Como pode a estratégia digital contribuir para melhorar resultados nas áreas do EHS?

por Rebecca Dabbs

Ernst & Young Australia Climate Change and Sustainability Services Partner

Transforming the way businesses are thinking about health and safety. Passionate about helping women succeed. Accountant turned health and safety professional. Role model. Mother to two children.

9 minutos de leitura 12 ago 2019

A evolução tecnológica está a alterar a forma como os profissionais de EHS mitigam riscos, tomam decisões e alocam recursos.

A tecnologia está a mudar a economia, as sociedades e o nosso modo de vida. A gestão das políticas de meio ambiente, saúde e segurança no trabalho (Environment, Health and Safety - EHS) está prestes a ser fortemente impactada pelo digital. A evolução tecnológica está a alterar a forma como os profissionais de EHS mitigam riscos, tomam decisões e alocam recursos. Desde a automação de processos, à proliferação de sensores no terreno, passando pela evolução para a análise preditiva, trabalhadores e empresas estão prestes a viver uma mudança radical na performance dos indicadores de EHS e gestão ambiental, se essas oportunidades forem aproveitadas.

À medida que o ambiente de negócios avança para a era digital, as organizações líderes estão a alavancar as tecnologias existentes e emergentes para melhorarem as suas políticas de EHS e gestão ambiental. No entanto, a maioria das organizações ainda está à procura da melhor forma de traduzir alterações tecnológicas em melhor desempenho. 

Este artigo explora os desafios associados às iniciativas digitais, relacionadas com o EHS, e como podem os profissionais da área aproveitar melhor a tecnologia para otimizar a gestão de riscos e melhorar resultados.

Ponto da situação atual

Em comparação com outras áreas, como o marketing ou as finanças, no domínio do EHS a adoção de tecnologia tem sido lenta. Isto acontece porque as organizações nem sempre compreendem totalmente o problema que estão a tentar resolver, resultando daí lacunas sistémicas, pessoais ou tecnológicas nas soluções implementadas. Em consequência disso, as áreas que passam a usar soluções digitais, deparam-se frequentemente com soluções mal concebidas, sem ligação entre si e criadas apenas para resolver problemas isolados. 

Outras barreiras que podem ajudar a explicar a fraca evolução tecnológica neste campo incluem:

Foco nos incidentes

Tradicionalmente, a gestão de EHS foca-se muito na medição de incidentes. Num contexto organizacional mais alargado, as bases de dados de incidentes são limitadas e restritivas. Normalmente, não são identificados indícios digitais dos fatores causais de acidentes. Mesmo nos raros casos onde este tipo de dados existe, os profissionais preferem confiar na integridade e rigor estatístico dos modelos de causalidade de acidentes.

Pequenas bases de dados

Apesar da digitalização crescente das atividades tradicionais de EHS (por exemplo, inspeções e relatórios de acidentes), as bases de dados da atividade ainda são relativamente pequenas. É pouco provável que as atividades de segurança, por si só, alguma vez forneçam big data, ao nível da organização. Em vez disso, para gerar insights de maior valor, os sistemas de EHS e os seus profissionais aumentam o número de utilizadores finais e de sensores que fornecem dados. Interfaces de utilizador com o design adequado podem dar mais e melhores dados relevantes para reduzir riscos de EHS.

Backgroung não-digital

O profissional de EHS tem uma profissão multidisciplinar. Isto significa que os profissionais de EHS têm backgrounds diversos e variados; estes raramente incluem competências de digital, análise de dados ou estatística intensiva, como acontece em finanças ou tecnologias de informação.

Demonstração do business case falha

Quantificar os benefícios de iniciativas digitais, decisões ou operações que conduzem a locais de trabalho saudáveis e seguros pode ser um desafio. Quando não se consegue mostrar "como é o sucesso", o apoio contínuo às iniciativas é mais difícil de assegurar. Noutras palavras, uma integração abrangente será difícil de manter.

Défice de confiança

O uso de tecnologias como o big data e outras levanta preocupações em várias áreas importantes, incluindo a privacidade, discriminação, segurança e qualidade. Estes riscos podem dificultar iniciativas, particularmente em locais de trabalho onde o nível de confiança é baixo.

Começam a surgir exemplos de iniciativas de digitalização bem-sucedidas no domínio do EHS. Incluem-se aí:

Tecnologia

Iniciativa EHS

                                                                                                                                                                        Tecnologia para mitigar riscos de movimentação manual de cargas                                                                                                                                                                     

É usada para reduzir a incidência de lesões musculoesqueléticas. Mede movimentos corporais "em risco" continuamente e permite enviar alertas em tempo real aos utilizadores, via aplicações móveis. Em complemento, disponibiliza tutoriais que ajudam os trabalhadores a aperfeiçoar técnicas de movimentação manual de cargas.

Tecnologia de Realidade Virtual (Virtual Reality - VR)

São usadas para melhorar significativamente a eficácia da formação. Estas tecnologia podem fornecer às empresas um método de alto impacto, escalável e eficiente para desenvolver aptidões nos trabalhadores, particularmente naqueles com menos experiência em ambientes de alto risco.

Drones e robótica

São usados em trabalhos que integrem uma destas três categorias: perigosos, sujos e difíceis. Simplificam o alcance a áreas de difícil acesso, como são normalmente cenários de resposta a emergências. Também podem ajudar a poupar muito tempo, quando são usadas para “varrer” campos agrícolas ou mineiros de grandes dimensões.

Bots de Inteligência Artificial (IA)

Os bots estão a ser cada vez mais usados para automatizar tarefas complexas. Estão a ser integrados nas mais diversas aplicações, para orientar utilizadores — incluindo no transporte manual de cargas, onde o bot pode criar treinos personalizados para cada trabalhador melhorar técnicas.

Análise do local de trabalho

Envolve a instalação de sensores nos postos de trabalho, para medir elementos de desempenho. Os fluxos de dados gerados podem ser usados para ensinar os colaboradores, melhorar o design e a organização do posto de trabalho. Este tipo de "análise ergonómica" está a ser feita em setores como os transportes, utilities e ambientes de fábrica.

Biometria

Envolve a aplicação de sensores nos próprios trabalhadores, para reunir dados sobre saúde física, mental e outras métricas. Por exemplo, os níveis de fadiga e temperatura corporal podem ser medidos em tempo real e desencadear alertas de intervenção, para trabalhadores e empresas. Os sensores de transporte manual de cargas foram desenvolvidos para medir movimentos corporais "em risco", e fornecer aos trabalhadores tutoriais de coaching relacionados.

Audíveis

Dispositivos para usar nos ouvidos, como apoio a tarefas áudio ou relacionadas com a audição. Um exemplo disso são os aparelhos de tradução de idiomas em tempo real. A tecnologia pode ser usada para melhorar a comunicação entre colaboradores de diferentes culturas e idiomas. Sendo uma comunicação fluida e eficaz um aspeto vital para um ambiente de trabalho saudável e seguro, esta tecnologia emergente pode melhorar significativamente as relações entre pares.

É mais do que apenas tecnologia

Há muitos exemplos de iniciativas tecnológicas que fracassaram na indústria de EHS. Sistemas digitais de gestão mal projetados, que deixam os utilizadores frustrados ou desapontados, automações que não cumprem o objetivo de gerar eficiências e gadgets vistosos, que rapidamente se tornam obsoletos.

Tem de existir mais nas iniciativas digitais de EHS do que simplesmente tecnologia. Na verdade, muitas destas ferramentas digitais evoluíram tanto que deixaram de ser o elo mais frágil. Sem compreender isso, as empresas estão frequentemente sobrecarregadas por um "excesso de soluções", ou sufocadas por uma "paralisia digital", quando muitos desafios são hoje endereçados com uma app desenhada para lhes dar resposta. O desafio hoje está, na verdade, em saber movimentar-se, coordenar e integrar toda uma multiplicidade de soluções.

Além disso, há muitas vezes outros fatores, não digitais, a determinar o sucesso de uma iniciativa, como por exemplo:

  • A plena compreensão do problema a ser resolvido e, portanto, os requisitos e critérios de aceitação de novas tecnologias
  • Consulta, envolvimento e educação dos responsáveis das áreas implicadas
  • Nível de empenho em conhecer e testar as tecnologias e as temáticas envolvidas
  • Existência de uma estratégia digital mais ampla, que considere as necessidades e impactos no EHS
  • Decisões de aquisição (por exemplo, para contratar ou comprar) que melhorem o retorno do investimento, para garantam longevidade à tecnologia e maximizem o seu valor

Gerir estes fatores adicionais será cada vez mais um requisito fundamental para implementar tecnologia e soluções digitais nas áreas de EHS, à medida que os profissionais se concentrarem em aumentar os benefícios e em limitar os impactos negativos da tecnologia. 

Como identificar uma adoção de tecnologia bem-sucedida no EHS?

Iniciativas tecnológicas bem-sucedidas no EHS:

  • Satisfazem as expetativas e objetivos dos principais stakeholders
  • Melhoram o desempenho EHS
  • Têm um impacto positivo na gestão de risco de EHS
  • Estão integradas em operações de negócios mais abrangentes
  • Toda a organização está recetiva à sua adoção

Mais especificamente, isto pode conduzir a resultados como:

  • Melhor gestão dos riscos de EHS, com uma redução do número de incidentes e melhores condições de trabalho
  • Aumento de eficiência e melhorias nos processos de EHS, libertando recursos para tarefas mais relevantes
  • Processos de decisão mais certeiros, baseados em dados rigorosos, obtidos em tempo real, que vão permitir uma melhor alocação de recursos
  • Força de trabalho capacitada para tirar partido das tecnologias de EHS, que assumirão um papel transformador e crítico no desenvolvimento de competências úteis para resolver problemas

E agora?

É um desafio para as funções de EHS aproveitar eficazmente a tecnologia para alcançar melhorias sustentadas no desempenho EHS. Mas os profissionais do setor devem fazê-lo, para contribuir efetivamente para o sucesso organizacional no futuro.

Com tantas tecnologias emergentes, saber por onde começar pode ser difícil. Não há soluções simples; não há uma receita única para todas as empresas e um gadget novo e vistoso não é suficiente para alcançar melhorias a longo prazo.

O que devem então as empresas fazer para alavancar com sucesso as tecnologias que podem contribuir para compreender e gerir melhor os riscos de EHS e reduzir incidentes?

As organizações devem: 

Compreender claramente o problema a resolver e perceber o que significa tê-lo resolvido, em termos de resultados

Não muito diferente do que se passa como os incidentes, perigos ou riscos, sem que haja uma compreensão clara do que está em causa, os requisitos não vão ser identificados de forma eficaz.

Avaliar a maturidade digital das políticas de EHS hoje

“Saltar de cabeça” é o tipo de estratégia que raramente funciona no digital; sem identificar a situação atual, é difícil mapear um plano de progressão claro e realizável. Mapear inclui uma avaliação aos sistemas digitais atuais, já que muitas empresas mantêm tecnologias obsoletas e licenças de software que já não utilizam ou que compraram a mais.

Ter uma visão estratégica da tecnologia

Desenhar iniciativas coordenadas e integradas e processos eficazes de gestão da mudança, que estejam alinhadas com os objetivos da organização — e não apenas orientadas para resolver um problema específico de forma isolada.

Procurar soluções e sistemas digitais de EHS integrados e automatizados

Estes sistemas devem suportar dados em tempo real, personalizáveis e precisos, que possam apoiar uma tomada de decisões mais informada. Precisam de ser robustos (para poderem ser confiáveis) e atrativos (para que os colaboradores queiram usá-los). 

Investir na capacidade digital e aproveitar o suporte externo

Ninguém sabe tudo, e não é missão dos profissionais de EHS saberem tudo. Em vez disso, aqueles que procuram aproveitar a tecnologia digital para melhorar políticas de EHS devem focar-se em compreender necessidades e, estrategicamente, reunir o apoio necessário para lhes dar resposta. Isto inclui procurar parceiros com know-how reconhecido, capazes de compreender os elementos necessários para uma estratégia de sucesso. Contar com o apoio certo é fundamental para construir uma arquitetura digital integrada e alcançar iniciativas de sucesso.

Como mostra este artigo, a implementação bem-sucedida de inovação digital requer mais do que apenas tecnologia. Exigem três elementos — conhecimento e experiência no tema, tecnologia que funcione e uma abordagem centrada nas pessoas. 

As equipas de EHS da EY trabalham com as empresas ajudando-as a afinar estratégias que lhes permitam potenciar o uso da tecnologia, como alavanca para melhores resultados nas áreas de EHS.

Alguns serviços e ferramentas podem ser limitados a clientes auditados pela EY e respetivas participadas, em cumprimento com as normas de independência aplicáveis. Para mais informação, por favor fale com o seu contacto na EY.

Resumo

As organizações líderes estão a alavancar as tecnologias existentes e emergentes para melhorarem as suas políticas de EHS e gestão ambiental. No entanto, a maioria das organizações ainda está à procura da melhor forma de traduzir alterações tecnológicas em melhor desempenho. Este artigo explora os desafios associados às iniciativas digitais, relacionadas com o EHS, e como podem os profissionais da área aproveitar melhor a tecnologia para otimizar a gestão de riscos e melhorar resultados. 

Sobre este artigo

por Rebecca Dabbs

Ernst & Young Australia Climate Change and Sustainability Services Partner

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