1 minutos de leitura 26 fev 2021
EY abstract photographic view of the earth

O imperativo da valorização de conhecimento e tecnologia

por Hermano Rodrigues

Principal, EY-Parthenon, Ernst & Young, S.A.

Lidera na EY-Parthenon uma equipa especializada em inteligência estratégica de apoio à tomada de decisão e à promoção da eficiência coletiva. Casado e com dois filhos. Adora viajar.

1 minutos de leitura 26 fev 2021

O principal desígnio de Portugal no horizonte 2030 é transformar os seus ativos de conhecimento e de tecnologia em valor económico que potencie o crescimento e a internacionalização.

Ao longo das últimas décadas, através de uma política bem-sucedida de technology push, Portugal conseguiu criar e ativar uma rede de infraestruturas científicas e tecnológicas de bitola internacional. Mais recentemente, através de uma aposta crescente em políticas do tipo market pull, o país tem vindo a conseguir uma aproximação crescente entre a rede de infraestruturas científicas e tecnológicas e o tecido empresarial, nomeadamente com grandes empresas e startups de base tecnológica.

Fruto deste processo, no último European Innovation Scoreboard (EIS), Portugal conseguiu integrar pela primeira vez o grupo dos designados “Inovadores Fortes”, entrando assim num novo campeonato europeu. Note-se que Portugal já está acima da média da União Europeia em indicadores como o número de publicações científicas em coautoria fora do espaço comunitário, o número de estudantes internacionais de doutoramento, o registo de marcas comunitárias, o emprego em empresas de elevado crescimento de setores inovadores, entre outros indicadores monitorizados pelo EIS.

Não obstante este progresso, Portugal permanece na cauda da Europa em matéria de crescimento económico e de PIB per capita. Significa isto que existe um enorme gap de valorização de conhecimento e tecnologia no país. Um estudo recente desenvolvido pela EY-Parthenon para a Agência Nacional de Inovação, centrado na análise da atividade dos gabinetes e infraestruturas de transferência de conhecimento e tecnologia em Portugal, revela precisamente isso: a maturidade do sistema científico e tecnológico nacional em termos de valorização do conhecimento e tecnologia tem uma enorme margem de progresso, sendo ainda poucas as instituições que o integram que apresentam boas dinâmicas neste domínio.

Portugal precisa, portanto, de transformar os seus ativos de conhecimento e tecnologia em valor económico, isto é, em inovação geradora de novos produtos e serviços de elevado valor acrescentado e de processos produtivos altamente avançados. Diria que este é o principal desígnio de Portugal para o horizonte 2030, naturalmente alinhado com os desafios societais e as prioridades europeias associadas à transição para uma economia neutra em termos climáticos e à transição digital.

O Plano de Recuperação e Resiliência (atualmente em discussão pública) e o novo Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027 poderão e deverão contribuir decisivamente para este desígnio. A este nível, importa ter em consideração que é notória a insuficiência em Portugal de instrumentos específicos de promoção da valorização de conhecimento e tecnologia. Por exemplo, não existe no país um bom sistema de apoio à realização de doutoramentos em empresas ou à inserção de doutorados nas empresas. Não existem vias verdes de apoio à industrialização de projetos de I&D. Não existe um bom sistema de apoio a provas de conceito e à validação (económica) do potencial de valorização de projetos de I&D. Não existe financiamento de base nem contratos programa dirigidos a TTOs/OTICs.

Resumo

Parte da resposta necessária terá de vir de reformas estruturais nas organizações públicas, designadamente nos centros de conhecimento (e.g. estatuto da carreira docente, estatuto da carreira de investigação científica) e nos reguladores com responsabilidade em áreas ligadas à I&D e inovação. Estas organizações têm de ser impulsionadas a criar os incentivos certos à valorização do conhecimento e da tecnologia e à promoção da inovação nas empresas e com as empresas.

Sobre este artigo

por Hermano Rodrigues

Principal, EY-Parthenon, Ernst & Young, S.A.

Lidera na EY-Parthenon uma equipa especializada em inteligência estratégica de apoio à tomada de decisão e à promoção da eficiência coletiva. Casado e com dois filhos. Adora viajar.