IPO | Estratégia: comunique bem o que faz; faça bem o que comunica

Ter uma estratégia sólida é importante para toda empresa. 

No contexto da abertura de capital, é uma ferramenta que ajuda a companhia a tomar decisões coerentes, que reforçam ações anteriores e contribuem para a comunicação com os stakeholders, criando uma percepção clara e positiva sobre o negócio.

Esse é um tema essencial quando falamos em IPO por uma razão simples: muitas vezes, especialmente em empresas de empreendedores e fundadores, a estratégia está na cabeça do fundador, e não em um documento formal, claramente explicado para os executivos e disseminado na cultura corporativa. Não é incomum que a estratégia não esteja claramente articulada, principalmente em empresas em que a tomada de decisões é centralizada.

No processo de abertura de capital, a definição clara da estratégia e sua articulação se torna essencial, uma vez que a empresa passa a precisar convencer investidores, que não estão familiarizados com o negócio, a respeito do rumo que será dado aos recursos que estão sendo aportados na empresa. É preciso comunicar bem a estratégia, para mostrar que o plano é adequado e gera um retorno maior ao capital investido.

Essa articulação da estratégia deve ser iniciada o quanto antes, uma vez que é um processo que acompanha o amadurecimento da própria empresa. Muitas vezes, só se percebe a falta de clareza na estratégia no momento de comunicá-la. Descobrir esse gap no momento do roadshow pode arruinar a estratégia de abertura de capital e, portanto, é importante estruturar a estratégia e sua comunicação o mais cedo possível.

Nesse processo, deixar para trás a necessidade de ter uma estratégia para chegar ao ponto de abrir essa informação ao mundo para convencer investidores é uma demonstração clara de solidez e governança. A comunicação da estratégia precisa levar em conta quais pontos comunicar, como informar o mercado e em quais meios. É preciso equilibrar a comunicação dos elementos diferenciadores da empresa com a necessidade de esconder aquilo que a concorrência possa replicar. É um exercício complexo, mas essencial para o sucesso da empresa em sua abertura de capital e vida pós-IPO.

O IPO se diferencia de outros momentos de contar a história da empresa por uma razão importante. Por se tratar de um fórum público, é preciso desenvolver um storytelling que seja atraente para múltiplos stakeholders. Para muitas empresas, essa é uma situação inédita.

Mesmo empresas estruturadas, que já fizeram roadshows e buscaram captação de recursos via dívida, podem nunca ter tido a necessidade de contar de forma pública, sem a oportunidade de se concentrar em determinados aspectos que sabidamente são mais interessantes para o público que está sendo abordado. O IPO exige que o storytelling seja suficientemente generalista para atrair muitos, mas específico o suficiente para demonstrar as vantagens competitivas daquele negócio..

Caminhos para o sucesso

O primeiro aspecto importante para o sucesso na comunicação da estratégia para o mercado é ter um histórico de resultados alinhado à estratégia que se está vendendo ou propondo fazer. É preciso walk the talk: se a prática recente não bate com o que está sendo proposto como estratégia, é mais difícil convencer investidores e obter recursos.

Outro ponto que ajuda é conhecer a percepção dos investidores sobre seu tipo de ativo e posicionamento de mercado. Fazer um reconhecimento prévio do mercado, ouvindo investidores e conhecendo teses correlatas às suas que foram bem absorvidas pelo mercado, ajuda a identificar pontos da estratégia que devem merecer mais atenção na comunicação. Dependendo do segmento de atuação, buscar um posicionamento mais próximo ao de uma empresa de tecnologia ou ressaltar os aspectos ESG da operação podem favorecer a captação de recursos durante o IPO.

A estratégia precisa estar baseada em direcionadores claros, que conversem com a realidade, sejam bem fundamentados e levem em conta os movimentos atuais do mercado e as tendências. Se existe uma lacuna no mercado e sua empresa possui as competências necessárias para resolver esses pontos, e já tem executado essa estratégia de forma consistente, cria-se uma tese que ajuda muito no IPO e no desempenho futuro das ações.

Evidentemente, para que isso aconteça a estratégia precisa ser sólida e estar solidamente explicada tanto no prospecto do IPO quanto nas declarações dos executivos à imprensa. E essa não é uma atividade que se encerra na abertura de capital, muito pelo contrário. Não se pode captar recursos no mercado e depois ignorar a voz dos investidores: a comunicação precisa continuar a ser feita de forma estratégica e consistente, informando tempestivamente as ações executadas e seus efeitos sobre os negócios.

Por fim, respeite os princípios básicos de finanças corporativas, que propõem entregar valor acima do custo de capital no longo prazo, por meio de uma estratégia que tenha pontos interligados que deem uma posição competitiva diferente, com previsibilidade de resultados e geração de valor para o acionista.

Normalmente, preços abaixo do esperado em um IPO resultam de um mismatch entre o que a empresa diz e o que ela efetivamente faz. Qualquer discrepância na estratégia, nos investimentos ou na entrega de resultados é punida pelo mercado. E confiança, não custa lembrar, demora a ser conquistada, mas pode ser perdida rapidamente.

Para guiar sua empresa em toda esta jornada do IPO, lançamos o Guia para abertura de capital - Considerações estratégicas antes, durante e após o IPO, que você pode conferir aqui, na íntegra.