Como acelerar a adoção dos veículos elétricos no setor da logística e distribuição?

Autores
Miguel Cardoso Pinto

Partner, EY-Parthenon Portugal Leader & Advanced Manufacturing and Mobility Leader, EY-Parthenon, Ernst & Young, S.A.

Pai de três filhas com gosto pela leitura, música e desporto. Adepto de rugby e iniciante na prática de triatlo.

Miguel Poeira

Manager, EY-Parthenon, Ernst & Young, S.A.

Adepto de futebol, principalmente do bem jogado. Está a dar os primeiros passos na modalidade de indoor climbing.

4 minutos de leitura 9 set 2022

A eletrificação dos veículos de transporte de mercadorias é essencial para o cumprimento dos objetivos de sustentabilidade, porém existem desafios concretos à sua adoção em massa.

Osetor logístico desempenha um importante papel nas cadeias de abastecimento que ligam a economia global, mas tem um significativo impacto ambiental. O setor dos transportes é responsável por cerca de 20% das emissões de CO2, tornando-o a terceira maior fonte emissora após a indústria e a energia.

As empresas do setor já estão a lidar com a necessidade de rever o seu posicionamento competitivo no curto prazo, no sentido de integrar normas de sustentabilidade definidas por tratados como o Acordo de Paris ou os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Atingir estes objetivos climáticos irá requer mudanças radicais dos modelos de negócio tradicionais. As práticas de sustentabilidade empresariais serão, cada vez mais, consideradas pelos clientes aquando da escolha da transportadora.

Num trabalho recentemente realizado pela EY-Parthenon, no âmbito do qual entrevistámos gestores líderes de diversos setores em Portugal, identificamos os fatores críticos que mais contribuem para a eletrificação das frotas para uso profissional.

A pressão de compliance num contexto de requisitos ESG cada vez mais exigente é um dos principais. Muitos operadores de transportes estão já a ser pressionados pelos clientes para eletrificar a frota de distribuição para que cumpram os seus próprios objetivos de sustentabilidade. Alguns segmentos de clientes de retalho começam também a manifestar preferência pelos produtos com menor impacto no ambiente, não apenas quanto ao consumo de plástico, mas também quanto às emissões poluentes, incluindo durante a fase de transporte, e espera-se que esta tendência se alargue a um maior número de consumidores nos próximos anos.

Os incentivos sobre os veículos elétricos têm contribuído para uma maior adoção, para além da demonstração de redução dos custos de manutenção em 20-30% e dos custos de combustível em 40-50%, face a veículos de distribuição tradicionais. Faltam, no entanto, mais incentivos à instalação de infraestruturas de carregamento pelas empresas, para que Portugal consiga convergir com a Noruega ou a Holanda, mercados líderes na eletrificação de veículos.

Algumas empresas encaram a eletrificação da frota como uma forma de future proofing do seu negócio, especialmente tendo em conta que são esperadas restrições mais apertadas sobre veículos poluentes nas cidades, seja através de congestion fees ou zonas de circulação proibida.

No entanto, o elevado custo inicial de aquisição dos veículos, o investimento necessário na infraestrutura de carregamento, a redução de até 35% da capacidade de transporte de cada veículo, e a falta de modelos suficientes para necessidades diferenciadas do setor afastam um cenário de adoção em massa nos próximos tempos, pois reduzem o diferencial do total cost of ownership face às opções tradicionais.

A gestão eficiente das infraestruturas de carregamento é essencial para a eletrificação em massa, pois os veículos de distribuição deverão ser carregados em períodos específicos de tempo alinhados com as janelas de entrega, distância e rota a percorrer, entre outros fatores.

Por fim, muitos operadores do setor não serão capazes de operacionalizar esta eletrificação sozinhos, especialmente nas componentes de cálculo do total cost of ownership para o seu caso específico, da quantificação das necessidades de instalação e manutenção da infraestrutura de carregamento, de potência e outras características associadas à gestão da rede, e nos desafios de escalabilidade uma vez instalada a infraestrutura.

Neste sentido, é crítica a articulação dos stakeholders do ecossistema para a aceleração da eletrificação de frotas neste setor, nomeadamente das associações empresariais, municípios, utitilies, OEM e operadores de estações de carregamento, no sentido de apoiar as empresas no esclarecimento de questões relativas ao processo, em especial na sistematização das suas reais necessidades de carregamento e da análise custo benefício das diversas opções.

Resumo

A eletrificação de veículos será um dos pilares da transição energética, e o segmento de frotas terá um papel crítico, especialmente porque o setor dos transportes é responsável por cerca de um quinto das emissões de CO2.

Um estudo recente da EY-Parthenon em Portugal aponta os principais fatores que poderão acelerar esta eletrificação, mas também os principais bloqueios para uma adoção em massa dos veículos elétricos pelo setor da logística e transportes.

Sobre este artigo

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Miguel Cardoso Pinto

Partner, EY-Parthenon Portugal Leader & Advanced Manufacturing and Mobility Leader, EY-Parthenon, Ernst & Young, S.A.

Pai de três filhas com gosto pela leitura, música e desporto. Adepto de rugby e iniciante na prática de triatlo.

Miguel Poeira

Manager, EY-Parthenon, Ernst & Young, S.A.

Adepto de futebol, principalmente do bem jogado. Está a dar os primeiros passos na modalidade de indoor climbing.