Consideração na COP28 é de que empresas não estão mensurando adequadamente o risco de água em seus negócios.
Aágua está entre as prioridades da COP28, com destaque para a conservação e restauração de ecossistemas de água doce e aumento da resiliência urbana a esse recurso.
"Bilhões de pessoas em todo o mundo enfrentam graves secas, inundações e contaminação da água por causa das alterações climáticas, prejudicando ainda mais a segurança alimentar, as relações comunitárias e o desenvolvimento econômico. Esses impactos climáticos agravam os desafios existentes para acessar água potável e saneamento", disse a organização do evento.
As próprias empresas ainda não estão mensurando adequadamente a água nos seus relatórios financeiros e de sustentabilidade. “A maioria não está avaliando – ou está avaliando de forma insuficiente – o risco da água em seus negócios. Já está claro que água é relevante para qualquer operação, impactando mais aquelas organizações que dependem desse recurso em suas cadeias de produção. É preciso que as empresas passem a considerar, em seus relatórios, a água como fator de risco para a continuidade das suas operações”, diz Ricardo Assumpção, CSO (Chief Sustainability Officer) da EY e líder de ESG e Sustentabilidade, que participa da COP28 como palestrante e moderador de painéis. “A água também deve estar inserida na economia circular. Em vez de descartá-la em condição diferente da original, ainda que tenha sido devidamente tratada, o ideal é que ela seja reinserida no sistema de produção, reduzindo assim a captação e fazendo com que a mesma água seja utilizada várias vezes na produção”.
Dimensão do problema
Pouco mais de um quarto da população global não acessa água potável, o equivalente a 2 bilhões de pessoas, de acordo com o World Water Development Report 2023, da ONU (Organização das Nações Unidas). Ao mesmo tempo, 46% dos habitantes do planeta – ou 3,6 bilhões – não contam com serviços de saneamento básico. Ainda segundo o estudo, a população urbana global que enfrenta escassez de água deve crescer bastante – eram 930 milhões em 2016, o que já representava um número elevado, podendo chegar a 2,4 bilhões até 2050.
Uma das explicações para o problema está no aquecimento global. O ciclo da água é responsável por transportar, em forma de chuva, a água doce do oceano para o solo, promovendo sua fertilização. No entanto, por causa do aumento da temperatura, devido ao crescimento das emissões de gases de efeito estufa, esse ciclo está sendo alterado, pois as altas temperaturas fazem com que a chuva se mova de regiões secas para úmidas. O resultado é falta de chuva em locais secos e abundância de precipitação nos úmidos – muitos deles já propícios a inundações.
Economia circular e exemplos
Segundo Assumpção, as empresas, ao promoverem a economia circular da água, tornam-se mais eficientes, contribuindo para a manutenção da disponibilidade e qualidade desse recurso. Isso requer, de acordo com a IWA (The International Water Association), que sejam trabalhados na gestão da água os chamados “5Rs”: redução, reutilização, recuperação, reciclagem e reabastecimento.
Alguns exemplos dos “cinco erres” estão na redução da perda da água e no aumento da eficiência hídrica nos processos industriais e de abastecimento urbano, proporcionando oportunidades de as empresas reduzirem custos e diminuírem o estresse hídrico. Já a reutilização da água para aumentar o abastecimento pode ser feita pelo governo em cooperação com indústrias e agricultores, trazendo consciência sobre sua essencialidade para todos os envolvidos. Por fim, há necessidade de projetos voltados para a recuperação de bacias hidrográficas, lagos e águas subterrâneas.
O que também tem funcionado é a utilização de sensores e imagens de satélite para interpretar as necessidades da lavoura em tempo real, a fim de fornecer recomendações precisas sobre a efetiva necessidade de irrigação. Alguns projetos podem chegar a uma economia de 30% da água utilizada na irrigação. A agricultura, com destaque para a irrigação das plantações, é o setor que mais consome água, chegando a quase 70% de toda a utilização no mundo, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). No Brasil, esse índice é ainda maior: 72%.