Esta performance portuguesa é dececionante, sobretudo se a compararmos com países como a Irlanda, que, entre 2000 e 2019, registaram crescimentos médios anuais do PIB per capita em paridades de poder de compra de quase 6%, países que em 1986 apresentavam um nível de desenvolvimento inferior ao nosso. Isto significa que Portugal não conseguiu, de forma adequada, transformar os seus fatores de sucesso tradicionais na transição para uma economia desenvolvida, caindo na designada armadilha do desenvolvimento intermédio europeu, impeditiva da melhoria das condições de vida da sua população.
São múltiplas as razões que justificam esta realidade, mas a mais importante parece ser a incapacidade que o país revela em fazer crescer de forma relevante a produtividade dos seus fatores produtivos, nomeadamente a produtividade total dos fatores e a produtividade do trabalho. Isto acontece porque ainda não interiorizamos que, no estágio de desenvolvimento em que nos encontramos, já não é possível (continuar a) crescer de forma significativa com o modelo de desenvolvimento que usamos de forma bem-sucedida no passado. Precisamos, pois, de adotar rapidamente uma nova fórmula de crescimento que permita um scale-up da produtividade nas empresas e no país.
Na ciência económica, a produtividade é uma medida ou indicador de eficiência económica que avalia a relação entre os recursos utilizados nos processos produtivos (inputs) e os produtos finais (outputs). Em termos práticos, há várias formas de medir a produtividade, sendo a mais usual a produtividade (aparente) do trabalho, embora a produtividade total dos fatores seja também comum. Em ambos os casos, a produtividade é medida em valor, sendo que a produtividade do trabalho tem a vantagem de ser muito fácil de calcular (pelo rácio entre o VAB e o emprego) e, por isso, é a medida mais recorrente, embora não capte integralmente o efeito do fator trabalho, pois é influenciada pelo nível de capital que “equipa” os trabalhadores e por muitos outros determinantes mais indiretos da produtividade do trabalho.
Ter presente que a produtividade é (usualmente) medida em valor é absolutamente fundamental, pois obriga a nunca esquecer que a produtividade é influenciada por dois fatores essenciais: a capacidade das organizações para valorizar os seus outputs no mercado (produtividade-valor) e a eficiência física com que elas utilizam os seus inputs para os produzir e disponibilizar no mercado (produtividade-volume). Estes dois vetores da produtividade são influenciados por inúmeros fatores de natureza macro (e.g. estabilidade política, fiscalidade, nível de investimento, nível de capital humano, abertura ao exterior, ambiente de negócios, regulação de mercados), meso (mudanças intra e inter-setoriais) e microeconómica (e.g. qualidade da gestão, capacidade de inovação, capacidade empreendedora, competência em marketing).
Priorização das apostas para promover a produtividade em Portugal