Previsão consta em estudo da EY, que aponta um boom na adoção da energia solar em diversos mercados do mundo devido, entre outros fatores, à queda do preço dos módulos solares fotovoltaicos
As fontes limpas ou renováveis vão dominar a matriz energética global em 2038. É nesse ano, de acordo com projeção do estudo “If every energy transition is different, which course will accelerate yours?”, elaborado pela EY, que elas assumirão a dianteira na geração de energia. A geração renovável, principalmente eólica e solar, deve responder por 38% da matriz energética até 2030 e por 62% até 2050. A expectativa é que ocorra um boom na adoção da energia solar em diversos mercados, fazendo dela a matriz dominante em países como Estados Unidos, além de muitos outros na Oceania e no sul da Ásia, devido, entre outros fatores, ao barateamento dos módulos solares fotovoltaicos. Desde 2010, a redução do preço desses equipamentos, feitos de silício cristalino, foi de 80%.
O Brasil está muito bem nesse cenário, tendo encerrado o ano passado na sexta colocação do ranking mundial de geração de energia solar fotovoltaica, de acordo com relatório da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA, na sigla em inglês). Em relação ao ranking anterior, de 2022, o país ultrapassou Itália e Austrália ao chegar a 37 GW de capacidade instalada. China, EUA, Japão, Alemanha e Índia apareceram nas cinco primeiras posições.
Na Europa, ainda segundo o estudo da EY, a energia eólica vai se destacar, com a projeção de que se tornará a principal fonte em 2027 por meio de uma combinação das tecnologias onshore (parques eólicos instalados na costa, que é um local com maior incidência de ventos) e offshore (parques eólicos instalados no mar). No Reino Unido, a capacidade dessa matriz energética já ultrapassou a de gás em junho de 2023.
"O impacto positivo da expansão acelerada das energias renováveis é enorme, ajudando a reduzir as emissões de carbono, melhorar a segurança energética e criar oportunidades econômicas", diz Ricardo Assumpção, CSO (Chief Sustainability Officer) da EY e líder de ESG e Sustentabilidade. "No entanto, há alguns desafios para sua implementação, como a necessidade de integrar as energias renováveis na rede, o financiamento das atualizações nessa infraestrutura de energia e assegurar que a regulamentação acompanhe as mudanças do mercado. A superação desses desafios exige esforço colaborativo entre os setores público e privado, reunindo políticas, investimentos, parcerias inovadoras e avanços tecnológicos", completa.
Rede de energia flexível e inteligente
O crescimento da adoção de energia solar, eólica, hidrogênio, além do modelo de geração distribuída, vai impulsionar a transformação de todo o sistema. A rede existente ficará sob pressão, exigindo soluções para expandi-la, especialmente em relação à flexibilidade, que é a capacidade de o sistema se adaptar à demanda de energia de forma constante, sendo, portanto, suficientemente flexível para suprir o que a demanda exige em um dado momento. Pode haver um pico, por exemplo, que precisa ser suportado em alguns segundos pelo sistema – para que não haja falta de energia.
Na Europa, os requisitos de flexibilidade vão aumentar dez vezes até 2050, de acordo com as previsões do estudo da EY. As tecnologias maduras e emergentes serão fundamentais, incluindo o uso de baterias e sistemas de armazenamento de longa duração, mas não resolverão o problema sozinhas. Há necessidade de estratégias que envolvam os consumidores como participantes ativos da rede, apoiadas por novas e estratégicas tarifas, a fim de gerenciar a intermitência da rede, considerando, para isso, o aumento da adoção de tecnologias de consumo como a de veículos elétricos.
Por fim, os problemas da cadeia de suprimentos e os atrasos nas licenças estão dificultando a construção e instalação de novos ativos de energia renovável. Em diversos países, a conexão das infraestruturas na rede elétrica é difícil e pode levar anos para que seja plenamente efetuada. Os desenvolvedores de infraestrutura de energia renovável estão sendo informados de que devem esperar alguns anos nos EUA e até 15 anos no Reino Unido antes de poderem se conectar à rede. O problema é conhecido como “fila de interconexão” e representa um gargalo na transição energética.