Os testes de esforço são um mecanismo de análise de resiliência. No entanto, são também considerados como desafio à estratégia de negócio.
Em 2023 tem início um novo exercício de testes de esforço conduzido pela European Banking Authority (EBA). Esta avaliação, realizada bianualmente, utiliza a metodologia e os modelos da EBA, bem como os cenários fornecidos pelo European Systemic Risk Board (ESRB). O exercício pretende analisar a resiliência das instituições em condições macroeconómicas adversas. O respetivo resultado é considerado segundo duas perspetivas: a microprudencial, que foca nas instituições individuais, através da qual é aplicado o Pillar 2 Guidance, e a macroprudencial, através da qual se identificam necessidades globais de capital (ou liquidez) ou ainda fragilidades comuns ao sistema, retirando-se conclusões que poderão originar intervenções de foro macroprudencial, com aplicação transversal.
No entanto, os testes de esforço não se limitam a um exercício imposto pelo regulador para analisar a resiliência das instituições financeiras, sendo também conduzidos pelas entidades financeiras como parte integrante do processo de gestão, nomeadamente como forma de identificar potenciais oportunidades de redução ou aumento do negócio interno. A introdução obrigatória dos riscos climáticos nos testes de esforço também contribuiu para alargar a aplicabilidade do exercício e aumentar a relevância do mesmo para testar o nível de preparação das instituições face a riscos emergentes.
Considerados como um mecanismo de gestão de risco das entidades financeiras, os testes de esforço contribuem também para avaliar os potenciais riscos que as instituições enfrentam num ambiente de constante transformação. Nos últimos anos temos presenciado a um aumento dos cenários pouco prováveis, como o impacto da pandemia COVID-19, a pressão geopolítica e a consequente pressão nos mercados financeiros, ou ainda o potencial impacto de requisitos regulamentares como o fundamental review of the trading book ou ainda a reforma do benchmark da zona euro.
Temos assistido a um investimento por parte das instituições financeiras em análises regulares que consideram tanto as usuais perspetivas de final do ano, como as potenciais alterações de balanço derivadas de restruturações ou de um novo modelo de negócio. O principal desafio revela-se com a formulação dos cenários macroeconómicos ao nível idiossincrático e sistémico. A título de exemplo, evolui-se de uma abordagem em que a simulação da venda de um portfolio é refletida como um choque instantâneo, com impacto imediato, para uma abordagem que toma em consideração o cenário económico global, incorporando o cenário em que este é adverso e a venda poderá não acontecer no imediato, mas num prazo de 2 ou 3 anos, com implicações na liquidez e perda associada. Por esta crescente complexidade e abrangência, as instituições têm aumentando as equipas de projeções macroeconómicas e envolvido no exercício as linhas de negócio, de planeamento e de risco. Quando existe um impacto macroeconómico, o mesmo não é só refletido nas análises de risco, mas também no planeamento do nível e necessidades de capital e liquidez, assim como nas projeções de resultados das instituições. O resultado do teste de esforço é considerado para identificar potenciais fragilidades e pode originar alterações de estratégia e ações como a redução de uma linha de negócio, alteração do perfil da carteira em termos de posicionamento por setores/segmentos, aumento do pricing nos créditos, medidas de contenção face ao risco de resgates abruptos aos depósitos, etc.
A implementação de um quadro de testes de esforço pode ser complexa e desafiante para as instituições financeiras, contudo, hoje, estas já reconhecem que é um mecanismo de suporte essencial para a tomada de decisão não só na perspetiva de gestão de risco mas também de negócio.