Capítulo 1
A pandemia teve efeitos negativos substanciais nas cadeias de abastecimento
Alguns setores tiveram resultados piores do que outros, mas algumas empresas no domínio das ciências da vida relataram poucos efeitos.
A pandemia da COVID-19 trouxe disrupção global ao comércio, finanças, sistemas de saúde, educação, empresas e sociedades, como poucos outros nos últimos 100 anos. Não surpreende por isso que apenas 2% das empresas que responderam ao inquérito tenham afirmado que estavam totalmente preparadas para a pandemia. Cinquenta e sete por cento foram afetadas por perturbações graves e 72% reportaram efeitos negativos (17% reportaram um efeito negativo significativo e 55% principalmente efeitos negativos).
Muitas vezes, em ambientes económicos incertos, as empresas reduzem os seus investimentos em tecnologia a uma gota no oceano. Mas durante a pandemia da COVID-19, 92% não travaram os investimentos em tecnologia. Isto diz muito sobre o valor de uma cadeia de abastecimento digital para ajudar as empresas a navegarem em forças disruptivas e a responderem mais rapidamente a uma oferta e procura voláteis.
Houve indústrias claramente vencedoras durante a pandemia, com 11% das empresas a reportarem efeitos positivos, incluindo no aumento da procura por parte dos clientes (71%) e na introdução de novos produtos no mercado (57%). Estas empresas pertencem sobretudo ao setor das ciências da vida e os efeitos positivos podem dever-se em larga medida ao facto dos produtos que fabricam serem essenciais. A pandemia também exigiu que algumas empresas das ciências da vida duplicassem a criação de novos produtos essenciais, como testes à COVID-19 ou vacinas. Outros setores, particularmente o consumo, não conseguiram manter produtos nas prateleiras nos primeiros dias da pandemia, devido à enorme procura de bens como papel higiénico, enlatados, farinha e outros produtos básicos.
Alguns setores foram, no entanto, particularmente atingidos. Entre os inquiridos, todas as empresas do setor automóvel e quase todas (97%) as empresas de produtos industriais afirmaram que a pandemia teve um efeito negativo sobre os seus negócios. Além disso, 47% de todas as empresas relataram que a pandemia perturbou a sua força de trabalho. Enquanto a muitos colaboradores foi pedido que trabalhassem a partir de casa, outros - especialmente em instalações fabris — tiveram de se adaptar a novos requisitos de distanciamento físico, rastreio de contactos e equipamento de proteção individual (EPI). Os produtos industriais e as empresas que fabricam alta tecnologia estão a investir massivamente em tecnologia para reduzir a exposição dos colaboradores à COVID-19 em indústrias mais intensivas em mão-de-obra. Estes são apenas alguns exemplos de mudanças que afetam as cadeias de abastecimento em vários setores.
Capítulo 2
Grandes mudanças no horizonte para as cadeias de abastecimento
Melhor visibilidade, eficiência e resiliência da cadeia de abastecimento estão no topo das preocupações.
O inquérito feito aos gestores mostra que a eficiência e a requalificação dos trabalhadores da cadeia de abastecimento serão as principais prioridades nos próximos três anos. Estas conclusões não são surpreendentes uma vez que a otimização dos custos na cadeia de abastecimento será sempre um foco, mesmo face à ao reforço da resiliência. O inquérito também mostra que a visibilidade da cadeia de abastecimento torna-se a prioridade número um nos próximos três anos. Esta constatação está muito próxima da obtida num inquérito realizado pela EY em 2019 na mesma área, onde a visibilidade foi classificada como o principal fator de sucesso de uma cadeia de abastecimento.
Com a necessidade de alcançar uma maior visibilidade entre centenas ou milhares de fornecedores, estamos já a assistir a uma mudança das cadeias de abastecimento lineares para redes mais integradas, ligando muitos intervenientes. A potenciar esta mudança radical estão tecnologias como os dispositivos ou sensores IoT, que fornecem dados valiosos sobre a localização dos bens na cadeia de valor e o seu estado — por exemplo, produtos para os quais a monitorização da temperatura pode ser crítica (como alimentos congelados, vacinas ou outros medicamentos).
Com 61% dos inquiridos a dizer que vão reciclar e requalificar a sua mão-de-obra no próximo ano, haverá esforços para ajudar os colaboradores a utilizarem tecnologias digitais e adaptarem-se às estratégias e formas de trabalho em mudança da empresa, como uma maior colaboração virtual e o apoio ao manuseamento de equipamentos, com a saúde e a segurança em mente. As principais medidas identificadas no inquérito, no que se refere aos recursos humanos, incluem o aumento da automação (63%) e investimentos em IA e machine learning, com 37% dos inquiridos a utilizar já estas tecnologias e outros 36% a planear a sua utilização para breve.
Pode ser seguro supor que, devido à COVID-19, as empresas colocam os seus objetivos de sustentabilidade em pausa para gerir a pandemia. O inquérito constatou precisamente o contrário — 85% das empresas estão mais concentradas nos objetivos ambientais e de sustentabilidade (ESG). Com os investidores a procurar informação sobre a performance ESG das empresas, os colaboradores a querem trabalhar em empresas com a sustentabilidade integrada na missão, o aumento das expectativas dos clientes em relação à sustentabilidade e o aumento da regulação em vários países, as práticas sustentáveis na cadeia de abastecimento, sem dúvida, vieram para ficar.
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Capítulo 3
O futuro das cadeias de abastecimento é digital e autónomo
A jornada para digitalizar e dar visibilidade às operações começou verdadeiramente.
A pandemia tem de facto acelerado muitas tendências que já existiam e a cadeia de abastecimento não é exceção: 64% dos executivos desta área inquiridos dizem que a transformação digital vai acelerar por causa da pandemia. A corrida à digitalização e à automação está em curso: 52% dos executivos dizem que a cadeia de abastecimento autónoma (por exemplo, robôs em armazéns e lojas, empilhadores e camiões sem condutor, drones para entregas e planeamento totalmente automatizado) já é uma realidade ou sê-lo-á até 2025.
No entanto, a simples utilização de tecnologias digitais não equivale à criação de uma cadeia de abastecimento digitalizada e autónoma — isso também requer a ligação das tecnologias para cadeias de abastecimento ao planeamento, aprovisionamento, produção e logística funcionem para além das quatro paredes da organização. É a diferença entre "fazer digital" e "ser digital".
Podemos pensar em operações autónomas como "apagar as luzes", "mãos livres" e "autogestão", em que as empresas usam tecnologias de IA em toda a cadeia de abastecimento end-to-end para ajudar a tomar decisões preditivas e normativas. Um exemplo é a resposta a uma mudança na procura dos clientes, vista instantaneamente por toda a cadeia de valor (empresas, os seus fornecedores e os fornecedores dos seus fornecedores) para que em conjunto possam ajustar imediatamente os planos de fornecimento e as escalas da produção. Em última análise, as tecnologias digitais e autónomas vão ajudar a tornar o trabalho humano mais fácil e a cadeia de abastecimento mais eficiente e otimizada.
O que se segue?
Na pesquisa vimos que 60% dos executivos dizem que a pandemia aumentou a importância estratégica da sua cadeia de abastecimento. Consequentemente, as empresas precisam de desenhar urgentemente uma organização para a cadeia de abastecimento que se adapte à nova era digital e autónoma.
A cadeia de abastecimento do futuro terá de ser ágil, flexível, eficiente, resiliente e digitalmente ligada em rede para proporcionar uma visibilidade melhorada. As empresas devem, portanto, concentrar-se em cinco prioridades para a recuperação e para depois dela.
1. Reinventar a arquitetura da sua cadeia de abastecimento
- Redefina rapidamente a sua estratégia para a cadeia de abastecimento e altere os fluxos comerciais globais, considerando novos acordos comerciais, incentivos nacionais e aceleração omnicanal.
- Reinvente o modelo de funcionamento da sua cadeia de abastecimento — que trabalho deve ser feito a nível local, regional e global, incluindo no que se refere a armazéns e locais de produção. Existem aqui implicações fiscais consideráveis, e um novo modelo pode também ajudá-lo a preparar-se para futuras disrupções.
2. Construir transparência e resiliência
- Melhore a resposta às disrupções com visibilidade e monitorização em tempo real de todos os pontos da cadeia de abastecimento, bem como através do planeamento de cenários e simulação.
- Reveja a pegada ambiental da sua cadeia de abastecimento. Tem fontes de abastecimento alternativas definidas? Está a tomar medidas para não cair numa concentração de fornecedor ou geográfica?
3. Extrair fundos e custos da sua cadeia de abastecimento
- Conduza uma mudança radical na estrutura de custos da sua cadeia de abastecimento e no perfil do fundo de maneio, concentrando-se na racionalização das SKU (Stock Keeping Unit), na redução das despesas de aquisição, na otimização da logística e dos armazéns e na produtividade de produção.
- Reduza o capital circulante através da segmentação da cadeia de abastecimento, da atualização de parâmetros de inventário e de alterações às condições de pagamento.
4. Criar uma vantagem competitiva a partir da sustentabilidade
- O futuro é da economia circular onde não há desperdício nos seus produtos nem na produção.
- Explore formas de redesenhar e criar novos produtos para alcançar esta economia circular e monitorize os riscos associados a terceiros, com avaliações de sustentabilidade dos diversos tipos de fornecedores, entre os tiers 1 a 3.
5. Conduzir a agilidade e as oportunidades de crescimento através de uma cadeia de abastecimento digital
- Trabalhe no sentido de implementar uma cadeia de abastecimento digital e end-to-end no planeamento, aprovisionamento, produção e logística. Isto pode conduzir a eficiências mas também abrir caminho a novos fluxos de receitas.
- Compreenda que as empresas estão a usar as cadeias de abastecimento como motor de crescimento e fator-chave de diferenciação em relação à concorrência.
Muitos executivos esperam que a pandemia da COVID-19 seja um evento único. Contudo, como diz o ditado, "a esperança não é uma estratégia". Há formas melhores de dar nas vias e navegar nas tempestades da próxima disrupção inevitável. Incluem a reinvenção das suas estratégias para a cadeia de abastecimento, no que se refere ao risco e à resiliência, e encontrar formas de gerar fundos e investir em tecnologias digitais com rapidez. Também é importante colocar continuamente as pessoas no centro dos seus esforços e capacitá-las para fazerem coisas extraordinárias. Finalmente, inove com os clientes em mente, através de uma cadeia de abastecimento verdadeiramente sustentável — concebida para a circularidade e com o ambiente em mente. Seguindo este caminho, a sua empresa estará mais bem preparada para gerir quaisquer crises futuras — transformando potenciais disrupções em tremendas oportunidades.
Resumo
A pesquisa da EY mostra que a pandemia da COVID-19 acelerou questões que já existiam na cadeia de abastecimento e trouxe para o primeiro plano prioridades como a visibilidade, resiliência e digitalização. Enquanto alguns setores foram duramente atingidos pela disrupção, outros saíram vencedores, em particular as ciências da vida. Mas em geral, proteger, formar e requalificar a mão-de-obra é uma das grandes prioridades, a par dos investimentos para tornar a cadeia de abastecimento autónoma uma realidade.