Em meio à transição global para iniciativas de energia limpa, a prata está se tornando um item de grande importância no segmento de metais. Em 2023, a demanda industrial continuou sendo a maior força motriz para um novo crescimento, enquanto a demanda tradicional de joias diminuiu após atingir suas máximas históricas em 2022.[1]
Embora a demanda global em 2023 tenha diminuído 10%, a oferta ainda estava restrita, levando ao terceiro ano consecutivo de déficit, a 140 Moz.[2] Como resultado, os preços permaneceram muito mais elevados nos últimos anos, com o preço médio de 2021-23 registrando aumento de 33% em relação à média de 2018-20. A expectativa é que a tendência de alta continue com perspectivas de forte demanda, enquanto a oferta indica recuperação gradual.[3]
As mineradoras precisam navegar em meio às crescentes expectativas geopolíticas e ambientais das partes interessadas. Como as iniciativas de natureza Ambiental/Social/Governança (ESG) continuam sendo um ponto crítico, as mineradoras precisam dispor de uma abordagem holística para avançar em direção a métodos de produção mais sustentáveis. Espera-se que a adoção de inovação por meio de iniciativas de digitalização e eletrificação contribua com relação aos custos e à eficiência operacional.
O foco atual das mineradoras de prata
As atividades de exploração de prata primária caíram 11% e a produção também diminuiu
Após um aumento nas atividades de exploração em 2022, as mineradoras optaram pela prudência em investimentos em 2023, uma vez que os preços dos metais se mantiveram bastante voláteis. Estima-se que o orçamento para exploração de ouro, cobre e zinco-chumbo tenha diminuído 8% em comparação ao ano anterior, para 9,4 bilhões de dólares, principalmente devido a um declínio de 16% no orçamento para o ouro.[4] Além disso, o orçamento de exploração primária de prata caiu 11% em relação ao ano anterior, para US$ 556 milhões, com o orçamento da América Latina (LATAM) caindo 9%, para US$ 337 milhões, e o orçamento dos EUA caindo 28%, para US$ 77 milhões.[5]
Estima-se ainda que a produção geral de prata extraída tenha registrado queda de 2% em relação ao ano anterior, para 820Moz em 2023, principalmente diante de menor produção do México e do Peru, devido a suspensões temporárias das minas e desafios operacionais.[6]
Os crescentes desafios regulatórios e políticos causam impacto nas principais operações de mineração
O mercado LATAM continua enfrentando incertezas regulatórias, gerando impacto nos planos de investimento de longo prazo das mineradoras. O México, que representou a maior quota de produção de 24% com 226Moz, promoveu reformas na lei de mineração no país, reduzindo os prazos de concessão para mineração de 50 para 30 anos.[7][8] Além disso, a nova lei prevê regulamentação mais rigorosa sobre o uso da água, consultas às comunidades indígenas, processo de licitação pública para concessões de lavras minerais e requisitos de aprovação ministerial para transferência de concessões de lavra. Como resultado, as mineradoras de menor porte e as empresas de exploração, que estão correndo maior risco de impacto devido ao aumento das regulações, estão reconsiderando os planos de investimento na região.
Algumas mineradoras estão reavaliando seus planos de investimento no Chile após a implantação de novos royalties de mineração, que consideram um componente ad valorem (1%) e um componente de margem operacional (8%-26% para empresas de mineração de grande porte), de acordo com o nível de vendas e os minerais explorados.[9] Esses movimentos provavelmente terão impacto sobre novos projetos nos próximos anos.
A demanda por joias sofreu queda nos principais mercados asiáticos
Após um aumento de 29% em 2022, estima-se que a demanda por joias tenha diminuído 22% face ao ano anterior, atingindo 182 Moz em 2023, em decorrência dos preços mais elevados e da maior lucratividade do ouro como ativo de investimento alternativo durante a incerteza econômica verificada em algumas regiões.[10]
O declínio da demanda foi promovido principalmente pela redução das vendas no mercado indiano, uma vez que a demanda reprimida diminuiu em 2023. Consequentemente, as importações na Índia caíram 63% ano a ano, para 111 Moz.[11]
Nos próximos trimestres, as regiões asiáticas, especialmente a Índia e a China, continuarão a impulsionar o crescimento da demanda por joias.
A demanda industrial será a que mais crescerá, sobretudo pelos requisitos de capacidade solar
Em 2023, estima-se que a demanda pela prata no setor industrial cresça 8% comparativamente ao ano anterior, com investimentos contínuos em iniciativas de transição energética, particularmente devido ao crescimento da demanda de capacidade fotovoltaica, que deverá ser ainda maior nos próximos anos.[12] O crescimento da demanda por veículos elétricos e de aparelhos eletrônicos, juntamente com o aumento dos investimentos em redes 5G e em sistemas de geração e distribuição de energia, também serão fundamentais para contribuir para a demanda a longo prazo.
As próximas etapas para as mineradoras conduzirem a transição
As mineradoras vão se concentrar em iniciativas ESG para gerenciar o perfil de sustentabilidade
A crise de escassez de água exige ação, uma vez que mais de 50% dos maiores produtores mundiais estão localizados em países com escassez de água
Diversas atividades da área de mineração, como o processamento mineral, resfriamento de equipamentos e controle de poeira utilizam água de forma intensa, o que leva a uma extração significativa de água de fontes locais, acelerando a escassez em regiões já comprometidas em relação à água.
Das principais minas que respondem por 50% da produção mundial de prata, mais da metade está localizada em regiões com escassez de água elevada ou extremamente elevada.[13] Várias mineradoras estão implementando medidas como métodos de reciclagem e reuso de água, concepção e planejamento responsáveis de áreas de mina, estudos de avaliação da água e mineração inteligente para enfrentar os desafios da gestão da água.
Por exemplo, a BQE Water, uma empresa de soluções de tratamento de água, demonstrou com sucesso o seu processo Selen-IX na mina Coeur Wharf, abrindo caminho para a implementação do tratamento de selênio em linha com as licenças de expansão da lavra mineral.[14]
Com a crescente demanda, a reciclagem ganhará ainda mais força nos próximos anos
Estima-se que o crescimento da oferta de reciclagem de prata seja estável em 2023 no comparativo com o ano anterior, no entanto, o valor total atingiu o máximo em 10 anos de 181 Moz, impulsionado principalmente pela sucata industrial.[15]
Com o aumento das exigências ambientais, o crescimento global da demanda e a volatilidade dos preços, as atividades de reciclagem crescerão ainda mais. Os pesquisadores estão investindo no desenvolvimento de novas tecnologias para aumentar a eficiência da recuperação da prata.
Por exemplo, a Universidade de Tecnologia Chalmers, na Suécia, desenvolveu um processo de recuperação de prata a partir de células solares de película fina, que se espera ser mais ecológico e oferecer possibilidade de recuperação de 100%.[16] Da mesma forma, a Universidade de Nova Gales do Sul (UNSW) de Sidney, Austrália, desenvolveu um novo método para reciclar painéis solares que pode recuperar prata com maior eficiência.[17]
Maior adoção de orientações de mineração responsável para cumprir as metas de sustentabilidade
À medida que a prata ganha popularidade em decorrência da transição energética, espera-se, cada vez mais, que as mineradoras melhorem as práticas de apresentação de relatórios ESG. As empresas-membro do Silver Institute (instituto da prata) aderem aos princípios de mineração sustentável para as pessoas, a comunidade e o meio ambiente: