3 minutos de leitura 15 fev 2021

            Pai e filho jovem a jogar xadrez

Para combater a fraude financeira na Europa, reforçar todas as linhas de defesa

por Marie-Laure Delarue

EY Global Assurance Vice Chair

Agent of change. Passionate about talent. Driver of innovation. Bilingual. Enjoys wine tasting.

3 minutos de leitura 15 fev 2021

Reforçar o papel dos auditores, empresas e reguladores e expandir a utilização da tecnologia na auditoria, pode minimizar o risco de fraude no relato de informação financeira.

Sumário Executivo

  • Como uma das linhas de defesa, a introdução de inovações chave no processo de auditoria ajudará a melhorar a deteção de fraude, mas são necessárias mudanças mais abrangentes em todo o ecossistema.
  • Uma governance forte, um reforço do papel de supervisão dos reguladores e standards de auditoria melhorados, também podem ajudar a reforçar o ecossistema de relato financeiro.

Os profissionais de auditoria têm um papel fundamental no ecossistema da informação financeira e uma auditoria eficaz contribui para a integridade dos mercados de capitais. Quando existem fraudes financeiras de grande visibilidade, o trabalho dos auditores deve ser escrutinado. Acontecimentos recentes na Europa lembram que os auditores podem e devem fazer mais. Mas os auditores não podem combater a fraude sozinhos.

O Vice-Presidente Executivo da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, declarou recentemente que as três linhas de defesa – uma governação e regulação de suporte fortes, auditorias estatutárias, supervisionar e fazer cumprir a regulação – criam um ecossistema, que deve trabalhar em conjunto para detetar e combater a fraude financeira concertada.

No combate à fraude, todos os intervenientes devem aproveitar a oportunidade para trabalhar em conjunto e reforçar o ecossistema de relato de informação financeira.

Reforçar linhas de defesa

Enquanto linhas de defesa - concordamos e acreditamos que a solução passa por reforçar as três linhas de defesa e fazer com possam reforçar-se entre si, mutuamente. É por isso que estamos a introduzir inovações chave na auditoria. Estas incluem a obrigatoriedade de usar data analytics nos testes de fraude, melhorias nas avaliações de risco e na delimitação do âmbito da auditoria, utilizando mais dados e informações externas. Além disso, estamos também a exigir formação anual, em matéria de fraude, a todos os profissionais de auditoria.

Temos ainda defendido mudanças específicas, para reforçar todo o ecossistema.

  • Uma governação empresarial forte e normas para manter um controlo interno eficaz sobre o relato de informação financeira, devem ser condições prévias para a admissão à cotação bolsista, tal como já acontece em muitos países. Isto vai elevar os padrões rapidamente e reduzir o risco para os investidores. Como parte do seu sistema de controlo interno de relato financeiro (SCIRF), as empresas deveriam também ser obrigadas a abordar o risco de fraude e a definir papéis claros e específicos para cada interveniente, incluindo a gestão, o Conselho de Administração, o Comité de Auditoria e a Auditoria Interna. Apoiamos a prática de aprovação da gestão, no sistema de controlo interno do relato financeiro.
  • Os supervisores devem ter poderes fortes e estar equipados com tecnologia. Há provas claras sobre a eficácia de uma regulação forte no combate à fraude empresarial em muitas partes do mundo. Quer se trate do combate à fraude ou ao crime financeiro, as autoridades de supervisão europeias podiam considerar a possibilidade de juntar recursos para perseguir esquemas de fraude internacionais e passar a fazer uma supervisão conjunta ou harmonizada em todos os mercados nacionais.
  • As normas de auditoria têm de ser adequadas ao fim a que se destinam, quando o que está em questão é detetar fraudes empresariais cada vez mais complexas. Na Europa, a harmonização de regras deve alinhar pelas normas de combate à fraude mais rigorosas. Congratulamo-nos com as consultas recentemente lançadas pelo International Auditing and Assurance Standards Board (IAASB) e pelo Financial Reporting Council do Reino Unido.

O reforço dos papéis das empresas, auditores e reguladores pode ajudar a melhorar a prevenção e identificação de fraudes.

Trabalhar em conjunto para detetar a fraude

Esta é também uma oportunidade para todos os envolvidos – gestão e conselhos de administração de empresas, auditores e reguladores – se concentrarem mais numa cultura e em práticas empresariais, que facilitem a identificação de fraudes. O triângulo da fraude, um modelo utilizado para considerar o risco de fraude, sustenta três fatores – oportunidade, pressão e racionalização – que tipicamente estão presentes quando ocorrem fraudes. Acreditamos que os desenvolvimentos na tecnologia e na investigação tornaram possível avaliar com maior facilidade a pressão e a racionalização e integrar os resultados no processo de avaliação do risco de fraude. Por exemplo, considerar o triângulo da fraude poderia fazer parte do sistema de controlo interno do relato de informação financeira de uma empresa, na abordagem ao risco de fraude. Da mesma forma, as equipas de auditoria poderiam integrar pessoas com diferentes competências, para analisarem os três fatores e melhorar a nossa capacidade de detetar a fraude. Saudamos o diálogo com todos os interessados, para explorar oportunidades nesta área.

Sabemos que a auditoria precisa de mudar e queremos desempenhar um papel ativo. Contudo, isto será inútil, a menos que as outras duas linhas de defesa contra a fraude empresarial também sejam reforçadas. Em última análise, para combater a fraude todos os stakeholders devem aproveitar a oportunidade para trabalhar em conjunto e reforçar todo o ecossistema de informação financeira.

No seu estudo intitulado "Prevenir e detetar a fraude: como reforçar o papel das empresas, auditores e reguladores", a EY lançou um apelo à ação, com base nas três linhas de defesa.

Resumo

O ecossistema de relato financeiro está em fase de evolução e o combate à fraude é um trabalho em curso. Ampliar o enquadramento das auditorias, fazendo uso da tecnologia, das mudanças nos standards de auditoria e no reforço do papel das empresas, auditores e reguladores ajudará a melhor detetar a fraude.

Sobre este artigo

por Marie-Laure Delarue

EY Global Assurance Vice Chair

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