Primeiramente, ao olharmos para trás, o Acordo de Paris foi como um ponto de partida para o que estamos vivenciando hoje. As Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, da sigla em inglês) dos países signatários detém uma maior ou menor profundidade em relação ao papel que cada território e modelo econômico que cada um exerce. Estas metas e compromissos de redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) que cada nação assumiu no Acordo de Paris, durante a COP21 também tiveram avanços distintos desde então.
50% da nossa pegada de carbono no Brasil vem do desmatamento.
Só no Brasil, quase 50% da nossa pegada de carbono vem do desmatamento, e especificamente neste tema não temos visto grandes avanços. Alguns diriam até retrocessos. É neste cenário que um desafio se impõe: frear o desmatamento e preservar a biodiversidade, temas que estão completamente interconectados. Não há distinção hierárquica entre as duas missões prioritárias e a questão climática.
Em segundo lugar, a questão-chave do financiamento climático para a biodiversidade. Nesta COP, o tópico protagonista foi a “justiça climática”, ou seja, uma compensação econômica para perdas e danos advindos da mudança do clima e que busca reparar os prejuízos climáticos nos países em desenvolvimento que não teriam capacidade econômica de adaptação e que estão sendo proporcionalmente mais afetados. O fato que não podemos desconsiderar é que são nessas nações onde se localizam, majoritariamente, os hotspots da biodiversidade e que estão sendo diretamente ameaçados.
Sendo os Estados Unidos e a China responsáveis por mais de 50% das emissões globais, é razoável do ponto de vista geopolítico que o ressarcimento climático como forma de reparação de danos de curto, médio e longo prazo seja também de sua responsabilidade. Do ponto de vista da execução, o que se projeta é um maior fluxo de capital sendo direcionado aos países que menos contribuíram para o colapso climático que estamos vivendo hoje.
Enquanto a ciência alerta que atingimos níveis recorde de emissão de carbono no ano de 2022, o momento é oportuno para falarmos da diferenciação entre preservação e recuperação. Há 30 anos, já era possível perceber as consequências do desenvolvimento no norte do país.
Um exemplo clássico disso é que no passado o desmatamento era condição para titulação de terras, ou seja, a ideia de desenvolvimento era associada à retirada dos componentes naturais. Obviamente isso cunhou um elemento cultural inegável em determinadas regiões do Brasil. Além da preservação ter um custo menor que a exploração, ela também está embutida dentro de uma lógica econômica das populações que existem naquele local, através de seus costumes, tradições e, sobretudo, direitos. É por isso que precisamos encontrar novos meios e caminhos sustentáveis de gerar capital a partir da preservação, e pensarmos em mecanismos de transição para isso.
Já a recuperação é mais complexa e exige mais investimento. Na realidade, ela demanda uma compreensão técnica diferente. Imaginemos o setor de mineração. Por melhor que seja a área de Engenharia, não é razoável imaginar que resgataremos o status quo ambiental ao território, mas é possível devolver um equilíbrio paisagístico e ecossistêmico a ele. Para regiões antropizadas, precisamos de um olhar de viabilidade. O papel do investimento aqui pode gerar um maior retorno tanto do ponto de vista ecossistêmico quanto econômico.
No contexto Brasil, precisamos conciliar estas visões em benefício da biodiversidade.
No Brasil, o bioma amazônico é um patrimônio muito relevante. O papel da Amazônia é, também, socioeconômico e, portanto, ela deve ser preservada em absolutamente todos os sentidos. Por outro lado, há também o papel geopolítico. Quando uma iniciativa privada faz negócios dentro da região, ela traz legalização. Esse movimento gera um mecanismo de transparência, monitoramento e governança que mostra que estamos trilhando uma jornada correta, mesmo que ela seja passível de falhas institucionais e irregularidades. Não vamos acertar sempre, mas é imprescindível assumirmos o compromisso de fazer o certo.
Nesse sentido, sintetizamos três insights na jornada da sustentabilidade da biodiversidade:
- Mecanismos de controle precisam ser desenhados para que se encaixem na equação econômica. Não se trata de “ou desenvolvimento ou preservação”, a lógica é “desenvolvimento através da preservação”.
- Enfrentar e assumir as falhas no processo. Assim como publicamos relatórios de sustentabilidade com conquistas e reconhecimentos, é preciso também compartilhar os aspectos negativos. Existe uma cultura em mecanismos de reporte de se maximizar o certo e minimizar as não conformidades, comumente chamadas “oportunidades de melhoria”, mas é preciso fazer diferente. Tratar os erros de forma direta e transparente é, na verdade, sinal de credibilidade.
- Utilizar os mecanismos de governança para endereçar os problemas e repactuar os compromissos com os fornecedores, clientes e setor empresarial nessa jornada de aprendizados coletivos.