
Capítulo 1
Porque são as plataformas essenciais para a criação de valor
As plataformas ajudam as empresas de ciências da vida a ligar fontes de dados aos seus dados científicos e clínicos mais críticos, com segurança e rapidez.
Estamos a entrar numa Quarta Revolução Industrial, onde os rápidos avanços tecnológicos tornaram possível gerar e disseminar dados a níveis sem precedentes. À medida que as novas tecnologias capacitam o indivíduo a ver e partilhar os seus dados de saúde, aumenta a sua própria vontade de influenciar o seu percurso de vida nesta área da saúde, e a querer novos produtos e serviços de saúde.
Sensíveis a esta oportunidade, os novos players tecnológicos e de serviços de saúde digitais estão a movimentar-se para responder às necessidades dos consumidores. A explosão de soluções para doenças e situações de saúde muito específicas está lentamente a ser agregada em sistemas integrados, que criam ofertas mais personalizadas e com maiores níveis de compromisso e maior proximidade ao cliente. Neste mundo em rápida convergência, as empresas de ciências da vida devem estudar formas de adaptar os seus modelos de negócios atuais para criar valor futuro.
Criar valor futuro
A inovação continuará a ser uma componente central na capacitação das empresas de ciências da vida para criarem valor futuro. Mas, cada vez mais, essa inovação será valorizada pela sua capacidade de satisfazer as exigências dos diferentes clientes das empresas de ciências da vida – entidades pagadoras, prestadores de cuidados, decisores políticos e consumidores.
Para isso, as empresas terão de enquadrar a sua inovação em termos de resultados, custos comportáveis e personalização. Esta definição mais ampla de inovação significa que os produtos já não são o principal driver de valor. Em vez disso, a inovação será alimentada por um fluxo de dados cada vez mais diverso, que reside fora dos limites do ecossistema de saúde tradicional e dos registos clínicos eletrónicos.
Criar plataformas ágeis e centradas nos dados
Para ter sucesso neste novo ambiente, as empresas de ciências da vida precisam de encontrar novas formas de explorar com segurança e rapidez diferentes fontes de dados para combiná-las e ligá-las com os seus dados científicos e clínicos mais críticos. As plataformas, interfaces que promovem a troca de informações entre os novos e os atuais stakeholders, são uma forma de o fazer.
Na saúde, o potencial das plataformas está a afirmar-se a dois níveis distintos. Para se aproximarem dos consumidores, empresas que desenvolvem aplicações de diferentes tipos, produtos ou ferramentas vão unir esforços e criar plataformas de cuidados que respondam a necessidades específicas na área da saúde. Acima dessas plataformas individuais de cuidados, tecnologia global, inteligência artificial e análise de dados, as empresas vão combinar competências para se tornarem “supra-plataformas” agregadoras, ajudando a escalar os conhecimentos adquiridos ao nível das plataformas de cuidados para diferentes áreas terapêuticas.

Aproveitar a oportunidade da tecnologia da saúde
Embora as empresas de ciências da vida, por enquanto, façam apenas a gestão de uma pequena quantidade de dados ligados a resultados de saúde, os dados que possuem são incrivelmente ricos. Se as empresas de ciências da vida combinarem esses dados clínicos com insights ambientais, comportamentais e financeiros, podem posicionar-se como um dos atores mais relevantes no controlo de dados com potencial para criar valor futuro e, num ecossistema mais abrangente, fortalecer a sua posição entre os principais fornecedores de tecnologia de saúde.


Capítulo 2
Como podem as plataformas ajudar as ciências da vida a capturar valor futuro
As plataformas permitem que as empresas de ciências da vida respondam às novas exigências dos clientes.
As start-ups de saúde digital e os incumbentes tecnológicos estão a utilizar o seu conhecimento em engenharia e gestão de dados para criar novos produtos e serviços que satisfaçam as exigências dos consumidores, médicos e entidades pagadoras. Uma análise da EY às patentes de saúde nos EUA submetidas pelos principais players tecnológicos, mostra os investimentos que os gigantes da tecnologia estão a fazer no setor de saúde.

As empresas de ciências da vida têm respondido a essa possível disrupção com os seus próprios programas exploratórios, usando IA e outras ferramentas digitais para melhorar ou otimizar ensaios clínicos, descobrir medicamentos e interagir com entidades pagadoras e médicos.
Esses esforços são importantes. Uma análise feita pela EY mostra que, mesmo os grandes avanços clínicos enfrentam a perspetiva de baixo retorno, já que as entidades pagadoras, conscientes dos custos, exigem provas do seu valor real. No entanto, à medida que as empresas de ciências da vida expandem os seus esforços digitais, os investimentos são muitas vezes feitos de forma isolada entre si. Como resultado, as empresas correm o risco investir abaixo do necessário em tecnologias com potencial para transformar os seus modelos de negócio e gerar retornos significativos no futuro.

Repensar o modelo de negócio
As empresas de ciências da vida tradicionalmente adotam um dos quatro modelos de negócios a seguir:
As plataformas têm um papel importante a desempenhar em cada um destes modelos de negócio, permitindo às empresas responder às exigências em contínua mudança dos seus diferentes clientes. Estas plataformas criam um ciclo de feedback positivo, que incentiva a participação contínua dos clientes e ajuda a diferenciar produtos e serviços num mercado com muitos intervenientes.
Novas capacidades
Ter sucesso no mundo das plataformas emergentes requer novas capacidades em três áreas distintas:
Não é difícil imaginar os ganhos que as empresas poderiam obter com a criação ou a participação em plataformas que consigam atingir escala numa determinada área na saúde. Algumas empresas de ciências da vida podem optar por desenvolver e manter as suas próprias plataformas, enquanto outras encontrarão maneiras de usar plataformas digitais desenvolvidas por outras empresas.


Capítulo 3
Como podem as empresas participar em novas plataformas de cuidados
As colaborações para criar plataformas devem abranger entidades públicas e privadas, bem como organizações de cuidados de saúde, produtos de consumo, tecnologias e ciências da vida.
Plataformas de cuidados de bem-estar, ligadas ao desenvolvimento de soluções de fitness e nutrição, já existem e começamos hoje a ver o surgimento de plataformas para gerir doenças crónicas, como a diabetes e a asma. Fora destas áreas, tem havido uma proliferação de tecnologias interessantes, mas confusas, que não se integram entre si. Quando as plataformas começarem a atingir a escala necessária para transformar os serviços de saúde, veremos uma mudança significativa na sua capacidade de gerar valor.
Lançando os alicerces
Pelo menos numa fase inicial, vão surgir várias plataformas de cuidados com os mesmos fins ou visando as mesmas doenças. A prazo, as plataformas líderes em categorias de doenças específicas e especialidades clínicas acabarão por afirmar-se, à medida que os utilizadores forem escolhendo aquelas que conseguem entregar maior valor. À medida que as organizações criam dados e capacidades analíticas, as “supra-plataformas” agregadoras vão ligar essa informação - gerada a partir das plataformas específicas de diferentes doenças - e ajudar doentes e sistemas de saúde a alcançar objetivos de saúde maiores.
Múltiplos stakeholders,através de múltiplas indústrias, vão contribuir com recursos para o desenvolvimento de plataformas funcionais de cuidados de saúde. A colaboração deve abranger entidades públicas e privadas e incluir organizações de cuidados de saúde, produtos de consumo, tecnologias e ciências da vida.
Criar as plataformas de cuidados do futuro
Para melhor entender onde as empresas estão a fazer parcerias visando criarem capacidade ou aceder a recursos, a EY entrevistou mais de 25 líderes na área das ciências da vida e analisou mais de 150 parcerias com foco no digital, anunciadas entre as empresas de ciências da vida e outras entidades, desde 2014.
Como não existia uma base de dados única e com informação pública sobre parcerias de natureza digital, a EY criou a sua própria base de dados de negócios digitais (pdf), pesquisando informação em relatórios de empresas, comunicados de imprensa e relatórios de analistas sobre parcerias relevantes. O nosso estudo revela que uma teia intrincada de relações entre empresas de biofarma, medtechs, start-ups de saúde digital e outras empresas tecnológicas começam a afirmar-se.
A EY também analisou o crescimento destas parcerias ao longo do tempo, as áreas terapêuticas de maior interesse e os objetivos dos vários acordos. Das quase 90 parcerias com foco claro numa área terapêutica, 50% envolvem plataformas nas áreas de diabetes ou de doenças respiratórias e 14% a criação de produtos ou serviços na área de oncologia.
A importância de ser agnóstico em relação a marcas
Aqueles que hoje desenvolvem produtos nesta área e estão interessados em acelerar o desenvolvimento de plataformas centradas no cliente vão consolidar competências em doenças específicas para aprofundar conhecimento e estender o alcance das suas ofertas no mercado. À medida que unirem esforços com inovadores, entidades pagadoras e médicos para desenvolver soluções mais integradas, a ênfase mudará para a criação de plataformas de cuidados de saúde mais holísticas, capazes de gerir condições de doença complicadas através de cuidados prestados de forma contínua.
Para terem mais sucesso, estas plataformas holísticas não devem ser desenhadas com a prioridade de impulsionar as vendas de certos tratamentos ou dispositivos. Razões regulatórias, éticas e práticas devem conduzir as empresas de ciências da vida para a preferência por plataformas agnósticas em relação a marcas, que integrem preocupações mais abrangentes, relacionadas com a experiência diária do cliente com a sua doença.
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Capítulo 4
Como vão as plataformas acelerar os cuidados de saúde baseados em valor
As plataformas podem ajudar a melhorar a qualidade da prestação de cuidados de saúde e a baixar o seu custo total.
As plataformas robustas de cuidados não vão tornar-se realidade, a menos que as empresas de ciências da vida também façam parcerias com entidades pagadoras, fornecedores e consumidores, criando uma visão partilhada de valor futuro, que esteja ligada a resultados de saúde.

À medida que as plataformas de cuidados se tornam um elemento mais importante para capturar este valor futuro, as empresas de ciências da vida podem aprofundar as relações que já mantêm graças aos dados. Podem ajudar outros stakeholders a atingir metas de criação de valor na prestação de cuidados de saúde, relacionadas com aspetos como a qualidade, redução do custo total dos cuidados e, mais importante, com a melhoria da saúde geral a longo prazo.

Futuros modelos
As plataformas podem ajudar a acelerar modelos alternativos de pagamento, que alarguem a partilha de risco entre entidades pagadoras, médicos e consumidores. As empresas de ciências da vida devem estar cientes de três modelos diferentes com uma importância crescente:
Baseado em assinaturas: Os modelos de subscrição permitem que os consumidores paguem por cuidados mais personalizados faseadamente, tornando o serviço mais acessível. Para os médicos, os modelos de subscrição permitem-lhes passar mais tempo com os indivíduos com necessidades médicas mais complicadas. As empresas de ciências da vida, entretanto, ganham novas oportunidades para desenvolver serviços que melhorem a adesão aos medicamentos ou que permitam incutir mudanças comportamentais duradouras.
Baseado na população: Os modelos baseados na população pagam a um médico ou grupo de médicos uma quantia fixa por cada indivíduo inscrito, que lhes é atribuído durante um período definido. A ideia é criar incentivos que padronizem os protocolos de tratamento, de modo a alcançar o melhor custo-benefício para o maior número de pessoas. A maioria dos produtos biofarmacêuticos ou de medtech não estão incluídos nos modelos de pagamento baseados na população, pela complexidade associada à definição do que deveria ou não ser incluído, mas vale a pena olhar para os exemplos em áreas como a diabetes ou as doenças renais em fase terminal.
Pay-as-you-live (pagamento em função da forma como se vive): Uma tendência recente no mercado de seguros é o aumento dos modelos de "pay-as-you-live" (PAYL) que premeiam os clientes que adotam comportamentos saudáveis. Em troca da cedência de dados à seguradora, via wearables ou smartphones, os consumidores têm acesso a prémios mais baixos e soluções personalizadas, para alterar comportamentos e reduzir o risco de doenças crónicas. Embora a maioria dos modelos PAYL atuais estejam ligados ao bem-estar, podem ser adaptados ao tratamento de doenças e envolver, não apenas seguradoras, mas também empresas de ciências da vida.

Capítulo 5
Como podem as empresas transformar os seus modelos de negócio para entrar nas Ciências da Vida 4.0
As empresas das ciências da vida devem diversificar investimentos em competências e propriedade intelectual, alinhadas com os seus modelos de negócio.
Em todos os setores, a convergência acelerou o crescimento das empresas listadas no ranking Fortune 500. Com base nas previsões da EY, entre 47% e 81% das empresas listadas na Fortune 500, até 2023, podem ser novas. As implicações para as 18 empresas das ciências da vida que integram o ranking Fortune 500 são significativas: apenas quatro têm hipótese de ainda lá continuar em 2023.
Embora muitos líderes de empresas do setor das ciências da vida questionem o retorno do investimento associado às plataformas, estas interfaces são uma forma de tirar partido da disrupção em momentos de forte transformação. Pelo seu conhecimento científico e clínico, as empresas de ciências da vida podem desempenhar um papel de liderança na construção de plataformas de cuidados de saúde robustas e com interfaces orientados para a evidência de que podem melhorar exponencialmente os resultados em saúde.

Criar valor na era da convergência
A quota de mercado que cada empresa conseguirá alcançar, quando se adapta para responder à evolução das exigências dos clientes, dependerá dos modelos de negócio que escolher: Inovação revolucionária, Gestor de doenças, Produtor eficiente, Gestor de estilos de vida. Para serem bem-sucedidas, as empresas devem diversificar investimentos em competências e propriedade intelectual, alinhadas com os seus modelos de negócio. As empresas que decidam alterar modelos de negócio, devem ter noção do investimento em tempo, dinheiro e talento que será necessário.

Preparar o negócio para o futuro
A convergência criará novos modelos de negócio e novas oportunidades para que as empresas de ciências da vida captem valor. De facto, os quatro modelos tradicionais podem mudar, fundir-se ou desaparecer completamente em consequência do aumento das expetativas dos clientes e das mudanças tecnológicas. No futuro, as empresas de ciências da vida serão mais capazes de usar dados para entender cenários de mudança no seu mercado e prever os impactos diretos de mudanças nas necessidades dos clientes, na sua capacidade de criar valor futuro.
As empresas de ciências da vida têm uma janela de oportunidade limitada para abraçar e participar no desenvolvimento de plataformas de cuidados. Ao fazê-lo, não ganham só acesso direto aos clientes, ganham confiança. Vão trabalhar ao lado de entidades pagadoras e médicos para melhorar a experiência de cuidados de saúde e consolidar a sua posição de colaboração no ecossistema geral de saúde.
Ouça o resumo em audiobook do estudo Life Sciences 4.0: Proteger valor através de plataformas orientadas para os dados
Também pode ouvir:
- iTunes (para utilizadores iOS)
- Google Play Music (para utilizadores de Android / apenas EUA e Canadá)
- Spotify (para utilizadores iOS e Android / acessível através via móvel e tablets)
Resumo
A ascensão de modelos baseados em plataformas deixa duas opções às empresas de ciências da vida: envolver-se ou ficar para trás.