Como é que a incerteza está a redefinir o futuro do investimento na Europa?

Autores
Julie Linn Teigland

EY EMEIA Area Managing Partner and EY Global Leader – Women. Fast forward

Passionate about the transformational power of digitalization and innovation and its potential to deliver sustainable, inclusive growth for clients. Prominent voice of the Women20 global agenda.

Hanne Jesca Bax

EY EMEIA Markets & Accounts Leader

Experienced leader blending different cultures, generations, mindsets and genders.

Marc Lhermitte

EY EMEIA Geostrategic Business Group Lead

Fascinated by the complex interactions between companies, people and the geographies they live in.

6 minutos de leitura 24 nov 2020
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Na sequência do EY's 2020 Europe Attractiveness survey, foi avaliada a perceção dos executivos em relação às perspetivas de evolução da Europa pós-COVID-19.

Sumário Executivo
  • Os investidores parecem mais otimistas quanto à atratividade da Europa, como destino de investimento nos próximos três anos, em comparação com os dados obtidos em abril.
  • 50% dos executivos participantes esperam variações instáveis nos próximos três anos, enquanto que os outros 50% prevê um regresso ao "business as usual".
  • Para que a economia europeia regresse aos níveis pré-COVID-19, é necessário reforçar a confiança dos consumidores, aumentar o acesso a capital e renuir as condições necessárias para a aceleração digital.

De acordo com a Comissão Europeia, 45% do produto interno bruto (PIB) da UE depende do investimento estrangeiro. Em toda a Europa, 30%-50% da investigação e desenvolvimento empresarial resulta de investimento europeu. Neste sentido, é fundamental compreender o que impulsiona o investimento das multinacionais e as suas escolhas de localização.

A EY publicou o seu 19º survey anual sobre a Atratividade da Europa há seis meses, revelando que 9 em cada 10 executivos esperavam reduzir ou adiar os planos de investimento em 2020. As empresas estavam também a considerar ajustes significativos nas suas cadeias de abastecimento, nas prioridades de investigação e, nos setores mais afetados, a sua presença contínua na Europa.

Seis meses depois, estamos novamente a avaliar a perceção dos executivos sobre as perspetivas a longo prazo da Europa num mundo pós-COVID-19. Estarão as empresas a centralizar ou a descentralizar as suas operações da Europa de forma a assegurar cadeias de abastecimento mais sustentáveis? A inovação e os planos ambientais estão a abrandar ou a acelerar? Quais as megatendências e os fatores operacionais que poderiam influenciar as suas decisões de investimento na Europa?

Atualmente, os investidores estrangeiros estão mais otimistas em relação à Europa do que estavam há seis meses atrás

Em outubro, foram entrevistados 109 executivos a nível global de 14 setores de atividade, de onde se retiram seis conclusões principais:

  1. O investimento estrangeiro irá diminuir naturalmente em 2020 e 2021, dada a dificuldade em avaliar e realizar projetos perante a volatilidade dos mercados e a complexidade das condições quotidianas.
  2. Os investidores parecem mais otimistas quanto à atratividade da Europa nos próximos três anos, do que estavam em abril.
  3. Os executivos também estão divididos entre aqueles que esperam oscilações voláteis durante os próximos três anos e aqueles que preveem um regresso ao "business as usual".
  4. No entanto, uma recuperação europeia completa irá exigir melhorias significativas na procura dos consumidores, na liquidez e na digitalização.
  5. As multinacionais têm menos facilidade em iniciar ajustes rápidos e em massa nas cadeias de abastecimento para reduzir a dependência de um único país de origem.
  6. À medida que as multinacionais se preparam para uma Europa pós- COVID-19, estão cada vez mais a construir iniciativas de sustentabilidade e de responsabilidade social, ao mesmo tempo que criam tecnologias que permitem uma melhor interação com os consumidores.

Observamos uma grande mudança no investimento estrangeiro, à medida que as cadeias de abastecimento globais são redesenhadas, impactando as decisões futuras de investimento.

1. Em 2020, os novos fluxos de investimento estrangeiro vão mudar, à medida que as empresas redefinem as prioridades das cadeias de abastecimento, racionalizam os custos e apostam na sustentabilidade

A incerteza económica causada pelo surto da COVID-19 significa que as empresas estão a reconsiderar se a produção, investigação e serviços de apoio continuam a ser financeiramente viáveis. 

Em outubro, menos executivos internacionais esperavam uma diminuição dos valores do que em abril de 2020 (42% vs. 66%). Simultaneamente, é agora provável que existam mais empresas a adiar os seus planos de investimento para 2020, do que em abril (31% vs. 23%). Numa nota um pouco mais positiva, um maior número de executivos vê o investimento aumentar em 2020 (10% vs. 0% em abril) ou a manter-se estável (17% vs. 11%).

Embora seja ainda necessário determinar o impacto total da pandemia na economia europeia, espera-se uma queda significativa no investimento estrangeiro (após um recorde de 6.412 projetos em 2019), com a possibilidade de impactar num grande número de postos de trabalho em todo o continente.

2. As perspetivas na Europa estão a melhorar, mas os pacotes de estímulos são insuficientes para uma recuperação total

Os nossos dados indicam que o triplo dos investidores acredita que a Europa será um destino de investimento mais favorável no pós-COVID-19 (de 8% em abril para 21% em outubro). Constatamos que, após um arranque lento, a Comissão Europeia é vista como um pilar de estabilidade numa economia global volátil, na sequência da aprovação e implementação dos planos de recuperação.

Existe uma forte ligação entre os países que adotam planos de recuperação credíveis e favoráveis ao investimento, e os países considerados atrativos para os investidores. A Alemanha, a França e o Reino Unido estão classificados como os três países com os planos mais credíveis e, por isso, mais atrativos. Enquanto os países adotam abordagens diferentes para gerir a pandemia, equilibrando a necessidade de salvar os sistemas de saúde com os requisitos de recuperação económica, os esforços coletivos europeus podem revelar-se mais eficazes do que as estratégias nacionais individuais para atrair o investimento estrangeiro.

3. As multinacionais parecem estar menos dispostas a implementar grandes mudanças nas suas cadeias de abastecimento

Em abril, apenas 2% dos executivos não planeavam quaisquer alterações às suas cadeias de abastecimento. Em outubro, assistimos a um aumento acentuado para um terço. Refletindo esta alteração de opinião, um número significativamente menor de empresas está a considerar o reshoring ou o nearshoring (37% de 83% em abril). A vontade de deslocalizar a produção dos países de origem (anteriormente 61%) diminuiu 24 pontos percentuais desde abril. 

Muitas empresas prefeririam evitar, neste momento, reorganizações disruptivas e dispendiosas. A Ásia está a mostrar sinais de recuperação precoces, e as multinacionais vão lá manter a sua presença por agora. Mesmo assim, algumas poderão transferir atividades críticas para a Europa, mitigando futuros riscos de disrupção. Tal levará tempo e precisará de incentivos antes de impulsionar investimentos em massa na Europa.

4. Para tomar as decisões de investimento, os executivos citam as prioridades imediatas de "back-to-business” 

Curiosamente, muito menos investidores estrangeiros acham que os planos de estímulo nacionais serão, por si só, um fator importante na formulação das suas decisões futuras. Esta opinião está em clara oposição à do survey anterior (32% em outubro contra 80% em abril).

Atualmente, os investidores estão preocupados em garantir que a segurança no local de trabalho seja, antes de mais, garantida; este é particularmente o caso dos setores onde os trabalhadores são mais vulneráveis. 

Existe uma atração por países que têm tanto a escala como a força do mercado de capitais para garantir novas oportunidades de investimento. Esta realidade é comprovada pelo facto das três maiores economias europeias (Alemanha, França e Reino Unido) serem os destinos de investimento mais procurados.

5. Existe uma visão mais ponderada em relação ao impacto a médio e longo prazo da COVID-19 no cenário empresarial

Olhando para os próximos 36 meses, existem menos empresas que preveem oscilações voláteis do que durante o surto inicial da pandemia (de 55% para 41%).

E existem muito mais empresas com a esperança de que os negócios, como de costume, sejam retomados quando as economias reiniciarem (quase duplicando de 24% para 41% em seis meses, de abril a outubro).

Existe também uma visão ligeiramente menos pessimista dos inquiridos que esperam uma mudança profunda e negativa no panorama empresarial global (de 21% para 17%). 

Este sentimento mais otimista está de acordo com as últimas previsões de crescimento do Fundo Monetário Internacional para 2020, revistas de -8,5% em junho para -7,0%, pelo menos parcialmente impulsionado por um crescimento asiático mais forte (liderado pela China) e por um maior otimismo sobre as perspetivas de crescimento quando as economias saírem dos períodos de confinamento. 

6. Os investidores são coerentes em relação às grandes tendências um mundo pós-COVID-19 

Os dados de outubro continuam alinhados com as opiniões anteriores relativas às iniciativas-chave: potenciar as plataformas digitais para melhorar a experiência do cliente (63%) bem como a sustentabilidade e as alterações climáticas (60%). 

As agendas de sustentabilidade irão dar primazia às necessidades sociais (61%), em conformidade com o impacto social da queda dos níveis de emprego e do aumento da vulnerabilidade na sociedade à medida que as necessidades de bem-estar aumentam. Ao abordar esta questão, os executivos veem uma maior necessidade de intervenção do governo nas suas economias para responder a estas necessidades (43% vs. 25% em abril).

Apesar de a “desglobalização” ser agora considerada menos importante (de 56% para 37%), os executivos referem um grande aumento dos conflitos geopolíticos (sete vezes mais, de 3% para 21%). Esta situação, é sem dúvida, fomentada pelo Brexit, pelo clima político dos EUA, e pela dimensão das tensões regionais entre a Europa e a China e no Mediterrâneo Oriental.

Resumidamente, existe ainda muita incerteza em toda a economia global, à medida que um novo surto de casos de COVID-19 atinge a Europa. Apesar dos últimos resultados do survey se afigurem mais otimistas do que em abril, os acontecimentos atuais podem ainda ver esse otimismo a desvanecer-se. Tendo acabado por sobreviver a uma extensa desaceleração global nos últimos seis meses, as empresas podem ter de acelerar a sua transformação à medida que procuram evoluir num mundo pós-COVID-19.

Este survey foi realizada entre 15 e 30 de outubro de 2020 para refletir as mudanças de perceção dos executivos a nível global devido à crise da COVID-19 seis meses após o nosso último survey sobre a atratividade da Europa, publicado em maio de 2020. Este survey online foi realizado pela Euromoney, e contou com a participação de um painel representativo de 109 decisores internacionais em 14 setores de atividades.

Resumo

No seguimento do EY 2020 Europe Attractiveness Survey, a EY realizou um "pulse survey" em outubro de 2020 para atualizar a perceção dos executivos relativamente às perspetivas a longo prazo da Europa num mundo pós-COVID-19.

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