Num contexto de rápidas transformações sociais, tecnológicas e regulatórias, o setor segurador português enfrenta desafios crescentes, mas também oportunidades que estão a potenciar o seu papel na sociedade. A aceleração digital, a necessidade de maior eficiência operacional, a evolução das expectativas dos clientes e a adaptação a novas exigências regulatórias surgem hoje como eixos centrais na estratégia das seguradoras. Estas tendências estão a moldar o presente e o futuro do mercado, reforçando a importância do setor para a resiliência económica e social. Estas questões foram amplamente debatidas no evento promovido pela EY.
O painel que tive o prazer de moderar, foi composto por Teresa Rosas, Head of Tecnology and Business Support da Fidelidade, Natasha Revez, General Counsel da Generali Tranquilidade, Teresa Brantuas, Chief Executive Officer da Allianz, Isabel Semião, Board Member da BPI Vida e Pensões, e Filomena Santos, Board Member da GamaLife. No final, contámos com a intervenção do Presidente da APS, José Galamba, como keynote.
A escolha de perfis com responsabilidades distintas dentro das várias organizações assegurou uma partilha abrangente de perspetivas sobre os vários temas que marcam o setor.
Áreas de foco e prioridades estratégicas
As intervenções evidenciaram prioridades estratégicas variadas, mas profundamente interligadas, sublinhando a complementaridade entre as diferentes áreas que compõem o setor segurador.
Uma das perspetivas destacou que as agendas tecnológicas estão profundamente integradas na estratégia de negócio, evidenciando que pensar em tecnologia é, hoje, pensar no futuro da organização. A modernização contínua das infraestruturas, a adoção de tecnologias inovadoras como a Cloud e a Inteligência Artificial, e a sua aplicação com robustez, ética e em conformidade com os principais referenciais regulatórios — como o DORA e o AI Act — foram sublinhadas como prioridades centrais. Além disso, foi enfatizada a importância de promover uma cultura digital que valorize as pessoas, potenciando formas de trabalho colaborativas, ágeis e focadas na criação de valor para clientes e parceiros.
Outra abordagem salientou a necessidade de responder a dois grandes impactos atuais: a transformação no perfil e nas expectativas dos consumidores e o aumento contínuo dos custos operacionais e de sinistralidade. Neste contexto, foram apontados como prioridades o reforço da qualidade de serviço, com o cliente no centro, apostando na digitalização, na experiência do cliente e na sua retenção, assim como o aumento da produtividade através do aproveitamento das novas tecnologias para otimizar processos e gerar eficiência. O crescimento sustentável depende, assim, de clientes satisfeitos e de operações ajustadas a um setor marcado por riscos emergentes, mudanças demográficas e instabilidade global.
No âmbito do desenvolvimento de produtos, foi destacada a importância de criar soluções que acompanhem o cliente ao longo de todo o seu ciclo de vida, desde a infância até à idade avançada, ajustando respostas às necessidades específicas em cada fase. Esta visão centrada no cliente, aliada a exigências regulatórias crescentes, obriga a uma adaptação contínua de produtos, serviços e comunicação. O envelhecimento demográfico reforça a urgência de soluções sustentáveis e relevantes, que promovam o bem-estar financeiro das próximas gerações. Neste cenário, inovação, agilidade e educação do cliente são fatores-chave para assegurar valor, confiança e impacto social positivo.
Nas áreas de atuariado e gestão de risco foi apontada como fundamental a integração de modelos, projeções e análises no processo de tomada de decisão em toda a organização, desde a gestão financeira à rentabilidade dos produtos e estratégias de capital. Dada a crescente complexidade regulatória, com requisitos como os que decorrem da IFRS 17 e do Solvência II, foi sublinhada a importância de se garantirem processos ágeis, comunicação clara e uma tradução eficaz dos modelos técnicos para a realidade do negócio. A prioridade reside em reforçar a utilidade prática dos modelos no dia a dia e em melhorar continuamente a agilidade dos processos.
Foi também destacada a prioridade da área jurídica em responder à contínua atualização do enquadramento regulatório através de uma atuação mais estratégica e integrada. O departamento jurídico deixou de se limitar à revisão contratual para assumir um papel ativo na tomada de decisão, participando em equipas multidisciplinares e antecipando impactos legais. Foram criados comités especializados para temas como DORA, RGPD, sustentabilidade e crime financeiro, promovendo agilidade e colaboração. Paralelamente, está em curso uma transformação digital, com a adoção de ferramentas de Inteligência Artificial para automatizar tarefas repetitivas, mantendo sempre o foco na qualidade jurídica e na adaptação contínua ao contexto do negócio.
A partir destas reflexões, o painel abordou os desafios e oportunidades que se colocam ao setor.
Tecnologia e Inteligência Artificial
A Inteligência Artificial está a transformar rapidamente o setor, impactando toda a cadeia de valor. As seguradoras concentram-se na melhoria da relação com o cliente (através de chatbots e voicebots), na eficiência operacional (automatizando processos como a gestão de sinistros) e na gestão de risco (cibersegurança, prevenção de fraudes e análise preditiva). No entanto, esta adaptação traz desafios como a segurança dos dados, formação das equipas e alinhamento cultural com a inovação tecnológica.
Sustentabilidade e criação de valor
A sustentabilidade é parte integrante do setor, presente na gestão de investimentos com critérios ESG, subscrição de riscos e abordagem à gestão de sinistros, privilegiando reparação e minimização de desperdícios. O setor também promove o bem-estar dos colaboradores, proteção de dados e responsabilidade social, integrando resiliência financeira, ambiental e social. Trata-se de uma visão abrangente que liga a resiliência financeira à resiliência ambiental e social.