As transformações que vivemos no mercado de trabalho são profundas e contínuas. Novas tecnologias, novas formas de trabalhar, expectativas crescentes dos colaboradores, alterações económicas e sociais constantes, entre outros aspetos, exigem às organizações uma capacidade de adaptação sem precedentes.
Neste contexto, a forma como temos gerido o talento — assente em estruturas rígidas, cargos fixos e modelos hierárquicos — revela-se cada vez menos eficaz. As funções estáticas e as descrições de cargo tradicionais mostram-se limitadas, e as carreiras lineares dão lugar a percursos dinâmicos, multifuncionais e em constante reinvenção.
A amplitude e a agilidade de competências tornaram-se assim verdadeiros diferenciais competitivos. As organizações que mais rápido conseguem identificar, mobilizar e desenvolver competências-chave têm maior capacidade de resposta, inovação e retenção.
Assim, algumas das organizações têm procurado acompanhar as tendências e evoluir para modelos distintos como o Skills based Approach, onde em vez de o talento ser gerido com base em funções ou hierarquias, as organizações passam a operar - desde o recrutamento até à progressão de carreira, passando pela formação, avaliação de performance e remuneração - com base nas competências efetivamente necessárias para assegurar a execução da estratégia.
Este modelo, valoriza aquilo que cada pessoa sabe fazer e como pode aportar valor à organização - e não apenas o âmbito da sua função. Desta forma, o talento é mobilizado para projetos, desafios ou necessidades reais, permitindo alinhar melhor o talento e as necessidades estratégicas, com impacto direto na agilidade e competitividade organizacional.
Quais são principais vantagens de ter as competências no centro da estratégia?
- Desagregar cargos em tarefas e competências. Ao invés de se pensar em funções, o foco passa para atividades e tarefas concretas que são necessárias assegurar, bem como nas competências envolvidas.
- Flexibilidade e mobilidade interna, pois permite alargar as experiências de desenvolvimento e crescimento ao colocar os colaboradores em projetos ou tarefas com base nas suas competências e não apenas considerando o seu cargo formal, dando por vezes, origem a marketplaces internos de talento.
- Upskilling e Reskilling direcionado dado que o desenvolvimento dos colaboradores é assegurado através de programas de formação e desenvolvimento mais eficazes, assentes em lacunas reais de competências que são mapeadas de acordo com as necessidades do negócio.
- A performance torna-se precisamente avaliada com base em evidence-based outputs associados a competências críticas para cada tarefa ou projeto.
Apesar de parecer uma mudança complexa, o Skills Based Approach pode ser implementado de forma estruturada e progressiva, tendo em consideração 3 fases principais:
- Definir o valor estratégico das competências para as necessidades do negócio. Isto é, identificar as áreas-chave do negócio, desconstruir funções tradicionais, mapear tarefas críticas e as competências (hard & soft) associadas.
- Assegurar que o modelo definido irá contribuir para uma gestão de talento holística, através da criação de um inventário de competências e atualização constante com os processos de RH, bem como analisar gaps da força de trabalho.
- Gerir a implementação do modelo com foco na perceção de valor e na melhoria contínua, assente num plano de gestão da mudança claro que permita envolver a organização, medir o impacto da Skills Based Approach e ainda fomentar uma cultura de aprendizagem contínua.
Adotar uma abordagem baseada em competências não traduz apenas uma mudança de processo — é uma mudança de mindset que poderá desbloquear o potencial das pessoas e tornar as organizações mais ágeis e preparadas para o futuro.