2 Minutos de leitura 19 mai 2021

O imperativo do CFO: Como os relatórios corporativos podem conectar seu negócio ao seu verdadeiro valor?

Por Flávio Machado

Sócio-líder de FAAS

Flávio lidera o EY Center for Board Matters (CBM) na América Latina do Sul e também é sócio-líder de Financial & Accounting Consulting Services (FAAS).

2 Minutos de leitura 19 mai 2021

Estudo da EY Global mostra como os líderes financeiros podem redefinir a importância dos relatórios financeiros em um mundo no qual os stakeholders exigem percepções sobre o valor de longo prazo e o crescimento sustentável.

Por Aniz Souza, gerente sênior de Financial & Accounting Advisory Services da EY.

 

Apandemia da COVID-19 tem forçado nossas comunidades a adaptar suas necessidades e prioridades e acelerar o passo da transformação. Da mesma forma, para o mundo corporativo, houve também uma remodelagem, a qual já estava caminhando, porém em passos mais morosos. A situação atual do mundo fez com que os líderes financeiros tivessem um olhar que fosse além da pandemia, dentro de uma ótica que trouxesse como base itens fundamentais a serem sustentados: o meio ambiente, fatores sociais de diversidade e inclusão, além, claro, de um ambiente digital.

Para manter a relevância dos relatórios corporativos em um mundo de rápida mudança e de situação adversa, fornecer uma visão prospectiva é fundamental para que os tomadores de decisões tenham mais embasamento técnico consultivo em momentos como este que vivemos. Segundo a pesquisa global da EY, os líderes financeiros devem olhar para o impacto ambiental, social e de fatores de governança corporativa (ESG) que desafiam o papel tradicional que os relatórios sempre desempenharam. Basicamente, a pesquisa global traz três áreas de ação que serão importantes para entregar um novo futuro para as finanças e os respectivos relatórios corporativos:

  1. Aceleramento da digitalização da área financeira e contábil das companhias e construção da confiança com base em Inteligência Artificial (AI) e outras tecnologias;
  2. Inserção do papel financeiro no centro das questões de sustentabilidade e dos relatórios de ESG “environmental, social and governance”, sigla em inglês para o aspecto ambiental, social e de governança, o qual tomou importância devido a capacidade de preparo das companhias em resposta a crises e impactos socioambientais;
  3. Foco em uma estratégia de Talentos a fim de requalificar pessoas para um futuro diferente do que estamos inseridos;

A pesquisa anual de relatórios corporativos global da EY de 2020, da equipe de FAAS - Financial Accounting Advisory Services, avalia como os líderes financeiros de todo o mundo estão usando a oportunidade oferecida pelo ambiente adverso de hoje. O estudo analisa como os líderes estão aproveitando o momento para desafiar o papel tradicional dos relatórios e tomar medidas ousadas a fim de manter a relevância dos relatórios em um mundo em rápida transformação. CFOs, Controllers e outros líderes financeiros compartilharam suas perspectivas sobre como as finanças podem desempenhar um papel fundamental para transformar as ambições de valor de longo prazo da organização em realidade e reinventar a forma como as finanças e os relatórios são entregues aos seus stakeholders. 

Com base nas três principais áreas de atuação mencionadas anteriormente, realizamos um recorte neste estudo voltado à agenda dos líderes financeiros do Brasil. Foram levados em conta questões sobre o modelo operacional de finanças e seus relatórios, o que devem buscar, suas prioridades em relação a eficiência versus custos e gerenciamento de riscos. Com seu objetivo claro e definido, os líderes financeiros podem ser enfáticos em seus modelos operacionais e em sua habilidade de visão a longo prazo.

Quando questionados sobre o quão satisfeitos estavam perante aos aspectos de resposta da sua organização diante da pandemia de COVID-19, os líderes foram, em sua maioria, positivos e satisfeitos, principalmente nas questões relacionadas aos arranjos de trabalho alternativo, ao nível de resiliência pessoal da equipe de finanças, à eficácia contínua dos controles financeiros e de relatórios em um ambiente virtual, à capacidade de acessar dados financeiros e de relatórios para apoiar nas principais comunicações de crise, bem como às necessidades de gerenciamento de equipes, conselhos, trabalho em grupo e colaboração dos times em uma equipe financeira remota.

Uma média de 80% dos respondentes afirmaram que espera-se, cada vez mais, que as equipes de finanças meçam e comuniquem como a empresa cria valor de longo prazo para os investidores e outros stakeholders, pois, com o aumento de investidores ativistas, as companhias estão sob pressão significativa para cumprir metas financeiras de curto prazo, além de se sentirem mais vistos pelos stakeholders como administradores reais.

Os maiores desafios de medição e comunicação de desempenho da abordagem de longo prazo, na visão dos líderes, está totalmente relacionada à ausência de uma estrutura de relatório formal que mostre como a conexão entre ativos tangíveis e intangíveis contribui para a criação de valor em longo prazo e também o desafio de estabelecer a materialidade - identificar quais os fatores ambientais, sociais e econômicos são materiais relevantes para a criação de valor no longo prazo e mais importante para os stakeholders, além da necessidade de criar maior disciplina nos processos e controles de relatórios não financeiros para construção de confiança nos números apresentados.

Para as questões relacionadas ao ambiente de tecnologia e analytics, os líderes foram convidados a olhar para os próximos três anos, em conjunto com as principais prioridades da função financeira e relatórios em geral, para obterem um recorte de quais áreas de tecnologia seriam priorizadas para investimentos. Deles, 54% afirmaram que Inteligência Artificial (AI) seria a tecnologia priorizada, seguido de 37% para as tecnologias relacionadas a ferramentas baseadas em Blockchain e automação de processos robóticos.

Os desafios mais significativos para a respectiva adoção de Inteligência Artificial nas companhias, segundo 60% dos líderes financeiros, está relacionado à dificuldade de integração dos sistemas legados das companhias quando comparado com as novas tecnologias de mercado, além de recursos aptos na capacidade de entrega e preocupações quanto à exposição a novos riscos cibernéticos.

Para as questões relacionadas com o tema de Transformação Financeira, líderes foram desafiados a elevar seu raciocínio para o futuro no curto prazo e discorrer sobre os próximos três anos dentro de suas organizações, assim como o espaço em suas respectivas comunidades de negócios. Quanto aos principais processos financeiros, 93% dos respondentes do Brasil acreditam que relatórios financeiros e a função de contas a receber serão automatizados em escala, liberando suas equipes para realizar tarefas distintas e que, de fato, agregam mais valor em suas posições, além de acreditarem que mais da metade das tarefas financeiras e de relatórios atualmente realizadas por pessoas serão realizadas por bots. A maioria dos entrevistados acredita, sim, que a inteligência artificial e o aprendizado de máquina terão transformado o processo de fechamento financeiro, levando-os a um fechamento contínuo e tempestivo dentro das organizações, e que os relatórios passarão para um modo “sob demanda”, em que os líderes de negócios poderão acessar os relatórios quase que em tempo real, usando ferramentas de autoatendimento, e também por acreditarem que os sistemas baseados em blockchain irão sustentar as finanças e os relatórios gerados, fornecendo gerenciamento de dados em tempo real e relatórios que suportarão tais dados.

Para um reflexo nas habilidades críticas que o líder financeiro precisará na futura função financeira a curtíssimo prazo (12 meses), incluindo conjuntos de habilidades digitais, comportamentais e financeiras, cerca de 27% dos entrevistados acreditam que a especialidade em entrega de tecnologia e transformação digital em metodologias ágeis serão fundamentais para sua capacitação. As metodologias ágeis são conjuntos de práticas de trabalho que fornecem um jeito de gerenciar projetos mais adaptáveis às mudanças do dia a dia de projetos internos, são totalmente estruturadas em pequenos ciclos,  sendo que, em cada novo ciclo, é entregue um conjunto de funcionalidades e/ou produtos que foram pré-determinados no início dos projetos ou na fase de planejamento.

Quanto às habilidades que esperam para se ter o sucesso esperado, os líderes acreditam que o principal desafio para garantir que sua função financeira tenha tais habilidades está baseado na construção de uma cultura organizacional de aprendizagem eficaz para que pessoas sejam capazes de se atualizar constantemente, assim como renovar suas habilidades e garantir que tais habilidades técnicas e capacidades acompanhem o ritmo acelerado das mudanças tecnológicas e, por fim, no recrutamento de pessoas, não apenas com habilidades financeiras básicas para o desempenho de suas funções, mas também com a mentalidade certa para ter sucesso no futuro almejado.

No pilar das questões relacionadas a Stakeholders e Governança, identificamos quais seriam as áreas em que a demanda por insights e informações aumentou nos últimos 12 meses e quais stakeholders estão trazendo mais demandas. Neste quesito, mais da metade dos líderes entendeu que Investidores e CEOs das companhias é a área que mais gera tais demandas, as quais vieram a direcionar suas estratégias e funções sob uma ótica de mudança para os próximos três anos. Também acreditam que serão os comitês de auditoria que desempenharão um papel cada vez maior na compreensão da exposição das companhias à interrupção impulsionada pela tecnologia e no desenvolvimento de estratégias de resposta aos respectivos investidores.

Esse estudo da EY Global poderá contribuir para que os líderes financeiros possam desenvolver uma visão estratégica do seu planejamento para os próximos anos, estabelecendo uma conexão real com o valor do seu negócio e sua atuação na comunidade da qual faz parte por meio da sua realidade local, além de trazer resiliência e visibilidade de longo e curto prazo enquanto enfrenta o cenário de adversidade com a pandemia da COVID-19.

O objetivo desse recorte do estudo global, voltado para as características locais do Brasil, é estabelecer uma linha direta com os líderes financeiros no mundo e em vista da situação adversa, identificando os riscos e impulsionando o planejamento com foco no valor de longo prazo para os stakeholders, conectando-os nas dimensões da função financeira, de clientes, de pessoas e sociedade, estabelecendo valor no negócio e na estratégia de gerenciamento.

Resumo

O estudo global “The CFO Imperative: How can corporate reporting connect your business to its true value?” mostra como os líderes financeiros podem redefinir a importância dos relatórios financeiros em um mundo onde os stakeholders exigem percepções sobre o valor de longo prazo e o crescimento sustentável.

Sobre este artigo

Por Flávio Machado

Sócio-líder de FAAS

Flávio lidera o EY Center for Board Matters (CBM) na América Latina do Sul e também é sócio-líder de Financial & Accounting Consulting Services (FAAS).