Embora estes possam parecer rudimentares, o EY global board risk survey feito a 500 diretores de conselhos de administração e CEOs realizado no final de 2019, antes da pandemia, revela que historicamente os conselhos de administração não os consideravam como principais preocupações no imediato ou no curto prazo, ou então não acreditavam que fossem sua responsabilidade.
Talvez isto possa ser atribuído ao papel do conselho de administração por oposição ao da gestão sénior, mas dada a sua importância fundamental na condução da transformação organizacional, especialmente num mundo pós-COVID-19, os conselhos de administração deveriam trabalhar proativamente com a gestão sénior para os abordar. Ao fazê-lo, os conselhos de administração deveriam adotar uma abordagem de duas vias, concentrando-se na construção de uma empresa resiliente, ao mesmo tempo que criam as bases para o sucesso futuro.
Alcançar valor a longo prazo com um propósito redefinido
A pandemia COVID-19 redefiniu a relação entre as empresas e a sociedade. A população em geral não vê hoje as empresas apenas como fornecedores de bens e serviços, mas como organizações que têm um papel fundamental a desempenhar na resolução dos maiores desafios da humanidade.3 Resumidamente, a COVID-19 tem realçado a forma como os negócios se comportam. Algumas empresas já estão a responder. Por exemplo, no pico da pandemia da COVID-19, uma das maiores empresas mundiais de bens de consumo associou-se a um consórcio de empresas dos setores aeroespacial, automóvel e da saúde para fabricar, pelo menos, 10.000 ventiladores para os hospitais britânicos.
Esta fiscalização reforçada significa que o capital e o talento passarão de organizações que criam valor apenas para os seus acionistas, para aquelas que criam valor a longo prazo e de forma transversal a um grupo mais vasto de stakeholders, incluindo colaboradores, consumidores, sociedade e acionistas.
À medida que o novo normal surge, a globalização, as alterações climáticas, a desigualdade salarial, a inclusão, a ética da inteligência artificial (IA) e outras grandes questões económicas e sociais irão voltar a dominar a agenda e espera-se que as empresas desempenhem um papel na sua abordagem.
Antes da COVID-19, o nosso survey indicava que os diretores do conselho de administração não viam estes desafios como potenciais riscos para o negócio. Por exemplo, as alterações climáticas nem sequer constavam no top 10 desses riscos, provavelmente porque o consideravam como sendo da competência e da responsabilidade das suas equipas de gestão.
Mas com as expetativas dos clientes, investidores, colaboradores e stakeholders em relação à COVID-19 ter obrigado a repensar os negócios, nunca foi tão importante que as empresas redefinissem e reativassem o seu propósito.
Que papel deve desempenhar o conselho de administração? Com os executivos seniores totalmente focados em conduzir as suas organizações durante a COVID-19 no curto prazo, o conselho de administração tem a responsabilidade de conduzir uma reflexão para o longo prazo sobre a forma como criam e medem o valor a longo prazo e produzem resultados para um vasto conjunto de stakeholders.