O problema é que foram efetivamente poucos os passos dados no sentido de planear modelos cashless, numa perspetiva top-down. David Birch, autor do livro Before Babylon, Beyond Bitcoin: From money we understand to money that understands us, defende que existem três questões que têm de ser abordadas.
- Definir o termo “cashless”: O dinheiro físico será eliminado por inteiro? Alguns apontam para os benefícios relacionados com a natureza autónoma do dinheiro físico; por exemplo, durante os protestos em Hong Kong, alguns cidadãos compraram os bilhetes de transporte em dinheiro, para não serem identificados. Contudo, se as empresas forem obrigadas a manter as opções em numerário, alguns argumentam que as mesmas deveriam ser compensadas pelo custo de manuseamento das notas e moedas.
- Ação concertada para não deixar ninguém para trás: Governos, bancos centrais e o setor privado devem cooperar para garantir que todas as “vias” de pagamento, atuais ou novas, trabalham em conjunto.
- Quem deve emitir o “dinheiro”: O caminho mais justo poderá ser os bancos centrais criarem e-money, com iniciadores e processadores de pagamentos usando a infraestrutura desses bancos, garantindo assim um acesso justo e igual. Podem surgir problemas de concorrência e interoperabilidade se existir dependência do setor privado.
Os bancos não podem deixar o problema para os reguladores. Têm de assumir um papel fundamental no desenvolvimento de soluções digitais inovadoras que promovam uma maior participação na economia formal. Esta é também uma oportunidade de crescimento importante. Os bancos poderiam gerar um incremento na ordem dos 200 mil milhões de dólares (equivalente a 20% das receitas de bancos em mercados emergentes durante 2016) através de um melhor serviço aos clientes financeiramente excluídos em mercados emergentes.
A tecnologia pode impulsionar a inclusão – se ganhar a confiança do consumidor
Certamente, a tecnologia que move a economia digital pode ajudar a fomentar a participação nessa mesma economia daqueles que podem estar excluídos das práticas bancárias convencionais. Por exemplo, muitas das pessoas que não têm uma conta bancária não têm a documentação de identidade necessária para a tradicional verificação Know-Your-Customer (KYC). Na Índia, o plano eletrónico Aadhar usou a autenticação biométrica, inclusive através de impressões digitais e íris, para ultrapassar estas barreiras e confirmar identidades digitais em mais de um bilião de pessoas, revolucionando as taxas de inclusão financeira do país.