Oportunidades e desafios do sistema integrado de saúde

Por João Simões

EY Parthenon – Strategy Medical Manager

João é gerente médico da EY Parthenon na América do Sul especializado nas práticas de saúde e estratégia.

3 Minutos de leitura 18 jun 2021
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As populações estão envelhecendo, e as taxas de doenças crônicas estão aumentando – 52% da população adulta hoje tem pelo menos uma doença crônica. 

Por João Simões, EY Parthenon Strategy Medical Manager, Mariana Wiezel Senior Manager de Healthcare Strategy da EY e Leisa D. Maddoux , EY Global and US Health Transformation Practice Leader.

 

Àmedida que a expectativa de vida continua aumentando, estamos ficando mais doentes, obesos e idosos. Essas tendências se combinarão, para criar um pico inédito na demanda por cuidados com a saúde, além de aumentar o custo da implementação desses cuidados – doenças crônicas custarão ao Brasil um valor estimado de US$ 184 bilhões até 2030.  (Victoria Institute of Strategic Economic Studies, 2015)

Isso,  junto com a transformação das expectativas do consumidor, não apenas em relação à qualidade dos cuidados recebidos, mas também relativamente à sua participação na sua saúde e, em última análise, sua experiência em toda sua jornada de cuidados, levou o setor a uma situação insustentável. Além disso, o mercado de prestação de serviços de saúde no Brasil apresenta um ambiente competitivo com um número cada vez maior de fusões e aquisições, que consolidam ainda mais propostas de valor polarizadas que ainda não se alinham às necessidades dos consumidores ou provedores:

  1. Alta qualidade e experiência a um preço significativo; ou
  2. Produtos de baixo custo com limitações de acesso, a fim de conter o custo e/ou aumentos anuais no valor do plano.

Assim, novas necessidades de cuidados e expectativas de clientes combinadas com maiores pressões nos custos, forçam pagadores e provedores de serviços de saúde a reavaliar suas avenidas e metas de crescimento, e, desse modo, a redefinir suas vantagens competitivas, com o objetivo de permitir o crescimento sustentável.

A fim de entender se a integração de um sistema de saúde é a solução para o crescimento sustentável, é preciso entender se as vantagens competitivas geradas são as necessárias para conquistar os mercados relevantes, o que isso significa operacionalmente e quais são as armadilhas relevantes que devem ser levadas em conta.

Vantagens Competitivas de um Sistema de Saúde Integrado

Dependendo de como as avenidas de crescimento são definidas e mensuradas, integrar um sistema de saúde pode ser o modelo operacional ótimo que criará as vantagens competitivas requeridas para conquistar o mercado.

Esse modelo operacional – Sistema de Saúde Integrado - gera cinco vantagens competitivas:

  1. Economias de escala: a integração permitirá negociações com parceiros e fornecedores que abrangem todo o sistema, aumentando, assim, o poder de negociação e de barganha que criará relacionamentos comerciais mais benéficos;
  2. Jornada de experiência do cliente integrada: ao integrar diferentes níveis e unidades de atendimento, o deslocamento dos pacientes pelos diferentes momentos de sua jornada de cuidados será integrado, evitando confusão e duplicação nos processos de cuidados;
  3. Eficiência operacional: integrar operações e serviços de suporte aumentará o volume operacional, o que permitirá a realização de investimentos de TI e a especialização dos funcionários, além da eliminação de sobreposições e redundâncias entre os vários sistemas;
  4. Estrutura de recursos dinâmica: a integração de recursos (humanos, equipamentos, infraestrutura) criará a capacidade de responder melhor à volatilidade da demanda nas várias geografias e populações ao compartilhar esses recursos, a fim de evitar excesso ou déficit de recursos; e
  5. Capacidade de gerar lock-in em pacientes e aumentar seu Life Time Value: à medida que as unidades de atendimento e diferentes níveis de atendimento são integrados, os consumidores se tornam mais fieis ao sistema, não podendo mudar para outros provedores sem inconveniência ou custos substanciais - aumentando o lock-in do cliente . Desse modo, não só estimula novas oportunidades de vendas cruzadas, como também pode gerar receitas recorrentes do mesmo grupo de clientes.

A fim de obter as vantagens competitivas nos mercados selecionados, é essencial entender o que significa integrar um sistema de saúde e como esse sistema sustenta a diferenciação no mercado.

 

Dimensões do modelo operacional de um Sistema de Saúde Integrado

Integração consiste na alavancagem e coordenação de sinergias entre as diferentes unidades de saúde com metas e responsabilidades compartilhadas, a fim de oferecer um cuidado integrado, eficaz e eficiente que responda ao conjunto das necessidades de saúde de uma pessoa em toda a sua jornada de saúde.

O sucesso dessa coordenação depende de um conjunto de capacidades que um sistema de saúde precisa ter, distribuídas em quatro dimensões – estratégia organizacional, serviços assistenciais, clínica e operações consolidadas:

  1. Estratégia organizacional: o objetivo é integrar todas as instituições do sistema, mantendo estruturas e processos de governança apropriados, além de identificar oportunidades de crescimento e lucratividade entre todas as instituições do sistema;
  2. Serviços assistenciais: o foco nesta dimensão é integrar o atendimento clinico a partir do entendimento das necessidades da população e do fluxo de pacientes de ponta a ponta, a fim de racionalizar as linhas de serviço e melhorar o acesso à saúde e a experiência por meio de ferramentas e recursos integrados apropriados – criando um único ponto de contato;
  3. Clínica: o objetivo nesta dimensão é estabelecer padrões de qualidade clínica em todo o ambiente assistencial, a fim de reduzir a variabilidade clínica desnecessária e melhorar a atração, retenção e alinhamento de profissionais da saúde com metas organizacionais;
  4. Operações consolidadas: nesta dimensão, o foco é integrar todo o suporte não clínico (ex.: RH, TI, Financeiro, Suprimentos), a fim de reduzir o desperdício e maximizar a produtividade de recursos, com uma cadeia de suprimento unificada capaz de proativamente endereçar necessidades de suprimento e reduzir desperdício ao mesmo tempo que mantém a operação fluidas e ininterruptas.
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Por norma, o primeiro passo é integrar e consolidar as operações de backoffice, por um lado devido aos ganhos financeiros e de eficiência de curto prazo, mas também devido ao baixo risco de impacto nas operações clínicas. A integração dessa dimensão, ao padronizar processos e sistemas, também prepara a base para as demais dimensões. Contudo, é preciso ter em mente que somente desbloqueará duas das cinco vantagens competitivas mencionadas acima. De forma a gerenciar toda a jornada do paciente, e consequentemente alcançar a diferenciação de mercado, as quatro dimensões são necessárias.

 

Principais perguntas para se ter em mente

Qualquer processo de integração requererá administrar não apenas perspectivas e expectativas diferentes, mas mesmo unidades de negócios com estímulos diferentes – e algumas vezes opostos – de crescimento e eficiência. A fim de assegurar que o foco esteja voltado à geração de vantagens competitivas, algumas perguntas precisam ser levadas em conta com o tempo:

  1. Em primeiro lugar, integração é a solução estratégica correta? Essas vantagens competitivas são as necessárias para vencer a concorrência e crescer?
  2. caso já seja um sistema integrado, qual deve ser o meu próximo passo? Como ainda consigo maximizar a geração de valor?
  3. Consigo entender e fazer com que os provedores de sistema estejam alinhados no ciclo de cuidados completos – a cada condição clínica – a fim de redesenhar o modelo de cuidado e os serviços assistenciais?
  4. Possuo a tecnologia (ex.: prontuário eletrônico) e a arquitetura de TI que permitirão uma única fonte de verdade e fluxo de informações ao longo de toda a jornada do paciente?
  5. Entendo as oportunidades de mercado e tenho a capilaridade de rede adequada (próprios ou por meio de parcerias), para atingir o volume requerido que sustentará todo o sistema?
  6. Disponho das competências e dos sistemas adequados, para medir e controlar o desempenho especialmente se afiliados e parceiros externos forem necessários no meu sistema?

Resumo

Se cuidadosamente projetados, e contemplando todas as dimensões, um sistema integrado de saúde pode gerar vantagens competitivas únicas que criarão um negócio sustentável ao mesmo tempo em que promovem o crescimento. Porém, durante essa jornada de transformação, ele requer uma visão estruturada e um plano totalmente alinhado, a fim de alcançar a meta de: maior qualidade, satisfação do paciente e crescimento sustentável do sistema de saúde.

Sobre este artigo

Por João Simões

EY Parthenon – Strategy Medical Manager

João é gerente médico da EY Parthenon na América do Sul especializado nas práticas de saúde e estratégia.

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