Se o futuro é promissor para o gás natural, serão o gás e o petróleo actualmente?

por Andy Brogan

EY Global Oil & Gas Leader

Oil & Gas sector leader, speaker and industry advocate, optimist, music addict and avid traveler.

Colaboradores
8 minutos de leitura 14 fev 2020
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No cenário Critical Gas, a procura de petróleo atinge o seu pico começando de seguida a diminuir sendo que o investimento se desloca para os activos centrados na produção de gás e no GNL.

Este artigo faz parte do projecto Fueling the Future, que analisa a forma como as empresas petrolíferas e de gás podem explorar as oportunidades e os riscos de uma transição para uma economia descarbonizada.

No cenário Critical Gas, assumimos que o consumo de carvão diminui em média 5% por ano a nível mundial, em comparação com a diminuição apenas de 1% no cenário The Long Goodbye. Esta taxa de declínio está muito acima do valor actual. Nos últimos cinco anos, o consumo global de carvão diminuiu 0,5% por ano, em grande parte devido à redução do custo e do preço do gás natural e ao aparecimento de energias renováveis mais baratas. No entanto, a situação varia geograficamente. O consumo de carvão diminuiu 5% por ano na Europa e na América do Norte, aumentou 5% por ano na Índia e (ao contrário do que era esperado) tem-se mantido estável na China.

O cenário Critical Gas pressupõe um crescimento zero da energia nuclear. Este valor cifra-se no crescimento de 2% nos cenários The Long Goodbye e Meet Me in Paris. Cada megawatt-hora que não é gerado numa central a carvão ou nuclear é um megawatt-hora que precisa de ser gerado de outra forma, preparando o terreno para o gás como concorrente ou como complemento das energias renováveis.

  • Metodologia

    De todos os desafios complexos que o mundo actual enfrenta, a transição para um futuro com baixas emissões de carbono pode ser uma das mais importantes. Não se trata de uma questão de "se", mas de como e quando.

    No decorrer do projecto Fueling the Future, a EY iniciou um grande esforço para ajudar as empresas petrolíferas e de gás a compreender as oportunidades e os riscos desta transição. Ao analisar as forças disruptivas que impactam o sector, desenvolvemos um modelo que analisa a forma como os vários factores de risco podem influenciar a procura e a rentabilidade nos sectores do petróleo e do gás. Concebemos as possibilidades em quatro cenários, que vão desde um movimento muito gradual dos hidrocarbonetos até a uma rápida adopção das energias renováveis.

    Cenário Meet Me in Paris

    A tecnologia evolui rapidamente; as energias alternativas tornam-se acessíveis o suficiente para impactar as infraestruturas energéticas existentes.

    Cenário The Long Goodbye

    As energias renováveis conquistam um lugar no mercado. A procura de petróleo atinge o sue pico, mas os stocks, a inércia dos consumidores e o crescimento contínuo da aviação e da petroquímica impedem uma queda drástica.

    Cenário Slow Peak

    O pico da procura de petróleo não acontece em breve, devido à procura de petroquímicos por parte dos países em desenvolvimento, à utilização industrial intensiva de energia e à aviação.

    Cenário Critical Gas

    O pico da procura de petróleo é seguido de uma diminuição muito rápida devido aos consumidores passarem a utilizar veículos eléctricos (VE). O investimento desloca-se para activos relacionados com gás e GNL.

O que acontece a seguir num mundo do cenário Critical Gas?

Quando a electricidade gerada por energia solar se tornar competitiva em termos de custo, terá de haver ainda um processo de compra e (de financiamento) por parte dos consumidores quanto a esses sistemas, bem como a necessidade das utilities as integrarem na transição e distribuição de energia cada vez mais complexa. Este processo levará tempo e poderá ter limitações.

O cenário Critical Gas representa um mundo de energia com baixas emissões de carbono, mas não um mundo de carbono zero. É um cenário que não nos levará aos objectivos do Acordo de Paris, mas que dá um passo na direcção certa: 


  • Aumento da popularidade dos veículos eléctricos
  • as economias em desenvolvimento estão a enriquecer onde a procura do sector da energia surge
  • o carvão é gradualmente eliminado, e os países são incapazes de suportar o risco e o custo da energia nuclear
  • a tecnologia renovável torna-se competitiva em termos de custo, mas os mercados de capitais não conseguem encontrar uma solução imediata que permita deslocar o financiamento do sistema de energia dos balanços das empresas para ser suportado pelos consumidores
  • as utilities requerem tempo para encontrar uma forma rentável de equilibrar uma rede eléctrica assente em quantidades significativas das energias variáveis
  • as energias renováveis e a produção de gás natural crescem em conjunto, e como resultado, a procura de gás natural liquefeito (GNL) cresce muito mais rápido do que seria expectável
  • os activos centrados no gás (produção, transporte e transformação) são muito procurados e susceptíveis de proporcionar maior rentabilidade aos investidores

  • O avanço na produção de energia solar, nas baterias, e nos veículos eléctricos é constante. Assumimos que a complementaridade entre o gás natural e as energias renováveis se inclina para o gás natural porque 1) a curto e médio prazo, existe o risco de que a estabilização de um sistema energético onde toda a nova energia é renovável seja demasiado dispendiosa e 2) os consumidores não podem ou não querem financiar a energia solar distribuída em escala.

    O cenário Critical Gas representa um sistema energético de baixas emissões de carbono, mas não um sistema energético totalmente descarbonizado. É um cenário que não nos levará aos objectivos do Acordo de Paris, mas é melhor do que o status quo.

    Vejamos o elemento essencial no cenário Critical Gas.

    Carvão e energia nuclear

    Com o crescimento da procura de electricidade nas economias em desenvolvimento, tem tido como combustível de eleição o carvão. É barato, a tecnologia é fácil de implementar, e o fornecimento é fiável. No entanto, se o mundo quer ter alguma hipótese em atingir os seus objectivos em matéria de alterações climáticas, isto não pode continuar. A energia nuclear é uma alternativa com baixas emissões de carbono, mas o custo de a tornar segura parece ser proibitivo. Quase todas as previsões assumem que estas energias se manterão.

    Entrada dos veículos eléctricos no mercado

    Os veículos eléctricos são uma força incontornável. Estamos perto do ponto em que, numa óptica de custo e de desempenho os VE serão competitivos se integrarem motores de combustão internos, tal como sugerido no modelo EY’s Countdown Clock.

    A entrada dos VE no mercado é importante para o cenário Critical Gas porque apresenta o potencial de impulsionar uma nova procura de energia e de gás natural como complemento das energias renováveis. De acordo com o Fórum Económico Mundial, poderá haver até 2 mil milhões de veículos eléctricos nas estradas do mundo inteiro até 2040.1. Estimamos que se todos esses veículos fossem eléctricos, levaria a um aumento na procura de electricidade em todo o mundo em quase 20%. Esta electricidade terá de ser gerada de alguma forma, sendo provável que seja dividida entre gás natural e energias renováveis.
     

    Estamos optimistas em relação aos veículos eléctricos, mas ainda existe alguma incerteza. Vejamos três grandes questões:

    Quando é que os VE serão totalmente adoptados pelo mercado de massas? Os modelos mais baratos ainda são consideravelmente mais caros do que os carros movidos a ICE e não estão disponíveis em grandes quantidades.

    Com que rapidez se convencerão os consumidores das vantagens em termos de custo e desempenho? Curiosamente, se se perceber que uma tecnologia está a melhorar, muitos consumidores podem adiar a adopção e atrasar o crescimento.

    Quando serão construídas as infraestruturas em escala necessárias para carregar os VE? Existem tantas tecnologias de carregamento como os fabricantes de VE e as empresas de electricidade podem estar relutantes em investir hoje em melhorias que podem não gerar receitas imediatas.

    O cenário Critical Gas prevê 41% de penetração marginal para os VE até 2035. Este valor é ligeiramente acima do índice de penetração que assumimos no cenário The Long Goodbye, substancialmente acima do índice de penetração de 22% que assumimos no nosso cenário Slow Peak e bem abaixo da quota de mercado de 100% que assumimos para os VE no nosso cenário Meet Me in Paris.

    Velocidade da transição para a energia renovável

    Nos nossos modelos, medimos a rapidez da transição para as energias renováveis determinando a proporção entre energias renováveis e o gás natural, depois de termos contabilizado o crescimento da procura, o desgaste do carvão e o aumento ou a diminuição da produção da geração nuclear. São agora cerca de 50/50. Cumprir os objectivos do Acordo de Paris exigiria que a quota excedesse os 100%: a produção de gás teria de ser parada e substituída por energias renováveis.

    No cenário Critical Gas, assumimos que as energias renováveis e o gás irão partilhar o mercado de produção de energia em 2035 e nos anos seguintes. Este é aproximadamente o caso actual, sendo pessimista com um ponto de vista para o futuro. Um estudo recente estimou que o armazenamento de baterias teria de cair para 20 dólares USD/kWh para tornar sustentável uma rede de energia 100% renovável2. O preço actual é de cerca de 185 dólares USD/kWh. Acabaremos por chegar lá, mas ninguém sabe quando. Não estamos necessariamente a prever esse resultado, mas consideramo-lo um cenário plausível.

    Outra das questões prende-se com o financiamento. Hoje em dia, o investimento no sector da energia é praticamente financiado pelo governo e pelas empresas. É um sistema que funcionou bem, e as empresas de electricidade (públicas e privadas) estão entre os melhores riscos de crédito do mercado. Num mundo totalmente renovável, esperamos que uma grande parte desse investimento seja transferida para as famílias. Os números são substanciais. No âmbito do seu Cenário de Desenvolvimento Sustentável, a Agência Internacional de Energia considera cerca de US$25t de investimento no sector da energia entre 2018 e 2040.
     

    Procura

    Existem muitas previsões relativamente à rapidez com que a procura de gás natural irá crescer. Em cenários que estão em linha com o Acordo de Paris, incluindo o nosso cenário Meet Me in Paris, a procura de gás natural irá crescer muito lentamente durante os próximos 25 anos antes de atingir um pico e diminuir para terminar em meados dos anos 2040, aproximadamente onde está agora. No cenário The Long Goodbye, a procura de gás aumenta em 285 mil milhões de pés cúbicos por dia entre 2020 e 2050.

    O cenário Critical Gas prevê um papel muito maior para o sector do gás. A procura cresce rapidamente, aumentando para mais de 618 mil milhões pés cúbicos por dia, em comparação com a procura actual de 370 mil milhões de pés cúbicos por dia.

    
            Gráfio referente à rentabilidade do GNL

    Rentabilidade

    Uma das principais conclusões do nosso projecto Fueling the Future é que a rentabilidade tem um padrão previsível no que diz respeito a cenários de procura de várias classes de activos. O cenário Critical Gas não é excepção. Os investimentos em activos de gás natural liquefeito (GNL), por exemplo, apresentam uma grande rentabilidade, em comparação com outros cenários. Este cenário suporta, como é necessário, investimentos substanciais em bens de gás natural ao longo de toda a cadeia de valor.

    Resumo

    Sabemos que estamos a caminhar para a utilização de energia descarbonizada. Contudo, desconhece-se quanto tempo vai demorar até lá chegar. A actual combinação de energias é conveniente para os consumidores dos países da OCDE, tem fomentado o aumento dos padrões do nível de vida e é bastante rentável para a indústria. Contudo, este status quo vai mudar. Abordar a questão das alterações climáticas enquanto se fornece energia fiável é fundamental. O cenário Critical Gas é uma história de mudança rápida, apenas numa direcção ligeiramente diferente da do cumprimento dos objectivos do Acordo de Paris. Embora não possamos definir um caminho com certeza absoluta, o papel do gás natural poderá ser maior do que se imagina.

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    por Andy Brogan

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