Angola nos últimos anos tem se focado na redefinição de estratégias, políticas e investimentos, de modo a acelerar a jornada da digitalização nacional.
Aconstrução de um futuro mais digital, de uma forma inclusiva e próspera, é um desígnio comum de qualquer nação e Angola não é excepção. Nos últimos anos foram definidas estratégias e políticas e realizados investimentos que visaram acelerar a jornada da digitalização nacional.
Mas afinal, o que é a Digitalização? A digitalização refere-se à transformação de processos, operações e serviços, por meio do uso de tecnologias digitais que nem sempre têm de ser totalmente disruptivos. Muitas definições remetem a digitalização para a adopção de sistemas avançados, como a Internet das Coisas (IoT), a inteligência artificial (IA), o 5G e a automação, para optimizar a eficiência, reduzir o erro humano ou melhorar a qualidade do serviço. No entanto, a digitalização também considera a implementação de processos mais ágeis, mudança de paradigmas e formas de trabalhar ou diferentes modelos de comunicação. Dada esta abrangência, a Digitalização (ou Transformação Digital) tem o potencial de impactar, não só as organizações, como o ecossistema em que estão inseridas.
Casos de Digitalizações bem-sucedidas tipicamente referem: i) melhoria da experiência do utilizador por via de novos fluxos ou novas plataformas; ii) optimização da eficiência operacional por via de automação e/ou redesenho de processos; iii) expansão de serviços e entrada em novos mercados pela adesão a novas comunidades ou aceleradores digitais; iv) aumento da conectividade com clientes, colaboradores, fornecedores, reguladores; v) melhoria da segurança de informação. Mas tudo isto exige um pesado esforço de investimento em infra-estruturas, na integração da arquitectura digital, na capacitação e gestão da mudança/cultura das organizações, na promoção dos produtos e serviços e, na contribuição para uma maior literacia digital por parte dos consumidores.
Neste sentido, será fundamental assegurar o investimento associado que, poderá ser realizado por via de financiamento bancário ou dos accionistas, fundos de investimento ou capital de risco, Export Trading Agencies, multilaterais e, por intervenção pública (e.g. garantias, subvenções ou subsídios) ou iniciativa privada. Estas poderão ser alavancadas por parcerias estratégicas, não só para apoio financeiro, como para complemento técnico ou operacional, partilha de riscos, ou outras razões. Cada opção terá vantagens, desvantagens e considerações específicas e a sua escolha depende do estágio de desenvolvimento e maturidade da empresa, da indústria, do mercado e das necessidades financeiras, sendo comum combinarem-se opções em função do objectivo pretendido.
Pode parecer óbvio, mas as organizações deverão seguir determinados passos com competência e solidez para poderem ser bem-sucedidas em qualquer destas opções de financiamento, tais como:
- Desenvolver um Plano de Negócio consistente, com apresentação clara e detalhada da organização, dos produtos e serviços e que inclua projecções financeiras sólidas;
- Demonstrar o interesse do mercado, evidenciando a procura pelo produto ou serviço em questão, assim como os impactos associados;
- Construir uma equipa forte e competente, que inspira confiança nos potenciais investidores;
- Assegurar um modelo financeiro que demonstre a compreensão de todos os aspectos do negócio, cujas projecções incluam estimativas de receita, decomposição dos custos, os respectivos fluxos de caixa, assim como impacto fiscais, amortizações, depreciações, etc;
- Focar na Conformidade e Diligência, nomeadamente a nível legal e regulatório, com registos financeiros precisos (auditados se possível) e operações transparentes e devidamente reportadas, principais contratos, passíveis de serem partilhados;
- Demonstrar potencial de crescimento, pois investidores têm interesse em escalabilidade e em perspectivas de crescimento (maior market share ou novos mercados);
- Promover networking e credibilidade, com um website profissional, actividade nos perfis das redes sociais, participar em eventos e construir relações e parcerias de valor;
- Assegurar uma avaliação realista e justificável da organização e perceber as expectativas dos investidores/ financiadores que, cada vez mais, não se cinge apenas à perspectiva financeira.
Não existem fórmulas mágicas, nem “one size fits all” nesta jornada de transformação permanente para acompanhar as tendências tecnológicas, a exigência dos consumidores e, a competição no mercado. Cada entidade deve estabelecer um plano de acção com base no seu contexto, nos objectivos e metas estratégicas e, acima de tudo, assegurando capacidade para executar a transformação e mudança associada. As empresas de telecomunicações têm a difícil missão de acompanhar a rápida evolução da tecnologia e o investimento é uma constância do negócio, pelo que dimensões como Cultura, Competências, Governança Corporativa, Infra-estrutura e Operações, Parcerias e, Risco e Compliance são considerações fundamentais para atingir o sucesso.