2 minutos de leitura 18 dez 2020
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Desafios da transição climática - qualificações e emprego

por Manuel Mota

Partner, Climate Change & Sustainability Services Leader, Ernst & Young Audit & Associados – SROC, S.A.

Casado e pai de quatro crianças. Adora velejar.

2 minutos de leitura 18 dez 2020

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Os desafios que o país enfrenta para garantir que possui os recursos humanos necessários para suportar a transição para uma economia neutra em carbono até 2050 são de grande dimensão e exigem um investimento substancial.

A pandemia instituída pela COVID-19 desviou a Europa da sua rota transformadora para uma sociedade moderna e próspera, eficiente no uso de recursos e baixa em carbono, estabelecida pelo Pacto Ecológico Europeu. É agora preciso continuar a dar a resposta necessária à crise pandémica, mas também à crise económica e social que daí resultou, de uma forma coesa, sustentável e inclusiva, retomando uma trajetória de crescimento sustentado.

O Plano Preliminar de Recuperação e Resiliência (PRR) está organizado em nove roteiros para a retoma do crescimento sustentável e inclusivo, entre os quais se encontra o potencial produtivo e emprego, sob o pilar da resiliência. Contudo, a relevância deste tema não se encerra na resiliência social e económica, sendo também uma temática crucial para a transição climática.

Os desafios que o país enfrenta para garantir que possui os recursos humanos necessários para suportar a transição para uma economia neutra em carbono até 2050 são, em primeira instância, relativos aos empregos já existentes nos setores em transição.

O setor da energia é aquele que enfrenta maiores transformações, pois necessita de abandonar não só os recursos fósseis, mas também a maioria dos processos e infraestruturas associados a este modo de produção de energia. A transição para energias renováveis como a solar, a eólica e o hidrogénio requer a requalificação dos trabalhadores de todo o ecossistema deste setor, garantindo que ninguém fica para trás.

No âmbito da indústria destaca-se a necessidade do trabalho especializado e qualificado para suportar a transição para tecnologias mais eficientes e desenvolvimento de modos de produção inovadores. O PRR identifica os setores têxtil e vestuário, calçado e da resina como setores estratégicos para a descarbonização e bioeconomia. Mas de fora não devem ficar as indústrias petroquímicas e do cimento que, em conjunto com a produção de energia, constituem as atividades com maiores emissões de carbono em Portugal.

É preciso capacitar o setor da construção para fazer face ao problema urgente da reabilitação de edifícios, melhorando a sua eficiência energética e, consequentemente, combatendo a pobreza energética mas também, investir na inovação tecnológica e no emprego científico que suporta o desenvolvimento de materiais e técnicas de construção inovadoras que melhoram não só a performance energética dos edifícios, mas também a performance ambiental, através de materiais de origem biológica que atuam como reservatórios de carbono e produzem menos resíduos.

É preciso investir na renovação e qualificação do emprego no setor primário. A agricultura, a floresta e a aquacultura (produção de algas) representam atividades importantes para a neutralidade carbónica pelo seu potencial de captura de carbono. A restruturação e qualificação do emprego neste setor potencia a criação de soluções para o combate às alterações climáticas, cujo desenho inovador pode ainda beneficiar outros aspetos ambientais como a proteção e promoção da biodiversidade.

Além dos empregos em transição, existem também oportunidades e desafios nos novos empregos verdes. O setor terciário, que representa 69.8% da população portuguesa empregada, pela sua aparentemente reduzida utilização de recursos e emissões de carbono, fica frequentemente fora do âmbito da transição energética. É por isso importante dotar este setor de profissionais altamente qualificados, com capacidade de compreender e abordar a complexidade das próprias organizações, do seu funcionamento e das suas interligações com os sistemas naturais, para garantir a transição energética e ecológica deste setor, acompanhando inovações nos modelos de negócio e temáticas emergentes tais como a sustainable finance.

Faça o download do estudo completo em "Portugal: Desafios para 2021".

Resumo

Os investimentos previstos para o potencial produtivo e emprego no PRR podem assim configurar uma resposta integrada aos desafios das qualificações e emprego levantados pela pandemia e pela transição climática, simultaneamente.

Sobre este artigo

por Manuel Mota

Partner, Climate Change & Sustainability Services Leader, Ernst & Young Audit & Associados – SROC, S.A.

Casado e pai de quatro crianças. Adora velejar.