Desafios no caminho
Apesar dos múltiplos benefícios associados à governança corporativa sustentável, vários desafios internos e externos podem atrapalhar a implementação.
Um dos principais pontos é a pressão de investidores para priorizar os ganhos de curto prazo. Isso pode forçar as empresas a redirecionarem recursos e capital de iniciativas estratégicas de longo prazo para atender metas financeiras imediatas. Para enfrentar isso, o Conselho deveria desafiar a gestão a implementar um framework de tomada de decisões que equilibre a geração de valor de curto e longo prazo. Também deve buscar se engajar de forma proativa com os investidores, a fim de construir confiança, comunicar o propósito corporativo e obter apoio para abordagens de criação de valor estratégico de longo prazo.
Os desafios internos podem incluir a necessidade de reformular como a organização vincula a remuneração do(a) CEO e dos executivos ao desempenho de curto versus longo prazo. A falta de processos internos ou métricas para avaliar os impulsionadores não financeiros de valor de longo prazo, como o capital humano, representa outro desafio.
Colocando a governança para o bem em ação
Os Conselhos de Administração podem adotar cinco abordagens para implementar uma estratégia ESG baseada em boa governança.
Enfatizar atributos críticos do Conselho
É crucial ter conselheiros(as) comprometidos com a criação de valor de longo prazo e que reconheçam a importância do ESG. Isso ajuda a definir o tom certo no topo e fornece modelos para a gestão e os funcionários. Além disso, certos atributos colocam o Conselho em uma posição mais forte, para tomar decisões que proporcionem valor de longo prazo. Estes incluem a capacidade dos(as) conselheiros(as) de expressar suas opiniões e debater abertamente, bem como a disposição de considerar os interesses de todos os stakeholders.
A diversidade é outro atributo essencial do Conselho, pois traz uma ampla gama de perspectivas e soluções para lidar com questões complexas. Conselhos diversos podem desafiar o pensamento estabelecido e os vieses de uma forma que os Conselhos homogêneos não podem. Além disso, estão mais bem equipados para garantir que a tomada de decisão considere os impactos sobre diferentes stakeholders.
É fundamental que o Conselho possua um conhecimento sólido em sustentabilidade para ser capaz de questionar a Administração sobre os planos de sustentabilidade, supervisionar sua execução e progresso na concretização das metas. O engajamento com os investidores sobre iniciativas de sustentabilidade também é importante. À medida que as empresas avançam na execução de sua estratégia de valor de longo prazo, elas podem precisar atualizar ativamente e diversificar as competências de seus membros do Conselho. As avaliações do Conselho feitas por meio de revisões internas e externas devem abranger uma avaliação desses atributos desejados.
Aprofundar o engajamento dos stakeholders
O engajamento efetivo implica trazer as vozes dos stakeholders para a sala do Conselho e considerar genuinamente seus comentários na tomada de decisões. No entanto, muitas empresas lutam para fazer isso bem.
Como ponto de partida, os Conselhos devem definir claramente seus principais stakeholders e ser claros sobre quem são os mais importantes. A estratégia de engajamento deve se concentrar em entender as necessidades dos stakeholders e como elas se enquadram na tomada de decisões do Conselho em relação à criação de valor de longo prazo, bem como em fazer com que os stakeholders estejam a bordo para impulsionar a adesão.
A estratégia de engajamento também deve ser pragmática. Não é viável para o Conselho se envolver diretamente com todos os principais stakeholders, de fornecedores a comunidades, por isso ele deve decidir com quem se envolver diretamente e com quem se envolver indiretamente por meio da gestão. Os Conselhos também devem se esforçar para fechar o ciclo de feedback, comunicando-se com os stakeholders sobre como suas contribuições foram consideradas. Caso contrário, isso pode corroer os relacionamentos ao longo do tempo.
Fornecer divulgações materiais e críveis
A orientação para o valor de longo prazo tem implicações profundas na forma como as empresas comunicam seu desempenho. As organizações precisarão mudar de relatórios financeiros retrospectivos para insights orientados para o futuro, baseados em divulgações financeiras e não financeiras (inclusive de ESG).
Para abraçar essa visão mais abrangente de valor e desempenho, podem ser necessárias mudanças não apenas em frameworks e práticas, mas também em mentalidades e culturas. Autenticidade e responsabilidade são primordiais. Isso significa estar disposto a compartilhar abertamente notícias positivas e negativas.
Os Comitês de Auditoria têm um papel fundamental nesta transformação. Eles podem ajudar a garantir que a empresa estabeleça e mantenha controles eficazes para apoiar a qualidade da informação financeira e não financeira e os relatórios, incluindo métricas de valor de longo prazo. Eles também podem supervisionar a robustez das informações sobre riscos. Fornecer um relatório corporativo aprimorado, confiável e consistente é crucial para ajudar os Conselhos a tomarem decisões confiantes e para os stakeholders avaliarem as perspectivas futuras da empresa e o fluxo de caixa.
Cultivar um apetite por assumir riscos de longo prazo
As empresas podem ter o desejo de prosseguir com iniciativas para melhorar o valor de longo prazo, mas podem ser retidas pela incerteza de sucesso. Além disso, seu framework de risco tradicional e o foco nos retornos de curto prazo aos acionistas podem impedir que ajam com ousadia.
Portanto, os Conselhos devem buscar fortalecer suas capacidades de avaliação e gestão de riscos, incluindo riscos atípicos. Isso lhes dará mais confiança na assunção de riscos de longo prazo e em entender os potenciais ganhos de iniciativas com um horizonte de tempo mais longo. O ambiente incerto atual apresenta um momento oportuno para incorporar mudanças culturais e operacionais que ajudem as empresas a navegar melhor pelos riscos emergentes, bem como a implementar salvaguardas para mitigar futuras crises.
Vincular a compensação executiva à sustentabilidade
Estabelecer KPIs de "remuneração" para objetivos de sustentabilidade é um desafio. Mas existe um argumento convincente para fazê-lo. Esquemas eficazes de remuneração variável podem responsabilizar a gestão pelos objetivos de sustentabilidade e apoiar a realização dos resultados desejados.
Para este fim, os esquemas de compensação devem incluir uma combinação de incentivos de curto e longo prazo para recompensar os executivos pela geração de crescimento sustentável. Estes podem incluir planos de compensação de curto prazo, como bônus anuais, juntamente com planos de incentivo de longo prazo que abranjam períodos de medição de vários anos.
Para ser eficaz, os esquemas de compensação precisam ser alinhados com as métricas ESG corretas. Definir e avaliar essas métricas pode ser desafiador. Nem todas as métricas ESG são relevantes para todas as empresas, então as organizações precisam identificar métricas confiáveis que sejam mais relevantes para elas. Processos, dados e controles robustos, bem como uma forte supervisão do Conselho sobre seus Comitês de Assessoramento serão necessários.
Não é surpresa que lidar com essas questões complexas possa levar à inércia. A pesquisa EY Europe Long-Term Value and Corporate Governance 2023 descobriu que menos da metade das organizações atualmente incorpora a sustentabilidade em suas práticas de remuneração. O estudo entrevistou 200 conselheiros(as) e líderes seniores e dividiu os entrevistados em dois grupos: "especialistas" e "iniciantes", dependendo de sua pontuação em governança de sustentabilidade. Curiosamente, 61% dos especialistas incluem métricas ESG como um elemento significativo ao definir a compensação de executivos(as) seniores, em comparação com 29% entre os iniciantes. Isso destaca o valor de investir esforços nesta área.
Da intenção à ação
No final das contas, a liderança do Conselho é essencial para impulsionar a sustentabilidade da ambição à ação e das metas para resultados concretos. A sociedade está demandando que as empresas tomem a liderança no enfrentamento dos problemas de sustentabilidade mais urgentes, e os líderes precisam pivotar sua abordagem de governança para entregar resultados no mundo real. Agora é a hora de estabelecer um forte engajamento com múltiplos stakeholders e implementar os elementos de governança corporativa que podem ajudar a entregar valor sustentável para todos e a longo prazo.
Os Conselhos devem considerar as seguintes perguntas:
- Estamos considerando os interesses de todos os stakeholders nas tomadas de decisão, e não apenas de acionistas?
- Temos uma abordagem para a formulação de estratégias e tomada de decisão que equilibre efetivamente a criação de valor de curto e longo prazo?
- Temos uma abordagem estabelecida para medir e comunicar o valor de longo prazo gerado pela empresa?
- Comunicamos a todos stakeholders com autenticidade, incluindo ser transparentes sobre os impactos positivos e negativos das decisões de negócios?
- Estamos implementando esquemas de remuneração para executivos(as) e gestão vinculados à criação de valor de longo prazo?