A sigla ESG (environmental, social and governance), ou ASG, em sua versão em português (ambiental, social e governança), passou a ter uma posição central nas discussões sobre a evolução das empresas e sua relação com seus stakeholders.
Ao mesmo tempo em que é um tema extremamente relevante e antenado ao espírito dos tempos atuais, é uma questão muito complexa, que envolve temas com estágios de maturidade diferentes para empresas de diversos segmentos, com graus diferentes de importância para cada uma.
ESG é um tema cada vez mais estratégico para as organizações porque tem uma relação direta com a perenidade dos negócios. No pilar ambiental, por exemplo, a sustentabilidade de longo prazo da empresa será abalada se o ambiente mudar significativamente, afetando a oferta de matérias-primas e insumos. Os aspectos sociais também são cada vez mais importantes, uma vez que é impossível assumir uma posição de relevância no mercado sem criar um impacto positivo sobre as regiões onde atua (gerando melhores empregos e desenvolvendo empatia com as causas importantes para os consumidores, por exemplo).
A amplitude das questões ESG faz com que seja necessário abordar aspectos muito variados. Na questão ambiental, por exemplo, a gestão das mudanças climáticas, o acesso à água, saneamento básico e emissão de poluentes são temas relevantes, que têm impactos estratégicos diferentes para cada negócio. No pilar social, questões de diversidade e inclusão se tornam cada vez mais relevantes: diversidade e inclusão de grupos tidos como minoritários eram pouco discutidos há cinco anos e hoje fazem parte do dia a dia da sociedade, de empresas e governos.
E no pilar da governança, tivemos em 2014, por exemplo, a CVM regulamentando os riscos socioambientais. Mais recentemente, surgiu a necessidade de desenvolver auditorias para relatos ESG integrados. Isso mostra que, ao mesmo tempo em que o ESG traz várias visões, com drivers de importâncias diferentes para segmentos diferentes, se torna um tema essencial para a governança e para a perenidade das empresas.
Daqui em diante, as questões ESG passarão a ser estratégicas. O mundo está se redesenhando para uma economia de baixo carbono. Muitas empresas e governos já olham para o horizonte de 30 anos para termos neutralidade em carbono. Internalizar essas questões nas estratégias de negócios cria oportunidades e ameaças, mas atuar de forma reativa, esperando uma exigência legal para tomar uma atitude, não é o melhor caminho para extrair valor desse futuro que começa a surgir. É preciso assumir uma mentalidade estratégica e incorporar as questões ESG ao core dos negócios, transformando práticas, processos e estruturas para viabilizar esse futuro.
Certamente, este é um tópico que hoje se faz necessário no processo de IPO, refletindo a evolução do mercado. Se há dez anos o posicionamento e as práticas ESG tinham pouco impacto no valuation de uma empresa, hoje esse é um aspecto muito relevante. Não é à toa que a NextEra Energy, uma das maiores empresas de energia renovável dos Estados Unidos, já ultrapassou o valor de mercado da petrolífera ExxonMobil. O sucesso da Tesla é outro grande exemplo das oportunidades ESG que se abrem.
Se hoje o ESG é um fato consumado na agenda do IPO das empresas, as grandes perguntas passam a ser: como fazer isso? Como incorporar aos processos de negócios?
As respostas, evidentemente, dependem do nível de maturidade da empresa. Podemos abordar essa questão a partir de três pilares:
1) Entender: o primeiro ponto é entender os temas ESG que fazem sentido para a empresa. É o caso, por exemplo, de diversidade e inclusão em empresas que são intensivas em capital humano ou, para empresas de bens de consumo, os aspectos que sejam mais visados pelos consumidores (como as questões de trabalho análogo ao escravo na cadeia de fornecimento).
2) Medir: uma vez que a empresa tenha mapeado quais são os fatores ESG que precisam ser levados em conta, é preciso tomar decisões sobre o que priorizar. Para isso, é preciso mensurar os pontos que mais impactam o negócio e nos quais o gap é mais elevado. Nem sempre essa é uma atividade simples, pois nem tudo pode ser medido facilmente. Em 2020, o World Economic Forum lançou um documento com 54 métricas para que todo negócio possa ter uma orientação de como medir sua maturidade ESG.
3) Comunicar: antes, durante e depois de tomar as atitudes necessárias para alinhar seus padrões ESG às melhores práticas globais, é muito importante desenvolver uma comunicação clara e tempestiva com os stakeholders. Dessa forma, torna-se possível mostrar o valor que está sendo gerado e o impacto positivo que a empresa passa a ter sobre o meio ambiente e a sociedade.
A agenda ESG é um processo contínuo e de revisão estratégica do negócio. Sua empresa, quer esteja iniciando a caminhada do IPO, quer já esteja listada, deve incorporar esses temas aos processos de negócios, à cultura corporativa e à tomada de decisões. Esse é um ponto essencial para a evolução das empresas.
Por que ESG é importante em um processo de IPO?
- O mercado consumidor agora está consciente das questões ESG e força a mudança cultural em seus mercados.
- Investidores percebem o risco relacionado às questões ESG de modo mais tangível e avaliam seus investimentos considerando esses critérios: 91% dos investidores ouvidos em uma pesquisa realizada pela EY em 2020 levam em consideração o desempenho não-financeiro das companhias na tomada de decisões de investimento.
- Há uma tendência regulatória de aumento das exigências para atendimento aos padrões ESG, especialmente no que se refere aos impactos sobre o clima.
- A necessidade de incorporar elementos ESG nos processos de gestão aumenta a demanda pela mensuração de resultados não-financeiros por meio de protocolos comparáveis e dados confiáveis.
Para guiar sua empresa em toda esta jornada do IPO, lançamos o Guia para abertura de capital - Considerações estratégicas antes, durante e após o IPO, que você pode conferir aqui, na íntegra.