3 minutos de leitura 16 jun 2021
A group of fishes in shape of circle inside the sea

Economia circular para a restauração do ecossistema Moçambicano

por Glayds Gande

Manager, Consulting, Ernst & Young, Lda.

Apaixonada pelo processo de descoberta do pleno potencial dos indivíduos. Casada, fã de liberdade e de estar em contacto com a natureza.

3 minutos de leitura 16 jun 2021

A nova era de sustentabilidade estimula o surgimento de novos modelos de gestão e traz consigo novas oportunidades de valor acrescentado, quer para a organização, para os clientes, para os fornecedores e para a comunidade no geral, em harmonia com o meio ambiente.

A 5 de Junho, celebrou-se o dia mundial do ambiente, uma data que serve para reflexão sobre o estado do nosso ambiente, as políticas e acções que devem ser tomadas para preservá-lo. Em 2021, o tema é “Restauração de ecossistemas”.

Resultado do aquecimento global e desmatamento das florestas, segundo a Geneva Environment Network, a cada três segundos, o mundo perde vegetação verde suficiente para preencher um campo de futebol. A nível mundial, a preservação do ambiente passa pela preocupação com o efeito estufa e o aquecimento global muito resultante da actividade industrial. Em Moçambique, os movimentos de defesa e protecção do ambiente têm uma particularidade, a preocupação com o lixo, gerado pelas indústrias, mas principalmente o gerado pelas famílias. Já existem vários movimentos nesse sentido, destaque para o Let´s do it Moçambique que ocorre a escala nacional.

A restauração do ecossistema pode ser feita de várias formas, desde plantio de árvores e preservação das florestas, protecção e limpeza costeira e aquática, criação de cidades verdes, entre outros. Todos os tipos de ecossistemas podem ser restaurados, incluindo florestas, cidades, pântanos e oceanos. Diria eu, todos, inclui, as economias, as empresas e as famílias.

E como é que podemos restaurar o ecossistema, combinando a restauração do meio ambiente e a restauração do tecido empresarial?

As economias e empresas tem assumido uma abordagem de visão de crescimento baseada na abundância de recursos disponíveis e sem a preocupação de recuperar os desperdícios gerados ou componentes de produtos em fim de vida: usado uma vez, ou para apenas um fim, pode ser deitado fora. Esta prática tem levado à contínua delapidação dos recursos, ao crescente aumento de resíduos e degradação dos ecossistemas. Esquece-se que “deitar fora é deitar dentro”.

O nosso planeta é limitado e finito, quer em recursos materiais e energéticos, bem como na capacidade de se regenerar da poluição, sendo necessária a adopção de modelos de desenvolvimento económico e de funcionamento das empresas, que se orientem não só pelo mercado e crescimento, mas principalmente pela racionalidade e sustentabilidade económica e ambiental. A escassez de recursos pode levar à volatilidade dos preços e preços altos, uma vez que a necessidade de materiais pode crescer rapidamente nas próximas décadas, o impacto nas práticas de fornecimento pode ser perturbador em indústrias com uso intensivo de materiais.

O novo paradigma de sustentabilidade do futuro, passa pela geração de um crescimento económico que assegure o bem-estar social, a restauração ecológica e a geração de produtos e serviços inovadores. As empresas que apostarem em modelos de negócio ambientalmente sustentáveis, irão promover a redução de desperdícios no uso de recursos, e, portanto, na redução dos custos de produção; impulsionarão a mudança de modelos de funcionamento e cultura organizacional, estimulando a adopção de práticas de boa governação na empresa.

A nova era de sustentabilidade estimula o surgimento de novos modelos de gestão e traz consigo novas oportunidades de valor acrescentado, quer para a organização, para os clientes, para os fornecedores e para a comunidade no geral, em harmonia com o meio ambiente.

Repensar os modelos de negócio e seus impactos, entre eles as mudanças climáticas, é um desafio que vai do local ao global, passa pela protecção de pessoas, meios de subsistência e ecossistemas no geral.

Neste sentido, o conceito de Economia Circular representa uma oportunidade para essa importante transformação que é esperada das empresas no âmbito da sua contribuição na restauração dos ecossistemas. Uma economia circular é um conceito que vai para além da abordagem tradicional de aproveitar o desperdiço e tem como objectivo criar capital económico, natural e social, ao mesmo tempo impulsionar o surgimento de novas tecnologias e inovação.

Propõe uma transição para um sistema em que o valor dos produtos, materiais e recursos se mantenha na economia durante o máximo de tempo possível, com a mínima geração de resíduos, permitindo novas formas de inovação e desenvolvimento local.

Um dos grandes desafios da adopção deste tipo de modelos de restauração de ecossistemas empresariais e económicos, está relacionado às Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPMEs), que por falta de conhecimento, tecnologia e recursos para gestão desses processos, não terminam bem-sucedidas.

Numa economia como a Moçambicana onde o tecido empresarial é caracterizado pela abundância de MPMEs e por empreendedores informais pode fazer sentido pensar-se em geração de sinergias para a criação de cadeias de valor de reutilização dos resíduos gerados, através da criação e consolidação da economia circular, criando centros empresariais sinérgicos com foco no aproveitamento da capacidade dos grandes projectos de desenvolvimento. Pensar na criação de sinergias entre as MPMEs e os grandes projectos a nível local, pode permitir:

  1. o surgimento de novos negócios;
  2. o desenvolvimento de centros de pesquisa e inovação, com o envolvimento dos pequenos empresários;
  3. a transferência de conhecimento;
  4. a melhoria da capacidade de governança destas MPMEs e igualmente;
  5. o desenvolvimento de produtos e serviços para as grandes empresas de uma forma mais colaborativa e eficiente.

Portanto, pode ser também uma oportunidade para a geração de maior capacidade de especialização e profissionalização das empresas locais, que muitas vezes são excluídas da cadeia pela falta de conhecimento e ineficiências dos seus modelos de negócio. A efectivação destas oportunidades vai requerer não só a coordenação e cooperação dos empresários, mas também a actualização das políticas de gestão de conteúdo local, com vista a restauração do ecossistema e a promoção de um desenvolvimento sustentável.

Afinal, ecossistemas empresariais mais inclusivos, racionais e inovadores, podem aumentar a geração de rendimento, melhorar o nível de vida das pessoas, neutralizar as mudanças climáticas e impedir o colapso da biodiversidade e da economia.

Resumo

O conceito de Economia Circular representa uma oportunidade para essa importante transformação que é esperada das empresas no âmbito da sua contribuição na restauração dos ecossistemas. Uma economia circular é um conceito que vai para além da abordagem tradicional de aproveitar o desperdiço e tem como objectivo criar capital económico, natural e social, ao mesmo tempo impulsionar o surgimento de novas tecnologias e inovação.

Sobre este artigo

por Glayds Gande

Manager, Consulting, Ernst & Young, Lda.

Apaixonada pelo processo de descoberta do pleno potencial dos indivíduos. Casada, fã de liberdade e de estar em contacto com a natureza.