E se o maior risco à produtividade na sua empresa não fosse o cansaço extremo, mas o tédio? Este paradoxo está a tornar-se cada vez mais comum: colaboradores exaustos, mas também desmotivados — não por excesso de tarefas, mas pela falta de sentido, desafio e propósito no trabalho.
Este fenómeno tem o nome de boreout. É real, estudado e comprovadamente capaz de gerar impactos semelhantes ao burnout. Embora menos visível, os seus custos silenciosos são significativos: perda de engagement, diminuição da inovação e desvalorização do capital humano — fatores que se refletem diretamente nos resultados e na cultura organizacional.
O boreout caracteriza-se por uma sensação crónica de tédio no trabalho, resultante da subutilização de capacidades e da falta de estímulo intelectual. As causas são frequentemente organizacionais: alocação inadequada de talentos, liderança desconectada, ausência de feedback efetivo e cultura de presentismo, onde os colaboradores, embora fisicamente presentes, estão emocionalmente ausentes, comprometendo a colaboração e o clima organizacional.
O custo desse vazio produtivo é alto: a produtividade cai, o turnover oculto aumenta e o que parece um ambiente estável pode, na realidade, esconder um clima tóxico de disengagement.
Um fenómeno estratégico
O boreout não é apenas uma questão individual; é um sinal estratégico sobre a forma como uma organização utiliza os seus talentos. A subutilização de competências e a monotonia nas funções criam um vazio silencioso que mina a produtividade sem ser facilmente detetável. Mais do que medir horas trabalhadas ou tarefas concluídas, o boreout evidencia a necessidade de repensar a alocação de talento, a definição de funções e a cultura de engagement.
De forma mais ampla, o boreout pode ser visto como um termómetro da cultura organizacional: se colaboradores se sentem desmotivados por falta de desafio, tal indica que existem oportunidades de inovação na gestão de pessoas, design de funções e liderança.
Combater o boreout exige uma abordagem estratégica e proativa por parte dos líderes, que devem encarar este fenómeno como uma oportunidade de transformação. Algumas medidas eficazes incluem:
- Redefinição de funções: alinhar tarefas com competências e propósito, evitando a subutilização de talentos e promovendo motivação intrínseca.
- Cultura de propósito: líderes que inspiram, comunicam objetivos claros e conectam as atividades diárias ao impacto da organização.
- Escuta ativa: ouvir continuamente as equipas, identificar sinais de desmotivação e transformar feedback em ações concretas.
- Desenvolvimento profissional: criar oportunidades de crescimento, job crafting e mobilidade interna, permitindo que cada colaborador molde parte do seu papel para maximizar valor e motivação.
Contudo, o boreout não depende apenas dos líderes. Os colaboradores também têm um papel ativo: ao reconhecerem estes sinais, devem procurar novas responsabilidades, mentoria, reuniões individuais para discutir progressão, colaboração com outras equipas ou formação que desafie e desenvolva novas competências, tornando-se assim uma responsabilidade partilhada.
Além disso, o boreout oferece uma perspetiva sobre como os sistemas de gestão de talento podem evoluir. Instrumentos como People Analytics, assessment de competências e potencial e programas de desenvolvimento são valiosos para identificar subutilização de talentos, mapear gaps e antecipar riscos de desmotivação.
A EY apoia organizações a tirar partido destas ferramentas, combinando análise de dados com diagnóstico organizacional, design estratégico de funções e programas desenvolvimento, para transformar a experiência do colaborador ao longo de todo o seu ciclo de vida e criar culturas mais envolventes e resilientes, alinhadas com os objetivos do negócio e o potencial de cada colaborador.