1 minutos de leitura 30 mar 2021
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Liderar com Propósito: o ingrediente secreto da sustentabilidade

por Rodolfo Pinto

Partner, Consulting Financial Services, Ernst & Young, S.A.

Procuro contribuir para o desenvolvimento sustentável do sistema financeiro, sempre com o foco nas pessoas e dinamizado pela inovação. Excelência técnica, conhecimento, visão, curiosidade, compromisso

1 minutos de leitura 30 mar 2021

Uma das grandes lições da crise financeira de 2007 foi a importância de alinhar os objetivos dos gestores com o interesse de longo prazo das instituições. Sem prejuízo do importante contributo da regulamentação para assegurar adequadas estruturas de governo interno, é fundamental liderar com propósito para desenvolver uma cultura de valores sustentáveis e maximizar o impacto nas pessoas, planeta e prosperidade.

A grande crise financeira de 2007 deixou expostas fragilidades significativas na supervisão e regulamentação prudenciais, tendo conduzido, na Europa, a uma forte intervenção dos governos, a profundas revisões da regulamentação, à introdução do Sistema Europeu de Supervisão Financeira e à criação da União Bancária.

Consequentemente, ao longo da última década na Europa a regulamentação evoluiu no sentido de introduzir mais requisitos de governo interno, com destaque para o aumento da responsabilização das estruturas de topo das instituições, para o alinhamento das políticas de remuneração com os objetivos de longo prazo das instituições ou para a revisão da organização interna por forma a evitar os conflitos de interesse entre as áreas comerciais e negócio e as funções de gestão risco, compliance ou auditoria interna.

Neste contexto, uma palavra de destaque deve ser concedida ao Banco de Portugal, que procurou levar os esforços mais além e, através do seu Aviso n.º 3/2020, entre outras medidas, veio reforçar os deveres específicos do órgão de administração sobre o governo e sistema de controlo interno, conduta e cultura organizacional; introduziu requisitos de conhecimento e competência por funções e nível hierárquico; reforçou a segregação das funções de controlo interno e a avaliação da adequação dos seus responsáveis; e implementou medidas de prevenção de conflitos de interesses com partes relacionadas.

Globalmente, este conjunto de medidas visa contrariar a natureza humana na génese da supramencionada crise financeira: a ganância pelo lucro imediato. Contudo, para que a mudança de comportamentos se torne intrínseca, é necessário algo mais. É necessário modificar o íntimo das organizações: o seu propósito, os seus valores, princípios e cultura.

E os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (SDGs) das Nações Unidas apontam o caminho. Por um lado, são uma oportunidade de crescimento e rentabilidade futura, o que torna a mudança apetecível. Por outro, apelam a fazer o correto através do investimento na criação de valor sustentável, pensando não apenas nos resultados da instituição, mas no impacto em todo o seu ecossistema.

E este caminho já está a ser feito por alguns países, como o Reino Unido. A definição de governo está a evoluir à medida que se espera que as organizações cada vez mais incorporem o seu propósito no modelo de negócio, com a governação dos fatores de sustentabilidade no centro das atenções dos conselhos de administração e direção de topo.

O ambiente de controlo interno do futuro vai além da gestão do risco e das linhas de defesa: deve salvaguardar a alocação e gestão responsável do capital com vista a criar valor de longo prazo, incorporando na estratégia de negócio e risco as oportunidades associadas a pessoas, planeta e prosperidade.

Liderar com propósito é o ingrediente secreto que efetivamente permitirá mudar a base da criação de valor do curto para o longo prazo, redefinirá a perspetiva de resultados para os vários stakeholders da organização e contribuirá para a melhoria do desempenho das instituições, ao proporcionar uma causa convincente para o negócio para além dos lucros.

Resumo

A crise financeira de 2007 expôs as vulnerabilidades das práticas de governo e controlo interno. Ao longo da última década, reguladores e supervisores têm procurado impor uma alteração de comportamentos, sobretudo através de requisitos relacionados com organização interna, segregação de funções, conduta e incentivos remuneratórios. O Banco de Portugal distingue-se da União Europeia neste processo, com a recente publicação do Aviso n.º 3/2020. Contudo, ainda é necessário mais: uma genuína alteração do comportamento das instituições requer uma liderança com propósito, com foco na sustentabilidade e na criação de valor de longo prazo.

Sobre este artigo

por Rodolfo Pinto

Partner, Consulting Financial Services, Ernst & Young, S.A.

Procuro contribuir para o desenvolvimento sustentável do sistema financeiro, sempre com o foco nas pessoas e dinamizado pela inovação. Excelência técnica, conhecimento, visão, curiosidade, compromisso