Será que a COVID-19 vai dinamizar as operações de M&A e a transformação?

Autores
Andrea Guerzoni

EY Global Vice Chair, Strategy and Transactions

Advising Boards and CEOs on transformational deals from strategy through to execution. Global Leader of Strategy and Transactions service line. Innovator and team player.

Nadine Mirchandani

EY Global Deputy Vice Chair – Strategy and Transactions

Over 20 years of experience in leading financial services, corporate and private equity transactions. Advisor to both sell- and buy-side.

Barry Perkins

EY Global Strategy and Transactions Lead Analyst

Dedicated corporate finance researcher. Interested in all areas of modern life, including government, capital markets, business, social affairs, arts, sciences and sport. History buff.

22 minutos de leitura 3 fev 2021

As equipas de gestão redefinem as estratégias empresariais e planeiam investir na sua saída da crise.

    Sumário Executivo
    • Apesar de as receitas e o lucro terem sido afetados, as empresas sentem-se satisfeitas com o seu desempenho durante a pandemia, mas reconhecem a necessidade de investir para a recuperação.
    • A maioria dos executivos efetuou uma revisão exaustiva da sua estratégia e portfolio existente, tendo focado investimentos no desenvolvimento de competências digitais e tecnológicas centradas no cliente.
    • As operações de M&A serão uma opção estratégica preferencial à medida que as empresas procuram acelerar o seu crescimento no mundo pós-pandémico.

    A pandemia provocou uma redefinição estratégica, em que as intenções de investimento mais ambiciosas estão agora focadas em garantir um crescimento próspero e não apenas na sobrevivência.

    Alívio e otimismo são os dois sentimentos mais referidos nas respostas ao nosso último inquérito do EY Global Capital Confidence Barometer, que contou com a participação de mais de 2.400 executivos a nível mundial.

    O sentimento de alívio de ultrapassar uma enorme disrupção e incerteza — sobrevivendo a uma crise existencial que viu uma diminuição das receitas em 88% das empresas a nível mundial e a rentabilidade a diminuir em 92%.

    E o otimismo, pois as lições que esta crise global trouxe têm incentivado os executivos a fazer mudanças profundas e de grande alcance, em áreas fundamentais dos seus negócios. A grande maioria — 86% — efetuou revisões globais da sua estratégia e do portfolio durante a pandemia.

    A redefinição estratégica resultante desta crise está claramente focada numa nova agenda de crescimento. Muitas empresas têm estado em modo de defesa, à medida que procuram executar as operações com rapidez ou passarem para um ambiente totalmente remoto e digital, e que têm de lidar com desafios estratégicos, comerciais e operacionais únicos. Esta agilidade estratégica fomentou uma mentalidade otimista — uma visão clara de um futuro melhor. Adicionalmente, também mostrou uma visão clara de como lá chegar — reiniciar, realinhar, recomeçar.

    Atualmente, quase dois terços (63%) das empresas planeiam aumentar o investimento em tecnologia e nas competências digitais. Pouco menos de dois terços (57%) pretende aumentar o investimento na relação com o cliente.

    E muitos estão a optar por se transformar através de transações, com quase metade dos inquiridos (49%) a planear realizar aquisições nos próximos 12 meses — e a maioria dos potenciais investidores (65%) estão à procura de ativos internacionalmente em detrimento dos nacionais. Os investidores pretendem adquirir start-ups inovadoras e concorrentes que possuam competências tecnológicas que lhes permitam estar mis próximos dos seus clientes e melhorar os seus canais digitais, e que se revelaram essenciais na forma como empresas líderes reagiram à recessão causa pelo confinamento. É expectável que estas tendências se mantenham críticas à medida que as alterações de comportamento aceleradas pela COVID-19 se cristalizem.

    E este investimento já está a acontecer. O segundo semestre de 2020 apresentou o maior número de operações de M&A. As empresas estão claramente a agir em resposta à sua experiência e a preparar-se proativamente para um cenário de mercado diferente.

    Apesar dos executivos continuarem a considerar a pandemia como o a sua principal prioridade e um dos principais riscos, os problemas pré-existentes não desapareceram. Alias, muitos deles agravaram-se. As empresas ainda precisam de fazer parte da solução climática, em vez de serem vistas como o problema. Para além disso, as empresas também precisam de criar valor a longo prazo – um crescimento sustentável e inclusivo que beneficie todas os stakeholders da empresa. Este é o novo objetivo principal.

    Os executivos estão também a navegar num ambiente económico e geopolítico global em mudança. Os efeitos a longo prazo da COVID-19 no contexto geopolítico vão cristalizar este ano. Gerir estes riscos políticos exige uma geoestratégia eficaz — a integração abrangente e multifuncional da gestão dos riscos políticos numa gestão de riscos, e governance mais ampla. 

    No fim de contas, os executivos anseiam por uma reformulação total e uma reorganização do ambiente competitivo, económico, geopolítico e social. A COVID-19 tem intensificado ainda mais o foco na transformação e as empresas estão a não só a planear recuperar o seu desempenho, como também reestruturar o seu futuro para um mundo pós-pandémico melhor.

    Contacte-nos se precisar de apoio durante este período de grande volatilidade

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            Fotógrafos a assistir ao lançamento da nave espacial Soyuz a partir de Baikonur
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    Capítulo 1

    O impacto da pandemia

    Experiência de negócio, atuação e resposta à COVID-19

    As empresas aprendem lições da pandemia e planeiam investir na sua saída da crise.

    É provável que os efeitos da pandemia se prolonguem até 2022. Contudo, não se prevê uma recuperarão antecipada.

    Tal como com a própria pandemia, a experiência dos executivos dos vários setores de atividade não tem sido homogénea – não existiram duas empresas que tenham tido o mesmo percurso durante 2020. As empresas e os setores de atividade que estiveram no epicentro do caos económico assistiram ao encerramento dos seus mercados. Para outros, a pandemia e os respetivos confinamentos criaram oportunidades — por exemplo, para aqueles que estavam a liderar a transformação digital. Contudo, a grande maioria tem registado reduções de receitas e de rentabilidade.

    Com os executivos a considerarem que o regresso a níveis pré-pandémicos acontecerá em 2022-2023, as empresas estão a reavaliar as suas operações e pegada geográfica, à procura de vantagens à medida que as economias reabrem a ritmos diferentes.

    A maioria das empresas, face aos concorrentes, está satisfeita com a sua resposta à crise pandémica, mas esta está mais focada na sobrevivência e menos na pujança do negócio.

    Ainda é demasiado cedo para se ter uma visão oficial do desempenho competitivo das empresas nesta pandemia, uma vez que muito poucas empresas reportaram resultados para o ano completo de 2020. Estas respostas devem ser vistas mais como uma perceção do desempenho – e são mais suscetíveis de refletir o alívio em sobreviver ao confinamento global de 2020.

    Olhando para o saldo entre empresas com resultados acima ou abaixo do esperado, existe um claro sentimento de sucesso associado a mudança para um negócio mais digital (37% salientam uma melhoria na performance), a respostas a riscos em tempo real (+27%), à inovação de novos produtos e serviços (+14%) e a uma estabilidade operacional (+19%). A transformação digital e a estabilidade operacional registaram também o maior número de respostas com uma opinião positiva. Estes são elementos necessários para gerir a continuidade do negócio durante a crise. Os executivos estão a demonstrar alívio por estarem a conseguir ultrapassar os impactos iniciais causados pela pandemia e a celebrar a continuidade dos seus negócios.

    A realidade está provavelmente melhor refletida onde existe maior equilíbrio no desempenho financeiro (+1%) e no envolvimento do cliente (+6%). Com as receitas e os lucros a serem tão negativamente impactados, seria surpreendente ver tantas empresas em nome a serem bem-sucedidas, individualmente, quando os seus concorrentes sofrem com o mesmo ambiente adverso.

    Para além disso, os executivos também reconhecem a necessidade de se envolverem com um grupo mais vasto de stakeholders, incluindo com os seus colaboradores, consumidores e sociedade, uma vez que o capital e o talento irão passar de organizações que apenas criam valor para os seus acionistas para aquelas que criam valor a longo prazo, sustentável e inclusivo.

    Os CEOs e os conselhos de administração terão de, continuamente, avaliar e comparar o seu desempenho, à medida que surgem novas informações. Ao colmatar a diferença de perceção entre o desempenho operacional e o desempenho financeiro, os executivos poderão compreender melhor o que funcionou e o que não funcionou – bem como disponibilizar bases mais sólidas para implementar futuras melhorias.

    O facto de as empresas terem conseguido agir rapidamente perante a situação, especialmente nos primeiros dias da pandemia, é impressionante. Essa flexibilidade e mentalidade inovadora serão elementos críticos em planos futuros.

    A resposta à pandemia será dada a pensar no futuro e ambiciosa, uma vez que as empresas planeiam manter ou aumentar o investimento em toda a organização.

    Sabemos que as empresas que investiram no período imediato da crise financeira mundial obtiveram benefícios de crescimento. Apesar da atual pandemia ser diferente da crise financeira mundial, irão surgir oportunidades semelhantes, à medida que a atividade económica volta ao normal.

    A pandemia obrigou os CEOs e a equipa executiva a analisar todas as áreas do seu negócio. A boa notícia é que estão empenhados em investir tanto nas receitas como nos fatores operacionais, com a transformação digital (63% dos inquiridos planeiam aumentar o investimento) e o envolvimento dos clientes (57% dos executivos planeiam aumentar) em primeiro lugar.

    Ao aprender com o seu recente desempenho, as empresas poderão direcionar o seu investimento de forma a construir portfolios de negócio, a resiliência e a agilidade necessárias para potenciar um crescimento rentável no futuro.

    A pandemia continua a ser a maior ameaça externa. Contudo, o ambiente económico em mudança é uma grande preocupação e os riscos pré-pandémicos ainda não desapareceram.

    Apesar das boas notícias em relação à campanha de vacinação, os inquiridos afirmam que a pandemia da COVID-19 e as contínuas restrições à atividade económica são o seu principal risco. Para além disso, os inquiridos também estão preocupados com a solidez da recuperação, quando esta chegar.

    Esta realidade vai ser determinada pela rapidez e pelo sucesso da campanha de vacinação a nível global. A distribuição de vacinas não vai ser uniforme e os mercados irão abrir em alturas diferentes, assim como os setores. As empresas devem certificar-se de que estão preparadas para aproveitar a aceleração da atividade à medida que esta surge.

    Uma das preocupações relacionadas tem a ver com o risco de uma economia global cada vez mais fragmentada. Existem já duas grandes regiões de comércio estabelecidas, na América do Norte e na Europa, bem como uma terceira a emergir na região da Ásia-Pacífico. A Regional Comprehensive Economic Partnership (RCEP) irá estimular o comércio entre os 15 países signatários da região da Ásia-Pacífico. No entanto, tal como observámos nas negociações entre o Reino Unido e a União Europeia, os acordos de comércio podem ter cláusulas, tais como as que estabelecem regras de origem, que impõem barreiras a outros países. As empresas passaram os últimos 30 anos a construir operações e cadeias de abastecimento totalmente integradas. Apesar de a pandemia ter realçado as fragilidades de uma dependência excessiva no que concerne à concentração geográfica, os executivos não irão querer replicar operações em diferentes locais, caso a economia global se torne demasiado fragmentada.

    A crescente tensão entre os principais blocos comerciais irá intensificar estas preocupações para os executivos, especialmente se a retórica protecionista se transformar em barreiras comerciais efetivas.

    Para além destes novos riscos para o crescimento, as empresas não se esqueceram dos riscos pré-pandémicos. O ano passado começou com muitas notícias sobre a emergência das alterações climáticas. Este tema não desapareceu. Da mesma forma, a ameaça às empresas resultante da disrupção tecnológica e os riscos de desafios decorrentes das tecnologias emergentes para as suas operações continuam a existir. A COVID-19 pode ter controlado o debate, mas estes desafios intensificaram-se. O pacote de apoio fiscal da UE e o alívio esperado decorrente da administração Biden colocam com prioridade, tanto a tecnologia “verde”, como uma aceleração do investimento no setor tecnológico no geral, em áreas como a inteligência artificial, a rede 5G e a robótica. As empresas vão sentir uma maior pressão para investir nestas áreas, especialmente as que recebem investimento destes planos.

    Sendo a aquisição de competências digitais uma prioridade para o negócio, as estratégias de M&A são focadas numa dinâmica digital.

    Para a grande maioria dos inquiridos, a pandemia levou a uma reavaliação da estratégia de M&A. Para além de se focarem mais na resiliência do potencial alvo, estão também a analisar a estratégia digital do mesmo bem como o respetivo posicionamento tecnológico. Adicionalmente, procuram reavaliar e reequilibrar o seu portfolio. Talvez o mais importante seja o facto de que muitas empresas encaram a pandemia como uma oportunidade para aumentar a quota de mercado e aumentar a velocidade de entrada no mercado inserido num ambiente flexível e dinâmico.

    Apenas uma pequena minoria afirmou que a experiência da pandemia não teve qualquer efeito na sua estratégia de M&A.

    A experiência da pandemia tem sido claramente uma chamada de atenção para muitos líderes de negócio. Apesar de estarem satisfeitos com o seu desempenho, não existem sinais de comodismo: as empresas procuram agir e investir de forma ambiciosa à medida que o mundo emerge da COVID-19. Para muitos, a forma, dimensão e o foco do negócio pode ser bastante diferente quando a pandemia acabar.

    
            Imagem aproximada de uma mão a carregar em botões com luz
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    Capítulo 2

    O imperativo estratégico

    Reestruturar a estratégia para um mundo depois da pandemia

    Para muitos, a forma, dimensão e o foco do negócio pode ser bastante diferente quando a pandemia acabar.

    Para muitos CEOs e líderes de negócio, o aparecimento da pandemia da COVID-19 e respetivo impacto económico, consistiram numa séria ameaça para os seus negócios. Não é de admirar que mais de 86% tenham efetuado uma revisão alargada da sua estratégia e portfolio em 2020. Para dois terços (66%), isto não foi algo planeado, mas sim uma resposta direta a acontecimentos em curso.

    Compreender o impacto da pandemia e investir em tecnologia e no digital irá apoiar os objetivos estratégicos de crescimento das empresas.

    O objetivo destas revisões consiste em compreender e gerir da melhor forma possível o impacto a longo prazo da COVID-19 nos seus negócios e setor. Muitos aspetos da mudança provocada pela pandemia permanecem incertas. Em tempos “normais” com os previsíveis altos e baixos do ciclo da economia, os modelos de negócio permanecem relativamente estáveis. Os caminhos a seguir costumam ser claros, pelo que não são necessárias grandes alterações. Num período de disrupção extrema e única, a interrupção tem sido uma ameaça para o modelo de negócio core.

    As empresas estão a tentar determinar que mudanças resultantes da pandemia são temporárias e quais são permanentes. Tento em conta a experiência vivida com a pandemia e a avaliação feita sobre o que o futuro nos traz, uma coisa é certa: o investimento em tecnologia e nas competências digitais é fundamental.

    Para além disso, existe também um otimismo sobre as principais considerações estratégicas. Identificar as principais áreas de crescimento de forma a realizar aquisições ou tomar a difícil decisão de desinvestir em ativos com baixo desempenho, estão presentes na agenda das empresas. O período de recuperação no pós-crise financeira mundial revela que estas duas ações aceleraram o crescimento da recuperação.

    Os clientes estão no centro das ambições estratégicas de crescimento à medida que as empresas procuram novas formas de crescimento e otimização.

    As empresas estão cada vez mais a colocar o cliente no centro dos seus planos. Um dos aspetos da pandemia tem sido a fragmentação das cadeias de valor, tanto a montante nos fornecedores como a jusante nos clientes, devido aos sucessivos confinamentos. As empresas estão a investir em tecnologia para acelerar a digitalização da jornada do consumidor e para alterar os processos do negócio. Para além disso, estão a analisar novas formas de pricing ou a estabelecer modelos de pricing inovadores, bem como a adaptar as suas equipas de vendas para ajudar a atrair e reter clientes. 

    Esta é uma grande lição retirada da pandemia. Se uma empresa não consegue fazer chegar os seus produtos e serviços aos seus clientes, depara-se com um grave problema. Se não conseguir oferecer um produto ou um serviço melhor, incluindo uma maior variedade de opções, a um preço que os clientes estejam dispostos a pagar, irá ficar em desvantagem face à concorrência. Numa altura em que as receitas e os lucros vão ser mais difíceis de obter, as empresas vão analisar todas as formas possíveis de prosperar no mercado.

    A falta de capacidades tecnológicas está a atrasar as ambições, tal como o estão as limitações de capital e a inércia interna.

    Apesar dos planos de transformação terem sido intensificados pela pandemia, os executivos enfrentam sérios problemas. A atual falta de acesso a tecnologia de ponta é crítica. Estar na vanguarda tecnológica e da adoção digital tem sido o fator diferenciador chave do sucesso durante o ano passado. A tecnologia é o grande facilitador. Mas acarreta custos, tanto em termos de capital como em termos do talento adequado para o alavancar.

    Sem dúvida que a pandemia apresentou os maiores desafios que muitas organizações de todos os setores alguma vez enfrentaram. Os líderes vão ter de repensar a sua estratégia e os seus valores no contexto do novo normal, exigindo que as organizações modifiquem tanto as suas ambições como os seus modelos operacionais — de forma célere.

    Um dos desafios que surge constantemente nos papers académicos sobre as razões pelas quais as estratégias falham é pelo facto de muitas das vezes, não serem exequíveis – funcionam na teoria, mas não na prática. Esta barreira para o sucesso é confirmada por 15% dos executivos inquiridos. Uma estratégia que possa ser criada e implementada no mundo real pós-pandémico significará a diferença entre ganhar e perder. Recentemente, Michael Beer, Cahners-Rabb Professor de Business Administration, Emeritus, na Harvard Business School, escreveu o seguinte: "Quase todas as organizações estão a enfrentar grandes desafios estratégicos, muitas vezes com a necessidade de reimaginar o seu próprio propósito, identidade, estratégia, modelo de negócios e estrutura. Contudo, a maioria destes esforços de transformação irão fracassar. E, na maior parte dos casos, não vão alcançar os seus objetivos, não pelo facto da nova estratégia ter falhas, mas sim por a empresa não os conseguir implementar.”

    Paralelamente, são as limitações de capital, a tensão na transformação entre o status quo e a visão, e a falta de recursos séniores para impulsionar esta mudança impede a execução destas ambições.

    No entanto, as mudanças necessárias são obrigatórias num futuro não muito distante. Os executivos deverão levar o seu plano de recuperação mais além, e evitar corrigirem apenas os temas levantados pela pandemia da COVID-19. Trata-se de uma oportunidade para redefinir, reimaginar e reinventar que os líderes devem aproveitar com total dedicação, e cujo principal impulsionador serão os investimentos no digital e na tecnologia.

    Já não se trata de uma questão de “podemos dar-nos ao luxo de”, mas sim de “podemos dar-nos ao luxo de não o fazer”?

    
            Antenas de observatório ao pôr do sol
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    Capítulo 3

    Perspetivas de M&A

    Enfrentar o futuro

    Apesar do momento incerto em que vivemos, o imperativo M&A para acelerar a transformação estratégica tem apoiado o interesse para realizar negócios.

    Tem sido um ano excecional para M&A. As transações praticamente congelaram, a nível global, no segundo trimestre devido ao surto pandémico. As transações praticamente congelaram, a nível global, no segundo trimestre devido ao surto pandémico. Mas desde julho, tem-se assistido a uma aceleração das aquisições. Espera-se que esta tendência se mantenha, uma vez que as empresas se posicionam para a retoma da atividade económica e para um cenário empresarial diferente.

    O segundo semestre de 2020 registou o maior número de transações de que há registo, em que o valor mais do que duplicou entre o primeiro e segundo semestre. As condições para M&A continuam a ser favoráveis, incluindo taxas de juro baixas, mercados de capitais atrativos e ainda disponibilidade de capital privado.

    Houve várias transações anunciadas que se encontravam focados na expansão de serviços e da oferta aos clientes. Este será provavelmente o principal driver dos negócios de M&A a curto prazo, uma vez que as empresas procuram fidelizar os clientes através de uma oferta mais ampla e de uma melhor experiência.

    Com quase metade das empresas inquiridas (49%) à espera de continuar os seus processos aquisitivos nos próximos 12 meses, é expectável que este ambiente continue.

    Aquisições bolt-on e que visam adquirir competências únicas serão a base dos negócios de M&A a curto prazo, ainda que os de transformação se encontrem no horizonte para muitas empresas.

    A experiência da pandemia obrigou as empresas a reverem tanto a sua estratégia como o seu portfolio. Esta revisão ajudou-as a identificar as áreas que necessitam de investimento – rapidamente Muitas empresas vão procurar efetuar transações que permitam rapidamente satisfazer estes requisitos, com a maioria dos negócios a realizar nos próximos 12 meses a serem orientados para aquisições bolt-on e que visam adquirir competências. Esta estratégia estará centrada em potenciar as capacidades digitais e tecnológicas, bem como em adquirir ativos e colmatar a lacuna de talentos para ajudar a preparar o negócio com vista ao futuro.

    Para uma minoria significativa, as aquisições mais pequenas não serão suficientes, uma vez que estas têm como objetivo crescimento futuro quando, na realidade, o ambiente pós-pandemia poderá ser muito diferente. Executivos irão procurar fazer aquisições de transformação que alterarão totalmente a escala e o foco das suas operações.

    Para cada empresa, estas decisões serão ponderadas com a avaliação do seu desempenho durante a pandemia. Existe uma clara vontade clara de reavaliar, reinventar e reestruturar o seu futuro. Contudo, as empresas vão ter de assumir decisões ambiciosas. Para muitos CEOs e outros líderes empresariais, este é o momento para assumir um crescimento futuro ambicioso.

    A aquisição de tecnologia, inovação e outras capacidades estratégicas deverão ser os principais drivers de transações em 2021.

    Os drivers de negócio subjacentes às intenções de M&A para os próximos 12 meses estão alinhados com os objetivos de investimento executivo para a retoma — uma indicação clara de que as transações podem ser o caminho mais rápido para a transformação.

    As empresas veem operações de M&A como forma de potenciar as suas oportunidades de crescimento na próxima etapa da economia global. Estas irão adquirir tecnologia, talento, novas capacidades de produção ou start-ups inovadoras. As empresas procuram alvos transversais aos setores, de forma a que possam alargar as suas ofertas de produtos e serviços, um fator diferenciador fundamental para atrair e reter clientes num mercado bastante competitivo. Adicionalmente, estão a procurar expandir o seu mercado disponível e reforçar a quota de mercado existente. Este foco pode levar a parcerias/colaborações entre setores, a tendências de convergência e criação de ecossistemas, e assim gerar um resultado bem-sucedido a um ritmo acelerado.

    As operações de M&A serão também uma forma de criar resiliência nas operações das suas empresas e de navegar nas preocupações emergentes sobre as tarifas e os fluxos comerciais.

    Mas o elemento principal da estratégia de M&A é o foco na aceleração do crescimento na retoma e o posicionamento para o futuro.

    Com a expetativa de que o mercado de transações se mantenha sólido, o capital privado é visto como a principal concorrência pelos ativos.

    Enquanto o valor dos negócios de private equity (PE) em 2020 aumentou 5%1, o foco global de PE durante a pandemia centrou-se nas empresas nas suas carteiras, procurando aumentar a sua resiliência e o desempenho operacional, bem como a criação de valor. Os executivos analisaram o seu atual portfolio de ativos, com o objetivo de garantirem a continuidade das operações perante um cenário incerto.

    O ano de 2021 verá provavelmente um maior impacto de PE e de outras formas de capital privado. Não obstante as empresas de PE terem estado ativas durante 2020, é provável que estejam ainda mais, à medida que começarmos a assistir ao reposicionamento por parte das empresas na fase de recuperação. Não obstante as empresas de PE terem estado ativas durante 2020, é provável que estejam ainda mais, à medida que começarmos a assistir ao reposicionamento por parte das empresas na fase de recuperação.2

    
            Curvatura do planeta Terra
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    Capítulo 4

    Fluxos de globalização e de investimento

    Um novo mundo ou os mesmos padrões?

    As operações de M&A internacionais continuam a ser atrativas para as empresas, sendo a compra na região mais próxima a opção preferida por muitos.

    Os benefícios e as desvantagens da globalização têm sido um tema dominante na política ao longo dos últimos quatro anos. Tanto nos EUA como na Europa, a globalização foi citada como um dos principais fatores base para o aumento do populismo. Os governos de vários países reagiram através da introdução ou reforço das leis para rever ou impedir a realização de negócios fora das suas fronteiras. Para além disso, estão também a analisar a forma como podem criar e defender as organizações nacionais estratégicas e como podem regular as empresas, especialmente as de maior dimensão.

    Muitas empresas são claras no seu ponto de vista. Operar a nível global é um caminho fundamental para adquirir as capacidades e os produtos que aceleram o crescimento. As operações de M&A internacionais diminuíram a um ritmo mais acelerado do que o mercado de transações na sua generalidade em 2020, uma vez que as restrições nas deslocações limitaram a realização de negócios internacionais, e tem sido um setor mais lento a recuperar. No entanto, existiu uma recuperação de negócios internacionais no final do ano.

    Onde provavelmente iremos ver a maior recuperação vai ser nas negociações entre regiões. Os acordos comerciais regionais ajudam a construir a familiaridade e a confiança para fazer negócios. Na região da Ásia-Pacífico, a RCEP vai eliminar as tarifas de um vasto conjunto de produtos para os seus países membros e estabelecer regras comuns para o comércio eletrónico, comércio e propriedade intelectual. O acordo comercial estabelecido entre 15 países da Ásia-Pacífico, que abrange um terço da população e do PIB mundial, reflete-se no interesse dos inquiridos em procurar acordos nos países vizinhos.

    
            Os cinco principais destinos de investimento CCB 23

    Os EUA e o Reino Unido continuam a ser dos principais centros de negociação globais. Os EUA continuam a ocupar o primeiro lugar, tanto no mercado a nível global como no setor dos negócios internacionais, enquanto que o Reino Unido se encontra habitualmente entre os três primeiros. Durante várias décadas, os EUA têm sido líderes mundiais no que toca ao crescimento de empresas tecnológicas enquanto que o Reino Unido o é na Europa. Por isso, não é de admirar que as empresas possam procurar adquirir ativos em ambos os países nos próximos 12 meses.

    A Alemanha e a França estão no centro das redes económicas da Zona Euro e são líderes na produção de alta tecnologia. Com as empresas e os ativos disponíveis que serão procurados à medida que as empresas automatizam as suas operações, é muito provável que se verifique bastante interesse nestes setores em ambos os países.

    Pela primeira vez em cinco anos, a Índia está entre os primeiros 5 países. Há muito tempo que o país tem sido apontado como um mercado em expansão para M&A internacionais. No entanto, isso ainda não se verificou totalmente. No entanto, se as empresas procurarem crescimento e oportunidades fora dos mercados em que têm confiado durante a última década, terão um interesse ativo em investir na Índia.

    A Europa é vista como uma fonte contraintuitiva de oportunidades e crescimento a curto prazo.

    Na década desde a crise financeira mundial, a Europa tem sido vista como a “que está a ficar para trás” no cenário económico mundial. Tem seguido os EUA, a China e o Sudeste Asiático como fonte de crescimento que impulsiona a atividade económica global.

    Mas à medida que as economias se abrem, a Europa pode estar na linha da frente do processo de recuperação. Acontece também que algumas das maiores economias europeias tiveram um maior declínio do que outras e que o potencial de recuperação é maior. Contudo, a Europa não é composta apenas por um único país. As empresas irão analisar os mercados individualmente e calendarizar as suas potenciais oportunidades, de acordo com a situação específica de cada país.

    A crescente influência dos governos na esfera empresarial terá cada vez mais impacto nas decisões de investimento e de M&A.

    A tendência crescente dos governos a nível mundial em erguer barreiras ao comércio e a operações de M&A internacionais irá criar grandes obstáculos para as empresas que procuram investir internacionalmente.

    Os executivos podem ultrapassar estas barreiras ao compreender as restrições emergentes e ao assegurar que a sua estratégia de investimento ou entrada em cada mercado está alinhada com o que os governos estão a tentar alcançar.

    Os desafios geopolíticos em curso têm atrasado ou desincentivado os investimentos estratégicos, à medida que as empresas esperam por uma maior clareza.

    Para além de ter sido um ano de crise global de saúde pública, 2020 foi também um ano de elevada tensão geopolítica. Portanto, não é surpresa que em 2020 o risco político e a probabilidade de decisões, acontecimentos ou condições políticas a nível geopolítico, nacional, regulamentar ou social tenham tido impacto nas decisões de investimento de muitas empresas. Mas para a maioria, isto é uma pausa, não uma retração total do investimento internacional.

    A continuidade do risco político em 2021 vai levar a um elevado nível de incerteza, desafiando o desenvolvimento e a execução da estratégia das empresas.

    Mas há sinais de uma redução da tensão. O sucesso das negociações entre o Reino Unido e a União Europeia sobre as suas futuras relações, e a eleição de uma nova administração nos EUA, que poderá estar mais disposta a empenhar-se na cooperação internacional multilateral, pode ajudar a dar às empresas a confiança necessária para retomares os seus planos de investimento internacional.

    Reestruturar o seu futuro para o mundo pós pandemia

    O planeamento para alcançar o sucesso depois da COVID-19 deve ser construído com base nas principais ideias apresentadas neste Barómetro. As forças disruptoras não vão desaparecer com a pandemia, e os executivos devem focar-se num conjunto de fatores-chave que podem conduzir a um futuro melhor.

    1


    Adeque a sua estratégia ao mundo real pós pandémico – ter uma linha de pensamento inteligente, que possa ser implementada na prática, e não apenas em teoria.

    2


    Não se foque apenas no agora — tome decisões orientadas para a criação de valor a longo prazo — humano, financeiro, societário e clientes.

    3


    Compreenda o seu futuro consumidor e o que é importante para eles.

    4


    Preste atenção ao conjunto de talento existente. Caso contrário, outra pessoa o fará.

    5


    Garanta que conhece perfeitamente o seu ROI, especialmente com o digital e a tecnologia.

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    Tome decisões ambiciosas — aja rapidamente para tirar partido das oportunidades.

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    Assegure-se que tem o capital necessário para financiar a sua estratégia realinhada.

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    Seja claro em relação à sua missão e como as comunica aos stakeholders, aos colaboradores e à sociedade.

    9


    Construa os seus ecossistemas para além dos parceiros habituais — considere a cooperação com a concorrência.

    10


    Não deixe de investir em operações de M&A — os investidores mais ativos podem apresentar melhores resultados.

    Resumo

    O EY Global Capital Confidence Barometer mede a confiança das empresas sobre as perspetivas económicas e identifica tendências e práticas desde a sala de reuniões da administração na forma como as empresas gerem as suas agendas de capital.

    Sobre este artigo

    Autores
    Andrea Guerzoni

    EY Global Vice Chair, Strategy and Transactions

    Advising Boards and CEOs on transformational deals from strategy through to execution. Global Leader of Strategy and Transactions service line. Innovator and team player.

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    EY Global Deputy Vice Chair – Strategy and Transactions

    Over 20 years of experience in leading financial services, corporate and private equity transactions. Advisor to both sell- and buy-side.

    Barry Perkins

    EY Global Strategy and Transactions Lead Analyst

    Dedicated corporate finance researcher. Interested in all areas of modern life, including government, capital markets, business, social affairs, arts, sciences and sport. History buff.