Como pode a Europa redefinir agora a agenda dos investimentos para reconstruir o seu futuro?

Autores
Julie Linn Teigland

EY EMEIA Area Managing Partner and EY Global Leader – Women. Fast forward

Passionate about the transformational power of digitalization and innovation and its potential to deliver sustainable, inclusive growth for clients. Prominent voice of the Women20 global agenda.

Marc Lhermitte

EY EMEIA Geostrategic Business Group Lead

Fascinated by the complex interactions between companies, people and the geographies they live in.

Hanne Jesca Bax

EY EMEIA Markets & Accounts Leader

Experienced leader blending different cultures, generations, mindsets and genders.

57 minutos de leitura 28 mai 2020

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A COVID-19 abrandou o investimento estrangeiro na Europa, mas ainda há motivos para otimismo, de acordo com o último inquérito sobre a atratividade da EY.

O investimento direto estrangeiro (IDE) raramente é notícia de primeira página. Navegue nas páginas de negócios das principais publicações e verá uma série de notícias sobre fusões e aquisições (M&A), investimento em infraestruturas e ofertas públicas iniciais. O IDE é, muitas vezes, uma ideia à posteriori.

Mas não deveria ser. Segundo a Comissão Europeia, o IDE totalizava 7,2 mil milhões de euros no final de 2018, representando 45% do produto interno bruto (PIB) da UE.

O IDE também aumenta a investigação. As empresas estrangeiras representam um quarto das empresas de investigação & desenvolvimento (I&D) em França, Alemanha e Espanha; entre 30% e 50% em Portugal, Suécia e Reino Unido; e mais de 50% na Áustria, Bélgica e Irlanda.

Por conseguinte, é fundamental compreender o que leva as empresas a investir em determinados países e regiões, de que forma as suas prioridades de localização estão a mudar e o que os governos podem fazer para influenciar estas decisões.

Neste âmbito, a EY conduziu anualmente, nos últimos 19 anos, uma vasta investigação sobre o nível de IDE na Europa e o que o impulsiona.

Este ano, o nosso programa de investigação habitual foi interrompido pelo surto do coronavírus (COVID-19). Tal como em quase todos os aspetos da vida, a pandemia teve um impacto disruptivo. Contudo, não reduziu a importância do IDE.

De forma a permanecer atrativa neste ambiente empresarial remodelado, a Europa, tanto empresas como governos, deve pensar de forma criativa, agir de forma decisiva e colocar a coesão e a colaboração no centro de tudo o que implementa.
Julie Teigland
EY EMEIA Area Managing Partner

Os resultados são moderados, mas certamente não desanimadores. Por exemplo, 9 em cada 10 empresas inquiridas esperam diminuir ou atrasar os planos de investimento este ano, embora 51% tencionem fazê-lo em menor escala. O impacto exato nos níveis de investimento dependerá, evidentemente, do grau de recuperação da economia global e da forma como o IDE é incentivado a nível local.

Acreditamos que o IDE também pode desencadear a recuperação económica e a transformação da Europa. É evidente que os países devem contar com o investimento dos Estados Unidos (EUA) e da Ásia, a economia número um do mundo, para se manterem ativos na Europa. Mas também pensamos que o IDE da Europa pode ser uma força económica e transformadora incrível para a Europa.

Para que tal aconteça, os países e instituições europeias, bem como as empresas globais sediadas na Europa, têm de compreender o que significa ser um destino atrativo de IDE após o COVID-19.

"Para permanecer atrativa neste ambiente empresarial renovado, a Europa - empresas e governos em conjunto - tem de pensar de forma criativa, agir com determinação e colocar a coesão e a colaboração no centro de tudo o que faz", diz Julie Teigland, EY EMEIA Area Managing Partner.

Empresário à porta de um escritório ecológico
(Chapter breaker)
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Capítulo 1

Qual foi o desempenho do IDE europeu quando o COVID-19 foi atingido?

O IDE europeu estabilizou em 2019, mas os projetos estão em risco.

Agora o ano 2019 parece distante. No entanto, vale a pena refletir sobre o estado do IDE antes do surto pandémico. A análise da EY revela que foram anunciados 6.412 projetos de IDE na Europa no ano passado, o que representa um aumento de 0,9% em relação a 2018. O investimento foi particularmente forte em França e Espanha, mas as tensões comerciais globais, a incerteza do Brexit e o crescimento económico moderado fizeram com que o investimento em toda a Europa aumentasse de forma modesta.

Mesmo assim, medido apenas pelo número de projetos anunciados, 2019 foi o segundo ano mais forte de sempre em termos de IDE, depois de 2017.

"O investimento direto estrangeiro pode desencadear, de várias formas, a recuperação económica e a transformação da Europa após a COVID-19", diz Hanne Jesca Bax, EY EMEIA Managing Partner Markets & Accounts.

Um ano recorde para o IDE

6,412

Os projetos de IDE anunciados em 2019 nos 47 países da Europa, um aumento de +0,9% de ano para ano,tornando-o um dos anos mais fortes de sempre da Europa.

Historicamente, apenas um número reduzido de projetos de IDE anunciados em qualquer ano específico não é concretizado. Mas a COVID-19 interrompeu a realização dos projetos. A análise da EY revela que a incerteza do mercado e, em alguns setores, a dizimação do mercado resultará na entrega atempada de apenas 65% dos projetos anunciados em 2019. Outros 25% são adiados e 10% são cancelados. 

A COVID-19 interrompe - mas não para o IDE

65%

dos projetos de IDE anunciados em 2019 serão entregues a tempo. Outros 25% são adiados e 10% são cancelados.

Mesmo os projetos que prosseguem como previsto podem não atingir os seus objetivos de investimento e emprego.

O impacto da COVID-19 na realização dos projetos é menos grave em certos países. Em países altamente competitivos e orientados para os serviços, tais como a Irlanda, a Polónia e Portugal, onde uma grande parte do IDE envolve centros de serviços partilhados, gabinetes de desenvolvimento de software ou instalações de investigação e desenvolvimento, é provável que até 80% dos projetos de IDE sejam mantidos. Este valor é significativamente mais elevado do que a taxa média de concretização de 65% em toda a Europa

Uma Europa resiliente que invista em si própria é a base para a recuperação e irá reestruturar o futuro da Europa.
Hanne Jesca Bax
EY EMEIA Managing Partner Markets & Accounts

A França ultrapassa o Reino Unido como o principal destino de IDE da Europa

O investimento em França aumentou 17% para 1.197 projetos em 2019, com uma quota de mercado de 18,8%. Pela primeira vez, a França atraiu mais projetos de IDE do que qualquer outro país no ano passado. O ressurgimento da França, que acelerou desde 2017, é um resultado direto das reformas das leis laborais e da tributação das empresas do Presidente Macron, que foram bem recebidas tanto pelos investidores nacionais como internacionais.

O principal destino de investimento da Europa

17%

O aumento anual do IDE em França, que atraiu 1.197 novos projetos.

Através do Canal, o investimento no Reino Unido aumentou 5%, tendo demonstrado resistência à incerteza do Brexit. Contudo, pela primeira vez, o país perdeu a sua posição de liderança.

Outros países com bom desempenho incluem Portugal (+114%), Espanha (+55%) e os Países Baixos (+11%). Resta saber como a COVID-19 irá afetar a realização de projetos de IDE, particularmente em Espanha, onde a economia tem sido uma das mais afetadas da Europa.

O IDE diminuiu na Irlanda (-7%), na Rússia (-9%), na Polónia (-26%) e na Turquia (-33%). A estabilidade do IDE na Alemanha reflete a dificuldade estrutural dos novos intervenientes em contratar pessoal com a mão-de-obra lotada e comas cadeias de abastecimento nitidamente organizadas e integradas. As diminuições na Rússia e na Irlanda seguem os fortes níveis de investimento em 2018. 

  • Ponto de vista: Uma nova estratégia europeia para atrair e reter o investimento estrangeiro

    Pascal Cagni, Embaixador da França para os Investimentos Estrangeiros e Christophe Lecourtier, Chief Executive Officer, da Business France

    Christophe Lecourtier, Chief Executive Officer, Business France (à esquerda)

    Pascal Cagni, Ambassador for International Investments, France (à direita)

    A COVID-19 realçou a necessidade de as empresas reorganizarem as suas cadeias de abastecimento. A experiência das últimas semanas deve incentivar a Europa a intensificar os seus esforços e os Estados-Membros a trabalhar em conjunto.

    A França e a Alemanha serão os primeiros a assumir a liderança. A 18 de maio de 2020, o Presidente Emmanuel Macron e a Chanceler Angela Merkel lançaram uma iniciativa franco-alemã para apoiar a recuperação económica, a transição ecológica e digital e a soberania industrial da Europa. Insistiram na necessidade de dar prioridade à 5G, "uma Europa da saúde", e à transformação “verde” da Europa, com um forte apoio de todas as partes interessadas, governos e empresas.

    Berlim e Paris terão uma estratégia comum de redução da sua dependência das importações em setores estratégicos, como o de life science. No entanto, esta autonomia industrial não pode nem irá, de modo algum, proibir o crescimento de empresas estrangeiras com fortes bases industriais e centros de I&D na Europa.

    Todas estas prioridades, e o financiamento associado que será posto em prática, representam uma oportunidade para novos investimentos e empregos, a começar pelas empresas que já estão presentes na UE.

    Todas estas prioridades, e o financiamento associado que será posto em prática, representam uma oportunidade para novos investimentos e empregos, a começar pelas empresas que já estão presentes na UE. E esta transformação do "modelo empresarial" francês tem sido muito bem recebida, tanto pelos investidores nacionais, como internacionais.

O IDE aumenta nas principais cidades da Europa

Embora o IDE europeu tenha aumentado apenas 0,9% no ano passado, o investimento nas grandes cidades explodiu. Na Greater London, o investimento aumentou 17% devido à sua liderança nos serviços digitais e empresariais, enquanto o investimento em Paris subiu 34%. Estas duas regiões representam, respetivamente, 8% e 6% do IDE na Europa.

As fortes regiões industriais da Baviera e da Renânia do Norte-Vestefália tiveram resultados mistos. O investimento na Renânia do Norte-Vestefália aumentou 44% e é atualmente a terceira maior região da Europa em termos de IDE, enquanto o investimento na Baviera diminuiu 24% e ocupa agora a quarta posição neste ranking. Em ambas as regiões, a elevada proporção de projetos de produção significa que mais projetos de IDE anunciados em 2019 serão adiados ou cancelados, e os que avançarem são mais suscetíveis de o fazer com menos criação de emprego.

As grandes cidades europeias continuaram a atrair investidores estrangeiros

14%

A quota de IDE que a Greater London e Paris atraíram em 2019.

O IDE dominante nos setores do digital e dos serviços às empresas

Os setores do digital e dos serviços às empresas atraíram a maior parte do IDE em 2019, representando coletivamente 31% dos novos projetos e 24% dos novos empregos criados. Uma perceção anedótica de governos locais indica que a maioria dos projetos nesses setores já tinha sido implementada antes do desenvolvimento da COVID-19.

Os projetos no setor dos transportes, incluindo os fabricantes e fornecedores do setor automóvel e aeronáutico, que representaram 7% dos novos projetos e 23% dos novos postos de trabalho, estão mais expostos ao risco. A nossa investigação mostra que o setor dos equipamentos industriais, produtos químicos e plásticos sofreu as maiores perturbações na cadeia de abastecimento e perdas de receitas, o que levou a que uma maior proporção de projetos fosse atrasada ou reduzida, em comparação com outros setores.

Homem de negócios a desfrutar da vista noturna
(Chapter breaker)
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Capítulo 2

Como irá a COVID-19 afetar os novos IDE em 2020 e nos anos seguintes?

Os investidores aliviam os novos projetos, mas não se retraem totalmente.

Na altura em que foi escrita, a COVID-19 tinha travado os planos de investimento na Europa, mas não completamente.

Um inquérito a 113 empresas realizado no final de abril de 2020 revelou que 51% preveem uma ligeira diminuição dos planos de IDE para 2020; 15% preveem uma diminuição substancial; e 23% preveem o adiamento de novos projetos até 2021. Apenas 11% não esperam qualquer alteração.

Planeamento do IDE na Europa

66%

dos executivos de empresas inquiridos esperam uma diminuição dos planos de IDE para 2020.

É compreensível que as intenções de investimento tenham diminuído, uma vez que o confinamento tornou praticamente impossível a avaliação e a execução de projetos de investimento. A incerteza económica causada pelo surto significa também que as empresas estão a reconsiderar se os processos de fabrico, a investigação ou os serviços de apoio ainda são financeiramente viáveis. De acordo com o Capital Confidence Barometer da EY, lançado em março de 2020, 73% das empresas esperam que a COVID-19 tenha um impacto grave na economia global.

Se se concretizarem as previsões otimistas de uma recuperação em forma de “V”, em que a atividade económica recupera fortemente no segundo semestre do ano, o investimento direto estrangeiro (IDE) poderá recuperar fortemente. Por outro lado, as previsões pessimistas de uma depressão prolongada atenuá-la-iam num futuro próximo. A modelação macroeconómica da EY sugere que uma recuperação desigual e lenta, marcada por um crescimento irregular e desigual, é muito provável.

As taxas de recuperação do IDE são ainda difíceis de prever, uma vez que o investimento também depende da taxa de recuperação nas regiões de onde provém o IDE para a Europa, a começar pela própria.

Uma recessão europeia prolongada afetaria significativamente o IDE, dado que 52% do investimento europeu foi realizado por empresas europeias entre 2015 e 2019. Posto isto, alguns países dependem especialmente dos EUA, tais como a Irlanda, onde 40% do setor privado depende de empresas americanas.

A forma da curva de recuperação variará em função da capacidade de cada país para controlar as taxas de infeção dentro da capacidade de cuidados de saúde, e de acordo com diferentes níveis de exposição a cadeias de valor globais.
Dr. Marek Rozkrut
Co-Chair EY EMEIA Economists Unit
  • Ponto de vista EY: Esperar uma recuperação lenta, agitada e desigual

    Dr. Marek Rozkrut, Co-Chair EY EMEIA Economists Unit, Head of EY Economic Analysis Team

    Dr. Marek Rozkrut

    Co-Chair EY EMEIA Economists Unit

    É a primeira vez, desde a Grande Depressão, que assistimos a recessões tanto nas economias avançadas como nas economias de mercados emergentes.

    Devido aos seus custos, uma política de confinamento a nível nacional, que está a conduzir a um declínio do nível de produção de 20%-25%, dificilmente será sustentável. O cenário económico da EY é o de que, muito provavelmente, assistiremos a uma lenta recuperação de saw-tooth, marcada por um crescimento desigual e instável. Os padrões exatos destes aumentos e retrocessos serão fortemente influenciados por surtos epidémicos recorrentes e pela capacidade dos governos para conter e mitigar os seus efeitos.

    A Comissão Europeia prevê uma contração do PIB da UE de 7,4% em 2020, apontando que praticamente nenhuma economia europeia regresse aos seus níveis pré-pandémicos nos próximos dois anos. Confrontadas com uma enorme incerteza, muitas empresas irão atrasar ou cancelar os seus investimentos. Prevemos que o IDE na Europa se contraia em 35%-50% em 2020, em comparação com 2019.

    Ao mesmo tempo, a transição para o que se segue irá colocar grandes exigências à capacidade de adaptação das empresas e aumentar a sua capacidade de resistência a réplicas. Será dada mais atenção à sustentabilidade e às alterações climáticas. A COVID-19 alterou a nossa relação com o digital, onde a digitalização era um “can”, agora é um “must”. 

O IDE está em maior risco nos setores mais atingidos pela COVID-19

O impacto da COVID-19 na procura do mercado e a capacidade de executar operações varia significativamente de setor para setor. E isto tem um efeito em cadeia direto no IDE. As empresas dos setores que registam um aumento da procura devido à COVID-19 (como a life science, os bens de consumo essenciais, o retalho, o comércio eletrónico e o entretenimento online) são mais suscetíveis de manter os seus planos de investimento.

Em contrapartida, um inquérito global às agências de promoção do investimento realizado pelo Banco Mundial revelou que as disrupções da cadeia de abastecimento estão a afetar a produção e as receitas. Esta situação está a resultar em reduções de CAPEX e emprego nos planos de investimento, com especial impacto no investimento da indústria transformadora, nos transportes e na indústria têxtil.

No que respeita aos projetos de IDE na indústria transformadora, a indústria dos transportes (incluindo a indústria automóvel e aeronáutica), os produtos químicos e plásticos, a maquinaria e o equipamento industrial e os setores agroalimentar serão todos gravemente afetados. Os setores farmacêutico e de equipamento médico parecem, por enquanto, resilientes. 

  • Ponto de vista EY: Bancos resilientes, clientes resilientes

    Nigel Moden, EY EMEIA FSO Banking & Capital Markets Leader

    Nigel Moden

    EY EMEIA FSO Banking & Capital Markets Leader

    O setor bancário europeu respondeu proativamente à necessidade de maior apoio financeiro por parte de empresas de todas as formas e dimensões, bem como dos consumidores individuais. Este apoio levou a um aumento dos empréstimos, tanto através da variedade de regimes de incentivo apoiados pelo governo que foram lançados em toda a Europa, como através das linhas de produtos existentes, e de uma série de medidas de tolerância, incluindo suspensão de pagamento de hipotecas, descobertos sem juros e taxas preferenciais nas transações com cartão de crédito.

    O setor bancário continua a ser financeiramente resiliente e, até à data, tem demonstrado que dispõe de capacidade operacional e de solidez de balanço para satisfazer estas exigências crescentes. Neste sentido, têm sido apoiados pelos reguladores Europeus, que anunciaram um conjunto de medidas destinadas a reduzir os encargos sobre o capital e a permitir aos bancos direcionarem os seus esforços para apoiar os seus clientes.

    A experiência das últimas semanas irá incentivar o setor a intensificar os seus esforços com o objetivo de transformar as formas de trabalho e as estratégias de envolvimento dos clientes, enquanto que o ritmo da automatização e da digitalização acelera. A agilidade demonstrada pelos nossos bancos durante a crise será um importante ativo retido à medida que respondem às transformações na dinâmica do mercado.

  • Ponto de vista EY: Life sciences - a revolução dos dados

    Pamela Spence, EY Life Sciences Industry Leader

    Pamela Spence

    EY Life Sciences Industry Leader

    No setor de Life Sciences, o valor futuro vai da inovação ao poder da informação. Isto significa que se deve desbloquear o poder da informação para estimular a inovação, cujo sucesso deve ser medido pelo grau de personalização e por melhores resultados no setor da saúde. A COVID-19 acelerou a necessidade de o fazer, mas tal já era importante no passado.

    Para tornar esta visão realidade, as empresas deste setor terão de estabelecer parcerias e colaborar de perto com entidades não-tradicionais. Clusterscomo Cambridge e Oxford, no Reino Unido, já facilitaram este processo. Criam o “acaso” em que a ciência sempre confiou. Agora, a proximidade não é possível, mas a comunicação virtual é, e está muito presente.

    No futuro, penso que os clusters continuarão a ser muito importantes e um ativo para atrair o investimento estrangeiro. Ao sair da crise da COVID-19, os governos devem pensar nas indústrias em que se querem destacar, e depois encorajar as empresas desses setores a investir.

    A resposta dos diferentes países à COVID-19 também levantou questões a nível governamental sobre o que é necessário dentro do país. Poderemos ver algumas cadeias de abastecimento onshored, a pedido dos governos.

    As próprias empresas podem decidir que necessitam de cadeias de abastecimento mais localizadas. Em vez de uma cadeia de abastecimento global, vejo empresas a decidirem ter cadeias de abastecimento separadas para as Américas, Europa e Ásia, por exemplo, que não são interdependentes.

Os pacotes de estímulo nacionais influenciam os investidores estrangeiros, mas as cidades e as regiões precisam de uma nova abordagem.

A COVID-19 é suscetível de redefinir as perceções dos investidores no que toca à atratividade dos países e das cidades. Com os cientistas sem saber se irá existir uma segunda vaga de COVID-19 no último trimestre de 2020, as empresas poderão começar a favorecer o IDE nos países europeus menos afetados pela primeira vaga, em detrimento dos mais afetados.

Com os cientistas sem saber se irá existir uma segunda vaga de COVID-19 no último trimestre de 2020, as empresas poderão começar a favorecer o IDE nos países europeus menos afetados pela primeira vaga, em detrimento dos mais afetados.

Deixando de lado a sua vulnerabilidade específica à COVID-19, as grandes cidades podem perder “músculo económico” devido a várias tendências aceleradas pela experiência do confinamento. As empresas podem já não considerar necessário localizar os escritórios em cidades densas se permitirem que um maior número de funcionários trabalhe a partir de casa, e os cidadãos podem ser atraídos para fora devido a preocupações com os futuros surtos e poluição atmosférica. Alguns países europeus, como o Reino Unido, estão a tentar ativamente reequilibrar a prosperidade longe das capitais para cidades e regiões mais pequenas.

Cidades e países de todas as dimensões têm a oportunidade de moldar a sua própria atratividade. De facto, 80% dos líderes empresariais inquiridos no final de abril de 2020 afirmam que a natureza e o peso dos pacotes de estímulo - na sua maioria nacionais – irão influenciar as suas futuras escolhas de localização. Os países e as cidades podem aumentar a sua atratividade com um apoio específico ao IDE; contudo, as despesas inesperadas, mas necessárias com subsídios salariais, diferimentos de impostos, reduções de taxas e empréstimos para interrupção de atividade podem deixar pouca margem para tal.

  • Ponto de vista EY: Refrescando a política de IDE para cidades e pequenas cidades

    Mark Gregory, EY UK Chief Economist

    Mark Gregory

    EY UK Chief Economist

    A crença de que a aglomeração, concentrando as pessoas nos centros das cidades, gera maior crescimento e inovação mais rápida através de uma maior conectividade tem dominado a política de desenvolvimento económico nos últimos anos. Mas esta crise demonstrou que o crescimento baseado na cidade tem custos e benefícios.

    A acentuada diminuição da poluição atmosférica e das emissões de carbono veio expor a “carga” que as cidades representam para o ambiente. Ao mesmo tempo, as pessoas começaram a perceber que o seu estilo de vida poderia ser muito diferente ao não terem de se deslocar diariamente, bem como no dinheiro que poderiam poupar.

    Isto não quer dizer que a comunicação em pessoa não tenha valor. Continua a ser muito importante em setores como os serviços às empresas, as finanças e a publicidade, mas podemos colaborar sem estarmos fisicamente juntos todos os dias. No entanto, não temos conseguido contestar o pressuposto de que todos os setores são iguais, quando a realidade é que o trabalho noutros setores pode ser distribuído, potenciando o crescimento e a eficiência. No Reino Unido, por exemplo, dois terços dos postos de trabalho de codificação encontram-se no Sudeste de Inglaterra. Agora, não parece que tenha de ser este o caso.

    Isto não significa que as cidades não vão continuar a crescer. Devemos aproveitar as lições da situação atual para iniciar o reequilíbrio da atividade económica das grandes capitais para as pequenas cidades, vilas e zonas rurais.

    A questão interessante é a seguinte: como é que a sua política de IDE precisa de se adaptar? O que funciona para Londres não funcionará para uma pequena cidade.

Esta nova realidade apresenta um novo conjunto de desafios e exige políticas e ideias inovadoras, tanto do setor público como do privado, com a UE a assumir um papel importante.
Fernando Medina
Presidente da Câmara de Lisboa, Portugal
  • Ponto de vista: As cidades da Europa vão recuperar

    Fernando Medina, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Portugal

    Fernando Medina

    Presidente da Câmara de Lisboa, Portugal

    Como qualquer cidade global e interligada, Lisboa foi fortemente afetada pela pandemia da COVID-19. Embora a taxa de contágio estivesse controlada e o número de pessoas infetadas fosse moderado em comparação com outros países, muitos serviços, nomeadamente no setor do turismo e hospitalidade, foram forçados a fechar durante o confinamento. Agora, enfrentam um sério desafio de recuperação, mesmo com o apoio das cidades e do governo.

    O setor do turismo terá de voltar a sua atenção para o mercado interno até que o mundo recupere a confiança nas viagens internacionais. O aumento do desemprego exige uma forte resposta social e uma requalificação acelerada para mitigar o impacto já em curso da digitalização e da automatização, que foi acelerada pela COVID-19.

    Esta nova realidade apresenta um novo conjunto de desafios e exige políticas e ideias inovadoras, tanto do setor público como do privado, com a UE a assumir um papel importante. A recuperação poderá levar tempo, apresentando um sério desafio económico e social a curto prazo. Mas quando a situação for contida, as cidades europeias irão recuperar rápida e fortemente.

    Lisboa vai reforçar o seu empenho num futuro sem carbono, com um sistema de mobilidade mais sustentável e ecológico, facilitado por um elevado nível de investimento nos transportes públicos. Ao fazê-lo, a cidade continuará a atrair investimentos e pessoas para uma das capitais mais antigas, vibrantes e dinâmicas, da Europa.

O Brexit já não é a principal ameaça ao IDE, mas a incerteza mantém-se.

Os receios de um Brexit sem acordo foram postos de lado após a vitória decisiva do Partido Conservador nas eleições gerais do Reino Unido, em dezembro de 2019. A subsequente aplicação do Withdrawal Agreement foi apoiada pelos líderes empresariais porque eliminou a possibilidade imediata de um Brexit sem acordo. Isto reflete-se nos dados do nosso inquérito, com apenas 24% a identificar o Brexit como um dos três maiores riscos para a atratividade da Europa nos próximos três anos, em comparação com os 38% do ano passado.

A União Europeia (UE) e o Reino Unido desejam celebrar um acordo de comércio livre. No entanto, existem grandes disputas sobre até que ponto o Reino Unido terá de continuar a respeitar a regulamentação da UE. A COVID-19 também atrasou as negociações, e a maioria dos observadores considera que não há tempo suficiente para chegar a acordo e ratificar um acordo de comércio livre abrangente.

Se um acordo não for feito a tempo e a transição não for prorrogada, o Reino Unido e a UE terão de comercializar nos termos da Organização Mundial do Comércio. No entanto, um cenário mais realista é que se chegue a um acordo comercial restrito que abranja as mercadorias, mas que as discussões relativas aos serviços sejam adiadas.

Um acordo global de comércio livre aumentaria significativamente o IDE no Reino Unido e nos seus parceiros comerciais; contudo, o aumento de 5% do IDE no Reino Unido em 2019, quando a incerteza do Brexit estava no seu auge, indica que a falta de um acordo global de comércio livre não irá cortar as perspetivas de investimento a longo prazo.

Mulher de negócios a passear com pasta de ficheiros na mão
(Chapter breaker)
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Capítulo 3

O que irá impulsionar o IDE no ambiente empresarial remodelado?

A tecnologia, a sustentabilidade e a reconfiguração das cadeias de abastecimento serão as principais áreas de enfoque.

A investigação da EY em abril de 2020 demonstra que os executivos que tomam decisões locais esperam que três megatendências influenciem os seus planos de investimento europeus:

  1. A aceleração da tecnologia para a redução de custos e o acesso dos clientes
  2. Um maior enfoque nas alterações climáticas e na sustentabilidade nas decisões de investimento
  3. Uma reconfiguração das cadeias de abastecimento, com uma nova combinação de reshoring, nearshoring e offshoring
O destino do IDE na Europa não será governado apenas por forças económicas. O próprio IDE pode também desencadear a recuperação económica e a transformação da Europa.
Marc Lhermitte
EY EMEIA Leader – Geostrategic Business Group and Global Leader International Location Advisory Services

O investimento em tecnologia deverá acelerar

Em poucas semanas, a COVID-19 alterou a relação dos consumidores e das empresas com as tecnologias e os meios digitais.

Mais de metade das empresas (55%) planeia melhorar o acesso digital dos seus clientes, tornar a comunicação entre empresas e consumidores online e apostar mais no comércio eletrónico a curto prazo.

Paralelamente, esperamos que as empresas acelerem o investimento em automação e robotização mais inteligente da produção e dos serviços transacionais, tais como as tecnologias de informação (TI), os recursos humanos e financeiros.

Antes da pandemia a digitalização era um “can”, agora é um “must”. As empresas reconhecem esta nova realidade, uma vez que 82% espera que a adoção da tecnologia aumente nos próximos três anos como resultado da COVID-19. 

Adoção de tecnologia

82%

dos líderes empresariais inquiridos esperam que a adoção de tecnologia acelere nos próximos três anos, em resultado da COVID-19.

A competitividade digital dos países, incluindo as infraestruturas, as competências e um ambiente dinâmico de empresas tecnológicas, há muito que determina a sua atratividade. Antes da COVID-19, as empresas classificavam a conquista da liderança mundial na revolução digital como a principal prioridade para que a Europa aumentasse a sua atratividade. Paralelamente, as empresas classificaram a disponibilidade de uma mão-de-obra com competências tecnológicas como o facto mais importante para determinar o investimento. 

A adoção acelerada da tecnologia fará da competitividade digital dos países um facto ainda mais importante nas decisões de investimento. Por conseguinte, os governos devem assegurar um acesso equitativo à Internet rápida e às infraestruturas de comunicações em zonas remotas. Tal contribuiria para melhorar a atratividade do IDE, para além das grandes cidades. 

A agenda renovada da sustentabilidade reformulará a forma como as decisões de investimento são tomadas.

A COVID-19 reforçou a apreciação e a procura da sustentabilidade por parte dos cidadãos e dos consumidores. Estes desfrutam dos benefícios de uma menor poluição atmosférica provocada pelo confinamento. O encerramento de todas as lojas, exceto as de primeira necessidade, forçou a frugalidade, que pode perdurar. E a consciência da desigualdade de rendimentos aumentou, especialmente em relação aos profissionais de saúde da linha da frente.

Por isso, as populações irão exigir cada vez mais que as empresas enfrentem os grandes desafios sociais, tais como as alterações climáticas e a desigualdade de rendimentos. Adicionalmente, os governos poderão impor regulamentações que incentivem as empresas a impulsionar esta mudança.

A maioria das empresas reconhece este facto: 57% preveem um enfoque renovado na sustentabilidade e nas alterações climáticas nos próximos três anos, devido à COVID-19.

Sustentabilidade

57%

dos líderes empresariais inquiridos preveem um enfoque renovado na sustentabilidade e nas alterações climáticas para os próximos três anos.

A recuperação económica após a crise da COVID-19 tem potencial para acelerar a transição para um futuro sustentável. E o impulso para a sustentabilidade também cria oportunidades industriais.
Doris Birkhofer
Chief Executive Officer, Siemens Smart Infrastructure France & Belgium

De que forma é que irá influenciar o IDE? As empresas que já têm a sustentabilidade no centro da sua agenda empresarial podem achar a Europa mais atrativa do ponto de vista do IDE se o clima empresarial, regulamentar e social do continente refletir as suas próprias aspirações.

Por outro lado, existe o risco da regulamentação excessiva e os impostos não competitivos implementados para reforçar a sustentabilidade poderem diminuir a atratividade da Europa. 

  • Ponto de vista EY: Descarbonizar agora - tomar o caminho ecológico para a recuperação

    Bernhard Lorentz, Managing Partner Markets - Germany, Switzerland & Austria, EY, and Head of EYCarbon

    Bernhard Lorentz

    EY Managing Partner Markets - Germany, Switzerland & Austria, and Head of EYCarbon

    Os governos lançaram, adequadamente, programas de estímulo em grande escala para mitigar os efeitos económicos e sociais da COVID-19. Contudo, existe o risco de esquecermos outra grande crise: as alterações climáticas. Existe um mérito significativo na abordagem de ambos, mas é necessária uma abordagem correta.

    Em dezembro do ano passado, antes do início da COVID-19, Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia, apresentou um plano que traçava futuro neutro em termos climáticos e apelou aos Estados-Membros da UE que apoiassem o Pacto Ecológico Europeu.

    O objetivo é transformar o bloco de uma economia com elevado teor de carbono numa economia descarbonizada. Propõe um conjunto de ações de grande alcance, incluindo o investimento em tecnologias sustentáveis e o apoio à inovação da indústria. Isto está em consonância com o acordo dos Chefes de Estado da UE de que a Europa deve tornar-se no primeiro continente neutro do ponto de vista climático. Até 2050, o mais tardar, as emissões de gases com efeito de estufa da Europa deverão ser nulas em termos líquidos.

    Para atingir este objetivo, o plano apela a uma redução das emissões de gases com efeito de estufa de, pelo menos 50%-55% até 2030 em relação aos níveis de 1990, o que representa um aumento em relação ao atual objetivo de redução de 40%.

    Se for bem executada, a Europa poderá tornar-se pioneira a nível mundial, ao estabelecer o seu próprio modelo económico e ao criar um forte estímulo à inovação. 

Reconfigurar as cadeias de abastecimento para a resiliência e a agilidade

O risco de futuras pandemias aumentou a tensão geopolítica e as alterações climáticas irão reforçar a necessidade de cadeias de abastecimento flexíveis. A forma como isto é implementado depende muito das necessidades das empresas individuais e dos setores em que operam, mas é provável que o IDE venha a desempenhar um papel importante.

Em vez de um movimento reshoring em massa, espera-se uma regionalização das cadeias de abastecimento por parte de 83% dos executivos inquiridos, com uma deslocação de certas unidades de produção e das suas cadeias de valor para mais perto das fronteiras da UE e de África. Ao mesmo tempo, será possível transferir algumas atividades essenciais, ao ajudar a criar uma rede de valor mais ágil e a reiniciar a produção, enquanto se atenua o risco de disrupções no futuro.

Para além das considerações de localização, 61% das empresas esperam reduzir a sua dependência de países de fonte única e dominante. 

Cadeia de Valor

61%

dos líderes empresariais inquiridos esperam reduzir a sua dependência em relação a países de fonte única.

A tecnologia também irá desempenhar aqui um papel importante. Quase 80% das empresas planeiam passar para uma produção otimizada ou complementar (por exemplo, a impressão 3D) para obter vantagens em termos de velocidade, custo, precisão e materiais.

A tecnologia poderá ter um papel adicional em manter as instalações industriais abertas, ao melhorar as condições de saúde e segurança: por exemplo, serão instaladas tecnologias para monitorizar a saúde dos trabalhadores, reduzir as relações interpessoais e melhorar a ventilação.

Aqueles que dispõem de uma cadeia de abastecimento resiliente viram uma enorme vantagem competitiva no recente período da COVID-19, e penso que esta situação se manterá a longo prazo.
Robert O’Sullivan
Vice President of Finance, Kellogg’s Europe
  • Ponto de vista: Juggling cost e resiliência - o imperativo da cadeia de abastecimento

    Robert O’Sullivan

    Vice President of Finance, Kellogg’s Europe

    Nos últimos anos, para além das pessoas e da segurança alimentar, que serão sempre a principal prioridade, empresas como a nossa têm olhado para as suas cadeias de abastecimento pelo lado do custo como um potenciador da expansão das margens. No pós-COVID-19, irá existir uma nova perspetiva em destaque: a resiliência. O desafio será encontrar o equilíbrio certo entre ambos. Aqueles que dispõem de uma cadeia de abastecimento resiliente viram uma enorme vantagem competitiva no recente período da COVID-19, e penso que esta situação se irá manter a longo prazo.

    Como podem as empresas garantir a resiliência da cadeia de abastecimento? As empresas do nosso setor irão analisar tudo, mas não espero quaisquer reações irrefletidas. Pode haver algumas deslocalizações e nearshoring mas, dado que o principal risco é a segurança do abastecimento, a prioridade imediata será mudar os KPIs (Key Performance Indicators) ao avaliar os fornecedores e fazer tudo o que for possível para melhorar a segurança. Isto pode significar, por exemplo, a dupla ou tripla fonte de abastecimento para garantir a segurança do abastecimento.

Homem a andar de bicicleta ao lado de escritórios modernos
(Chapter breaker)
4

Capítulo 4

De que forma é que a Europa pode atrair o investimento direto estrangeiro (IDE) necessário para a sua recuperação?

De que forma é que a Europa pode atrair o investimento direto estrangeiro (IDE) necessário para a sua recuperação?

Um número alarmante de executivos está pessimista quanto às perspetivas da Europa pós-COVID-19, com 49% a acreditar que a Europa está em risco de ser menos ou muito menos atrativa para o investimento. É evidente que todas as regiões serão provavelmente menos atrativas para o investimento estrangeiro, e não apenas a Europa. No entanto, a Europa deve agir de forma decisiva para manter a sua atratividade. Eis quatro vias para o conseguir.

Recomendação 1: Proteger a globalização, a começar na Europa

A COVID-19 acelerou as tendências antiglobalização existentes. Muitos governos nacionais, incluindo os da França e da Alemanha, tocaram na necessidade de desenvolver o abastecimento interno de certos produtos. Ao mesmo tempo, foram fortificadas as barreiras à aquisição de empresas-chave por parte de compradores estrangeiros.

Talvez refletindo este facto, 37% das empresas inquiridas estão a considerar aumentar a sua produção na Europa. Não é claro se esta tendência vai aumentar para incluir o investimento em múltiplos setores ou apenas em produtos essenciais, tais como equipamento médico. Além disso, os principais países, especialmente os EUA, continuam a repudiar importantes instituições e tratados internacionais. 

Manufatura

37%

dos líderes empresariais inquiridos estão a considerar aumentar a sua produção na Europa.

Neste contexto, a UE tem a oportunidade de agir como uma voz forte para a colaboração e coordenação internacionais, começando dentro das suas próprias fronteiras. Este espírito é necessário não só para criar resistência a futuros choques, mas também para criar um ambiente que atraia investimentos, crescimento e prosperidade futuros para todos.

A análise da EY demonstra que os projetos de investimento das empresas europeias noutro país europeu representaram mais de metade (52%) do IDE nos últimos cinco anos. Acreditamos que esta é a base para a recuperação da Europa. O restabelecimento da confiança entre os cidadãos europeus, consumidores, fabricantes e investidores financeiros deve ser a prioridade para relançar o motor europeu.

A Europa precisa agora de voltar a sua atenção para o apoio às empresas e ao investimento a longo prazo. Como ponto de partida, tem de rever a reforma fiscal.
Guillaume Alvarez
Senior Vice President, EMEA, Steelcase Inc., and Chairman of the European Executive Council
  • Ponto de vista: O roteiro da Europa para a competitividade futura

    Guillaume Alvarez, Senior Vice President, EMEA, Steelcase, and Chairman of the European Executive Council

    Guillaume Alvarez

    Senior Vice President, EMEA, Steelcase Inc., and Chairman of the European Executive Council

    Pode parecer paradoxal, mas a resposta da Europa à COVID-19 tem sido ótima, embora com algumas complicações. Por outro lado, tem havido uma falta de coordenação em toda a Europa, e a definição das regras nos diferentes países tem consumido muita energia.

    Pode existir uma colaboração direta nos bastidores a nível europeu, mas isso não tem sido óbvio para o público nem para as empresas, o que gera incerteza.

    A Europa, neste momento, precisa de voltar a sua atenção para o apoio às empresas e ao investimento a longo prazo. E como ponto de partida, tem de rever a reforma fiscal. Infelizmente, esperamos que haja uma tentação de aumentar os impostos, mas deve haver uma forma de mantermos o dinheiro em investimentos realmente produtivos.

    As leis laborais também são importantes. A COVID-19 terá como resultado a melhoria de funcionamento de alguns negócios em detrimento de outros, pelo que é necessária uma maior flexibilidade para reorientar os trabalhadores para indústrias em crescimento e para novos empregos.

    É igualmente necessário ter uma política ambiciosa para desenvolver um setor tecnológico na Europa.

    E depois existe o Brexit. Temos de ser pragmáticos e manter, tanto quanto possível, a livre circulação de bens e pessoas.

    Por último, é necessário um orçamento europeu que contribua para o grande choque que acabámos de atravessar e que preste especial atenção ao apoio da mobilidade e da sustentabilidade.

    Este é o caminho para a recuperação da Europa.

Recomendação 2: Investir em tecnologia, cuidados de saúde e indústrias ambientais

A importância dos setores europeus da tecnologia e da sustentabilidade no crescimento económico não se perde nos participantes no inquérito. Estes classificam a CleanTech em primeiro lugar em termos do seu potencial de crescimento económico em toda a Europa nos próximos anos. O setor da economia digital ocupa o segundo lugar e o setor dos cuidados de saúde e bem-estar o terceiro.

Mas não está garantido o investimento contínuo nos setores de utilização intensiva de tecnologia na Europa. O continente necessita de uma infraestrutura digital robusta, com uma conectividade rápida e fiável. Para proteger a saúde dos 500 milhões de cidadãos europeus, a UE necessitará igualmente de um plano para promover a investigação de tratamentos e vacinas e para trabalhar em conjunto com os Estados-Membros da UE de forma a reforçar os sistemas nacionais de saúde.

Para continuar a ser um destino prioritário para o talento, empreendedores e empresas globais, os países europeus devem adaptar os seus sistemas de educação e formação para dotar as pessoas das competências necessárias para o mercado de trabalho.

As empresas que criarem oportunidades internas de formação digital e desenvolvimento estarão mais bem posicionadas para atrair e reter talentos.
Caroline Jenner
Chief Operating Officer, JA Worldwide
  • Ponto de vista: Os professores devem abraçar o digital ou perder a relevância

    Caroline Jenner, Chief Operating Officer, JA Worldwide

    Caroline Jenner

    Chief Operating Officer, JA Worldwide

    O setor da educação estava a caminhar para o digital, mas a um ritmo modesto. A COVID-19 acelerou esta mudança para plataformas de aprendizagem online e o setor da educação conseguiu em dois meses o que, de outro modo, teria demorado dois anos. É claro que temos de ter cuidado para que a dependência tecnológica não reforce as desigualdades existentes.

    Quando a pandemia diminuir, não espero que os consumidores queiram voltar aos "velhos hábitos". Em vez disso, vão preferir uma aprendizagem que combine a interação digital e humana. Adicionalmente, os professores vão querer melhorar a forma como avaliam o progresso de um aluno. Isto significa que, aqueles que ensinam através de meios online, só irão prosperar se se concentrarem na qualidade, no impacto e na relevância no mundo real.

    Isto será impulsionado pelas gerações mais jovens, que são mais conhecedoras da tecnologia; já identificaram alternativas online ao ensino em sala de aula e estão a reequipar-se para se manterem relevantes no mercado de trabalho num mundo pós-COVID. Competências como o empreendedorismo, que são essenciais atualmente, devem ser integradas.

    E as empresas devem aprender com isto. As que estabelecem oportunidades internas de formação e desenvolvimento digital estarão mais bem posicionadas para atrair e reter talentos.

    No entanto, a formação é proporcionada, são necessárias parcerias significativas a longo prazo entre o governo, empresas, sociedade civil e comunidades locais para criar os sistemas de educação que irão satisfazer as necessidades dos jovens e das empresas futuras.

Recomendação 3: Financiar o "novo normal" com um equilíbrio cuidadoso entre o apoio público e a competitividade económica

Os Estados-Membros da UE e a própria UE disponibilizaram fundos significativos para ajudar as empresas a lidar com o impacto económico da COVID-19. Contudo, o financiamento é necessário não só para resistir à tempestade, mas também para a reconstrução após a mesma. Serão necessários investimentos em infraestruturas para rejuvenescer as economias regionais em crise; será necessário um financiamento inicial para alavancar novas empresas; e as multinacionais irão precisar de capital para financiar o seu crescimento.

Serão necessários investimentos em infraestruturas para rejuvenescer as economias regionais em crise; será necessário um financiamento inicial para alavancar novas empresas; e as multinacionais irão precisar de capital para financiar o seu crescimento. Por exemplo, há muito que a Europa olha com inveja para o ambiente vibrante do capital de risco dos EUA. Talvez agora seja o momento de criar as condições para que o capital de risco na Europa possa prosperar. Além disso, parte da dívida contraída pelas pequenas e médias empresas poderia ser transformada em capital próprio a longo prazo.

No que diz respeito às finanças públicas, os governos têm de encontrar um equilíbrio cuidadoso entre o aumento dos impostos para pagar a recuperação e o estímulo, e a garantia de que as empresas europeias são competitivas em relação aos seus concorrentes asiáticos e americanos. Por exemplo, o setor tecnológico foi identificado, pelo nosso inquérito feito a 500 executivos europeus, como sendo a prioridade para a atratividade da Europa. Este setor deve ser tributado de forma adequada, mas o excesso de custos ou de regulamentação pode dissuadir investimentos futuros. 

Recomendação 4: Preparar para a próxima crise

Depois da COVID-19, ser um destino de investimento atrativo significa ser resiliente e ágil. A Europa tem de garantir que está preparada para futuros impactos, quer se trate de outra pandemia, de um evento cibernético em massa ou de uma catástrofe ambiental.

A preparação deve ocorrer em várias frentes. Como ponto de partida, o poder analítico avançado do setor académico e empresarial europeu deve ser utilizado e aumentado para prever, acompanhar e mitigar mais eficazmente as crises futuras.

  • Ponto de vista EY: Ação governamental decisiva

    Alessandro Cenderello, EY Managing Partner for EU Institutions

    Alessandro Cenderello

    EY Managing Partner for EU Institutions

    Existem queixas frequentes sobre o excesso de regulamentação e intervenção governamental no mercado na Europa. Mas quando uma crise como esta nos atinge, apercebemo-nos da importância das instituições resilientes.

    A UE aprendeu as lições da crise financeira de 2008-2012, e agora as nossas instituições estão mais preparadas. Com a Europa numa encruzilhada, como é que esta pode atrair o IDE fundamental para a sua recuperação?

    Com a Europa numa encruzilhada, como é que esta pode atrair o IDE fundamental para a sua recuperação?

    A Europa também está a impulsionar esforços globais para responder à COVID-19. A iniciativa global da Comissão Europeia de angariar 7,5 mil milhões de euros para desenvolver uma vacina e tratamentos é um bom exemplo de como está a envolver as organizações de todo o mundo.

    Será que a intervenção governamental reforçada irá continuar? Deveria e irá continuar. Já estão a ocorrer algumas nacionalizações em toda a Europa, pelo que os governos estarão mais empenhados nas empresas e na economia após a COVID-19.

    Mas a questão mais importante é saber como é que os governos irão garantir a resiliência a longo prazo. A melhoria da resiliência não só irá proteger as empresas e as pessoas, como também irá tornar a Europa mais competitiva e atrativa para os investidores estrangeiros, o que será necessário para acelerar a recuperação.

As principais instituições da UE devem também assegurar que estão adequadamente preparadas. Muitas das instituições que unem a Europa enfrentam fortes críticas pela sua resposta à COVID-19. Embora as organizações tenham de retirar lições vitais, há que resistir aos apelos para dissolver ou desmantelar estas instituições. O IDE na Europa só prosperará com ações e iniciativas coletivas lideradas por instituições europeias coesas.

Por último, a pandemia pôs em evidência a vulnerabilidade económica de certos segmentos da sociedade e demonstrou que a vulnerabilidade de alguns aumenta a vulnerabilidade de todos. As empresas e os governos devem proteger não só os setores, mas também as pessoas mais vulneráveis, incluindo os trabalhadores em part-time, independentes e freelancers.

Não podemos esquecer que as pessoas podem perder o incentivo para adquirir as competências, se tudo o que virem no futuro for uma economia precária de trabalhadores na “<em>gig economy</em>”.
Sandeep Mishra
EY EMEIA Markets, Business Development Director
A melhoria da resiliência não só irá proteger as empresas e as pessoas, como também irá tornar a Europa mais competitiva e atrativa para os investidores estrangeiros, o que será necessário para acelerar a recuperação.
Alessandro Cenderello
EY Managing Partner for EU Institutions
  • Metodologia

    Para ter em conta a incerteza dos acontecimentos do primeiro semestre de 2020, a EY melhorou a sua metodologia para o programa Attractiveness de modo a incluir uma abordagem em três vertentes:

    1. A "verdadeira atratividade" da Europa para os investidores estrangeiros

    A nossa avaliação da realidade do IDE na Europa é baseada na EY European Investment Monitor (EIM), uma base de dados exclusiva da EY, produzida em colaboração com a OCO. Esta base de dados monitoriza os projetos de IDE que resultaram na criação de novas instalações e novos empregos. Ao excluir o portfólio de investimentos e as fusões e aquisições (M&A), mostra a realidade do investimento na indústria transformadora e nos serviços por empresas estrangeiras em todo o continente.

    Um investimento numa empresa é normalmente incluído nos dados de IDE se o investidor estrangeiro adquirir mais de 10% do capital da empresa. O IDE inclui o capital próprio, os lucros reinvestidos e os empréstimos sob a forma de mútuo.

    2. A perceção da atratividade da Europa e dos seus concorrentes por parte dos investidores estrangeiros

    Definimos a atratividade de um local como uma combinação de imagem, confiança dos investidores e perceção da capacidade de um país ou área para proporcionar os benefícios mais competitivos para o IDE. A investigação foi conduzida pelo CSA Institute, em janeiro e fevereiro de 2020, através de entrevistas telefónicas, com base num painel composto por 504 decisores internacionais.

    Foi realizado um segundo inquérito de perceção entre 15 e 29 de abril de 2020 para refletir as mudanças de perceção dos decisores devido à crise da COVID-19. Este inquérito online foi conduzido pela Euromoney, com base num painel composto por 113 decisores internacionais.

    3. Avaliar o impacto da COVID-19 no IDE na Europa

    Para estimar a parte do IDE declarado em 2019 que permaneceria garantida em 2020, apesar da crise da COVID-19, a EY combinou dados provenientes de três fontes:

    • Um exercício de modelização, para avaliar a vulnerabilidade do IDE
    • O inquérito Euromoney, baseado em 113 decisores internacionais
    • Webinars com 30 agências europeias de promoção do investimento, para recolha de dados locais

    Para conhecer a metodologia utilizada no programa Attractiveness da EY, faça download do EY Europe 2020 Attractiveness Survey (pdf).

Resumo

A Europa deve tomar medidas decisivas para impulsionar a recuperação económica na era pós COVID-19. Para se manterem atrativos neste novo ambiente empresarial, os Estados-Membros da UE devem concentrar-se no investimento intraeuropeu e criar mercados mais ágeis e resilientes.

Sobre este artigo

Autores
Julie Linn Teigland

EY EMEIA Area Managing Partner and EY Global Leader – Women. Fast forward

Passionate about the transformational power of digitalization and innovation and its potential to deliver sustainable, inclusive growth for clients. Prominent voice of the Women20 global agenda.

Marc Lhermitte

EY EMEIA Geostrategic Business Group Lead

Fascinated by the complex interactions between companies, people and the geographies they live in.

Hanne Jesca Bax

EY EMEIA Markets & Accounts Leader

Experienced leader blending different cultures, generations, mindsets and genders.