3 minutos de leitura 20 out 2021
Girl booked a taxi in the Mobile phone

Novos rumos para a mobilidade em Portugal

por Miguel Cardoso Pinto

Partner, EY-Parthenon Portugal Leader & Advanced Manufacturing and Mobility Leader, EY-Parthenon, Ernst & Young, S.A.

Pai de três filhas com gosto pela leitura, música e desporto. Adepto de rugby e iniciante na prática de triatlo.

3 minutos de leitura 20 out 2021

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O Future of Mobility Think Tank (PDF) foi lançado com o objetivo de ser um espaço de partilha e discussão entre executivos dos diferentes ecossistemas que constituem o vasto espaço da mobilidade em Portugal.

Gerir um negócio que tem como objetivo transportar pessoas e carga quando as pessoas não se podem movimentar e a carga tem de ser transportada até às pessoas é desafiante. Este desafio de gestão da mobilidade num contexto de especial incerteza devido à pandemia da COVID-19 serviu de base ao arranque dos trabalhos do think tank. Com os sucessivos períodos de (des)confinamento e a proliferação do trabalho remoto no contexto das restrições vigentes a toda a nossa vida quotidiana, a mobilidade para locais de trabalho em Portugal caiu cerca de 65% durante o primeiro período de confinamento. Segundo um inquérito da EY Portugal, mais de metade dos residentes em território nacional esperam trabalhar pelo menos um dia por semana de forma remota num contexto pós-pandemia. Relativamente às preferências modais em deslocações urbanas, o transporte público tem o especial desafio de responder à quebra da confiança social e a descida atual na sua utilização poderá durar mais do que a pandemia. Em sinal contrário existem expetativas sobre a viatura privada, especialmente nas gerações mais jovens – segundo o mesmo inquérito, cerca de 23% dos consumidores da geração Z (atualmente entre 18 e 25 anos) pretende adquirir uma viatura privada até março de 2022. A pandemia da COVID-19 também veio alterar alguns padrões de consumo, principalmente de produtos alimentares, com a afirmação do comércio eletrónico.

Num contexto de partida pré-pandemia da COVID-19, podemos sublinhar cinco temas incontornáveis que continuam a afetar de forma transversal todos os ecossistemas da mobilidade:

  1. Crescente urbanização, em Portugal cerca de 65% da população vivia em centros urbanos em 2019;
  2. Crescentes expetativas de personalização, flexibilidade e integração;
  3. Abertura à economia de partilha e importância da gig economy;
  4. Envelhecimento da população;
  5. Agenda da sustentabilidade, sendo o setor dos transportes em Portugal o principal consumidor de energia e cerca de 95% dessa energia consumida é proveniente de fontes não renováveis.

A pandemia da COVID-19 veio acrescentar disrupção adicional com variações de comportamentos em resultado da quebra da confiança social, preferência atual por meios de transporte de ocupação única, e maior abertura para partilhar dados pessoais, frequente em períodos extraordinários da história. Este panorama base sobre a mobilidade conjuntamente com a disrupção do efeito pandemia da COVID-19, associado ao elevado desenvolvimento tecnológico e afirmação de novos modelos de negócio, reafirmam o trajeto futuro de uma mobilidade cada vez mais conectada, partilhada, autónoma e sustentável.

Atualmente, a maioria dos centros urbanos de todo o mundo não oferece uma verdadeira interligação entre as diferentes redes de transportes e plataformas de mobilidade, o que debilita a capacidade de resposta às necessidades atuais e futuras da nossa vida quotidiana. A realidade nacional não é diferente deste panorama. Face às fragilidades identificadas no sistema de mobilidade, o conceito de Mobility-as-a-Service (MaaS) visa facilitar os acessos para as múltiplas deslocações das pessoas através da integração de diferentes serviços de transporte. Através de um exercício de cenarização, numa das sessões do think tank discutiram-se incertezas para o futuro deste vasto espaço da mobilidade. A discussão foi focada em duas incertezas críticas - o grau de interoperabilidade e nível de concentração urbana - e nos quatro futuros cenários resultantes da interseção dos extremos de cada uma das duas. Com um racional de provocação, o objetivo foi discutir como seria o mundo e possíveis respostas dos diferentes ecossistemas em contextos propositadamente estremados.

A discussão do Future of Mobility Think Tank encerrou com os principais desafios para a expansão dos ecossistemas da mobilidade e possíveis áreas de foco para o futuro da mobilidade em Portugal, à volta de três grandes temas:

  • Gestão do tráfego urbano: (i) iniciativas que induzam a adoção de comportamentos positivos para a mobilidade, tais como a implementação de taxas de congestionamento e poluição, o desfasamento de horários e políticas dissuasoras do uso da viatura privada, (ii) a exploração do conceito “cidades 15 minutos” e outras abordagens inovadoras ao planeamento e desenho urbano, e (iii) a reformulação da logística urbana através da descentralização dos centros logísticos e a reconversão de espaços urbanos.

  • Otimização das infraestruturas energéticas e redes de transporte: (i) incentivos à mobilidade elétrica e diminuição de barreiras à transição energética, e (ii) aumento do nível de cobertura dos modos soft, o papel da gestão de condomínios na gestão da mobilidade, o aumento da integração do estacionamento no sistema de mobilidade da cidade e a aposta em parques multimodais.

  • Mobilidade alternativa: papel de uma entidade gestora da mobilidade a nível nacional e a criação de condições que fortaleçam Portugal como local privilegiado para a experimentação da nova mobilidade (por exemplo, de mobilidade autónoma).

Faça download do estudo completo “Future of mobility think tank - Novos rumos para a mobilidade em Portugal

Artigo escrito em coautoria por Pedro Carvalhas Coutinho, Principal EY-Parthenon, Automotive & Transportation segment Leader

Resumo

As conclusões do Future of Mobility Think Tank indicam que devemos esperar uma revolução na mobilidade, com a sua agenda conectada, partilhada, autónoma e sustentável a exigir maior articulação entre os diferentes ecossistemas, bem como entre os setores público e privado. A EY continuará a apoiar as diferentes entidades a refletir sobre as incertezas do presente e a construir a sua própria visão sobre o futuro. Porque ao apoiarmos a construção de uma mobilidade mais eficiente, sabemos que estamos a construir um mundo melhor para cidadãos e empresas.

Sobre este artigo

por Miguel Cardoso Pinto

Partner, EY-Parthenon Portugal Leader & Advanced Manufacturing and Mobility Leader, EY-Parthenon, Ernst & Young, S.A.

Pai de três filhas com gosto pela leitura, música e desporto. Adepto de rugby e iniciante na prática de triatlo.