Em uma era de incerteza crescente, que pode ser tão significativa quanto a crise financeira de 2008/09, os fundos de private equity consideram prioritária a retenção de talentos para se manterem competitivos no mercado. Essa foi a resposta escolhida por 76% dos grandes fundos de private equity (com mais de US$ 15 bilhões sob gestão) e por 67% dos médios (entre US$ 2,5 bilhões e US$ 15 bilhões administrados). Entre os fundos de menor porte (menos de US$ 2,5 bilhões sob gestão), 60% disseram acreditar na necessidade de contratar e manter os melhores talentos. Há, ainda, preocupação com a diversidade, com 53% dos grandes fundos respondentes apontando o estímulo à diversidade como prioridade no gerenciamento de talentos. O estudo Global Private Equity Survey, da EY, entrevistou executivos nas posições de CFO e COO de 112 empresas de private equity e venture capital em todo o mundo.
Ainda segundo a pesquisa, as empresas que foram bem-sucedidas no recrutamento e na retenção de talentos, tanto no front como no backoffice, alcançaram vantagem competitiva. Isso só foi possível porque os CFOs trabalharam com seus C-levels e profissionais do RH para desenvolver estratégias de identificação de talentos, criando programas específicos para motivá-los e retê-los.
Interrupção do fluxo de negócios
O temor dos fundos de private equity é a possibilidade de interrupção do fluxo de negócios causada por uma recessão global. O pessimismo com o futuro da economia é maior nas Américas, o que inclui o Brasil, já que mais da metade das empresas ouvidas – o equivalente a 51% – disseram estar preocupadas com uma possível recessão global. Além disso, 49% expressaram preocupação com o fluxo de negócios. Como base de comparação, 33% das empresas com sede na Ásia-Pacífico (APAC) citaram recessão global como o principal motivo de preocupação. Já a instabilidade geopolítica foi mencionada por 45% das respondentes que atuam na Europa, Oriente Médio, Índia e África (EMEIA), o maior índice entre as regiões analisadas.
Os fundos de private equity registraram crescimento acelerado nos últimos dez anos, com a gestão de ativos passando de US$ 2 trilhões em 2013 para US$ 4,4 trilhões em 2022. Ainda que exista essa preocupação com a economia global, especialmente nas Américas, os gestores estão confiantes de que seus ativos continuarão crescendo nos próximos anos, mesmo em um ambiente econômico instável.
Agenda ESG em alta
Quando perguntados sobre prioridades estratégicas, além do crescimento de ativos e da gestão de talentos como as respostas mais frequentes, os executivos dos grandes fundos apontaram ESG. Embora seja dada mais atenção ao tema na Europa, todas as regiões demonstraram apreço por esse assunto. Isso porque, entre outros motivos, os investidores estão perguntando aos gestores de fundos como eles estão ajudando seu portfólio de companhias no avanço em relação à agenda ESG. Quando indagados pela pesquisa se os investidores aumentaram a pressão sobre os fundos de private equity em relação à observância da pauta ESG, 54% dos respondentes nas Américas disseram que sim. Na EMEIA, essa porcentagem foi de 70%, e, na APAC, de 71%.
Dez anos atrás, quando a EY começou esse levantamento, ESG quase não aparecia no radar das empresas de private equity, mas agora está entre suas prioridades, especialmente para os administradores de fundos maiores. Nesse aspecto, diz o estudo, a forma como as empresas descrevem sua atuação ESG continuará impactando ou influenciando a alocação de capital pelos investidores via fundos de private equity.
Regulação e cultura de compliance
O rápido crescimento da indústria de private equity chamou a atenção de reguladores do mundo inteiro, que estão cada vez mais dedicados a aumentar sua supervisão. As empresas estão respondendo com o estabelecimento de uma cultura de compliance, incluindo a formação de equipes para suportar as exigências regulatórias. O estudo afirma que, com as potenciais legislações globais para a indústria de fundos privados, ela precisará rapidamente se atualizar para permanecer em dia com os reguladores.
Menos da metade das empresas pequenas, que administram fundos menores do que US$ 2,5 bilhões, afirmaram conhecer todas as propostas ou regulamentos que podem impactar seus negócios no futuro. Mesmo em relação às maiores, com mais de US$ 15 bilhões geridos, o índice de muito bem preparadas para as mudanças regulatórias que estão por vir é de apenas 19%.
Ascensão da tecnologia na tomada de decisão de investimento
As empresas de private equity, assim como de outros setores, estão em meio a uma transformação tecnológica. A capacidade de analisar dados para tomar melhores decisões de investimento é uma tendência na maioria dos fundos maiores. A tecnologia permite aos gestores analisar múltiplos dados acumulados em suas bases que fornecem insights valiosos para o processo de tomada de decisão de investimento. Até mesmo as empresas menores e médias estão gastando com tecnologia para apoiar esse processo de tomada de decisão, embora não no mesmo nível das maiores.
Nos próximos três anos, 29% das empresas de private equity com mais de US$ 15 bilhões geridos pretendem investir fortemente em tecnologia para o processo de tomada de decisão de investimento. Já 55% responderam que investirão de forma moderada. Movimento parecido é visto com as empresas menores, que administram até US$ 15 bilhões. Esses dados apontam, portanto, para a tendência do mercado de private equity de apostar em tecnologia para tomar decisões mais estratégicas de investimento e alinhadas com as expectativas dos investidores.
Considerando o contexto atual de mudanças constantes, o CFO ideal das empresas de private equity é um especialista em tecnologia e com foco em dados. Essas habilidades são cada vez mais críticas em uma economia instável, que exige das empresas mais eficiência, o que se dá, no setor de private equity, por meio de dados que possam auxiliar as decisões de investidores e gestores de fundos. Gestão de dados (data management) aparece inclusive entre as atividades mais citadas pelos executivos dos grandes fundos de private equity para ter competitividade no futuro.
Prioridades para o CFO de fundos de private equity
Resumidamente, o estudo traz três prioridades para os CFOs que desejam construir bases sólidas para uma nova era da indústria de private equity.
1) Criação/aprimoramento de infraestrutura corporativa voltada para melhor apoiar a tomada de decisão de investimento, o que envolve relatórios aprimorados – inclusive sobre ESG – para as partes interessadas, com destaque para os investidores;
2) Atuação como líderes estratégicos para suas respectivas organizações, usando, para isso, dados que agilizem o processo de análise e de resposta a novas oportunidades;
3) Aumento do foco estratégico na gestão de talentos porque atrair e reter profissionais talentosos são ações fundamentais em um mercado caracterizado por volatilidade.