Como podem os dados proteger os sem-abrigo antes de o serem?

por Miguel Amado

Miguel Amado - Partner, Government and Public Sector Leader, Ernst & Young, S.A.

Mais de 20 anos de experiência internacional em grandes projetos de transformação. Pai de três filhos. Fala cinco línguas. É apaixonado por música e toca quatro instrumentos.

2 minutos de leitura 17 jun 2022

Os casos de sem-abrigo já eram um desafio em todo o mundo antes de a situação ser agravada pela pandemia COVID-19.

Além das dimensões morais e económicas graves, o fenómeno dos sem-abrigo é uma questão de saúde pública. A habitação é uma das componentes primárias dos Determinantes Sociais da Saúde, com muitos especialistas a defenderem que é o mais importante desses fatores e que "habitação equivale a cuidados de saúde", uma posição que nós na EY partilhamos.

Os sem-abrigo são uma realidade em praticamente todos os países, independentemente do tipo de governo ou das origens económicas, sociais ou culturais da sua população. Em 2015, os especialistas estimavam que o número de pessoas que não tinham casa ultrapassava os 150 milhões em todo o mundo, com mais 1,6 mil milhões a viver em habitações inadequadas e 15 milhões despejados à força todos os anos.

Os governos, as agências de apoio social e as IPSS estão pressionadas para fazer face à longa lista de desafios sociais que causam ou contribuem para as situações de sem-abrigo: a pobreza e o desemprego; desagregações familiares; serviços e instalações inadequados para as pessoas que sofrem de doenças mentais, alcoolismo ou abuso de substâncias; entre outras.

Estes esforços tornam-se mais eficientes se os dados residentes em diferentes sistemas de muitas organizações puderem ser trocados de forma segura. A partir da identificação dos fatores específicos que fizeram com que um indivíduo ou família se tornasse sem-abrigo, é possível definir uma resposta abrangente, e centrada nas pessoas, dos serviços de saúde e sociais. Normalmente torna-se possível identificar padrões e tendências que passam a permitir sinalizar antecipadamente situações de risco, evitando que cheguem à situação de sem-abrigo.

Quando os sem-abrigo em Maidstone, Inglaterra, aumentaram 58% em apenas cinco anos, as entidades procuraram mudar o seu foco da resposta de crise para a construção de capacidades de intervenção e prevenção precoces. Trabalhando com equipas da EY e do nosso parceiro tecnológico do Reino Unido, Xantura, foi criada e implementada uma ferramenta focada em dados, chamada OneView. No ano piloto inicial, conseguiu-se prevenir que quase 100 famílias ficassem em situação de sem-abrigo, mesmo durante a pandemia. A taxa de sem-abrigo caiu 40%. 

Este problema não surgiu com a pandemia e provavelmente continuará a existir no futuro. No entanto, está ao nosso alcance promover a integração de dados entre agências e usá-los para extrair alertas que permitam antecipar tendências e sinalizar casos de risco concreto, para intervenção precoce.

Resumo

Os governos têm a oportunidade de conhecer mais e fazer mais do que as organizações privadas e entidades sem fins lucrativos que estão a trabalhar para acabar com situações de sem-abrigo. A partilha efetiva de informações entre sistemas e agências pode fornecer informações inestimáveis sobre necessidades específicas e soluções potenciais. Ambos os avanços, conhecendo a verdadeira necessidade e conhecendo os dados, acelerarão a nossa capacidade de alcançar o objetivo de todas as sociedades: ligar as pessoas aos recursos de que necessitam para evitar que deslizem para uma situação de sem-abrigo.

Sobre este artigo

por Miguel Amado

Miguel Amado - Partner, Government and Public Sector Leader, Ernst & Young, S.A.

Mais de 20 anos de experiência internacional em grandes projetos de transformação. Pai de três filhos. Fala cinco línguas. É apaixonado por música e toca quatro instrumentos.