7 minutos de leitura 8 mar 2021

            Conselheira financeira feminina em discussão com proprietária de negócio feminino

Porque é que as iniciativas de promoção de género precisam de ser renovadas

por Nobuko Kobayashi

EY Asia-Pacific Strategy Execution Leader

Multi-cultural thought leader in Japan. Connector and relationship builder. Embodies a bridge that connects Japan with the outside world. Specializes in the Consumer sector.

7 minutos de leitura 8 mar 2021

À medida que a representatividade das mulheres aumenta, paira no ar algum cansaço relativamente ao tema da diversidade. Como podemos ultrapassar a preocupação com aparências do passado e maximizar o poder da diversidade?

Sumário Executivo
  • O cansaço com o tema da diversidade está a instalar-se, à medida que alguns governos recuam nas metas que fixaram. O Japão, por exemplo, removeu a meta estabelecida de ter 30% de mulheres gestoras até 2020.
  • Uma meta de 30% é o limiar para ultrapassar o mero simbolismo e alcançar o benefício da diversidade de pontos de vista, que vai conduzir a melhor inovação e melhores resultados.
  • Atingir uma meta de 30% requer planeamento a todos os níveis, mas apenas 18% das empresas têm programas estruturados; temos de eliminar o enviesamento masculino e continuar a investir.

O cansaço da diversidade está no ar. O World Economic Forum prevê que serão necessários 99,5 anos para atingir a paridade de género. Após 17 anos de progressos lentos, o governo japonês removeu silenciosamente a chamada meta numérica "20-30" –30% de mulheres em posições de gestão até 2020. 

Por outro lado, também há boas notícias. A nível mundial, em 2021, empresas proeminentes têm cada vez mais mulheres CEO, incluindo um importante fabricante de semicondutores e uma plataforma de redes sociais. A reforma das estruturas de governance das empresas no Japão fez aumentar a taxa de mulheres com assento nos conselhos de administração de empresas do TOPIX 100, quase duplicando nos últimos 5 anos, para 12,9%. Os protestos fazem-se ouvir – já conseguimos? Será que não alcançámos já o suficiente?

A resposta, infelizmente, é não. E este é o momento certo para dobrar a aposta – o poder da diversidade brilha melhor num capitalismo pós-industrial, baseado no conhecimento. Mas para superar o impacto do cansaço com o tema da diversidade, temos de passar rapidamente do simbolismo ao pragmatismo.

A ótica pode ser enganadora Embora as mulheres CEO sejam motivo de celebração, como símbolos do avanço das mulheres no mundo empresarial, não podem, por si só, ser uma grande força na conversão do poder da diversidade em desempenho. Na verdade, uma investigação do The Peterson Institute for International Economics e da EY mostra que o género de um CEO não tem um impacto significativo na rentabilidade da empresa, quando se tem em conta o equilíbrio de género noutros locais da empresa. Os maiores ganhos estão associados a KPIs mais transversais, primeiro na proporção de mulheres executivas, depois na proporção de membros femininos no conselho de administração.

Vantagem financeira

15%

impulso à rentabilidade esperado nas empresas com 30% da liderança feminina.

A correlação entre o nível de diversidade do grupo de liderança e o desempenho é poderosa e replicável. O mesmo estudo revela que uma empresa lucrativa, onde 30% dos líderes são mulheres, pode esperar uma melhoria de 15% na rentabilidade, em comparação com uma empresa semelhante sem mulheres na liderança. Há uma razão para a meta dos 30%, que foi adotada pelas organizações pro-diversidade mais destacadas, como o 30% Club: é o nível a partir do qual os membros de grupos minoritários se sentem à vontade para expressar ideias. Consideremos o número típico de lugares de direção numa empresa japonesa, 10. Uma mulher é uma voz solitária, pressionada silenciosamente para representar metade da população. Duas mulheres num conselho de administração dominando por homens arriscam-se a ser postas uma contra a outra. Já 30% – mais de três em cada 10, – conseguem que a voz da mulher seja ouvida como a voz de um indivíduo, com o fator género ter uma influência suave e indireta da sua opinião.

Diferentes níveis de causalidade ligam a diversidade na liderança a melhores resultados financeiros. Em primeiro lugar, olhares femininos podem impedir a empresa de cometer erros óbvios, por falta de dados de género. Um exemplo é o software de reconhecimento de voz para automóveis, que não respondeu a vozes de mulheres e teve de ser reconfigurado. Porquê? Porque foi uma equipa só de engenheiros homens a concebê-lo e a demonstrá-lo a um conjunto de administradores homens. A vida empresarial está repleta destes exemplos, que não só acrescentam custos às operações, como também fazem perder receita.

Ainda mais importante, é verificar que estudo após estudo demonstra que a diversidade favorece a inovação. Uma pesquisa da Universidade de Columbia prova estatisticamente que quanto mais a estratégia de uma empresa se concentra na inovação, mais a representação feminina na gestão contribui para melhorar o desempenho. A diversidade claramente repele o pensamento de grupo, que asfixia a inovação.

Nunca é demais sublinhar a ligação entre diversidade e inovação. A automação transforma o nosso mercado de trabalho; a fonte de competitividade já não está em trabalhadores fardados e assíduos que seguem uma mesma fórmula de trabalho. Em vez disso, a criatividade humana, com o apoio da analítica baseada em inteligência artificial, dinamiza a competitividade. Neste mundo pós-industrial, a diversidade é a chave para a diferenciação.

Para ultrapassar a complacência com a diversidade, o caminho é claro. Precisamos de ultrapassar o simbolismo. Atingir uma taxa de 30% de mulheres em cargos de liderança, requer um planeamento cuidadoso a todos os níveis. No entanto, o estudo Women Fast Forward Cross-Sector da EY, concluía em 2015 que apenas 18% das empresas inquiridas tinham estruturado programas para identificar e preparar mulheres para a liderança.

Nutrindo a liderança

18%

das empresas inquiridas relataram que criaram formalmente programas para identificar e preparar mulheres para a liderança.

O cansaço do tema da diversidade também é motivado pela falta de resultados das iniciativas empresariais. Neste sentido, é importante reconhecer que o preconceito masculino ensombra a priorização das iniciativas de diversidade. Por exemplo, o mesmo inquérito Women Fast Forward da EY identificou que homens e mulheres encaram as barreiras às aspirações de diversidade de forma muito diferente. Quase metade dos homens citou os conflitos entre trabalhar e cuidar da família e a falta de talento feminino, como grandes obstáculos à diversidade. As mulheres não concordaram – a falta cultural de apoio e o preconceito lideraram as suas respostas. De facto, apenas 7% das mulheres apontaram a escassez de talento feminino como um obstáculo, em contraste com 43% dos homens.

É pouco provável que a falta de talento feminino seja um grande desafio. Pelo contrário, a questão passa por alinhar as iniciativas com os resultados que se quer alcançar. Investir em infantários nas empresas é uma ideia que agrada às mães, mas as mulheres podem beneficiar mais se tiverem mentoria de um líder sénior – os principais facilitadores apurados no nosso inquérito, de acordo com as mulheres, embora secundários na avaliação dos homens.

O poder da diversidade é comprovado. Temos de o explorar mais do que nunca na era da pós-industrialização. Mas para o fazer, temos de nos perguntar – não estaremos a enganar-nos na abordagem e, por outro lado, estaremos mesmo a investir nas iniciativas certas?

Resumo

Tanto alcançado, mas ainda com um longo caminho por percorrer – é fácil cair na complacência quando o assunto é diversidade de género nas empresas. Mas este é o momento de duplicar a aposta; o sucesso no capitalismo pós-industrial exige inovação, que se alcança mais facilmente através da confluência de ideias diversas. Ter 30% de mulheres na liderança melhora em 15% a rentabilidade da empresa, face à de uma companhia sem mulheres líderes. Para ir além do simbolismo, temos de endereçar ativamente o fosso entre géneros, consequência da falta de diversidade nas lideranças. Pode ser feito mais para impulsionar a carreira das mulheres, quando removemos o preconceito masculino das iniciativas de equidade de género.

Sobre este artigo

por Nobuko Kobayashi

EY Asia-Pacific Strategy Execution Leader

Multi-cultural thought leader in Japan. Connector and relationship builder. Embodies a bridge that connects Japan with the outside world. Specializes in the Consumer sector.