Dia 9 de novembro foi assinalado o Dia das Finanças da COP (Conference of the Parties) 27, organizada pela Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas.
No ano passado foi formada a Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ) e, 18 meses depois, 550 instituições financeiras de todo o mundo comprometeram-se a alcançar a neutralidade carbónica até 2050. Este ano, o Dia das Finanças centrou-se na forma como se pode garantir que as instituições financeiras dispõem dos instrumentos necessários para cumprirem os seus compromissos.
A EY preparou uma síntese do Dia das Finanças, os nossos principais takeaways e os próximos passos.
Principais takeaways e ações do Dia das Finanças
Passaram-se apenas alguns anos desde que os serviços financeiros começaram a despertar para as alterações climáticas. Desde então, assistimos a um crescimento muito significativo no número de empresas comprometidas com a ação climática. O Dia das Finanças da COP26, no ano passado, assistiu ao lançamento da Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ).
Esse nível de ambição no sector financeiro – sem quaisquer incentivos regulamentares – é uma conquista enorme. Mas este é o "COP de Implementação": o Dia das Finanças não implica metas. Trata-se de tomar medidas para mobilizar os fundos que foram disponibilizados e garantir que as empresas de serviços financeiros tenham os instrumentos necessários para fazer o seu trabalho.
O COP também está a ser descrito como o "COP Africano". De facto, uma maior atenção para as necessidades de mitigação e adaptação dos mercados em desenvolvimento levou a uma discussão crescente sobre o papel do sector privado na canalização do financiamento climático para todas as regiões e não apenas para os países desenvolvidos.
Principais anúncios do Dia das Finanças
Levar a GFANZ de zero para 550 membros em 18 meses é um passo enorme, mas o desafio agora passa por transformar os compromissos das instituições financeiras em ações concretas
Mark Carney (enviado especial da ONU para a ação climática) e Alok Sharma (Presidente da COP26) falaram sobre os progressos efetivos que têm sido feitos ao longo do último ano, nomeadamente, o foco da GFANZ na implementação regional, com um conjunto de reuniões destinadas a apoiar as instituições financeiras Africanas e da região Ásia-Pacífico para acelerarem a transição das suas regiões. Também temos assistido a vários anúncios sobre a necessidade de dotar as empresas financeiras das ferramentas necessárias para acelerar a alocação de capital de acordo com os objetivos de Paris:
O problema dos dados - Al Gore (ex-vice-presidente dos Estados Unidos) anunciou o lançamento da Climate Trace, uma plataforma destinada a revolucionar a questão interminável dos dados, e que tem como objetivo utilizar imagens de satélite, inteligência artificial (IA) e fontes públicas de dados para ajudar as pessoas a estimar os dados de emissões diretamente na sua origem. Isto pode ajudar a reduzir a dependência das instituições financeiras da partilha de informação exclusivamente corporativa - de qualidade variável - sobre alterações climáticas, com fim a informar a tomada de decisões relativas a investimentos e empréstimos. Um acesso melhorado aos dados, e informação consistente, capacitam melhor as organizações de serviços financeiros para tomar decisões informadas sobre como podem financiar os seus clientes ao mesmo tempo que perseguem os seus próprios objetivos de neutralidade carbónica.
O problema da complexidade - O International Sustainability Standards Board (ISSB) definiu o seu roadmap de implementação, incluindo um novo quadro global de parcerias, composto atualmente por mais de 20 parceiros, incluindo a EY. O objetivo é acelerar a adoção, a nível global, de normas de divulgação relacionadas com o clima, facilitando o reporte e a interpretação para todas as partes interessadas.
O problema da estratégia – O compromisso das empresas com o seu próprio progresso em relação aos objetivos da neutralidade carbónica continua a ser um tema crítico. O Grupo de Trabalho do Plano de Transição - Transition Plan Taskforce (TPT) - lançou as suas “práticas de ouro” para o planeamento da neutralidade carbónica, de forma a ajudar as empresas a planear a transição, a executar a sua estratégia de transição e a divulgá-la às partes interessadas.
Fazer a ação climática acontecer
A indústria financeira tem atualmente muitos dos instrumentos necessários para tornar reais os seus compromissos de neutralidade carbónica. Em contrapartida, as negociações nas Nações Unidas enfrentaram até agora atrasos processuais e diversos desafios logísticos. Existe uma oportunidade para a indústria financeira aproveitar a dinâmica existente e assumir a liderança na ajuda ao "COP de implementação", implementando efetivamente os seus compromissos anteriores
Já vimos grandes histórias de sucesso. Antes do Dia das Finanças, o “Fórum Terra Carta Action“ da Sustainable Markets Initiative (SMI) apresentou alguns exemplos relevantes de ações climáticas desde a COP26, incluindo das principais instituições financeiras mundiais
O desafio agora é levar a implementação para o próximo nível. Mobilizar uma parte significativa dos fundos que a indústria tem reservados para as ações climáticas exigirá:
- Local: “Aproveitar a onda” sobre o que é necessário no terreno por parte de governos, comunidades e agentes do mercado para direcionar o financiamento para onde é mais necessário.
- Dimensão: Ir além do financiamento climático garantido pelos governos, trazendo para a mesa os fundos disponibilizados pelo setor privado.
- Colaboração: Usar modelos financeiros mistos para aproveitar fundos públicos e finanças privadas, garantindo que o capital flui na direção correta e com uma granularidade adequada.
- Confiança: Criar confiança entre os grupos de stakeholders. A ação coletiva é fundamental para combater as alterações climáticas, pelo que a confiança mútua é vital para mobilizar o capital no contexto geopolítico de hoje.
- Consistência: A indústria deve apoiar e trabalhar para um maior alinhamento de normas. Com apenas oito anos para reduzir para metade as emissões globais, a indústria não pode esperar anos pela harmonização.
Próximos passos para o C-Leve
À medida que refletem sobre os anúncios do Dia das Finanças e se concentram na mobilização do financiamento para a neutralidade carbónica, as principais áreas de foco para os líderes de C-level agirem são:
- CEOs: Reconhecer que alcançar a neutralidade carbónica exigirá uma transformação total; entender o que isto representa para o modelo de negócio nos próximos 5, 10 e 15 anos; desenvolver uma estratégia de transformação totalmente financiada e comunicá-la aos stakeholders.
- CROs: Avaliar a resiliência do negócio em relação a um conjunto de cenários de risco físico e de transição; entender como os apetites ao risco devem mudar e como a organização pode tornar-se mais resiliente.
- CFOs: Detalhar as alterações de reporte e preparar-se para o ISSB, garantindo que a empresa está pronta para reportar sobre as pessoas e o impacto no planeta, e não apenas sobre o valor financeiro; alinhar estruturas e processos em torno de novas divulgações levará tempo e esforço – é agora o momento de agir.
- CSOs: Adaptados às capacidades e estratégias da empresa, continuar a impulsionar a ambição e a ação climática; desenvolver o talento e a experiência sobre alterações climáticas para alinhar com a ciência do clima, ao mesmo tempo que vai ao encontro do negócio.
Olhar para o futuro
A mensagem mais forte do Dia das Finanças tem sido a necessidade de fazer com que as finanças do sector privado sejam direcionadas para onde devem. A EY vai continua a acompanhar a COP para colmatar esse gap e concretizar ações efetivas no terreno.