Como as mineradoras de cobre poderão continuar competitivas durante a transição para uma economia mais verde?

Com a crescente demanda por energia limpa e iminente déficit de oferta, as mineradoras de cobre precisam operar de forma mais sustentável.


Em resumo

  • As mineradoras estão aumentando a base de ativos, em linha com a forte perspectiva de demanda, e o orçamento para exploração atinge a maior alta em 9 anos.
  • As empresas são obrigadas a navegar pelos desafios regulatórios, a manter o perfil de sustentabilidade e a adotar diretrizes para a mineração responsável.
  • A digitalização e novas tecnologias para melhorar a eficiência operacional e reduzir o impacto ambiental ajudarão a impulsionar a resiliência do negócio.

Em uma transição global para iniciativas de energia limpa, o cobre está se tornando a commodity mais crítica entre os metais. Os veículos elétricos (EV, na sigla em inglês) e a energia renovável continuam sendo o motor dominante para o novo crescimento, enquanto a demanda tradicional continua a acelerar nos países em desenvolvimento. O preço do cobre permaneceu muito alto nos últimos anos, com um aumento de 33% na média de preço para 2021-23 em relação à última década, e a tendência de alta deve continuar com as fortes perspectivas de demanda.[1]

Isso incentivou as mineradoras a expandir a base de ativos de longo prazo com foco no crescimento orgânico e inorgânico. O orçamento para a exploração tem subido, atingindo um aumento de 21% em 2022 em comparação com o ano anterior.[2] Além disso, os negócios de fusões e aquisições do segmento do cobre tiveram uma recuperação significativa em 2022, superando o ouro e revertendo a tendência de investir em ouro nos últimos três anos. Apesar do aumento dos investimentos, a falta de novas prospecções, os prazos de entrega mais longos e o teor mais baixo criaram desafios de fornecimento no longo prazo.

Além disso, as mineradoras precisam navegar pelas expectativas geopolíticas e ambientais cada vez maiores das partes interessadas. Como o ESG continua sendo um ponto focal crucial, as mineradoras precisam ter uma abordagem holística para progredir para métodos de produção mais sustentáveis. Espera-se que a adoção da inovação por meio de iniciativas de digitalização e eletrificação impulsione a eficiência operacional e de custos. O número cada vez maior de depósitos com baixo teor de cobre torna a exploração por meio de métodos econômicos e ambientalmente corretos essencial para as mineradoras.

Foco atual das mineradoras de cobre

Os gastos com exploração registraram a maior alta em 9 anos, de US$ 2,8 bilhões, apesar do teor mais baixo e da falta de novas descobertas

O orçamento da exploração de cobre para 2022 subiu 21% em relação ao ano anterior, para US$ 2,8 bilhões, com o orçamento da América Latina registrando o maior aumento, de 34%, atingindo US$ 1,2 bilhão. Espera-se que os gastos com exploração aumentem 12%, para US$ 3,1 bilhões em 2023, com atividades focadas em ativos estabelecidos por meio de projetos em minas em estágio avançado, em vez de projetos de prospecção em estágio inicial.[3]

A América Latina continuará a ser uma região dominante, no entanto, a diminuição do teor de cobre ainda é preocupante na região, resultando em custos operacionais maiores. No Chile, o teor caiu de 0,72% Cu em 2012 para 0,63% Cu em 2021. O teor médio global também caiu de 1,08% Cu em 2012 para 0,9% Cu em 2021.

Além disso, a falta de novas descobertas significativas recentes também deve impactar o crescimento da oferta. Entre 2001 e 2010, foram 86 novas descobertas globais, em comparação com apenas 19 na década seguinte. Isso se deve principalmente à diminuição do orçamento para a projetos de prospecção inicial, o que pode afetar o fornecimento no longo prazo.

As fusões e aquisições no primeiro semestre de 2023 equivaleram a 87% do valor total dos negócios em 2022, devido à perspectiva de déficit de oferta

Embora o número de negócios no segmento de cobre tenha caído de 27 em 2021 para 22 em 2022, o valor dos negócios aumentou 91%, para US$ 12,7 bilhões em 2022. O valor dos negócios fechados no primeiro semestre de 2023 subiu para US$ 11,1 bilhões.[4] Isso se deve principalmente ao papel do cobre na transição energética e ao problema do fornecimento de cobre agravados pela falta de novas prospecções significativas, apesar dos orçamentos altos para a exploração.

Um dos principais negócios inclui a aquisição da Turquoise Hill pela Rio Tinto por US$ 3,3 bilhões para simplificar sua propriedade e aumentar a produção do projeto Oyu-Tolgoi na Mongólia.[5]

Os crescentes desafios regulatórios e políticos estão afetando as principais operações de mineração

a.   A nova lei de royalties da mineração do Chile gerará US$ 1,5 bilhão em receita para o país; a carga tributária máxima para as grandes mineradoras foi fixada em 46,5% [6]

A América Latina continua a enfrentar incertezas regulatórias com a lei tributária para a mineração promulgada no Chile, em maio de 2023. A lei considera o teto combinado de carga tributária de 46,5% e 45,5% para mineradoras com produção acima de 80kt e 50-80kt de cobre puro, respectivamente.[7] Além disso, as concessionárias de mineração estarão sujeitas a um componente ad-valorem de 1% para mineradoras com vendas anuais de cobre acima de 50kt e os impostos sobre a venda de cobre aumentarão para uma faixa de 8% a 26% da margem operacional da mineração a partir de 1º de janeiro de 2024, em comparação com a faixa atual de 5% a 14%.[8]

Dessa forma, algumas mineradoras como a Freeport-McMoRan,  reavalialou os planos de investimento no Chile[9]. No entanto, o governo tem conversado com empresas de mineração e outras partes interessadas, oferecendo incentivos para compensar a incerteza e incentivar os investimentos na região.

b.   A instabilidade política no Peru e no Panamá deve afetar o fornecimento de cobre no curto prazo

Os protestos generalizados no Peru afetaram a produção de cobre, causando o aumento dos preços. A renúncia da presidente Dina Boluarte e a exigência de eleições antecipadas pelos manifestantes afetaram as operações de mineração, resultando na desaceleração da produção. Por exemplo, a mina Las Bambas da MMG, que contribui com aproximadamente 2% da produção global, suspendeu sua produção temporariamente devido a problemas de transporte.[10] Da mesma forma, a Freeport-McMoRan diminuiu a extração de minério na mina Cerro Verde em 10-15%, para 350kt por dia.[11]

Os protestos contra a mina Cobre Panamá, da First Quantum, surgiram depois que o governo aprovou uma licença de longo prazo para operar a mina, sem consulta pública. A mina foi fechada depois que a Suprema Corte do Panamá declarou o contrato da First Quantum inconstitucional, afetando o fornecimento da mina, que responde por 1% da produção global.[12],[13] Os protestos devem afetar o pipeline de novos projetos nos próximos anos.

Próximos passos para as mineradoras direcionarem a transição

As mineradoras devem focar em iniciativas ESG para gerir o perfil geral de sustentabilidade

a.   A crise da escassez hídrica demanda ação, já que cerca de 66% das maiores minas do mundo estão localizadas em países com estresse hídrico[14]

Várias atividades de mineração, como processamento mineral, resfriamento de equipamentos e controle de poeira exigem o uso intensivo de água, resultando em extração significativa de água de fontes locais e exacerbando a escassez em regiões que já registram estresse hídrico.

Várias mineradoras estão implementando medidas como métodos de reciclagem e reuso de água, projeto e planejamento de mina responsável, estudos de avaliação de água e mineração inteligente para enfrentar os desafios da gestão da água. Por exemplo, a Rio Tinto iniciou uma plataforma de banco de dados para aumentar a transparência sobre o uso da água.[15]

Além disso, tecnologias como dessalinização e filtração por membrana podem ajudar a reduzir a dependência do setor da mineração em fontes de água doce.

b.   As principais mineradoras se concentram na redução do perfil de carbono, visando reduzir as emissões em 30% a 50% até 2030[16]

A eletricidade e o óleo diesel continuam sendo as duas principais fontes de emissões operacionais das mineradoras, respondendo por uma média de 32% e 25% das emissões, respectivamente.[17] As mineradoras estão se esforçando para reduzir o perfil de carbono por meio do uso de eletricidade descarbonizada e combustíveis alternativos.

Várias mineradoras estão implantando fontes de energia renovável para suas operações. Por exemplo, a Teck fechou um acordo com a AES Corporation para garantir 100% de energia renovável para a recém-expandida mina de cobre Quebrada Blanca, no Chile, a partir de 2025.[18]

Algumas empresas de mineração estão explorando fontes alternativas de combustível, como a Rio Tinto, que concluiu um teste de diesel renovável para caminhões de transporte para reduzir a pegada ambiental de suas frotas.[19]

As mineradoras estão considerando também a eletrificação de frotas e equipamentos para reduzir as emissões de carbono. Por exemplo, a Glencore fez uma parceria com a Epiroc para a entrega de 23 caminhões elétricos e outros equipamentos móveis para a mina de níquel e cobre Onaping Depth no Canadá.[20]

c.   O aumento da violação dos direitos humanos na RDC[21] demanda ações mais urgentes das mineradoras e do governo

A RDC, um dos cinco maiores produtores de cobre, respondeu por 10% da produção global em 2022 e possui a sétima maior reserva de cobre.[22],[23]

Casos de violação dos direitos humanos foram observados, enfatizando a necessidade de abordar essas questões. Por exemplo, em julho de 2023, o governo da RDC cancelou os direitos de concessão de 29 mineradoras devido ao não cumprimento de ações sociais e ambientais.[24]

As mineradoras precisam abordar as violações dos direitos humanos, implementando uma cultura mais forte de criação de um local de trabalho seguro e inclusivo.

d.   Produtos sustentáveis ganharão força, especialmente à medida que a demanda pela transição energética triplicar até 2030 [25]

Atualmente, 32% do cobre utilizado anualmente é reciclado.[26] Teoricamente, o cobre é totalmente recuperável, no entanto, a taxa de reciclagem real é de 46% devido à complexidade da extração do cobre de alguns usos, como da sucata eletrônica.[27]

As empresas estão fazendo novos investimentos para aumentar a extração da sucata. Por exemplo, a Hindalco anunciou um investimento de US$ 240 milhões em uma instalação de reciclagem de cobre e lixo eletrônico.[28]

Com o crescimento da demanda por cobre sustentável, as empresas estão lançando produtos de baixo carbono, como a mineradora europeia Boliden, que lançou produtos de cobre de baixo carbono, definindo-os como metal produzido com menos de 1,5 kg de CO2/kg, o que é aproximadamente 38% menos do que a taxa média global da emissão do cobre.[29]

No futuro, a falta de uma definição universalmente aceita para o cobre verde, a determinação de encargos premium e as limitações para a contabilização e divulgação da pegada de carbono em toda a cadeia de valor continuarão sendo os principais desafios.

Maior adoção da diretriz para a mineração responsável, a fim de cumprir as metas de sustentabilidade

À medida que o cobre ganha popularidade devido à transição energética, espera-se que as mineradoras aprimorem ainda mais as práticas de divulgação ESG. Os membros da Associação Internacional do Cobre (ICA, na sigla em inglês) aderem principalmente às normas da Global Reporting Initiative (GRI) para divulgar dados ESG. Em 2019, a ICA criou o The Copper Mark, um sistema de garantias para a produção responsável de cobre. Mais de 25% do cobre extraído em todo o mundo é atualmente produzido por instalações pelo The Copper Mark.[30]

Etapas do processo The Copper Mark:

Fonte: The Copper Mark, Associação Internacional do Cobre

Recentemente, a Responsible Minerals Initiative (RMI) e o The Copper Mark lançaram uma nova versão da Avaliação de Prontidão para o Risco (RRA, na sigla em inglês), que envolve 33 critérios para a produção, fornecimento, processamento e reciclagem responsáveis de minerais e metais. A partir de 2024, as firmas-membro do The Copper Mark terão que implementar a nova versão.[31] A adesão a essas diretrizes pode ajudar as mineradoras a aumentarem a abrangência e a transparência, de forma a promover práticas de produção sustentáveis.

O que impulsionará a resiliência do negócio no futuro?

Digitalização e automação para criar valor sustentado para as mineradoras

A crescente demanda por cobre pela transição energética está levando as mineradoras a acelerarem a adoção de soluções inovadoras. Esse aumento levou as mineradoras a investirem em automação e tecnologias digitais, com o objetivo de aumentar a sustentabilidade e a produtividade.

Por exemplo, o programa Future Smart da Anglo American tem como objetivo integrar e digitalizar totalmente a mina usando principalmente a análise de dados e o gêmeo digital, entre outros.[32]

Esses avanços tecnológicos devem resultar em mais oportunidades de crescimento e valor de longo prazo para as mineradoras.  

Novas tecnologias são cruciais para minimizar o impacto ambiental e melhorar a recuperação

O desenvolvimento de tecnologias de lixiviação mais eficientes destinadas à extração de depósitos de teor mais baixo pode impulsionar melhorias substanciais, uma vez que as mineradoras estão buscando reduzir o impacto ambiental. Por exemplo, a tecnologia de lixiviação de minério sulfetado primário da Ceibo promete recuperar 75%, em comparação com os 31% dos métodos de concentradores.[33]

As mineradoras precisam de soluções mais inovadoras para monitorar e gerenciar rejeitos e extrair valor dos resíduos. Por exemplo, o empilhamento hidráulico com remoção de água da Anglo American aumenta a recuperação da água para aproximadamente 80%.[34] Esses avanços tecnológicos devem contribuir para uma abordagem mais sustentável e eficiente da mineração do cobre. 


Resumo

Com a expectativa de aumento na demanda e de diminuição na oferta, as mineradoras de cobre estão de olho em fusões e aquisições, atividades de exploração, práticas sustentáveis, digitalização, automação e tecnologias eficientes de lixiviação para garantirem a viabilidade no longo prazo.

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