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Comitês de Inovação têm papel crucial na destruição criadora

Como lidar com um dos maiores desafios da governança: equilibrar a gestão do presente e a visão de longo prazo.

Neste contexto de rápidas transformações tecnológicas e estruturais, as empresas são desafiadas a balancear as demandas do presente com as necessidades futuras e o Conselho de Administração, e mais especificamente o Comitê de Inovação, desempenha papel vital na salvaguarda da sustentabilidade e na orientação estratégica para a inovação.

A gestão operacional focada na eficiência, embora importante, pode se tornar um empecilho para a adaptação e a inovação necessárias em tempos de mudanças disruptivas. Exemplos históricos, como os casos da Western Union e da Blockbuster, ilustram as consequências da resistência à inovação. Além de gerir o presente, os Conselhos devem atuar proativamente na destruição criadora, preparando as empresas para a transformação. Os Comitês de Inovação são peças-chave neste processo, trazendo expertise, perspectivas diversificadas e conexões externas para fomentar a adaptabilidade e a resiliência empresarial.

Em um mundo em que os incentivos do presente e do futuro competem, a quem cabe salvaguardar a sustentabilidade dos negócios?

A resposta a esta pergunta – simples na superfície, mas complexa nos detalhes – passa pela importante distinção de mandatos do sistema de governança das empresas, ressaltando o crucial papel do Conselho de Administração e dos seus órgãos de suporte, especialmente o Comitê de Inovação e Estratégia.

Empresas bem administradas são máquinas de eficiência. A gestão, com os processos, desenhos organizacionais e incentivos, está otimizada para maximizar o regime operacional, com ganhos incrementais sucessivos de produtividade. No entanto, cenários de profunda transformação estrutural, como a atual revolução industrial, demandam competências, ambições e parâmetros decisórios que podem ser não apenas distintos, mas potencialmente antagônicos.

Há excelentes exemplos históricos que ressaltam a armadilha do lock in organizacional, em que os incentivos corporativos estão alinhados para manutenção e maximização. Do longínquo 1886, quando Western Union, o então monopolista das telecomunicações, recusou a oferta da Bell Telephone Company para a compra da patente do telefone por 100 mil dólares, ao recente caso da Netflix, que no ano de 2000 se ofereceu para a Blockbuster por um valor de 50 milhões de dólares – e recebeu de volta uma risada e a recusa categórica. Dois verdadeiros cautionary tales (para usar um termo intraduzível, mas muito ilustrativo) de disrupção de negócio.

O que os dois casos ilustram e ressaltam é a divergência entre o que é importante para a gestão e o que é importante para a empresa.

Apesar de obviamente importante, a agenda de eficiência e maximização é limitante. Empresas existem para resolver problemas, não para “fornecer soluções específicas”. Ao focar a estratégia em maximizar a solução, a empresa perde a perspectiva de qual é a proposta de valor – e pior, acaba presa em uma lógica econômica que desincentiva qualquer baixa para prejuízo da base operacional existente.

Mas o fato é que empresas que operavam caldeiras a vapor quando o mundo transitava para a adoção da energia elétrica precisaram se livrar do seu maior ativo: as caldeiras e todo o sistema produtivo baseado nelas. Nenhum ganho incremental das caldeiras manteria estas empresas competitivas frente aos novos modais de produção baseados no motor elétrico – assim como a Blockbuster poderia ganhar 5% em produtividade nas lojas de aluguéis de DVDs todo ano, e ainda assim não se tornaria a Netflix.

Clayton Christensen ressaltou que o competidor mais importante não é o que fornece a mesma solução e compete por market share, mas aquele que resolve a dor do cliente com uma solução distinta. Esta nuance competitiva está na própria gênese do pensamento moderno da inovação. Joseph Schumpeter, em 1945, ao postular o agora famoso conceito da destruição criadora, escreveu que a administração (o “capitalismo”) se preocupa em gerenciar as estruturas existentes, mas o problema relevante é como destruir e criar novas estruturas – no que ele apontou como um “fato essencial do capitalismo, incessantemente revolucionando a estrutura de dentro para fora, incessantemente destruindo o antigo e construindo o novo”.

Naturalmente, boa parte desta preocupação recai sobre o Conselho de Administração, que é o mandatário da perenidade da organização. No entanto, dentre tantos temas e obrigações estatutárias, é importante um suporte com foco e expertise não apenas nos temas específicos da indústria, mas no próprio entendimento da dinâmica de inovação e das práticas de excelência.

Um Comitê de Inovação funciona tanto como assessor ao Conselho, para analisar em profundidade decisões envolvendo a temática, desde a contratação de executivos, passando pela avaliação de investimentos e formulação de estratégia e chegando à avaliação de resultados, mas também como um provocador interno, fazendo a consciência crítica da sustentabilidade do negócio no médio e longo prazos, com a construção de análises e estudos baseados em tendências e indicadores de transformação da indústria.

Para esta atuação, é crucial que o Comitê de Inovação tenha um mandato bem estabelecido, ressaltada esta visão ampla da transformação do negócio, combinado a um conjunto de perfis e competências não usuais nas outras instâncias da gestão e da governança.

É importante trazer profissionais de perfis diversos, que tenham expertise e experiência real de transformação em outras indústrias, especialistas em inovação corporativa e mudança técnica, e pessoas com amplos conhecimentos em tendências gerais, não apenas no mercado de atuação da empresa.

Também é relevante para o Comitê ter uma dinâmica de trabalho que atue na fronteira do conhecimento, incluindo momentos de conexão externa com outras empresas, universidades e instituições de pesquisa, funcionando como uma fonte permanente de insights relevantes.

Mudar é caro, incerto e ameaçador – não obstante, o mandato e o desenho adequados da governança são importantes alavancas para atenuar essas dificuldades e trazer objetividade para a tomada de decisão, aumentando a resiliência e a prontidão estratégica em um mundo em constante transformação.

Resumo

A gestão operacional focada na eficiência, embora importante, pode ser um empecilho para a adaptação e a inovação necessárias em tempos de mudanças disruptivas. Nesse sentido, o Conselho de Administração e, mais especificamente, o Comitê de Inovação têm papel fundamental na salvaguarda da sustentabilidade e na orientação estratégica para a inovação.

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