8 minutos de leitura 8 jan 2022
Árvore num campo de amoras

COVID-19: Três maneiras de como os conselhos de administração podem ajudar a criar uma mudança sustentável

por Sharon Sutherland

EY Global Center for Board Matters Leader and Asia-Pacific Networks Leader

Global mindset. Power through diversity. Art lover. Intellectually curious. Traveler. Legacy matters. Passionate about learning initiatives.

8 minutos de leitura 8 jan 2022

Num mundo pós-COVID-19, os conselhos de administração devem concentrar-se no valor, na cultura e no talento a longo prazo, de forma a impulsionar a transformação organizacional.

Não há dúvida que a crise da COVID-19 tem mudado significativamente a forma como as empresas operam. O inesperado é o novo paradigma. Contudo, algumas mudanças parecem ser inevitáveis: um grande número de colaboradores irá trabalhar a partir de casa com maior frequência, as cadeias de abastecimento serão reorganizadas para maximizar a agilidade e a flexibilidade e a tecnologia terá um papel mais proeminente.1

O comportamento do consumidor também irá mudar. A experiência da COVID-19 irá redefinir a relação entre os clientes e as empresas, com bastantes mais clientes a exigirem que as empresas a quem compram desempenhem um papel na abordagem aos principais desafios da sociedade. A ascensão do capital social – as redes em torno das empresas, com normas, valores e entendimentos comuns – que era evidente antes da COVID-19 abalar o mundo, está agora na ordem do dia.2

Existem inúmeras formas dos conselhos de administração ajudarem as suas organizações a abordar estas áreas, mas existem três principais que estruturam esse apoio, nomeadamente:

  • Definir – e viver – um forte propósito que impulsione a criação de valor a longo prazo
  • Instituir uma cultura de mudança contínua
  • Desenvolver uma força de trabalho apta para o futuro

Embora estes possam parecer rudimentares, o EY global board risk survey feito a 500 directores de conselhos de administração e CEOs realizado no final de 2019, antes da pandemia, revela que historicamente os conselhos de administração não os consideravam como principais preocupações no imediato ou no curto prazo, ou então não acreditavam que fossem sua responsabilidade.

Talvez isto possa ser atribuído ao papel do conselho de administração por oposição ao da gestão sénior, mas dada a sua importância fundamental na condução da transformação organizacional, especialmente num mundo pós-COVID-19, os conselhos de administração deveriam trabalhar proactivamente com a gestão sénior para os abordar. Ao fazê-lo, os conselhos de administração deveriam adoptar uma abordagem de duas vias, concentrando-se na construção de uma empresa resiliente, ao mesmo tempo que criam as bases para o sucesso futuro.

Alcançar valor a longo prazo com um propósito redefinido

A pandemia COVID-19 redefiniu a relação entre as empresas e a sociedade. A população em geral não vê hoje as empresas apenas como fornecedores de bens e serviços, mas como organizações que têm um papel fundamental a desempenhar na resolução dos maiores desafios da humanidade.3 Resumidamente, a COVID-19 tem realçado a forma como os negócios se comportam. Algumas empresas já estão a responder. Por exemplo, no pico da pandemia da COVID-19, uma das maiores empresas mundiais de bens de consumo associou-se a um consórcio de empresas dos sectores aeroespacial, automóvel e da saúde para fabricar, pelo menos, 10.000 ventiladores para os hospitais britânicos.

Esta fiscalização reforçada significa que o capital e o talento passarão de organizações que criam valor apenas para os seus accionistas, para aquelas que criam valor a longo prazo e de forma transversal a um grupo mais vasto de stakeholders, incluindo colaboradores, consumidores, sociedade e accionistas.

À medida que o novo normal surge, a globalização, as alterações climáticas, a desigualdade salarial, a inclusão, a ética da inteligência artificial (IA) e outras grandes questões económicas e sociais irão voltar a dominar a agenda e espera-se que as empresas desempenhem um papel na sua abordagem.

Antes da COVID-19, o nosso survey indicava que os directores do conselho de administração não viam estes desafios como potenciais riscos para o negócio. Por exemplo, as alterações climáticas nem sequer constavam no top 10 desses riscos, provavelmente porque o consideravam como sendo da competência e da responsabilidade das suas equipas de gestão.

Mas com as expectativas dos clientes, investidores, colaboradores e stakeholders em relação à COVID-19 ter obrigado a repensar os negócios, nunca foi tão importante que as empresas redefinissem e reactivassem o seu propósito.

Que papel deve desempenhar o conselho de administração? Com os executivos seniores totalmente focados em conduzir as suas organizações durante a COVID-19 no curto prazo, o conselho de administração tem a responsabilidade de conduzir uma reflexão para o longo prazo sobre a forma como criam e medem o valor a longo prazo e produzem resultados para um vasto conjunto de stakeholders.

Promover uma cultura de mudança contínua

Quando questionados, os directores do conselho de administração consideraram a cultura desalinhada como sendo apenas o 13º risco de negócio mais importante durante os próximos 12 meses. É um risco que eles agora ignoram, por sua conta e risco.

Nunca a cultura empresarial foi tão importante. As empresas serão incapazes de responder rapidamente às novas exigências dos clientes e realidades do mercado, sem possuírem uma cultura ágil de curiosidade e empreendedorismo. Nem serão capazes de atrair e manter os millennials e a Geração Z se a sua cultura e valores não reflectirem os dos colaboradores mais jovens. Ao mesmo tempo, os colaboradores não irão interagir positivamente com as novas tecnologias e iniciativas de requalificação, as quais são uma componente essencial da transformação empresarial, se não existir uma cultura de inovação e de experiências.

Um desses exemplos é uma cadeia global de supermercados que lançou recentemente um chatbot no WhatsApp para informar os clientes sobre as alturas em que as lojas estão com menor afluência de pessoas, ajudando assim a reduzir o risco de contágio da COVID-19.

Como é que os conselhos de administração e a gestão sénior podem mitigar eficazmente os riscos culturais? Conforme detalhado no documento Cinco formas de melhorar a supervisão/gestão da cultura pelo conselho de administração, o primeiro passo será os executivos séniores e o conselho de administração definirem em conjunto a cultura que desejam, assegurando o seu alinhamento com a estratégia da empresa.4 Caberá depois aos executivos séniores divulgar essa cultura por toda empresa.

Os directores do conselho de administração também devem assegurar estruturas de incentivo que encorajem comportamentos que estejam de acordo com a nova cultura, e que as principais métricas e conhecimentos culturais sejam recolhidos e reportados ao conselho de administração. Estes podem incluir redes sociais, sites de avaliação de colaboradores, taxas de rotatividade e dados de entrevistas de saída. No entanto, o nosso estudo revela que os conselhos de administração actuais não estão confiantes na elaboração de relatórios sobre a cultura empresarial: com apenas 15% a descreverem-se a si próprios como "extremamente confiantes" nos relatórios recebidos da administração sobre a cultura e o risco de conduta.

Infografia que apresenta os riscos do conselho de administração

Ao exercerem as suas funções de supervisão, os conselhos de administração têm a obrigação de assegurar que a gestão reveja a forma como a cultura é preservada num contexto de trabalho remoto. Os new joiners podem sentir-se particularmente isolados se iniciarem uma nova função num ambiente de trabalho a partir de casa. O onboarding, a formação e a interacção da equipa terão de ser repensados se existir um maior número de colaboradores a trabalhar a partir de casa no futuro. 

Pensar no talento de forma estratégica

Os CEOs sabem a importância que as pessoas têm nas suas organizações. No global board risk survey da EY, os CEOs classificam os problemas relacionados com os colaboradores, tais como a falta de talentos ou da capacidade de evolução, como o maior risco para o negócio. Por sua vez, os directores do conselho de administração, classificam tais problemas apenas como o sétimo risco mais importante para o seu negócio.

Talvez os conselhos de administração não considerem o risco de falta de talento como sendo uma grande ameaça. Ou talvez não considerem que isso seja da sua responsabilidade. De qualquer forma, os conselhos de administração foram mal orientados para não darem tanta importância à falta de talento, tal como os CEOs o fizeram antes da COVID-19. E hoje em dia, os temas relacionados com o talento e a força de trabalho tornaram-se ainda mais importantes, pelo que os conselhos de administração devem dar-lhes a devida atenção.

Utilizando a pandemia da COVID-19 como catalisador, os conselhos de administração devem estar na vanguarda da discussão sobre o novo normal para o trabalho. Com base na experiência da COVID-19, é provável que faça sentido, por exemplo, permitir que um maior número de colaboradores trabalhe remotamente mais vezes.

A remuneração dos executivos também requer uma atenção imediata por parte do conselho de administração. Os conselhos de administração, sem dúvida, que irão querer ser capazes de atrair e reter executivos talentosos para ajudar a conduzir os seus negócios através da incerteza actual e para aproveitar as oportunidades que o novo normal irá apresentar. Mas é necessário encontrar um equilíbrio cuidadoso entre uma remuneração competitiva e um pacote de benefícios que é considerado como sendo excessivo. Particularmente, mais conselhos de administração devem envolver-se construtivamente com a liderança da empresa para discutir os potenciais benefícios a longo prazo da renúncia a uma proporção da remuneração dos executivos e do pagamento de dividendos, a favor da priorização dos postos de trabalho e da manutenção da confiança dentro da organização.

De facto, o CEO de uma grande cadeia de supermercados renunciou 25% do seu salário fixo durante dois meses e pediu a todos os membros do Comité Executivo do Grupo que renunciassem a 10% do seu salário fixo durante o mesmo período.

Os conselhos de administração não podem esquecer os riscos existentes quanto à existência de talento para garantir o sucesso dos seus negócios no futuro. O ritmo da evolução tecnológica e a sua rápida adopção pelas empresas, as quais se aceleraram como resultado da COVID-19, significa que o conjunto de competências da força de trabalho do futuro será muito diferente do actual. Em particular, a força de trabalho terá de estar preparada para trabalhar com a automação, a IA e outras tecnologias digitais que estão a ser fortemente implementadas para dar às empresas uma vantagem competitiva. O fracasso em evoluir competências ou em recrutar talentos apropriados, pode prejudicar gravemente as perspectivas de crescimento a longo prazo. Com isto em mente, os conselhos de administração devem trabalhar em estreita colaboração com as chefias sénior de forma a enfrentar o risco de talento de forma frontal.

  • Questões-chave a considerar pelos conselhos de administração

    • Como membros do conselho de administração, estão a concentrar-se na forma como a vossa organização está a criar e a medir o valor a longo prazo para os vários stakeholders?
    • Como está a reavaliar a remuneração dos executivos para incentivar a criação de valor a longo prazo?
    • Já revisitou o propósito para negócio do próprio conselho de administração?
    • Se sim, o que mudou materialmente e como está a trabalhar com a gestão para reestruturar e repensar o seu futuro?
    • Se não, que oportunidades estará talvez a desperdiçar para redefinir a cultura a que o seu negócio deveria aspirar?
    • Neste momento de reflexão, estava, como director do conselho de administração, a viver verdadeiramente a cultura e o propósito do negócio? Em retrospectiva, o que faria agora diferente?
    • Recebe os relatórios sobre questões culturais e de RH da empresa? Se sim, são suficientes para facilitar diálogos estratégicos e tomada de decisões?
    • Está a trabalhar activamente com executivos séniores, em particular líderes de RH, para revisitar e redefinir o risco de talento e a forma como este pode ser abordado?

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Resumo

No mundo pós-COVID-19 será cada vez mais importante que os conselhos de administração se concentrem na condução de valores a longo prazo e na promoção de uma cultura de mudança contínua. Ao fazê-lo e ao desenvolverem uma força de trabalho apta para o futuro, os conselhos de administração podem posicionar as suas organizações no caminho para o sucesso futuro e contribuir para uma mudança sustentável.

Sobre este artigo

por Sharon Sutherland

EY Global Center for Board Matters Leader and Asia-Pacific Networks Leader

Global mindset. Power through diversity. Art lover. Intellectually curious. Traveler. Legacy matters. Passionate about learning initiatives.