E se a disrupção não for o desafio, mas a oportunidade?

Em um mundo não linear, acelerado, volátil e interconectado, entender as megatendências é fundamental para que os líderes redefinam o que é o sucesso.


Em resumo

  • Um ambiente operacional pós-pandemia mais complexo cria novos desafios e imposições para os líderes empresariais.
  • As empresas prosperarão se promoverem a transformação para ganhar agilidade no curto prazo, e implementarem ações práticas e benéficas para o longo prazo.
  • Uma abordagem baseada em megatendências oferece recursos para que os líderes executivos e membros de conselhos realizem essas mudanças.

De tarifas ao ChatGPT, da COVID-19 à Grande Demissão, de condições climáticas extremas a choques na cadeia de suprimentos e impactos imprevistos — se os últimos anos foram uma montanha-russa, em que uma sucessão de surpresas abalou seus negócios, você não está sozinho. 

Estamos agora em uma situação que denominamos mundo NAVI, em referência às quatro características que o distinguem do ambiente operacional pré-pandêmico. Trata-se de um mundo em que a mudança está cada vez mais:

  • Não linear
  • Acelerada
  • Volátil
  • Interconectada 

Enfrentar esses desafios exige novas abordagens à transformação. Dados longitudinais das pesquisas Geoestratégia na Prática da EY-Parthenon mostram que apenas 1% dos executivos de todo o mundo foram surpreendidos por eventos de risco político ou por seus impactos “na maioria das vezes ou todas as vezes” em 2021; em 2025, o número disparou para 35%. Além disso, na pesquisa Perspectivas dos CEOs da EY-Parthenon de janeiro de 2025, realizada com 1.200 CEOs, cerca de sete em cada dez concordam que precisam repensar sua abordagem à transformação devido à volatilidade, à interconectividade e à aceleração da escala da disrupção tecnológica — mas cerca de dois terços ainda não fizeram essas mudanças.



Para as diretorias e conselhos de administração, a crescente complexidade do mundo NAVI cria novos imperativos e desafios. As boas práticas e formas de operar existentes — desde a gestão de risco à transformação e até mesmo os valores e princípios com base nos quais sua empresa foi constituída — não são mais adequadas para o propósito e precisam ser repensadas. As empresas prosperarão se identificarem e implementarem ações práticas e benéficas para o longo prazo e se transformarem para ganhar agilidade no curto prazo.

Este artigo, o primeiro da série EY Megatrends 2025, explora o mundo NAVI e suas implicações para os líderes empresariais. Parece ser a hora certa. Desde a publicação do nosso primeiro relatório sobre megatendências em 2016, o ambiente operacional atual é diferente de tudo o que já vimos antes. Entender esse ambiente e as interligações entre as forças disruptivas através das quais surgem novas megatendências é o primeiro passo para definir o caminho a seguir e o que precisa ser mudado. É aqui que entra a estrutura das megatendências.

Foto aérea mostrando um veículo 4x4 atravessando canais de água do oceano que fluem em direção ao Oceano Índico durante a maré baixa, Cable Beach, Broome, The Kimberley, Austrália Ocidental, Austrália
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Capítulo 1

O mundo NAVI

Bem-vindo à complexa nova realidade.

Em 1991 — quando o colapso caótico da União Soviética substituiu o equilíbrio de poder da Guerra Fria — a Escola Superior de Guerra do Exército dos EUA começou a utilizar uma sigla que, desde então, se tornou comum no mundo dos negócios: VUCA, um mundo caracterizado pela volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade. 

Passamos de um único vetor — a disrupção tecnológica — para as disrupções multidimensionais, interconectadas e sistêmicas da atualidade.

A VUCA não desapareceu, mas não é suficiente para entender o mundo em que vivemos agora. Os eventos do ambiente operacional atual são definidos mais por características como não linearidade e interconectividade, que criam novos desafios, imperativos e oportunidades para os líderes empresariais.
 

“Passamos de um único vetor — a disrupção tecnológica — para as disrupções multidimensionais, interconectadas e sistêmicas da atualidade”, afirma Pascal Finette, Líder de Inovação e Cofundador da Radical, além de membro do EY Wavespace. "Tudo — desde a IA, mudanças climáticas e geopolítica a mudanças sociais — tudo está acontecendo ao mesmo tempo. Combine isso com a convergência e a aceleração dessas forças, e isso cria desafios e oportunidades totalmente novos para os líderes das empresas."

O mundo NAVI não é apenas um outro nome para VUCA; é um ambiente VUCA-plus, definido por quatro características:

1. Não linear

Mais do que nunca, os líderes estão operando em um mundo não linear, no qual as mudanças não ocorrem em um ritmo constante. Por exemplo, as curvas em S da tecnologia podem precipitar pontos de inflexão, nos quais as tecnologias passam repentinamente de uma melhoria gradual para grandes avanços, pegando as empresas de surpresa — como aconteceu com o lançamento do ChatGPT3. Embora as curvas em S da tecnologia remontem pelo menos a meados da década de 1970, no ambiente atual de mudanças aceleradas, elas são mais acentuadas, trazendo pontos de inflexão com maior frequência. 

Nossos cérebros não evoluíram para compreender a não linearidade e, por isso, tentamos criar linearidade em um mundo de transformações não lineares.

A geopolítica é repleta de mudanças não lineares, de guerras a revoluções políticas. Mesmo mudanças demográficas relativamente lentas podem ultrapassar abruptamente os pontos de inflexão; por exemplo, quando as gerações mais jovens se tornam o segmento majoritário da força de trabalho ou da base de clientes, ou com a Grande Transferência de Riqueza — a transferência sem precedentes de ativos entre a geração baby boomer e as gerações mais jovens. As mudanças climáticas estão se tornando cada vez mais não lineares; os cientistas preveem que passaremos por até 25 pontos de inflexão nos próximos anos, provocando desde o colapso das correntes oceânicas que mantêm a Europa Ocidental aquecida até a interrupção dos ventos de monção dos quais depende a agricultura de todo o Sudeste Asiático.

O principal desafio para os líderes empresariais é reinventar modelos e práticas operacionais que foram criados para um mundo linear. “Estamos passando de uma era de mudanças lineares para uma era de disrupções não lineares”, diz Beau Lotto, neurocientista, fundador e CEO do Lab of Misfits e membro do EY Wavespace. “No entanto, nossos cérebros não evoluíram para compreender a não linearidade e, por isso, tentamos criar linearidade em um mundo de transformações não lineares.”

2. Acelerado

A mudança está se acelerando. A inteligência artificial (IA) está avançando a um ritmo sem precedentes — desde o ChatGPT, que bateu recordes de velocidade de adoção pelos usuários em seu lançamento, até a rapidez com que novos recursos de IA estão sendo lançados. Outras tecnologias que estão evoluindo em ritmo acelerado vão desde robótica e a tecnologia de baterias, a tecnologias de energia renovável, como a eólica e a solar.

As mudanças climáticas estão se acelerando em várias frentes, desde a velocidade do derretimento das calotas polares até a frequência e o custo dos desastres naturais.

O ritmo acelerado das mudanças também é visível na geopolítica. “O mundo geopolítico está fundamentalmente diferente do que era há alguns anos”, afirma Oliver Jones, Líder Global de Geoestratégia da EY-Parthenon. "A velocidade das mudanças aumentou drasticamente. A liberação do comércio costumava ocorrer de forma ordenada e lenta, seguindo as rodadas do GATT e da OMC, cuja negociação e implementação podiam levar uma década. Atualmente, novas tarifas podem ser impostas em questão de dias. Passamos de uma mudança que levava 10 anos para uma mudança literalmente da noite para o dia."

3. Volátil

As tarifas não ilustram apenas o ritmo da mudança; elas também exemplificam a volatilidade do mundo NAVI. “A política está se realinhando e se tornando mais polarizada, aumentando a probabilidade de mudanças significativas nas políticas entre uma eleição e outra”, explica Catherine Friday, Líder Global de Governo e Infraestrutura da EY. Por exemplo, o “superciclo eleitoral global” de 2024 deu início a uma onda de oposição aos governantes em vários países e, com isso, ao potencial para mudanças políticas significativas nos próximos meses e anos. Para os líderes de empresas e governos, navegar neste espaço volátil é mais desafiador. Mais do que nunca, os líderes governamentais precisam demonstrar que os serviços públicos e o padrão de vida estão melhorando — por exemplo, por meio de dados, com a adoção de infraestrutura digital e parcerias com o setor privado para melhorar os serviços públicos, aumentar a resiliência econômica, elevar o padrão de vida e promover a inovação."

Os desenvolvimentos demográficos estão contribuindo para a volatilidade. As gerações mais jovens aceleraram as tendências de consumo e os ciclos da moda, uma vez que as redes sociais e as inovações na cadeia de suprimentos promoveram o surgimento de microtendências que podem durar semanas, em vez de anos. A migração e a imigração — impulsionadas por alterações climáticas, conflitos políticos ou oportunidades econômicas — podem contribuir para a instabilidade política.

Concomitantemente, o ritmo acelerado do avanço tecnológico gera melhorias e pontos de mudança — como novos modelos e recursos de IA — que podem desafiar as premissas das empresas, exigindo mudanças repentinas e reorientações. O surgimento da IA autônoma, por exemplo, estimulou várias empresas a mudar sua estratégia e seus produtos, desde o lançamento do “Agentforce” pela Salesforce até a reformulação da divisão de manufatura da Intel, que passou da fabricação de chips exclusivamente para uso interno para a produção de chips para clientes externos, como a NVIDIA.

Essa volatilidade tem implicações para as iniciativas de transformação que muitas empresas estão implementando. Mais do que nunca, os líderes precisarão de abordagens que possam se adaptar rapidamente a premissas em constante mudança ou a novas realidades de mercado e alocar recursos de maneira eficiente em meio a incertezas crescentes.

4. Interconectado

O mundo NAVI é um mundo em que as tendências estão mais interconectadas, o que significa que choques exógenos podem desencadear uma série de impactos, muitas vezes culminando em resultados inesperados.

Até agora, isso se via mais em choques geopolíticos. A pandemia da COVID-19 e os eventos subsequentes, como a guerra na Ucrânia e o conflito no Oriente Médio, se desenrolaram de maneiras muitas vezes inesperadas, desencadeando uma série de impactos secundários e terciários — desde carros usados vendidos por um preço maior do que o de carros novos até inúmeras disrupções imprevistas na cadeia de suprimentos.

Não é difícil imaginar que outras tendências poderiam ter um efeito cascata semelhante e resultados surpreendentes. Os veículos autônomos podem causar uma disrupção no mercado de bebidas energéticas, uma vez que os motoristas de caminhão — que atualmente são consumidores de um importante canal de vendas, as lojas de conveniência dos postos de gasolina — serão substituídos por caminhões autônomos. Os veículos elétricos podem levar a um aumento na demanda por serviços de remediação de terrenos à medida que as oficinas mecânicas fecharem as portas (já que os veículos elétricos exigem menos manutenção contínua) e as incorporadoras decidirem reaproveitar essas instalações, o que só poderiam fazer após a remediação ambiental (já que as oficinas mecânicas lidam com materiais perigosos).

Essas interconexões criam um novo desafio para os líderes empresariais. Algo distante e aparentemente sem relação com sua empresa ou setor poderia desencadear uma série de impactos que culminariam em uma disrupção significativa para os seus negócios.

Para enfrentar esses desafios e prosperar em um mundo NAVI, as empresas precisam de uma abordagem de duas frentes: usar o planejamento voltado para o futuro para identificar pontos em comum e implementar ações práticas de longo prazo, ao mesmo tempo em que transformam a empresa para obter agilidade no curto prazo.

Aerial view of a woman having a floating breakfast in a swimming pool of a luxury resort, Ilot Lievres, Trou d'Eau Douce, Flacq district, Mauritius.
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Capítulo 2

Uso de megatendências para um planejamento orientado para o futuro e implementação de ações práticas de longo prazo

Em que investir agora para prosperar em várias versões do futuro?

O planejamento orientado para o futuro tem sido, há muito tempo, a melhor abordagem à inovação disruptiva. Essa metodologia inverte o processo usual de planejamento incremental, começando com uma visão do futuro e, em seguida, trabalhando retroativamente para identificar e realizar os investimentos e as transformações que a empresa precisará para ser bem-sucedida nesse futuro.
 

Em um mundo NAVI, o planejamento orientado para o futuro precisa sofrer algumas mudanças. Em primeiro lugar, a visão do futuro precisa considerar a complexidade cada vez maior do novo ambiente operacional. Isso inclui uma análise mais ampla — além dos limites de sua empresa ou do setor — e a incorporação do impacto das interconexões entre forças díspares. A estrutura EY Megatrends permite essa abordagem, concentrando-se na evolução de quatro forças primárias — tecnologia, geopolítica, demografia e sustentabilidade — e na forma como as interseções entre essas forças primárias criam novas megatendências.
 

Em segundo lugar, desenvolver uma única visão para o futuro não é mais o bastante. Em um ambiente de complexidade e incertezas cada vez maiores, as empresas precisam estar preparadas para não só uma única visão do futuro, mas para várias.
 

Isso lança um desafio elementar quando se trata de planejamento orientado para o futuro: como se preparar para vários futuros diferentes ao mesmo tempo? A resposta é prever mudanças certas e incertas e implementar ações práticas.

“O que você tem certeza de que ocorrerá no longo prazo, apesar da incerteza e da volatilidade do clima operacional atual?”, pergunta Michael Kanazawa, professor de Inovação Disruptiva e líder do Venture Studio na USC Iovine & Young Academy. "Por exemplo, embora ainda se debata alguns aspectos de curto prazo das mudanças climáticas, sabemos que algumas coisas de fato ocorrerão em um horizonte de tempo mais longo: as temperaturas globais aumentarão e o clima mudará. Isso significa, entre outras coisas, que o abastecimento de alimentos e água ficará ameaçado e que os locais de cultivo serão alterados. Talvez precisemos de novas soluções, como a agricultura vertical. Independentemente da volatilidade no curto prazo, é possível prever que, no futuro, será necessário proteger o meio ambiente e mudar a forma como cultivamos os alimentos e os locais onde os cultivamos — com grandes implicações para as empresas dos setores agrícola, alimentício e florestal, entre outros."

Independentemente dos altos e baixos no futuro imediato, qual é a direção da mudança? O que é verdadeiro em vários cenários e versões do futuro? Quais competências essenciais, modelos de negócio e operacionais, parcerias, ecossistemas e investimentos serão necessários, independentemente do cenário que se concretizar? Essas medidas práticas podem ser tomadas agora.

A resiliência da cadeia de suprimentos tornou-se um mantra para as empresas no atual ambiente de negócios. Mas, em 2019, o foco estava no desenvolvimento de cadeias de suprimentos ultraenxutas e baseadas na demanda, e quase ninguém falava de resiliência. Obviamente, estávamos à beira de uma série de disrupções globais — a pandemia, vários conflitos geopolíticos, condições climáticas extremas, guerras tarifárias —, todas elas capazes de afetar as cadeias de suprimento, o que tornou o investimento na resiliência dessa cadeia uma medida acertada e relevante em vários cenários futuros.

Independentemente da volatilidade no curto prazo, é possível apostar em um futuro em que será preciso proteger o meio ambiente e mudar a forma como cultivamos os alimentos e os locais onde os cultivamos.

Quais ações práticas permitirão que sua empresa prospere nos próximos cinco anos?

Uma empresa que foi bem-sucedida na definição de uma visão de futuro, traçando um trajeto reto em direção a ela com a implementando ações práticas, é a Microsoft. Logo após assumir o cargo de CEO, Satya Nadella apresentou sua visão para a Microsoft em um memorando interno enviado à toda a empresa. 1A Microsoft deixaria de ser uma “empresa de produtos e serviços” e passaria a ser guiada por uma única missão: “reinventar a produtividade para capacitar cada pessoa e cada organização no planeta a realizar mais”.

A nova missão da Microsoft a libertou de seu passado. Em pouco tempo, ela se desfez da Nokia e deixou de abordar todas as oportunidades de mercado sob a perspectiva “Windows em primeiro lugar”. O mais importante é que o objetivo de longo prazo de reinventar a produtividade a levou a investir estrategicamente no futuro. A empresa apostou na nuvem e também na IA e na realidade mista.2 Embora muitos fatores tenham contribuído para o ressurgimento da Microsoft — como parcerias externas, a dissolução de silos internos e a promoção de uma cultura de startup —, muito do que se seguiu pode ser atribuído à definição de uma missão que permite que a empresa prospere em várias versões do futuro. Desde que Nadella assumiu o cargo de CEO, em uma década a avaliação de mercado da Microsoft cresceu dez vezes, passando de US$ 300 bilhões para mais de US$ 3 trilhões — grande parte disso atribuível às decisões acertadas que a empresa tomou em relação à IA para cumprir sua missão de reinventar a produtividade.

Os exemplos de empresas que desenvolveram uma visão de longo prazo e identificaram ações práticas não se limitam a empresas de tecnologia ou tendências. Em meados da década de 2000, a Tesla, por exemplo, desenvolveu uma visão de longo prazo com base na marcha inexorável das mudanças climáticas e definiu sua missão como “acelerar a transição mundial para a energia sustentável”. Com base nessa visão de longo prazo, a Tesla realizou investimentos em vários ramos do mercado de energia sustentável, desde veículos elétricos e infraestrutura de recarga até painéis e telhados solares, e sistemas domésticos de armazenamento de baterias.

Bright infrared trees growing near lovely houses on quiet suburban street in linz, austria
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Capítulo 3

Reimaginar a empresa para ganhar agilidade

Transforme sua organização — e a própria transformação — para ganhar agilidade em um mundo NAVI.

O planejamento orientado para o futuro permite traçar um trajeto de longo prazo, atravessando as águas turbulentas do NAVI. No entanto, para prosperar no curto prazo, é necessário transformar e reimaginar sua empresa para torná-la mais ágil. Isso envolve a transformação de modelos de negócios, modelos operacionais, gestão de risco e, por fim, da própria transformação.

1. Transforme os modelos de negócio

Embora a disrupção do modelo de negócio não seja novidade, as formas como as empresas desenvolvem novos modelos mudarão para se alinharem melhor ao mundo NAVI.
 

Em primeiro lugar, em um ambiente de negócios cada vez mais interconectado, novos modelos de negócio terão êxito se aproveitarem o poder das conexões. Um exemplo disso é a combinação de várias tecnologias emergentes, que podem proporcionar produtos inovadores que sejam mais do que a soma das partes. Uma nova safra de startups de AgTech, como Carbon Robotics, FarmDroid e FarmWise, está desenvolvendo capinadeiras automatizadas que combinam tecnologias como IA, robótica, visão computacional e laser, visando um controle de ervas daninhas autônomo, preciso e livre de produtos químicos — com implicações consideráveis para a economia e o modelo de negócio da agricultura orgânica.
 

Uma metodologia conhecida como mapeamento do futuro pode ser um recurso crítico nesse contexto. “O mapeamento do futuro é uma forma estruturada de esclarecer os efeitos de primeira, segunda e terceira ordem de tendências e desdobramentos potenciais”, explica Minsoo Pak, Arquiteto de Transformação e Futurista Estratégico da EY. “Refletir sobre as ‘implicações das implicações’ nos permite pensar em cenários e planejar melhor para eventos futuros — uma ferramenta importante para a inovação de modelos de negócio”.
 

Em segundo lugar, a adoção de uma abordagem de portfólio — o desenvolvimento simultâneo de vários modelos de negócio — proporciona às empresas maior resiliência em meio à volatilidade crescente e permite que elas estejam preparadas para múltiplas versões do futuro. A Grab, com sede em Cingapura, por exemplo, possui vários serviços e modelos de negócio, desde transporte privado e entrega de alimentos a pagamentos digitais, e está se expandindo para serviços financeiros, como empréstimos e seguros. 
 

Em terceiro lugar, a inovação do modelo de negócio precisa, mais do que nunca, ser contínua e constante. Um exemplo disso é a “AI Lab” do Grupo Volkswagen, focada no desenvolvimento de produtos inovadores que funcionam com IA. A AI Lab atua como um centro global de inovação, identificando novas ideias para produtos e colaborando com vários parceiros de tecnologia para desenvolver e explorar uma gama de ofertas disruptivas.

2. Transformar modelos operacionais

As empresas prosperarão ao reestruturar seus modelos operacionais. O primeiro passo é repensar os processos e áreas de negócio e reformulá-los para que estejam mais alinhados com a IA e outras tendências disruptivas. A Moderna, por exemplo, nomeou seu primeiro Diretor de Pessoas e Tecnologia Digital, responsável por gerenciar “3.000 IAs e 5.800 humanos”.3
 

As empresas também irão reformular seus modelos operacionais para se tornarem mais ágeis e flexíveis em um mundo NAVI. Isso inclui a reformulação das estruturas organizacionais em equipes menores, com o objetivo de construir redes planas em vez de árvores hierárquicas. Isso envolve a reestruturação de modelos de talentos, fluxos de informação, processos de negócio e áreas de negócio para permitir a implantação da IA em toda a empresa, bem como criar estruturas organizacionais mais adaptáveis e ágeis. Será necessário repensar as estruturas de incentivos e os indicadores de desempenho para que essas mudanças ocorram.
 

Com o tempo, essas e outras mudanças transformarão substancialmente a empresa como a conhecemos, culminando na organização sem atritos que chamamos de“empresa superfluida”.

3. Transformar a gestão de risco

A gestão de risco, tal como é praticada atualmente na maioria das empresas, está significativamente desalinhada com o mundo NAVI. Em uma época de mudanças aceleradas e maior volatilidade, a gestão de risco depende de processos lentos e intermitentes. Em um mundo de crescente interconectividade, essa área está isolada de toda a empresa e gerencia os riscos como forças independentes e não interconectadas. Em um ambiente de mudanças não lineares, a adoção de metodologias adequadas para modelar e gerenciar a não linearidade tem sido lenta.

Um indicador da grande lacuna entre as práticas padrão de gestão de risco e os desafios do clima de risco NAVI é ainda ser raro, até mesmo nas maiores empresas do mundo, existir algo tão básico como um Diretor de Risco (CRO) na diretoria. A análise da EY das empresas da Fortune Global 500 revela que apenas uma em cada cinco empresas (21%) possui um CRO. Esses números são distorcidos pelas empresas de serviços financeiros, 80% das quais possuem CROs, principalmente devido às suas regulamentações próprias para a gestão de risco. Entre as entidades de setores não financeiros, apenas 12% das maiores empresas do mundo possuem CROs.

“A necessidade de transformar a gestão de risco nunca foi tão grande”, afirma Scott McCowan, Líder Global de Consultoria em Mercados de Risco da EY. “Apesar de um ambiente de riscos e incertezas cada vez maiores, grande parte da gestão de risco permanece isolada e sua mudança é lenta. Isso não será mais suficiente. No ambiente volátil atual, a gestão de risco não é um exercício de conformidade — é uma estratégia. 

De fato, alinhar a gestão de risco com o mundo NAVI requer uma transformação abrangente. Isso inclui práticas como Gestão Integrada de Riscos (IRM) e Gestão de Riscos Empresariais (ERM), que são adequadas para desenvolver uma visão mais holística e estratégica do risco, mas que, assim como os cargos de CRO, não foram adotadas pela maioria das empresas. A transformação do risco inclui a reformulação das estruturas organizacionais e dos modelos operacionais para difundir a gestão de risco em toda a empresa. Isso envolve a adoção de tecnologias e métodos mais adequados para analisar riscos em um mundo NAVI — de IA a exercícios simulados e simulações de Monte Carlo.

Em um ambiente NAVI, o risco e a estratégia precisam estar integrados. Além dar o primeiro passo e nomear um CRO, as empresas terão êxito se elevarem o papel dos CROs, dando-lhes voz nas decisões estratégicas importantes. O ideal seria complementar com iniciativas destinadas a reestruturar os incentivos, de modo a que os profissionais de gestão de risco sejam recompensados por alcançarem um equilíbrio adequado entre riscos e benefícios, em vez de se aterem a limitar os riscos.

4. Transformar a transformação

Tradicionalmente, as grandes transformações são exercícios que levam anos. Mas como traçar um rumo estável em um período tão longo, em um ambiente onde novas surpresas e pontos de mudança podem surgir repentinamente e alterar seus planos estratégicos, premissas e cálculos de custo-benefício?

A resposta, de acordo com Craig Glindemann, Líder Global de Consultoria de Mercados da EY, é repensar a abordagem tradicional à transformação.

“Um ambiente de mudanças aceleradas e volatilidade crescente está transformando a transformação em algo mais fluido, flexível e adaptável às condições de mercado em constante mudança”, pondera Glindemann. “Em vez de um processo linear com início, meio e fim bem definidos, a transformação está se tornando cada vez mais não linear, iterativa e contínua. Os dias dos ciclos de planejamento de dois a três anos acabaram. A nova realidade é aquela em que os horizontes de planejamento se reduziram a meses, não a anos."


Uma abordagem baseada em megatendências pode ajudar as empresas a realizar essas mudanças. Procurar pontos comuns em vários cenários de megatendências pode ajudar a identificar as ações mais seguras para sua organização.


Nesse ambiente, as empresas precisam identificar, orquestrar e realizar mudanças de valor com mais rapidez. Em vez de iniciativas de transformação que estabelecem um plano fixo a ser implementado ao longo de vários anos, as empresas utilizarão abordagens mais iterativas e adaptáveis. Isso envolve não somente traçar um roteiro, mas identificar uma direção a ser seguida — estabelecer um “Norte” — para orientar a jornada de transformação como um todo, com projetos de transformação mais curtos que possam ser replicados e ajustados conforme necessário, em resposta às mudanças nas condições.

A IA está catalisando essas mudanças de várias maneiras. Primeiramente, cria a necessidade de tornar a transformação contínua e permanente. “A implementação da IA é diferente da implantação das tecnologias anteriores”, afirma Cathy Cobey, Líder Global de IA Responsável em Assurance na EY. "Não é algo que se faça uma vez e pronto, como a integração do SAP. Pelo contrário. As empresas estão em uma jornada contínua e constante de implantação de novos recursos e modelos à medida que eles surgem."

Em segundo lugar, recursos mais recentes, como a IA autônoma, estão permitindo que as empresas acelerem seus ciclos de transformação. Os exemplos vão desde a KTern.AI,4 uma plataforma digital da Kaar Technologies que utiliza a IA autônoma para otimizar as implementações do SAP, até a fornecedora de energia sustentável Eneco,5 que concluiu a transformação da interface do cliente de seu site utilizando um agente de IA multilíngue em apenas três meses.

Uma abordagem baseada em megatendências pode ajudar as empresas a realizar essas mudanças. Procurar pontos comuns em vários cenários de megatendências pode ajudar a identificar as ações mais seguras para sua organização. Atualizações frequentes da estratégia, baseadas em exercícios de delineação de megatendências, podem fornecer novas direções para implementações rápidas e iterativas de transformação, que são a nova norma. Analisar vários cenários pode ajudar a identificar pontos de inflexão futuros e fornecer recursos para que sua organização esteja preparada para eles.

Perguntas que os líderes devem fazer em um mundo NAVI

CEO

  • Como promover uma cultura de inovação que incentive nossas equipes a aceitar a incerteza e se adaptar às mudanças rápidas com agilidade?
  • Como comunicar melhor uma visão de agilidade e transformação a todos os níveis da organização?

CFO

  • Como alocar recursos de forma eficiente no curto e longo prazo, em um contexto de incerteza cada vez maior?
  • Como garantir a estabilidade do desempenho financeiro em um ambiente de maior volatilidade?

COO

  • Como transformar nossas operações e estrutura organizacional para sermos mais ágeis e menos hierárquicos e isolados? 
  • Qual é o papel da colaboração entre áreas em nossa estratégia operacional e como podemos melhorá-la?

CMO

  • Que canais e tecnologias inovadores podemos explorar para atingir o nosso público-alvo de forma mais eficaz em um ambiente em rápida mudança?
  • De que maneiras podemos aproveitar as tecnologias emergentes, como a IA, para melhorar as nossas estratégias de marketing e o engajamento dos clientes?

CHRO

  • À medida que a IA reinventa o trabalho, como ela reinventará a função do diretor de recursos humanos, e como garantir a combinação adequada de competências no departamento de recursos humanos?
  • Como devemos repensar a contratação, o aprendizado, os fluxos de trabalho e os mecanismos de feedback para desenvolver uma força de trabalho ágil?

Diretor de Tecnologia da Informação/Diretor de Tecnologia

  • Com o ritmo acelerado da inovação tecnológica, como prever os pontos de inflexão e estar preparado para acelerar a adoção e o aumento de escala no momento oportuno?
  • Como a adoção e a implantação de tecnologia podem ser utilizadas para transformar nossos modelos operacionais e de negócios, e tornar o processo de transformação mais ágil?

CRO

  • Como aprimorar nossas estruturas de gestão de risco para promover a estratégia e o crescimento e para prever e responder melhor às megatendências emergentes e às disrupções de mercado?
  • Que incentivos, abordagens e estratégias podemos implementar para promover uma cultura de consciência dos riscos em toda a organização?

Conselhos

  • Como garantir que a nossa supervisão estratégica esteja alinhada com a necessidade de agilidade e capacidade de resposta da organização no mundo NAVI?
  • Que habilidades e competências precisamos ter no Conselho em um mundo NAVI?
Salutation to the sun in zadar croatia
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Capítulo 4

Liderar em tempos de incerteza

Navegar pelas armadilhas comportamentais do NAVI exigirá liderança das diretorias e conselhos de administração.

Durante quase meio século, líderes de empresas de diversos setores têm enfrentado os desafios da disrupção. A inovação disruptiva é particularmente traiçoeira porque cria armadilhas comportamentais. Os comportamentos que garantiram o sucesso das empresas no passado — como focar nas preferências dos clientes existentes ou tomar decisões com base no retorno sobre o investimento no curto prazo — levariam ao fracasso no futuro.

O mundo NAVI exacerba esse desafio ao criar novas armadilhas comportamentais. Já discutimos como as melhores práticas para os principais aspectos do negócio — desde modelos operacionais e de negócios a gestão de risco e transformação — não são mais adequadas para o propósito e precisam ser abordadas de maneiras fundamentalmente diferentes.

No entanto, as novas armadilhas comportamentais do NAVI também envolvem questões mais básicas: muitos princípios organizacionais — como valores, métricas e premissas — precisam ser repensados e redesenhados.

É fundamental que as diretorias e os conselhos liderem essa iniciativa. Isso se deve à importância de definir a cultura da liderança e ao fato de que alguns dos novos princípios organizacionais do NAVI são antitéticos para o DNA da maior parte da alta liderança, o que significa que os líderes precisam mudar não apenas a forma como suas organizações operam, mas também a forma como eles próprios operam.

Considere, por exemplo, que os líderes são normalmente programados para comunicar determinação e certeza. No entanto, o mundo NAVI é caracterizado pela volatilidade e incerteza. Como os líderes aceitam a incerteza para prosperar nesse ambiente operacional, tanto em nível individual como organizacional? Os líderes e as equipes estão habituados a chegar a um acordo antes de tomar decisões importantes. No entanto, no NAVI, o sucesso pode depender de conviver com a ambiguidade do desacordo por longos períodos. Como promover essa mudança de comportamento e como ampliar o desacordo construtivo em toda a empresa? Ao mesmo tempo, a incerteza profunda pode levar à indecisão e à incapacidade de análise, mas a inércia nunca é uma boa estratégia. Como desenvolver a capacidade organizacional de progredir mesmo em tempos de incerteza? Implementar mudanças como essas requer repensar alguns valores fundamentais da empresa e realinhar incentivos e métricas em torno dos novos comportamentos que se quer incentivar.

Em um mundo que mudou — e em um mundo em constante mudança —, precisaremos repensar abordagens antigas para sermos bem-sucedidos. Usar a estrutura de Megatendências proporciona a confiança necessária para encarar o mundo NAVI com determinação e moldar o futuro com confiança.


Sumário

Estamos em um ambiente operacional cada vez mais não linear, acelerado, volátil e interconectado. A EY define esse mundo como NAVI — caracterizado pela não linearidade, aceleração, volatilidade e interconectividade. Obter sucesso nesse novo mundo exige fundamentalmente repensar as formas de operar atuais. É necessário investir em ações práticas aplicáveis a vários cenários futuros e, ao mesmo tempo, transformar a empresa para torná-la mais ágil.

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