A economia circular está no topo da agenda de muitos decisores políticos e líderes da indústria. Há consenso em relação ao potencial económico do conceito e novos modelos de negócios baseados na economia circular estão a surgir em diferentes mercados e países.
No entanto, por falta de conhecimento sobre o tema e de competências, muitas empresas continuam a ter dificuldades em incorporar o pensamento circular na estratégia e nas operações do dia-a-dia. Este artigo discute a definição de economia circular, o seu potencial impacto na cadeia logística e as oportunidades de negócio com ela relacionadas.
O que é uma economia circular?
Apesar da pressão regulatória e da otimização dos processos de fabrico, o mundo não tem conseguido dissociar o crescimento económico do consumo de recursos. O crescimento económico é o garante de um conjunto de benefícios sociais e comunitários, mas é também um enorme fator de pressão sobre a disponibilidade de recursos. Sem mudanças drásticas nas práticas de consumo e produção, o Painel Internacional de Recursos1, estima que as necessidades globais de recursos possam duplicar entre 2015 e 2050. Um forte aumento na procura de matérias-primas pode agravar a escassez de recursos e fazer disparar o desperdício para níveis incontroláveis. Pode ainda ser a causa de um conjunto de efeitos colaterais indesejáveis, como a "guerra ao plástico" está a mostrar.
O crescimento económico – e do consumo de recursos – dá-se sobretudo em mercados emergentes, onde a regulação e as práticas ambientais estão menos maduras. Se o crescimento da produção e do consumo nesses mercados seguir uma trajetória semelhante à do mundo desenvolvido, os impactos na saúde e no meio ambiente serão maiores do que a maioria dos ecossistemas locais será capaz de suportar.
A boa notícia é que há uma margem significativa para melhorias. Embora a eficiência de recursos nos mercados emergentes tenha melhorado, ainda há muitas ineficiências ao longo da cadeia de valor de um produto. Por exemplo, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO)₂ estima que cerca de um terço de todos os alimentos produzidos globalmente se perde nos diferentes segmentos da cadeia logística. Para enfrentar estes desafios e ao mesmo tempo aumentar a riqueza e o bem-estar de forma sustentável, o modelo económico global tem de evoluir. A economia circular assenta na ideia de que é possível alterar a gestão de produtos e materiais para criar sistemas económicos menos dependentes da extração de matérias-primas virgens, trabalhar melhor o consumo desses materiais e reutilizar recursos sempre que possível. O foco combinado na eficiência de recursos, recursos renováveis e crescimento económico tem inspirado muitos decisores políticos e líderes industriais a agir.
O conceito de economia circular tem um âmbito abrangente e pode ser implementado em muitos setores e países, desde a conceção do produto até ao fim da sua vida útil. Infelizmente, a natureza genérica do conceito torna a implementação menos prática ao nível empresarial. Por conseguinte, num primeiro momento, o mais importante é definir prioridades e colocar o foco nos elementos de elevada relevância, já que isso pode ser crítico para o sucesso da empresa.
Que impacto terá a "guerra ao plástico" na resposta dos negócios?
O foco na escassez de recursos não é novo. O tópico surgiu pela primeira vez como resultado do estudo Os Limites ao Crescimento3 nos anos 70. Nos últimos 12 meses, o tema voltou à ribalta, à medida que a acumulação crescente de lixo nos oceanos atraiu a atenção dos principais media. Este novo foco no tema terá provavelmente um impacto nos consumidores e nos reguladores e aumenta a expetativa de que as empresas sejam responsáveis pelos produtos que vendem, mesmo depois de os comercializarem. A resposta à questão do plástico deve dar o mote para uma avaliação mais abrangente de outros riscos, associados aos recursos e resíduos na cadeia de valor das empresas.
Qual é o impacto da economia circular na cadeia de valor?
Uma estratégia de economia circular visa gerar economias de custos e valor comercial, criando fluxos circulares e circuitos fechados em todas as fases da cadeia de valor. Por exemplo, mudar o design e o modelo de negócio de um produto pode reduzir os recursos necessários a montante. O leasing, comparativamente a uma venda, pode ser uma forma mais rentável e duradoura de proporcionar um upgrade na oferta ao cliente. Também os esquemas de retoma para produtos e materiais em fim de vida podem ser uma via para obter os recursos necessários para fabricar novos produtos. Esta recolha pode, por exemplo, ser feita recorrendo à logística inversa ou no âmbito das políticas de responsabilidade alargada do produtor (product stewardship).