7 minutos de leitura 15 out 2020

            Alpinista a acampar na montanha

Como é que a COVID-19 pode acelerar a área do digital no setor do Petróleo & Gás

por EY Portugal

Firma de serviços profissionais multidisciplinares

7 minutos de leitura 15 out 2020

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  • Digital Transformation and the Workforce survey 2020 (pdf)

Os preços baixos e a quebra da procura devido à COVID-19 fazem da adoção e integração da tecnologia uma necessidade.

Este artigo faz parte do conjunto de temas de resposta à crise no setor do Petróleo & Gás.

Três questões a colocar
  • A rápida evolução de tecnologia digital oferece uma solução viável para o setor de Petróleo & o Gás?
  • À medida que as empresas procuram expandir a sua infra-estrutura digital, como devem proceder para retirar o máximo valor?
  • Será que os próximos 12-18 meses prometem ser particularmente difíceis à medida que o setor do Petróleo & Gás se adapta a um novo normal — ou será uma oportunidade para a transformação?

O excesso de petróleo bruto a nível mundial, que causou uma descida de preços de quase 50% nos últimos três meses de 2014 deu início a uma nova era para o setor.

Longe vão os dias em que se cobriam os custos de exploração e de produção dispendiosos com os picos dos ciclos de preços. O novo mercado — criado por uma vasta produção não convencional e pela diminuição da procura — significava que os preços provavelmente permaneceriam baixos durante muito tempo. Nesse sentido, o setor teria de encontrar formas de reduzir os seus custos num futuro próximo.

A rápida evolução da tecnologia digital ofereceu soluções viáveis. Mas muitas empresas acreditavam ter uma janela de tempo substancial para desenvolver e implementar uma estratégia digital. A vantagem competitiva de ser first mover não era clara; a maioria das empresas pensava que era vantajoso avançar lentamente e aprender com os erros dos outros.

E assim foi. Hoje em dia, a pressão sobre os preços das commodities continua a ser uma questão relevante, e a queda da procura no pós-COVID-19 ainda agravou a situação. Para ter sucesso apesar destas condições de mercado, as empresas de petróleo e gás reconhecem a necessidade de adotar tecnologias digitais.

De facto, 90% dos executivos de empresas do setor do Petróleo e Gás que participaram na Transformação Digital EY e no Workforce Survey, realizado em junho de 2020, concordaram ou concordaram bastante, que neste momento, as suas empresas precisam de investir em tecnologia e na força de trabalho, embora os níveis de investimento variassem.

Investimento em tecnologia digital

80%

planeiam investir pelo menos uma quantia moderada, e 29% planeiam investir bastante em tecnologias digitais.

Por último, as empresas que ainda não abraçaram a implementação digital transversalmente, já não podem permitir-se uma abordagem cautelosa; o valor que as ferramentas digitais oferecem é fundamental para a sobrevivência no cenário atual de preços.

O valor que as ferramentas digitais oferecem é fundamental para a sobrevivência no cenário atual de preços.

Novo paradigma, novas oportunidades

Todas as empresas do setor do Petróleo e Gás têm alguma tecnologia digital implementada, com algumas totalmente empenhadas na transformação digital. Mas muitas outras têm ainda de dar um grande passo, especialmente em funções críticas, como o planeamento, a extração e as operações. As empresas do setor do Petróleo & Gás enfrentaram vários desafios relacionados com a adoção de tecnologias digitais. 

Curiosamente, o contexto da COVID-19 e as políticas relacionadas com o trabalho remoto têm a capacidade de acelerar a mudança necessária para apoiar a plena integração de tecnologias digitais de forma transversal nas organizações. As tecnologias digitais suportam o distanciamento social, permitindo que os colaboradores trabalhem eficientemente, a partir de locais remotos, o que será provavelmente uma necessidade ao longo de 2020 e no futuro.

Os últimos meses provaram que as empresas do setor do Petróleo e Gás podem operar com sucesso em plataformas digitais, apoiadas pelo cloud computing. Estas ferramentas funcionam — e é evidente que podem ajudar a reduzir custos.

Esta mudança de paradigma é um sinal de mudanças significativas no setor.

As ferramentas digitais fazem mais do que permitir a comunicação e a colaboração. Permitem aos engenheiros e aos operadores planear e monitorizar operações remotamente, automatizar tarefas manuais e agilizar processos, e apoiar a integridade operacional e a segurança dos processos.

As ferramentas digitais fazem mais do que permitir a comunicação e a colaboração. Permitem aos engenheiros e aos operadores planear e monitorizar operações remotamente, automatizar tarefas manuais e agilizar processos, e apoiar a integridade operacional e a segurança dos processos.

Uma vez que as tecnologias digitais têm dado provas no setor — num período em que a redução de custos é crítica — considere o que deve acontecer no futuro. Será que as empresas precisam de múltiplos escritórios regionais e de tantos colaboradores a trabalhar nos edifícios sede? As ferramentas digitais deslocam-se para onde o talento está localizado, permitindo que as empresas utilizem o capital financeiro e humano de forma mais eficiente.

Uma forte estrutura digital permite às empresas tirar partido de diferentes estruturas fiscais e de despesas, a nível nacional e regional, eliminar sistemas informáticos antigos, reduzir as despesas gerais e muito mais.

No entanto, existem desafios. A segurança dos dados é um problema, especialmente com os colaboradores a trabalhar remotamente. E nem todos os locais remotos possuem ligações de internet com a largura de banda necessária.

Também será necessária uma mudança cultural. A adoção e a utilização adequada de novas ferramentas exigirá tempo e formação. E os novos colaboradores, provavelmente, ainda irão necessitar de alguma forma de orientação presencial, mais prática, e de um onboarding. Mas estas questões são solucionáveis.

Avançar rapidamente para captar valor

O maior obstáculo à implementação de uma estratégia digital integral é saber por onde começar. À medida que as empresas procuram expandir a sua infra-estrutura, como devem proceder para captar o máximo valor possível?

Existem quatro elementos críticos para uma adoção rápida e transversal do digital:

  1. Implementar uma infra-estrutura digital para a qual as pessoas possam transitar de forma rápida e fácil — ferramentas para ajudar os colaboradores a acompanhar o ritmo com o ambiente atual. A usabilidade é essencial, e a tecnologia ligada às experiências existentes dos utilizadores é sempre mais fácil de implementar.
  2. Estabelecer processos rigorosos para assegurar que as novas ferramentas criam valor real e envolvem os principais utilizadores finais no desenvolvimento. As empresas não podem ir por atalhos nas fases de conceção e implementação. Os colaboradores vão adotar as novas tecnologias caso estas funcionem corretamente, aumentem a sua capacidade de trabalho e se sentirem que têm uma palavra no seu desenvolvimento.
  3. Seja transparente na comunicação dos resultados e faça um esforço conjunto para partilhar as experiências de implementação com todo o negócio. Como é que as diversas funções utilizam as ferramentas e o que é que os outros podem aprender com essas experiências? As ferramentas digitais não podem ser simplesmente "ligadas" como um interruptor; tem de existir comunicação e educação sobre a sua utilização e benefícios.
  4. Crie quick wins para construir confiança. Os engenheiros têm de sentir confiança nos sensores digitais e nas plataformas automatizadas. Os dados estão corretos? Posso confiar na informação que este dashboard me apresenta? Criar confiança é um dos elementos mais desafiantes da adoção digital, e as ferramentas digitais críticas têm de funcionar corretamente desde o primeiro dia.

Desbloquear valor a partir dos dados

As empresas geram enormes quantidades de dados ao longo do processo de exploração, desenvolvimento e produção de petróleo e gás. Atualmente, muitos desses dados residem em silos digitais ou, pior ainda, em papel.

Várias unidades de negócio e diversas equipas ao longo da cadeia de valor do setor do Petróleo e Gás estão a criar e a tirar proveito dos dados individualmente. Como resultado, os colaboradores passam imenso tempo a procurar e a validar dados manualmente.

Esta realidade não só atrasa os processos, como retira o potencial dos dados em toda a organização, podendo faltar uma análise crítica e insights relevantes. As operações das empresas do sector do Petróleo e Gás são altamente complexas, de grande dimensão e de capital intensivo, o que significa que pequenos erros e ineficiências custam milhões de dólares e causam meses de atrasos.

As nossas previsões revelam que uma empresa do setor do Petróleo e Gás poderia obter ganhos superiores a 145 milhões de dólares anualmente, se integrassem os seus processos-chave na cadeia de valor do setor do Petróleo e Gás através de um modelo de dados comum.

Reunir um sem número de aplicações e criar um fluxo unificado de dados pode trazer um enorme impacto a todo o setor. A integração e a implementação eficaz da tecnologia digital em todo o setor do Petróleo e Gás têm o potencial de reduzir os custos e impulsionar a eficiência, ambos fundamentais para a atuação, tanto em termos imediatos, da crise da COVID-19, como das implicações a longo prazo para a transição energética.

Resumo

A crise da COVID-19 veio agravar os desafios já existentes para o setor do Petróleo e Gás. A diminuição na procura está a pressionar as empresas a reduzir os custos e a aumentar a eficiência de modo a ajustar a rentabilidade. Para preparar a transição energética, é fundamental que as empresas acelerem não só a adoção, mas mais importante, a integração da tecnologia digital em toda a cadeia de valor do setor do Petróleo e Gás.

Os próximos 12 a 18 meses prometem ser especialmente difíceis à medida que o setor do Petróleo e Gás se adapta a um novo normal. É fundamental que as empresas tomem as medidas necessárias para mitigar os impactos e criar organizações mais ágeis e mais competitivas para o futuro.

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