Two men from different generations working together

Como lidar com os conflitos na empresa familiar?

Por Armando Lourenzo, Diretor de Learning da EY Brasil

Aascensão da segunda geração ao poder em uma empresa familiar pode trazer à tona conflitos latentes que, se não geridos adequadamente, podem levar à falência da empresa.

Pesquisas indicam que 85% das empresas familiares enfrentam algum tipo de conflito, geralmente relacionados a questões de poder e dinheiro. A disputa de poder entre sócios e a divisão de recursos financeiros ou dívidas são fontes comuns de desentendimentos, especialmente entre pais e filhos ou entre irmãos.

Nos conflitos entre pais e filhos, nem sempre os relacionamentos são ruins, mas o sentimento de posse pode surgir, especialmente se um filho decide sair da empresa. Os pais podem interpretar essa decisão como um ato de traição, o que precisa ser reavaliado. Filhos devem ter a liberdade de buscar outras carreiras ou áreas de atuação. Muitas vezes, eles não enxergam espaço para crescer devido ao porte da empresa ou à centralização dos fundadores, optando por sair em busca de novas experiências no mercado. Essa saída pode ser benéfica a longo prazo, permitindo que os herdeiros retornem com mais experiência e conhecimento.

Diferenças de princípios ou valores também podem gerar conflitos. Em uma família com pai, mãe e três filhos solteiros, os valores são, em geral, semelhantes. No entanto, ao se casarem, formam-se novas famílias com princípios possivelmente distintos. Essas diferenças podem não ser problemáticas quando se trata de preferências, como pensamentos divergentes. Mas quando se trata de princípios, as divergências podem ser profundas e difíceis de reconciliar, tornando-se uma forte causa de insucesso na sucessão. Para mitigar essas dificuldades, o apoio de um mediador familiar pode ser necessário.

A comunicação é outro problema sério nas empresas familiares, causando grandes danos quando as pessoas não se comunicam de forma eficaz para agir rapidamente ou trabalhar juntas na formulação e implementação de estratégias. Conflitos podem causar ruídos na comunicação ou até sua completa inexistência.

As empresas familiares enfrentam diversos problemas de gestão e comportamentais que comprometem sua sobrevivência. Esses problemas são especialmente críticos durante o período sucessório, quando a presença de conflitos familiares tende a aumentar na ausência dos fundadores, que geralmente têm grande poder no controle desses conflitos. Muitas vezes, os fundadores adiam a resolução desses conflitos, que se tornam evidentes com a ascensão da segunda geração.

Na primeira fase, marcada pelo empreendedorismo e pela centralização, os fundadores controlam os conflitos. Na segunda fase, sem a presença dos fundadores, o aspecto empreendedor pode desaparecer e os conflitos se intensificam. Se a nova geração não prioriza as demandas da empresa, a concorrência encontra espaço para implementar novas estratégias. Na terceira fase, chamada "consórcio de primos", pode faltar uma liderança agregadora, e os valores e interesses diversos podem levar à venda da empresa a preços que não refletem seu verdadeiro valor.

A sucessão deve ocorrer enquanto o fundador ainda está vivo, criando uma nova sociedade entre irmãos baseada em valores comuns, humildade, transparência, comunicação eficaz, respeito e um propósito compartilhado.

Conflitos entre familiares podem influenciar negativamente a gestão da empresa. A comunicação pode reduzir os conflitos a um nível aceitável, embora não os elimine completamente. A falta de regras claras é um fator decisivo para a criação de conflitos, pois os familiares perdem a referência dos reais objetivos da empresa, da sociedade e da família.

Conflitos entre sócios ou familiares podem desviar o foco do problema principal, fazendo com que a necessidade de "vencer" a discussão se sobreponha à resolução do problema em benefício da empresa. Problemas muitas vezes têm origem na infância dos envolvidos, refletindo-se nas relações adultas e nos ambientes societário e empresarial.

A falta de capacidade de gestão, especialmente em famílias controladoras, também é uma questão crítica. O ingresso de gestores baseado no laço familiar e na confiança, em detrimento da competência, pode ser prejudicial. No ambiente competitivo, é impraticável manter colaboradores apenas pela confiança, sem considerar a competência.

Por melhor que seja o desempenho financeiro de uma empresa, ela não resistirá à falta de preparo dos sócios e à disputa de poder entre eles. A gestão eficaz dos conflitos é crucial para a perpetuação da empresa familiar e para a redução da taxa de "mortalidade" na transição da primeira para a segunda geração.

Resumo

A gestão de conflitos é um dos maiores desafios das empresas familiares. No entanto, quando bem realizada, pode garantir a continuidade da empresa e reduzir a taxa de "mortalidade" durante a transição de comando da primeira para a segunda geração.

Sobre este artigo