8 minutos de leitura 18 fev 2021

            mulher com auscultadores e tablet em armazém

Que impacto teve a COVID-19 nas cadeias de abastecimento e que desafios se seguem

por Sean Harapko

EY Americas Supply Chain Transformation and Global Supply Chain RPA leader

Passionate about friends and family both in and out of work. Husband and father surrounded by girls. Outdoor adventure seeker. Big supporter of the military and military community.

8 minutos de leitura 18 fev 2021

O estudo mostra que a grave disrupção provocada pela pandemia está a levar as empresas a tornarem as suas cadeias de abastecimento mais resilientes, colaborativas e ligadas em rede. 

Sumário Executivo
  • A Ernst & Young LLP (EY US) realizou um inquérito a 200 executivos de topo na área das Operações de abastecimento no final de 2020.
  • O inquérito analisou tópicos como o impacto da COVID-19 nas cadeias de abastecimento, as prioridades para os próximos 1—3 anos e o caminho rumo a cadeias de abastecimento digitais/autónomas.
  • Este artigo analisa 3 conclusões-chave do estudo.

A pandemia da COVID-19 colocou desafios significativos às cadeias de abastecimento a nível mundial. As medidas de confinamento, em diferentes países, continuam a abrandar ou mesmo a interromper temporariamente o fluxo de matérias-primas e bens acabados, que resultam em perturbações à produção. Contudo, a pandemia não criou necessariamente quaisquer novos desafios para as cadeias de abastecimento. Em algumas áreas, trouxe para a ribalta vulnerabilidades que não estavam expostas, e claro, muitas empresas sofreram com a escassez e perda de mão-de-obra, devido à COVID-19. Mas em geral, a pandemia acelerou e ampliou problemas que já existiam nas cadeias de abastecimento.

Seguem-se algumas conclusões de um estudo que a Ernst & Young LLP (EY US) realizou em finais de 2020. Os inquiridos foram 200 executivos de topo nesta área em empresas de diferentes setores, incluindo produtos de consumo, retalho, life sciences, produtos industriais, automóvel e empresas de alta tecnologia nos Estados Unidos com mais de mil milhões de dólares em receitas.

Na sequência da grave disrupção provocada pela COVID-19, o inquérito revelou que as empresas nos EUA planeiam “sacudir” estratégias nas suas cadeias de abastecimento, para se tornarem mais resilientes, colaborativas e ligadas em rede com clientes, fornecedores e outros stakeholders. Para o fazer, aumentarão o investimento em tecnologias para supply chain, como a IA e a automação de processos robóticos, enquanto reciclam as competências dos colaboradores.

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Capítulo 1

A pandemia teve efeitos negativos substanciais nas cadeias de abastecimento

Alguns setores tiveram resultados piores do que outros, mas algumas empresas no domínio das ciências da vida relataram poucos efeitos.

A pandemia da COVID-19 trouxe disrupção global ao comércio, finanças, sistemas de saúde, educação, empresas e sociedades, como poucos outros nos últimos 100 anos. Não surpreende por isso que apenas 2% das empresas que responderam ao inquérito tenham afirmado que estavam totalmente preparadas para a pandemia. Cinquenta e sete por cento foram afetadas por perturbações graves e 72% reportaram efeitos negativos (17% reportaram um efeito negativo significativo e 55% principalmente efeitos negativos).


            Efeito negativo e positivo

Muitas vezes, em ambientes económicos incertos, as empresas reduzem os seus investimentos em tecnologia a uma gota no oceano. Mas durante a pandemia da COVID-19, 92% não travaram os investimentos em tecnologia. Isto diz muito sobre o valor de uma cadeia de abastecimento digital para ajudar as empresas a navegarem em forças disruptivas e a responderem mais rapidamente a uma oferta e procura voláteis.

Houve indústrias claramente vencedoras durante a pandemia, com 11% das empresas a reportarem efeitos positivos, incluindo no aumento da procura por parte dos clientes (71%) e na introdução de novos produtos no mercado (57%). Estas empresas pertencem sobretudo ao setor das ciências da vida e os efeitos positivos podem dever-se em larga medida ao facto dos produtos que fabricam serem essenciais. A pandemia também exigiu que algumas empresas das ciências da vida duplicassem a criação de novos produtos essenciais, como testes à COVID-19 ou vacinas. Outros setores, particularmente o consumo, não conseguiram manter produtos nas prateleiras nos primeiros dias da pandemia, devido à enorme procura de bens como papel higiénico, enlatados, farinha e outros produtos básicos.

Alguns setores foram, no entanto, particularmente atingidos. Entre os inquiridos, todas as empresas do setor automóvel e quase todas (97%) as empresas de produtos industriais afirmaram que a pandemia teve um efeito negativo sobre os seus negócios. Além disso, 47% de todas as empresas relataram que a pandemia perturbou a sua força de trabalho. Enquanto a muitos colaboradores foi pedido que trabalhassem a partir de casa, outros - especialmente em instalações fabris — tiveram de se adaptar a novos requisitos de distanciamento físico, rastreio de contactos e equipamento de proteção individual (EPI). Os produtos industriais e as empresas que fabricam alta tecnologia estão a investir massivamente em tecnologia para reduzir a exposição dos colaboradores à COVID-19 em indústrias mais intensivas em mão-de-obra. Estes são apenas alguns exemplos de mudanças que afetam as cadeias de abastecimento em vários setores.

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Capítulo 2

Grandes mudanças no horizonte para as cadeias de abastecimento

Melhor visibilidade, eficiência e resiliência da cadeia de abastecimento estão no topo das preocupações.

O inquérito feito aos gestores mostra que a eficiência e a requalificação dos trabalhadores da cadeia de abastecimento serão as principais prioridades nos próximos três anos. Estas conclusões não são surpreendentes uma vez que a otimização dos custos na cadeia de abastecimento será sempre um foco, mesmo face à ao reforço da resiliência. O inquérito também mostra que a visibilidade da cadeia de abastecimento torna-se a prioridade número um nos próximos três anos. Esta constatação está muito próxima da obtida num inquérito realizado pela EY em 2019 na mesma área, onde a visibilidade foi classificada como o principal fator de sucesso de uma cadeia de abastecimento.


            Visibilidade aumentada

Com a necessidade de alcançar uma maior visibilidade entre centenas ou milhares de fornecedores, estamos já a assistir a uma mudança das cadeias de abastecimento lineares para redes mais integradas, ligando muitos intervenientes. A potenciar esta mudança radical estão tecnologias como os dispositivos ou sensores IoT, que fornecem dados valiosos sobre a localização dos bens na cadeia de valor e o seu estado — por exemplo, produtos para os quais a monitorização da temperatura pode ser crítica (como alimentos congelados, vacinas ou outros medicamentos).

Com 61% dos inquiridos a dizer que vão reciclar e requalificar a sua mão-de-obra no próximo ano, haverá esforços para ajudar os colaboradores a utilizarem tecnologias digitais e adaptarem-se às estratégias e formas de trabalho em mudança da empresa, como uma maior colaboração virtual e o apoio ao manuseamento de equipamentos, com a saúde e a segurança em mente. As principais medidas identificadas no inquérito, no que se refere aos recursos humanos, incluem o aumento da automação (63%) e investimentos em IA e machine learning, com 37% dos inquiridos a utilizar já estas tecnologias e outros 36% a planear a sua utilização para breve.

Pode ser seguro supor que, devido à COVID-19, as empresas colocam os seus objetivos de sustentabilidade em pausa para gerir a pandemia. O inquérito constatou precisamente o contrário — 85% das empresas estão mais concentradas nos objetivos ambientais e de sustentabilidade (ESG). Com os investidores a procurar informação sobre a performance ESG das empresas, os colaboradores a querem trabalhar em empresas com a sustentabilidade integrada na missão, o aumento das expectativas dos clientes em relação à sustentabilidade e o aumento da regulação em vários países, as práticas sustentáveis na cadeia de abastecimento, sem dúvida, vieram para ficar.

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Capítulo 3

O futuro das cadeias de abastecimento é digital e autónomo

A jornada para digitalizar e dar visibilidade às operações começou verdadeiramente.

A pandemia tem de facto acelerado muitas tendências que já existiam e a cadeia de abastecimento não é exceção: 64% dos executivos desta área inquiridos dizem que a transformação digital vai acelerar por causa da pandemia. A corrida à digitalização e à automação está em curso: 52% dos executivos dizem que a cadeia de abastecimento autónoma (por exemplo, robôs em armazéns e lojas, empilhadores e camiões sem condutor, drones para entregas e planeamento totalmente automatizado) já é uma realidade ou sê-lo-á até 2025.

No entanto, a simples utilização de tecnologias digitais não equivale à criação de uma cadeia de abastecimento digitalizada e autónoma — isso também requer a ligação das tecnologias para cadeias de abastecimento ao planeamento, aprovisionamento, produção e logística funcionem para além das quatro paredes da organização. É a diferença entre "fazer digital" e "ser digital".

Podemos pensar em operações autónomas como "apagar as luzes", "mãos livres" e "autogestão", em que as empresas usam tecnologias de IA em toda a cadeia de abastecimento end-to-end para ajudar a tomar decisões preditivas e normativas. Um exemplo é a resposta a uma mudança na procura dos clientes, vista instantaneamente por toda a cadeia de valor (empresas, os seus fornecedores e os fornecedores dos seus fornecedores) para que em conjunto possam ajustar imediatamente os planos de fornecimento e as escalas da produção. Em última análise, as tecnologias digitais e autónomas vão ajudar a tornar o trabalho humano mais fácil e a cadeia de abastecimento mais eficiente e otimizada.

O que se segue?

Na pesquisa vimos que 60% dos executivos dizem que a pandemia aumentou a importância estratégica da sua cadeia de abastecimento. Consequentemente, as empresas precisam de desenhar urgentemente uma organização para a cadeia de abastecimento que se adapte à nova era digital e autónoma.

A cadeia de abastecimento do futuro terá de ser ágil, flexível, eficiente, resiliente e digitalmente ligada em rede para proporcionar uma visibilidade melhorada. As empresas devem, portanto, concentrar-se em cinco prioridades para a recuperação e para depois dela.

1.  Reinventar a arquitetura da sua cadeia de abastecimento
  • Redefina rapidamente a sua estratégia para a cadeia de abastecimento e altere os fluxos comerciais globais, considerando novos acordos comerciais, incentivos nacionais e aceleração omnicanal.
  • Reinvente o modelo de funcionamento da sua cadeia de abastecimento — que trabalho deve ser feito a nível local, regional e global, incluindo no que se refere a armazéns e locais de produção. Existem aqui implicações fiscais consideráveis, e um novo modelo pode também ajudá-lo a preparar-se para futuras disrupções.
2.  Construir transparência e resiliência
  • Melhore a resposta às disrupções com visibilidade e monitorização em tempo real de todos os pontos da cadeia de abastecimento, bem como através do planeamento de cenários e simulação.
  • Reveja a pegada ambiental da sua cadeia de abastecimento. Tem fontes de abastecimento alternativas definidas? Está a tomar medidas para não cair numa concentração de fornecedor ou geográfica?
3.  Extrair fundos e custos da sua cadeia de abastecimento
  • Conduza uma mudança radical na estrutura de custos da sua cadeia de abastecimento e no perfil do fundo de maneio, concentrando-se na racionalização das SKU (Stock Keeping Unit), na redução das despesas de aquisição, na otimização da logística e dos armazéns e na produtividade de produção.
  • Reduza o capital circulante através da segmentação da cadeia de abastecimento, da atualização de parâmetros de inventário e de alterações às condições de pagamento.
4.  Criar uma vantagem competitiva a partir da sustentabilidade
  • O futuro é da economia circular onde não há desperdício nos seus produtos nem na produção.
  • Explore formas de redesenhar e criar novos produtos para alcançar esta economia circular e monitorize os riscos associados a terceiros, com avaliações de sustentabilidade dos diversos tipos de fornecedores, entre os tiers 1 a 3.
5.  Conduzir a agilidade e as oportunidades de crescimento através de uma cadeia de abastecimento digital
  • Trabalhe no sentido de implementar uma cadeia de abastecimento digital e end-to-end no planeamento, aprovisionamento, produção e logística. Isto pode conduzir a eficiências mas também abrir caminho a novos fluxos de receitas. 
  • Compreenda que as empresas estão a usar as cadeias de abastecimento como motor de crescimento e fator-chave de diferenciação em relação à concorrência.

Muitos executivos esperam que a pandemia da COVID-19 seja um evento único. Contudo, como diz o ditado, "a esperança não é uma estratégia". Há formas melhores de dar nas vias e navegar nas tempestades da próxima disrupção inevitável. Incluem a reinvenção das suas estratégias para a cadeia de abastecimento, no que se refere ao risco e à resiliência, e encontrar formas de gerar fundos e investir em tecnologias digitais com rapidez. Também é importante colocar continuamente as pessoas no centro dos seus esforços e capacitá-las para fazerem coisas extraordinárias. Finalmente, inove com os clientes em mente, através de uma cadeia de abastecimento verdadeiramente sustentável — concebida para a circularidade e com o ambiente em mente. Seguindo este caminho, a sua empresa estará mais bem preparada para gerir quaisquer crises futuras — transformando potenciais disrupções em tremendas oportunidades.

Resumo

A pesquisa da EY mostra que a pandemia da COVID-19 acelerou questões que já existiam na cadeia de abastecimento e trouxe para o primeiro plano prioridades como a visibilidade, resiliência e digitalização. Enquanto alguns setores foram duramente atingidos pela disrupção, outros saíram vencedores, em particular as ciências da vida. Mas em geral, proteger, formar e requalificar a mão-de-obra é uma das grandes prioridades, a par dos investimentos para tornar a cadeia de abastecimento autónoma uma realidade.

Sobre este artigo

por Sean Harapko

EY Americas Supply Chain Transformation and Global Supply Chain RPA leader

Passionate about friends and family both in and out of work. Husband and father surrounded by girls. Outdoor adventure seeker. Big supporter of the military and military community.