3 Minutos de leitura 17 jan 2022

O 5G e o Agronegócio conectado

Autores
José Ronaldo Rocha

Sócio da EY e Líder de consultoria para Tecnologia, Mídia & Entretenimento e Telecomunicações (TMT) para LAS

Sócio da EY e Líder de consultoria para Tecnologia, Mídia & Entretenimento e Telecomunicações (TMT). Atua em projetos estruturantes na América Latina.

José Mendes

Gerente Sênior EY de Estratégia e Transações, para LAS

Executivo da EY Brasil entusiasta de economia e tecnologia. Líder do Centro de Excelência do Agronegócio da EY.

3 Minutos de leitura 17 jan 2022
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Nova tecnologia de conectividade tem um efeito transformador nos negócios do campo; fechar o gap tecnológico e cultural, porém, depende de uma atuação de todo o ecossistema.

O sucesso do leilão do 5G no Brasil, no quarto trimestre de 2021, abriu uma janela de oportunidades para o setor Agro. A expectativa do governo federal é que a nova tecnologia de conectividade traga um impulso de 10% no agronegócio nos próximos anos, gerando efeitos em cascata em toda a economia brasileira.

No campo, os efeitos do 5G poderão ser ainda mais importantes do que nas grandes cidades. Não apenas no Brasil, como em todo o mundo, a conectividade no campo é bem menos confiável – e possui menos velocidade – do que nas áreas urbanas. No Reino Unido, por exemplo, dados da Ofcom (a Anatel britânica) mostram que 9% do país possui acesso de baixa qualidade ao 4G.

Em um país continental como o Brasil, essas questões se tornam ainda mais importantes. O menor Retorno sobre o Investimento (ROI) para investimentos em telecomunicações em áreas menos adensadas e o maior custo para atender áreas mais amplas fazem com que a cobertura 4G seja relevante nos centros urbanos – mas rara no campo. Embora grandes fazendas consigam desenvolver redes privadas, mitigando a questão da conectividade, os pequenos produtores continuam dependentes das redes públicas.

Com o 5G, essa equação muda sensivelmente. A maior capacidade de disseminação dos sinais de telecomunicações em áreas abertas permite uma cobertura muito mais eficiente do campo, ampliando o acesso ao novo padrão de conectividade. Esse processo não acontecerá da noite para o dia – é um processo de anos, com um ecossistema que incorpore tecnologia e viabilize novas aplicações baseadas em 5G.

Operadores regionais de telecomunicações têm um papel especial na disseminação da conectividade 5G no país, pois entendem muito melhor as particularidades do produtor rural, com isso, podem entregar soluções mais próximas da realidade do campo. Uma vez que as operadoras foquem nas necessidades dos profissionais, das pessoas físicas, dos equipamentos do agronegócio e dos aplicativos, o 5G oferece uma grande oportunidade para reduzir o gap de tecnologia no campo, remodelando por completo a aplicação de pilares essenciais para os negócios, como a conectividade, o processamento de dados, a Internet das Coisas e a Inteligência Artificial.

Esse gap também será reduzido pela atuação das Agtechs – startups especializadas no Agronegócio. Esse é um movimento relativamente novo no cenário brasileiro, já com empresas atuando, mas ainda sem alcançar o status de unicórnio ou de abrir capital na Bolsa de Valores. O aumento das conexões no campo criará oportunidades que serão aproveitadas pelas startups, que entregarão mais soluções, acelerarão a inovação e estimularão um ciclo de expansão de negócios no Agro.

Oportunidades para o Agro

O ecossistema de negócios 5G no Agronegócio será destravado ao longo dos próximos anos, conforme o acesso da indústria à informação gerada no campo crie serviços de valor agregado em torno da tecnologia de conectividade. Abrem-se oportunidades para a automação da propriedade rural por meio de aplicações as a service, que acelerem a inovação no Agronegócio e aumentem a produtividade, apesar das dificuldades impostas pelos eventos climáticos extremos.

Isso representa, em um primeiro nível, a possibilidade de ampliar o acesso a condições concorrenciais. Com o 5G, torna-se muito mais fácil conectar compradores e vendedores.

Além disso, o controle da propriedade rural será otimizado. Na pecuária extensiva, por exemplo, o gado está espalhado, o que dificulta sua contagem e monitoramento de peso e saúde. O acesso 5G amplia a possibilidade de captura de informações e análise de dados, destravando valor especialmente em micro, pequenos e médios produtores.

Cultura: um entrave importante

O maior desafio para a transformação do Agronegócio com o 5G, porém, não é tecnológico – e sim cultural. O setor conta com profissionais e produtores que estão há muito tempo realizando as mesmas atividades da mesma maneira. A inclusão digital dessa população é, ao mesmo tempo, um imperativo de negócios e um desafio.

Curiosamente, o 5G pode auxiliar a superar esse desafio também, proporcionado uma experiência de aprendizado mais imersivo que permitem que novas competências sejam treinadas virtualmente, utilizando Realidade Virtual e Realidade Aumentada.

Por enquanto, será essencial o trabalho com agências de campo, que têm um papel muito relevante. Sua presença in loco, oferecendo treinamento, assistência e consultoria em projetos de conexão, contribui para facilitar a inclusão digital para quem, hoje, ainda vive em um cenário analógico. Gerenciar e modernizar a mão de obra no campo são atividades complexas, mas o 5G oferece uma oportunidade para fixar mais pessoas no campo.

Uma vez que essas questões sejam superadas, o 5G tem tudo para fazer com que o Brasil assuma uma posição ainda mais relevante como celeiro Agro do mundo. Mas, agora, sob uma perspectiva diferente: ajudando o produtor rural brasileiro a aumentar a qualidade de sua produção.

O Brasil tem uma produção agrícola de grande volume, mas nem sempre a quantidade se traduz em qualidade. Uma das razões para isso é a dificuldade de obter informações confiáveis sobre a rastreabilidade dos produtos. A conectividade no campo acelera a adoção de tecnologias como IoT e RFID, aumentando a base de dados e a capacidade analítica dos produtores e de toda a cadeia de suprimentos.

E quando se dá acesso a esse maior volume de informação, a qualidade da produção no campo tende a evoluir, fomentando não somente a agricultura de grande volume, mas também negócios de menor porte com foco em sustentabilidade. Tudo isso valoriza ainda mais a produção e viabiliza a obtenção de certificações de qualidade no Brasil e no exterior, em um ciclo muito positivo para o desenvolvimento dos negócios Agro.

Considerando que a coleta de dados e a disponibilização da informação ao longo da cadeia de suprimentos dará muito mais visibilidade a pequenos e médios produtores, o 5G permitirá criar um ecossistema para o Agronegócio no Brasil. A construção de uma infraestrutura com base na conectividade 5G em alta velocidade abre caminhos para a adoção de ferramentas que podem ir do WhatsApp a sistemas integrados de gestão da cadeia de suprimentos.

Resumo

As novas tecnologias de conectividade tem um efeito transformador nos negócios do campo, mas para uma atuação completa do ecossistema, é preciso fechar o gap tecnológico e cultural que ainda existe.

Sobre este artigo

Autores
José Ronaldo Rocha

Sócio da EY e Líder de consultoria para Tecnologia, Mídia & Entretenimento e Telecomunicações (TMT) para LAS

Sócio da EY e Líder de consultoria para Tecnologia, Mídia & Entretenimento e Telecomunicações (TMT). Atua em projetos estruturantes na América Latina.

José Mendes

Gerente Sênior EY de Estratégia e Transações, para LAS

Executivo da EY Brasil entusiasta de economia e tecnologia. Líder do Centro de Excelência do Agronegócio da EY.

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