A jornada de Angola em direcção a prácticas empresariais mais éticas e transparentes.
Quando falamos de corrupção e risco geográfico, alguns países são, na maioria das vezes, triggers para sistemas de integridade, compliance e ética (ICE) das organizações multinacionais. Não é raro que ao longo dos muitos anos e muitos parceiros com quem a EY colabora em mais de 140 países, que as nossas equipas ao serem desafiadas a pensar em desenhos de sistemas de ICE, sejam também informadas de que determinada geografia deverá ter risco elevado.
Surge-nos a pergunta. Quão bem os players internacionais conhecem o mercado, contexto e cultura destes países que são a priori definidos como países de risco muito elevado? É preciso estar presente, observar as dinâmicas, acompanhar as evoluções, e isso, a nossa equipa em Angola tem feito de forma muito diferenciada e séria. Deixaremos algumas reflexões que nos surgiram ao longo das últimas interacções que tivemos com organizações de diferentes sectores em Angola.
A evolução é positiva
Ao contrário das percepções convencionais, Angola tem sido palco de uma evolução notável desde 2015, conforme se observa em diferentes dados como por exemplo os do Corruption Perception Index de 2022 (Transparency International, 2022). Este não é um mero número em um relatório internacional. É uma narrativa que reflecte os esforços tangíveis de empresas públicas e privadas Angolanas em adoptar práticas de negócios éticas e se alinhar com padrões globais. Obviamente que isto não pode ser traduzido em “está tudo bem”, até porque não está. Basta pensar sobre os riscos que continuam a existir a nível social, e que não raras vezes são directamente impactados pela incapacidade de acautelar comportamentos antiéticos a nível organizacional.
Desconstruindo Mitos
Contrariamente à ideia muitas vezes perpetuada de que tudo o que é feito em Angola nas áreas de Integridade e Compliance é suspeito, há uma realidade menos sensacionalista. As organizações estão a investir significativamente em programas de formação e acompanhamento das suas equipas num modelo on-the-job, fortalecendo controlos internos e promovendo a colaboração com outras entidades privadas e/ou públicas (ex. governamentais, policiais e sectoriais) a fim de em conjunto construir um ambiente de negócios ético, transparente e capacitado.
Neste ponto não podemos deixar de dar a nossa visão mais recente. Nos últimos meses, a equipa de FIS da EY Angola realizou uma série de interacções sobre os temas de ICE com entidades privadas e públicas de vários sectores onde a discussão foi sempre partilhada por quase 100% dos grupos. O interesse é genuíno, o saber existe e pode ser ainda mais diferenciado, e os recursos começam a estar cada vez mais disponíveis.
A Revolução Tecnológica Anticorrupção
Quando olhamos para o lado, pensamos sempre que o nosso vizinho está a fazer algo melhor do que nós. É comum ao ser humano essa realidade, já dizia o dito popular que não deixamos a galinha da vizinha em paz. No entanto, em vez de nos focarmos em crenças que poderão estar erradas na sua origem e objectivo, é crucial destacar as soluções inovadoras que já existem. Várias organizações em Angola estão a adoptar tecnologias avançadas, como análise de dados e inteligência artificial, para prevenir comportamentos antiéticos. Esta abordagem pró-activa não só fortalece os sistemas de controlo, mas acima de tudo dá uma visão das pessoas que existem na organização, estas que são o pilar da revolução de integridade que se pretende alcançar enquanto um novo padrão para práticas comerciais.
A Parceria Entre o Público e o Privado
Antes de olhar para o futuro, destaque também para o papel crucial que a colaboração entre os sectores público e privado, que são cada vez mais comuns, promovendo a partilha de melhores práticas, a transparência e construindo uma ponte para um futuro onde ambos prosperem em integridade. Exemplo disso são as diferentes iniciativas que a nossa equipa destaca e realça enquanto ferramentas que têm surgido em Angola:
- A Estratégia Nacional de Prevenção e Repressão da Corrupção (ENAPREC), que pretende promover a integridade e a transparência bem como a melhoria da prestação de serviços nos sectores público e privado, resultando na redução dos índices de corrupção como tem vindo a acontecer. A ENAPREC assenta em três eixos: Prevenção, Detecção e Repressão e conta com contributo da Assembleia Nacional, Tribunal Supremo, Tribunal de Contas e vários departamentos Ministeriais.
- A iniciativa ITIE que facilita e capacita a ligação entre algumas das maiores empresas públicas e privadas, especificamente da indústria extractiva, promovendo uma série de transformações que são observadas internacionalmente na forma de standards e que colocam Angola no caminho esperado no que concerne à transparência e sustentabilidade nos vários sectores onde a indústria extractiva tem relevo e impacto.
Celebrar Conquistas, e Compromissos com o Futuro
Num cenário onde as notícias e as redes sociais muitas vezes destacam desafios e críticas, é crucial também reconhecer as conquistas que já moldam o panorama organizacional em Angola. É imperativo desvendar a narrativa menos contada – a história de uma nação que está, de facto, numa jornada notável rumo a práticas comerciais mais éticas e transparentes.
Contudo, há uma estrada à frente, e o compromisso com a integridade nos negócios deve ser incessante. Ao mesmo tempo que brindamos aos progressos feitos, levantamos a bandeira da responsabilidade que todos partilhamos individualmente. Que este Dia Nacional da Anticorrupção sirva não apenas como um momento de reflexão, mas como um catalisador para a continuação da transformação que a nossa equipa tem observado.
É uma jornada desafiante… mas acreditamos que há uma determinação palpável em superar obstáculos e promover uma mudança real.