Prédios como vegetação vistos de baixo

Por que a COP é importante para o setor privado?

A Conferência das Partes (COP28) acontecerá em Dubai, de 30 de novembro a 12 de dezembro de 2023. A participação ativa do setor privado influenciará positivamente as discussões e contribuirá para que suas obrigações decorrentes da Contribuição Nacionalmente Determinada (do inglês NDC) brasileira gerem resultados efetivos e promissores para uma transição econômica de baixo carbono.

Por Ana Luci, Sócia da EY para Climate Change and Sustainability Services e Leta Vieira, gerente de Climate Change and Sustainability Services

Em resumo:

  • A COP28 é importante para o setor privado porque as decisões tomadas no âmbito do Acordo de Paris para gestão de gases de efeito estufa, seguindo as diretrizes de redução, neutralização e compensação, cascatearão na economia nacional, ou seja, todos os segmentos de mercado serão impactados, em graus e prazos diferentes a depender do quão intensivos em carbono forem.
  • Essas obrigações decorrem da NDC apresentada por cada país, representando seu plano estratégico e compromisso para combater a mudança climática.
  • No ambiente de negócios brasileiro, a atualização da NDC publicada este ano com metas mais ambiciosas e escopo mais abrangente já vem promovendo mudanças no contexto regulatório, iniciadas com a estruturação da governança do Conselho Interministerial de Mudanças Climáticas (CIM), formação de grupos técnicos para elaboração do regulamento do sistema brasileiro de comércio de emissões e plano nacional de mitigação e adaptação.
  • As discussões esperadas na COP 28 em torno do “inventário global” (global stocktake) mostrando resultados de ações climáticas e lacunas para atingimento das metas, das medidas de mitigação para acelerar o progresso intersetorial e das medidas de adaptação para assegurar recursos para impactos certamente influenciarão o trabalho dos grupos técnicos do CIM e resultarão em regulação, demandando ações do setor privado.
  • Portanto, conhecer os assuntos a serem discutidos na COP28, a NDC brasileira, as posições do Brasil e o desdobramento das negociações globais são essenciais para que o setor privado possa influenciar positivamente e assegurar resultados efetivos e viáveis em sua internalização no Brasil.
  • Essas são ações essenciais para empresas que tenham implementado sua governança climática. É o setor privado que cumprirá grande parte das obrigações que se desdobrarão da NDC brasileira, tendo a chance de maximizar as oportunidades de negócios sustentáveis ​​que daí surgirem. 

ACOP28 reunirá líderes mundiais, governos, organizações não governamentais, empresas e especialistas em sustentabilidade para discutir temas relevantes para os negócios, como a transição energética, o financiamento climático e a precificação do carbono. O setor privado terá a oportunidade de:

  • Compartilhar experiências e buscar soluções inovadoras que possam impulsionar seus resultados; e
  • Conectar-se com outros líderes do setor, tomadores de decisão e influenciadores. Essas interações podem levar a parcerias estratégicas, colaborações, identificação de oportunidades e discussões sobre iniciativas conjuntas para lidar com desafios climáticos comuns..

Durante a COP28, serão compartilhadas as últimas pesquisas, descobertas científicas e políticas relacionadas à mudança do clima. É a oportunidade para o setor privado obter informações atualizadas sobre tendências, regulamentações e inovações tecnológicas que possam afetar seus negócios. Essas informações são valiosas para o planejamento estratégico e a tomada de decisões forward-looking nas empresas.

A COP28 é uma oportunidade para o setor privado influenciar positivamente a definição de políticas climáticas. As empresas podem apresentar suas perspectivas, recomendações e propostas para moldar políticas nacionais e internacionais relacionadas ao clima, além de estar bem posicionado para a COP30 a ser sediada pelo Brasil na cidade de Belém, em 2025.

Participar ativamente dessas discussões pode ajudar a garantir que as políticas climáticas sejam equilibradas, justas e favoráveis ​​ao setor privado.

A nova NDC brasileira: risco ou oportunidade para o seu negócio?

A nova Contribuição Nacionalmente Determinada (sigla em inglês, NDC) brasileira publicada em 27 de outubro de 2023 afeta diretamente o setor privado ao estabelecer metas mais ambiciosas de redução de emissões de gases de efeito estufa e ao ampliar o escopo de setores abrangidos, exigindo ação em diversas áreas por parte das empresas. Além disso, o setor privado também será impactado em termos de regulamentação e conformidade e enfrentará a necessidade de se adaptar às mudanças no contexto das políticas climáticas. A nova NDC também cria oportunidades para o setor privado, como o desenvolvimento de negócios sustentáveis, acesso a financiamento climático e a possibilidade de fortalecer a reputação por meio de ações climáticas responsáveis.

O impacto da nova NDC para o setor privado brasileiro

A implementação da nova NDC exigirá regulamentações e políticas governamentais relacionadas à redução de emissões e ações climáticas. O setor privado precisará estar ciente dessas regulamentações e garantir que esteja em conformidade com as metas estabelecidas. Isso pode incluir a adoção de práticas sustentáveis ​​de produção, investimentos em tecnologias de baixo carbono e a consideração de riscos relacionados à mudança do clima em suas operações e cadeias de suprimentos.

A nova NDC criará oportunidades de negócios relacionadas às ações de mitigação e adaptação à mudança climática. O setor privado pode desenvolver produtos e serviços que ajudem a reduzir as emissões de gases de efeito estufa, promover a eficiência energética, fomentar energias renováveis ​​e contribuir com infraestrutura básica para a resiliência climática. Empresas que se posicionarem como líderes nesses setores podem se beneficiar financeiramente e fortalecer sua reputação.

A nova NDC também influenciará os fluxos de investimentos e o financiamento climático. Os compromissos mais ambiciosos de redução de emissões podem aumentar a demanda por investimentos em tecnologias limpas e projetos sustentáveis. O setor privado pode participar de iniciativas de financiamento climático, buscar recursos para projetos de baixo carbono e explorar oportunidades de financiamento verde.

A nova NDC orientará a recuperação econômica do país pós-pandemia em direção a uma abordagem mais sustentável. O setor privado tem a oportunidade de se envolver em parcerias público-privadas, programas de estímulo governamentais e iniciativas de reconstrução que incorporem princípios de sustentabilidade e resiliência climática.

Demonstrar compromisso e ação em relação às metas da NDC beneficiará a posição competitiva das empresas.

Como se posicionar no novo ambiente regulatório do Brasil?

Para se preparar para as obrigações derivadas da nova NDC brasileira, o setor privado pode adotar as seguintes medidas:

  1. Implementar governança climática.
  2. Avaliar ações e metas atuais: as empresas devem revisar suas ações e metas existentes em relação à redução de emissões de gases de efeito estufa, eficiência energética, gestão de resíduos e outros aspectos de sustentabilidade. É importante conhecer o atual desempenho e identificar áreas de melhoria.
  3. Atualizar metas e planos de ação: com base nas metas e compromissos estabelecidos pela nova NDC brasileira, as empresas devem estabelecer metas atualizadas de redução de emissões e desenvolver planos de ação detalhados para alcançá-las. Isso pode incluir a implementação de práticas de produção sustentáveis, investimentos em tecnologias limpas e eficientes e iniciativas de eficiência energética.
  4. Integrar a sustentabilidade nas operações e na cadeia de suprimentos: as empresas devem incorporar a sustentabilidade e a responsabilidade climática em todos os níveis de suas operações. Isso pode envolver a adoção de procedimentos de compras sustentáveis, a busca de fornecedores comprometidos com práticas responsáveis ​​ambientalmente e a implementação de políticas de gestão de resíduos e uso eficiente de recursos.
  5. Monitorar, relatar e verificar os resultados: é fundamental monitorar e relatar regularmente o progresso em relação às metas estabelecidas. O desenvolvimento de um sistema de monitoramento sólido permitirá que as empresas rastreiem seu desempenho e identifiquem áreas que precisam de melhorias. Também é recomendado buscar a verificação independente dessas informações, aumentando a credibilidade dos relatórios.
  6. Buscar financiamento e parcerias: para implementar iniciativas e projetos de baixo carbono, as empresas podem buscar financiamento climático disponível por meio de instituições financeiras, fundos de investimento e programas governamentais. Além disso, é importante estabelecer parcerias com outras empresas, organizações não governamentais e academia para compartilhar conhecimentos e recursos, acelerando o progresso rumo às metas climáticas.
  7. Acompanhar as políticas e regulamentações: o setor privado deve estar atualizado com as políticas e regulamentações relacionadas à mudança do clima. É importante monitorar as ações do governo, as metas estabelecidas e as mudanças nas regras relacionadas ao setor. Isso permitirá que as empresas se adaptem rapidamente e estejam alinhadas com as obrigações decorrentes da NDC..

Ao adotar essas medidas, o setor privado brasileiro estará se preparando para cumprir as obrigações derivadas da nova NDC e maximizar as oportunidades de negócios sustentáveis ​​que surgem das ações climáticas. 

Resumo

A COP28 será importante para o setor privado brasileiro se preparar para a nova NDC e maximizar oportunidades de negócios sustentáveis.

Sobre este artigo