduzir revisões de portfólio mais eficazes que ajudem uma empresa a executar sua estratégia de longo prazo. A compreensão da estratégia da empresa e as métricas qualitativas e quantitativas que a orientam pode ser particularmente valiosa para os CFOs, permitindo-lhes ir além do planejamento e dos relatórios financeiros para a tomada de decisões de desinvestimento e definição estratégica. 

Como o mercado enxerga  o desinvestimento?  

O mercado enxerga muito bem. Entende que existe uma gestão que está olhando para o negócio e está disposta a tomar medidas para reorganizar o portfólio focando em crescimento. Ninguém desinveste para ficar menor. Esse é um ponto importante. Desinveste para crescer. Se tenho um negócio que não faz parte da minha estratégia futura, o desinvestimento é uma maneira de eu tirá-lo do meu portfólio e colocá-lo nas mãos de alguém que está focado naquele negócio. Desinvestir é para crescer.

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Pesquisa da EY mostra que CEOs e CFOs são vitais para identificar e preservar valor nas estratégias de desinvestimento.

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