Os países desenvolvidos, incluindo Portugal, passaram por processos mais ou menos intensos de desindustrialização nas últimas décadas do século XX. Esta dinâmica resultou do processo normal de desenvolvimento – que se tem materializado numa transição de atividade económica e emprego do setor primário para o secundário e, depois, para o setor terciário –, mas também da globalização das cadeias de valor, com uma forte deslocalização de indústria do mundo ocidental para o oriente, nomeadamente para a China. Desde o início do século XXI, o peso da indústria na economia tem-se mantido relativamente estável. Em Portugal, por exemplo, tem oscilado entre 11% e 13%.
Num quadro geoestratégico instável e de avanço acelerado das tecnologias digitais e aditivas, as cadeias de valor industriais estão a encurtar-se, estruturando-se crescentemente dentro dos vários blocos regionais do globo. Deliberadamente, os países e os blocos mundiais estão a adotar políticas industriais promotoras de “autonomia estratégica” e “soberania tecnológica”, dirigidas especialmente a setores como a defesa, os semicondutores, a energia, a farmacêutica, o automóvel e as matérias-primas críticas, que estimulam a reindustrialização.
Portugal pode beneficiar bastante deste processo de reindustrialização se conseguir posicionar-se devidamente nos processos de relocalização do Investimento Direto Estrangeiro (IDE) no quadro europeu/mundial e, com isso, alterar o seu atual perfil de especialização produtiva em direção a atividades mais avançadas e mais intensivas em tecnologia, portanto, de maior valor acrescentado.
O nosso país está bem posicionado para o efeito, fruto de uma conjugação oportuna de fatores: (i) tradição industrial relevante, que, do ponto de vista técnico, facilitará o reforço das indústrias transformadoras; (ii) capital humano bem formado e competitivo face a países mais desenvolvidos da Europa, multilingue e flexível; (iii) ecossistema empresarial dinâmico e crescentemente inovador; (iv) boas credenciais ESG e condições de produção de energia (verde) a custos baixos, talvez dos mais baixos da Europa e do mundo; (v) compromisso estratégico com a transição digital; e (vi) incentivos financeiros e fiscais generosos para impulsionar o investimento empresarial.
No EY Attractiveness Survey Portugal 2025, recentemente publicado pela EY Portugal, exploramos o grau de concretização desta oportunidade para o país, perguntando aos 200 investidores internacionais inquiridos quão atrativo é Portugal como destino de investimento para reindustrialização. A resposta foi inequívoca: mais de 70% dos respondentes consideraram Portugal atrativo (60%) ou muito atrativo (13%). Os setores identificados com maior potencial para o efeito foram as energias renováveis (47%), a tecnologia e eletrónica (45%), a farmacêutica e biotecnologia (40%), o automóvel (39%), o agroalimentar (35%) e a construção e materiais (33%).
Portugal pode, assim, trilhar uma trajetória semelhante à que a Irlanda, a Hungria, a Estónia ou a República Checa percorreu nas últimas décadas, com o IDE a funcionar como motor de (re)industrialização da economia.
As políticas europeias favorecem este processo, desde o “Green Industrial Plan” (2019) e a “A New Industrial Strategy for Europe” (2020), até à “Net-Zero Industry Act” (2023), à “Critical Raw Materials Act” (2024), ao Clean Industrial Deal” (2025) ou à Reforma do Design do Mercado Elétrico Europeu (2024). No caso português, releva o programa “Acelerar a Economia”, lançado pelo Ministério da Economia em 2024, que visa potenciar a indústria através de medidas como a criação de hubs e definição da estratégia Indústria 2045, bem como o lançamento recente do IFIC pelo PRR / BpF, em que a Linha Reindustrializar possui uma dotação de 150 milhões de euros a afetar a projetos candidatados até ao final do corrente ano de 2025.