4 Minutos de leitura 24 abr 2024
foto de gráficos sob um fundo de relâmpagos

BACEN promove Consulta Pública para aprimorar gerenciamento e divulgação de riscos sociais, ambientais e climáticos

Autores
Ana Luci Grizzi

Sócia da EY Brasil para Climate Change and Sustainability Services

Especialista em sustentabilidade. Visão sistêmica e inovadora. Advogada. Board member. Ser humano em construção. Inteligência é investir na Terra.

Rui Cabral

Sócio-Líder de Risk da EY para Latam

Apaixonado pela transformação do setor financeiro, diversidade e inclusão. Economista de formação, Consultor por vocação e pai de 2 filhos.

4 Minutos de leitura 24 abr 2024

Futura regulação visa aprimorar gestão e relato de riscos e oportunidades sociais, ambientais e climáticos com dados quantitativos, metas e métricas. O BACEN embasou a consulta nas normas IFRS S1 e S2 e na proposta do BIS para inclusão de riscos climáticos no pilar de divulgação prudencial. Especialistas e instituições poderão contribuir com tipo e abrangência de metas e métricas que serão adotadas.

Por Ana Luci Grizzi, Sócia de Climate Chance and Sustainability Services da EY Brasil, Rui Cabral, Sócio-Líder de Risk da EY para Latam, e Lucas Baruzzi, Gerente de Climate Chance and Sustainability Services da EY Brasil.

Em resumo

  • Estão em vista possíveis novas obrigações para disclosure de metas e métricas de riscos sociais, ambientais e climáticos para emissões financiadas e facilitadas.
  • Maior abrangência das informações exigirá aprimoramento dos controles internos, qualidade de informação e propiciará comparabilidade dos esforços para descarbonização dos portfólios, bem como a padronização das metodologias utilizadas.
  • Prazo estimado de publicação da nova regulação é até o fim de 2024.
Consulta pública: sua importância para emissões financiadas

Está em curso a Consulta Pública 100/2024, do Banco Central do Brasil (BACEN), que visa coletar subsídios para aprimorar as normas disclosure social, ambiental e climático com dados quantitativos, metas e métricas. Este segundo passo, já esperado pelo mercado, estava previsto na “Dimensão Sustentabilidade” da Agenda BC#.

Sua publicação foi apenas postergada pelo BACEN, porque o cenário internacional se modificou com as recentes publicações das normas do IFRS S1 e S2 de padrões de divulgação de dados de sustentabilidade e clima e com a proposta do BCBS (Comitê de Supervisão Bancária de Basileia), para inclusão de divulgação de riscos e oportunidades climáticas no pilar de divulgação da regulação prudencial.

A participação dos interessados é essencial, pois a futura regulação padronizará o modelo de gestão e a divulgação de indicadores de emissões financiadas e facilitadas. Esta regulamentação está sendo observada mundialmente e pode influenciar de forma determinante as futuras regulamentações do BIS.

Forma de implementação: ampliação do Relatório GRSAC

A consulta propõe que a implementação ocorra a partir da ampliação do escopo do Relatório GRSAC[1], incorporando metodologia e tabelas padronizadas de metas e métricas segmentadas por setores econômicos, exposição por tipo de operação e respectivas emissões de gases de efeito estufa.

Temas e respectivas obrigações em Consulta Pública

A futura regulação promoveria maior comparabilidade dos esforços (e prazos) das instituições para descarbonizar suas emissões financiadas e facilitadas – cada vez mais em evidência e escrutínio, bem como uma padronização das metodologias utilizadas.

A Consulta Pública está organizada em 6 temas:

Tema I – Contexto e abrangência. Diz respeito a quais indicadores poderiam ser incluídos no Relatório GRSAC, complementares às métricas de riscos climáticos constantes na norma IFRS S2 e na proposta BCBS.

Tema II – Integração dos frameworks IFRS e BCBS. Visa entender as possibilidades e limitações entre os escopos contábil e prudencial para divulgação de informações sobre riscos climáticos, notadamente:

  • Com relação aos indicadores de exposição das emissões financiadas por setores econômicos; e
  • Se o disclosure de informações deveria ser feito como parte do relatório, nota explicativa ou um relatório separado.

Tema III – Indicadores para gerenciamento. Trata da padronização de informações sobre as exposições financeiras sujeitas ao risco de crédito segregadas em 20 setores: petróleo e gás; agricultura e pecuária (por biomas, cultivos e atividades); papel e produtos florestais; energia (por fonte de geração); metalurgia e mineração etc. As informações exigidas por setor seriam:

  • Valor bruto das exposições (operações de crédito, títulos de dívida e ações), respectivas provisões, prazos de vencimento e ativos problemáticos[2];
  • Emissões financiadas segregadas por escopos 1, 2 e 3 e respectivas metas de redução.

A Consulta pretende obter subsídios sobre metodologias para mensuração das emissões financiadas (incluindo limitações em caso de ausência de dados pelas contrapartes) e adequação do maior ou menor granularidade das atividades econômicas abrangidas.

Também está em discussão a inclusão das emissões facilitadas (como os serviços de securitização de CRIs e CRAs).

Tema IV – Compromissos voluntários e planos de transição. A Consulta Pública reconhece a importância dos compromissos voluntários de redução de emissões. O BACEN propõe padronizar a divulgação desses compromissos para os segmentos S1 a S4, abrangendo:

  • Prazo para cumprimento do objetivo, ano-base, metodologia e metas intermediárias;
  • Indicadores de desempenho e eventual histórico de revisões do objetivo;
  • Emissões por bioma (Amazônia e Cerrado) e por tipologia de combustíveis fósseis.

As informações requeridas indicam forte vínculo entre setores emissores relevantes e disclosure de emissões financiadas, promovendo visibilidade das operações das instituições financeiras.

Tema V – Escopo e prazo do novo Relatório GRSAC. A Consulta propõe que as obrigações sejam distintas conforme enquadramento: apenas instituições S1 e S2 seriam obrigadas a divulgar suas exposições e respectivas provisões. Com relação ao prazo, o BACEN questiona se a data proposta pelo BCBS - 1º de janeiro de 2026 - é adequada para que as mudanças no Relatório GRSAC entrem em vigor.

Tema VI – Manifestações gerais. Tema aberto para aspectos não abrangidos pela Consulta.

Nossa avaliação

As instituições financeiras apresentam maturidade diversificada em relação aos temas sociais, ambientais e climáticos, o que pode tornar o cenário desafiador para cumprimento da nova regulação em 2026. Para as instituições com maior maturidade, este segundo passo contribuirá para o refinamento do gerenciamento e disclosure de dados sociais, ambientais e clima, propiciando tomada de decisão mais qualificada para alocação de capital.

Como participar

As contribuições podem ser enviadas até dia 28/06/2024, por meio da plataforma BACEN  ou pelo e-mail: prudencial.dereg@bcb.gov.br

Resumo

BACEN abriu nova Consulta Pública para futura regulação referente à gestão e relato de riscos e oportunidades em ESG, prevista para ser publicada até o final de 2024. A Consulta envolve seis temas e as contribuições podem ser enviadas até 28/06/2024. A participação é fundamental, pois pode influenciar de forma determinante as futuras regulamentações do BIS.

Sobre este artigo

Autores
Ana Luci Grizzi

Sócia da EY Brasil para Climate Change and Sustainability Services

Especialista em sustentabilidade. Visão sistêmica e inovadora. Advogada. Board member. Ser humano em construção. Inteligência é investir na Terra.

Rui Cabral

Sócio-Líder de Risk da EY para Latam

Apaixonado pela transformação do setor financeiro, diversidade e inclusão. Economista de formação, Consultor por vocação e pai de 2 filhos.