11 Minutos de leitura 27 nov 2023
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The CFO Imperative Series

Como é que o entendimento do risco climático nos levará das ambições às ações?

Por Matthew Bell

EY Global Climate Change and Sustainability Services Leader

Climate change and sustainability leader. Engaging in purposeful change and creating long-term value for global organizations. Savvy in science and technology.

11 Minutos de leitura 27 nov 2023

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  • 2023 EY Global Climate Risk Disclosure Barometer (pdf)

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O quinto Barômetro de Divulgação de Riscos Climáticos da EY mostra um aumento no número de empresas que apresentam relatórios sobre o clima, mas ficam aquém das suas ambições relativas à descarbonização.

Em resumo
  • Há aumentos incrementais na qualidade das divulgações relacionadas com o clima, mas a taxa de melhoria não é suficiente para mudanças mensuráveis
  • Três novas áreas principais ditarão o panorama dos relatórios nos próximos anos
  • As empresas devem utilizar divulgações relacionadas com o clima para promover a estratégia empresarial, em vez de vê-la como um fardo no tocante à conformidade

Depois de uma década em que as divulgações das empresas relacionadas com o clima ficaram mais rigorosamente regulamentadas, o foco está agora nas ações e na transição de compromissos e definição de metas para resultados mensuráveis. A necessidade de agir revela-se mais urgente do que nunca. Não basta simplesmente manter-se atualizado com a mais recente iteração das normas relacionadas com o clima. Também não é possível suscitar as mudanças tão necessárias simplesmente oferecendo ambições vagas e de longo prazo, sem um plano claramente articulado sobre as formas de atingi-las. A realidade é que os reguladores governamentais, os stakeholders e o público estão exigindo muito mais das empresas na batalha para deter as alterações climáticas.1

Atualmente em seu quinto ano, o EY Climate Risk Disclosure Barometer (pdf) [Barômetro de Divulgação de Riscos Climáticos da EY] foi concebido para identificar as tendências, oportunidades e os principais problemas enfrentados pelas empresas em relação às alterações climáticas. Faz-se necessária uma transformação em toda a economia para manter o aquecimento global numa trajetória abaixo de -2°C. Dessa forma, as empresas precisam de ajuda para navegar no complexo cenário dos requisitos regulamentares e compreender a sua avaliação comparativa em nível global. Quanto melhores forem as informações disponíveis para os stakeholders, reguladores e investidores, melhores e mais sustentáveis serão as decisões que poderão ser tomadas pelas empresas e pelos governos com relação aos riscos climáticos.

Barômetro de Divulgação de Riscos Climáticos da EY 2023

Divulgações relacionadas com o clima de

1.500

empresas foram avaliadas

O escopo geográfico incluiu

51

países em todo o mundo

Se ainda não o fizeram, as empresas devem mudar a sua mentalidade para compreenderem que abordar e refletir os riscos climáticos nos relatórios não é um mero exercício de escolha. Em vez disso, poderia apresentar oportunidades para prosperar. Um estudo recente da EY descobriu que quando as empresas agem em matéria de alterações climáticas, obtêm retornos acima do esperado em termos de valor financeiro, para os clientes, para os colaboradores, para a sociedade e para o planeta.

De forma encorajadora, o Barômetro 2023 mostra que as empresas estão avançando nas suas divulgações de dados climáticos. No geral, o índice de qualidade das divulgações analisadas na pesquisa subiu de 44% para 50%. Isto confirma que as empresas estão investindo mais tempo e energia para melhorar o que divulgam aos stakeholders. Ao mesmo tempo, podem ser notados sinais positivos de uma melhor governança em todo o mundo. Muitas empresas estão adotando exigências de divulgação do International Sustainability Standards Board (ISSB) e declarando se possuem as competências necessárias em nível do conselho para supervisionar estratégias relacionadas com o clima. Além disso, as empresas estão considerando as emissões de gases de efeito estufa de nível 3 em todas as categorias de materiais para compreender melhor os riscos e exposições climáticas nas suas cadeias de valor. Essas melhorias são marginais, no entanto. Para contextualizar as conclusões, oito anos já se passaram desde o lançamento do Grupo de Trabalho sobre Divulgações Financeiras Relacionadas com o Clima (TCFD). Portanto, uma pontuação do critério qualidade de apenas 50% revela-se uma preocupação. Os relatórios sobre o clima são cruciais para nos ajudar a compreender se a economia como um todo - e os setores e empresas dentro dela - realmente estão avançando para uma transição real.

  • Metodologia

    Em 2023, a EY conduziu uma análise geral do alinhamento das divulgações de riscos relacionados com o clima das organizações. A pesquisa considerou as divulgações de mais de 1.500 empresas (as maiores por capitalização de mercado) em 13 setores expostos, em 51 jurisdições. Toma por base divulgações públicas produzidas durante o ano civil de 2022 por empresas dos setores financeiro e não financeiro, inclusive empresas que correm alto risco de impacto relacionado com o clima. Essas divulgações normalmente eram realizadas em relatórios anuais de sustentabilidade e em relatórios do Carbon Disclosure Project.

    Esta avaliação fornece uma compreensão do atual estado da comunicação de riscos climáticos globais, particularmente em termos de como se alinha com as 11 recomendações do TCFD.

    As empresas foram pontuadas a partir de duas métricas diferentes: a cobertura e a qualidade das suas divulgações.

    Cobertura: As empresas receberam uma pontuação em termos percentuais, com base no número de recomendações do TCFD que abordaram. Uma pontuação de 100% indicou que a empresa divulgou algum nível de informação compatível com cada uma das recomendações, independentemente da qualidade das informações fornecidas.

    Qualidade: As empresas receberam uma classificação com base na qualidade da divulgação expressa como uma percentagem da pontuação máxima, caso a empresa implementasse todas as 11 recomendações.

    Vários novos elementos incluíram uma exploração da preparação das organizações para a introdução da IFRS S2 Divulgações relacionadas com o clima.

    Para ler mais sobre a metodologia, veja o relatório completo.

Pessoas chegando para trabalhar
(Chapter breaker)
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Parte 1

Líderes e retardatários: um benchmarking dentro de setores e mercados

Determinados mercados e setores registram avanços com os relatórios climáticos, enquanto outros ainda estão atrasados.

Numa tendência que reflete o Barômetro do ano passado, certos mercados e setores continuam a avançar com as suas divulgações relacionadas com o clima, enquanto outros trabalham para recuperar o atraso.

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    O primeiro gráfico mostra os cinco principais mercados com melhor desempenho e a sua qualidade de divulgação relacionada com o clima. O Reino Unido está com 66%, o Japão está com 59%, a Coreia do Sul está com 58%, a Europa Ocidental/Noroeste está com 58%, o Sul da Europa está com 56% e o Canadá está com 56%.

    O segundo gráfico mostra os cinco principais mercados com melhor desempenho e a sua cobertura de divulgação relacionada com o clima. A Coreia do Sul está em 100%, o Japão está em 99%, o Reino Unido está em 98%, a Europa Ocidental/Noroeste está em 98% e o Canadá está em 98%.

    O terceiro gráfico mostra os cinco setores com melhor desempenho e a qualidade de divulgação relacionada com o clima. Tanto a Energia como os Seguros estão em 55%, os Materiais e Edificações, juntamente com Outras Instituições Financeiras (por exemplo: Bolsas, outros prestadores de serviços financeiros, agências de classificação de risco ("rating") e agências de crédito) estão em 54% e as Telecomunicações e tecnologia registram 52%.

    O quarto gráfico mostra os cinco setores com melhor desempenho e a sua cobertura de divulgação relacionada com o clima. Energia está em 95%, Materiais e Edifícações está em 95%, Seguros está em 93%, Telecomunicações e tecnologia está em 91% e Outras Instituições Financeiras (por exemplo: Bolsas, outros prestadores de serviços financeiros, agências de classificação de risco e agências de crédito) estão em 84 %.

Do ponto de vista do mercado, o Japão, a Coreia do Sul, as Américas e a maior parte da Europa apresentam um forte desempenho e lideram o caminho em termos de qualidade das suas divulgações. Isso não causa surpresa, já que estes países e regiões podem recorrer a vários anos de divulgações obrigatórias do TCFD, que prepararam as empresas para os requisitos mais detalhados do ISSB.

Por outro lado, o Oriente Médio e o Sudeste Asiático melhoraram o seu desempenho em comparação com o ano passado e posicionaram-se para novos avanços, mas ainda estão em ritmo lento. Os governos têm a oportunidade de reforçar as suas exigências de divulgação climática para acelerar o progresso nesse sentido. Ao adotarem requisitos obrigatórios de divulgação climática, têm condições de potencialmente alterar as pontuações atualmente baixas em uma medida significativa.

Quanto aos setores, o relatório deste ano destaca mais uma vez que as empresas com maior exposição ao risco de transição tendem a apresentar pontuações mais elevadas nas suas divulgações, tanto em termos de qualidade como de cobertura. O setor de energia lidera o grupo em qualidade e cobertura, embora o seu desempenho de qualidade seja, em grande medida, igualado por instituições financeiras, como bolsas, outros prestadores de serviços financeiros, agências de classificação de risco e agências de crédito, cuja pontuação aumentou notavelmente ano após ano, de 46% para 54%. Na verdade, a qualidade melhorou em todos os aspectos, com as maiores mudanças observadas no setor imobiliário, mineração, agricultura e materiais e edificações, bem como nas instituições financeiras. A mudança nas pontuações provém dos stakeholders, tais como reguladores e investidores, incluindo instituições financeiras, que estão pressionando as empresas dos setores intensivos em termos de carbono para divulgarem os seus planos e avanços no tocante à descarbonização.  Do ponto de vista das instituições financeiras, o financiamento impulsiona a maior parte dos seus negócios, e os investidores estão exercendo pressão para que as empresas reduzam suas linhas de crédito que acabam contribuindo para a carbonização.

A mudança nas pontuações provém dos stakeholders, tais como reguladores e investidores, incluindo instituições financeiras, que estão pressionando as empresas dos setores intensivos em termos de carbono para divulgarem os seus planos e avanços no tocante à descarbonização.

Juntamente com a melhoria na qualidade, houve também um aumento acentuado, ano após ano, na pontuação da cobertura da divulgação. A cobertura aumentou de 84% em 2022 para 90% em 2023.  No entanto, subsistem algumas preocupações prementes, especialmente em torno da granularidade e da qualidade das divulgações, e se o ambiente regulamentar relativo às divulgações ainda está promovendo ações genuínas, que vão além da divulgação em si. 

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    As duas primeiras imagens gráficas circulares indicam que a pontuação média para a qualidade das divulgações de governança desde o ano passado aumentou de 46% para 52%. As segundas duas imagens gráficas circulares mostram que o aumento da Cobertura subiu de 84% em 2022 para 90% em 2023.

A pontuação média para a qualidade das divulgações de governança aumentou de 46% para 52% desde 2022 – em parte devido à pressão regulamentar – mas esse número ainda é muito baixo. O planejamento da transição também permanece irregular, com apenas pouco mais de metade (53%) das empresas fornecendo algum tipo de plano coerente. A pesquisa descobriu que as empresas ainda estão mais focadas nos riscos do que nas oportunidades quando se trata de divulgações climáticas. Embora 77% dos avaliados tenham realizado análises de risco, apenas 68% o fizeram com relação a oportunidades, uma ligeira melhoria em relação a 2022.

Instalação de árvores em um arranha-céu
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Parte 2

Estruturação do cenário de relatórios em um futuro próximo

Que elementos-chave terão impacto nas divulgações relacionadas com o clima nos próximos anos?

Além do desempenho de divulgação das empresas em relação às recomendações do TCFD, a pesquisa deste ano também incluiu três elementos principais que moldarão o cenário de relatórios para os próximos anos.

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    A imagem gráfica mostra os três elementos principais que moldarão o cenário de relatórios nos próximos anos:

    Trata-se, em primeiro lugar, da preparação para o ISSB. Isso abrange os níveis de preparação de uma empresa para a introdução das duas primeiras Normas de Divulgação de Sustentabilidade IFRS do ISSB, aplicáveis a partir de 1o. de janeiro de 2024 (dependendo da adoção jurisdicional).

    Em segundo lugar, o planejamento da transição. Isso abrange as atividades de uma empresa para projetar e implementar planos de transição eficazes.

    Em terceiro lugar, o reflexo do risco climático nas demonstrações financeiras.  Isso abrange o nível em que os riscos e oportunidades relacionados com o clima estão sendo refletidos nas demonstrações financeiras das empresas.

Preparação para o ISSB

Pela primeira vez, a pesquisa deste ano analisou a preparação das empresas para cumprir os requisitos da IFRS S2 Divulgações relacionadas com o clima. Essas descobertas se destacaram:

  • No tocante à governança, as empresas estão adotando mais exigências de divulgação do ISSB e divulgando quais as habilidades e competências necessárias em nível de conselho/diretoria para supervisionar as estratégias relacionadas com o clima.
  • Olhando para a estratégia, as empresas estão avançando no sentido de uma divulgação adicional em torno de cenários que incluam análises detalhadas e as suas contribuições. Além disso, as empresas começaram a incluir metas de redução de emissões da cadeia de valor nas suas metas globais de redução.
  • Do ponto de vista de métricas e metas, as empresas estão avançando no sentido de divulgar suas emissões de Nível 3 para as categorias mais relevantes.

As empresas líderes normalmente analisam como o clima pode causar impactos em sua estratégia de negócios, em vez de usar estruturas de relatórios apenas para divulgação. As questões climáticas estão se tornando fundamentais para a estratégia de empresas de vanguarda, e as empresas que compreenderam os vínculos entre o risco climático e a sua estratégia de crescimento estão bem posicionadas para responder às novas exigências da IFRS S2. Exemplos de empresas pioneiras que utilizam divulgações climáticas para impulsionar a estratégia podem ser encontrados no relatório completo (pdf).

Planejamento de transição

Embora ainda seja preciso um maior envolvimento com as divulgações de sustentabilidade, as empresas enfrentam agora um grande desafio: conceber e implementar um plano de transição eficaz que considere cenários do mundo real e comprometa recursos reais para os esforços necessários.

No entanto, o Barômetro mostra que apenas 53% das empresas pesquisadas estão divulgando algum tipo de plano de transição. Este número deveria ser significativamente mais elevado, uma vez que uma estratégia de transição bem estruturada ajuda as empresas a permanecerem alinhadas ou à frente dos objetivos políticos relevantes para a organização.

Apenas

53%

das empresas pesquisadas estão divulgando algum tipo de plano de transição

Reflexo do risco climático nas demonstrações financeiras

As empresas enfrentam procura mais elevada por um maior escopo e grau de detalhamento nas suas divulgações relacionadas com o clima. Portanto, a questão mais premente para essas empresas nos próximos anos estará concentrada, inevitavelmente, na forma como os seus riscos e respostas estratégicas se refletem nas suas demonstrações financeiras. O 2023 Barometer (pdf) mostra que pouco mais de um quarto das empresas (26%) estão incluindo os impactos quantitativos dos riscos relacionados com o clima nas suas demonstrações financeiras – o que reflete uma tendência geral de a estratégia climática e a gestão do risco permanecerem, em grande medida, segregadas da apresentação de relatórios corporativos. Isso deve tornar-se um ponto de tensão, uma vez que refletir o risco climático nos relatórios não deve consitituir mera tarefa de preenchimento de formulários, mas sim um esforço abrangente e prospectivo para compreender o impacto financeiro previsto. Assim, isso deve ser avaliado no contexto da cadeia de valor da empresa e da dinâmica mais ampla do mercado. 

Homem com roupa de trabalho protetora em um carro
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Parte 3

O caminho a seguir: aceleração do ritmo

Embora o nível de divulgação de relatórios esteja caminhando na direção certa, falta ainda ritmo e intensidade.

O quadro geral traçado pelo Barômetro Global de Riscos Climáticos da EY deverá soar o alarme. Os grandes aumentos anuais em determinadas estatísticas são, com razão, motivo de comemoração, mas para muitos setores e regiões geográficas a melhoria parte de uma base baixa e os avanços são demasiado lentos.

O relatório identifica três ações que as empresas devem realizar cm urgência:

  1. Mudar a mentalidade de ônus para ações: As empresas “pioneiras” utilizam a divulgação para promover comportamentos, em vez de tratar essa divulgação como um ônus em termos de conformidade. Dados detalhados, coerentes e mensuráveis nas divulgações são normalmente acompanhados pelo rigor e energia em torno da estratégia e da ação.
  2. Domine os dados para que atendam à sua agenda de descarbonização: Utilize dados para promover ações e reduzir emissões. Implemente estruturas de governança para aproveitar e gerir os dados de forma que estejam sempre integrados na gestão de riscos estratégicos e operacionais.
  3. Eleve o nível em que a discussão é promovida para gerar impacto: Para que a estratégia global de negócios seja verdadeiramente municiada, aborde os dados climáticos e os impactos relacionados no nível do conselho de administração. Isso, por sua vez, permite que os líderes adotem uma abordagem holística que engloba operações, pessoas, cadeia de valor e tecnologia.

Barômetro Global de Divulgação de Riscos Climáticos da EY 2023

Para entender melhor por que as empresas precisam mudar de uma mentalidade de compromisso para uma mentalidade de ação, consulte o relatório completo.

Faça o download do relatório

Resumo

Atualmente em seu quinto ano, o Barômetro Global de Riscos Climáticos da EY é uma referência estabelecida que avalia os avanços alcançados tanto na cobertura como na qualidade das divulgações relacionadas com o clima em nível global. Examina mais de 1.500 empresas em todo o mundo para avaliar o desempenho da divulgação em relação às 11 recomendações do TCFD. A análise mede as empresas quanto ao número de divulgações recomendadas que fazem (cobertura) e à extensão e detalhe de cada divulgação (qualidade).

Sobre este artigo

Por Matthew Bell

EY Global Climate Change and Sustainability Services Leader

Climate change and sustainability leader. Engaging in purposeful change and creating long-term value for global organizations. Savvy in science and technology.